História Land Of All - E3TD0C3Su4

 

— Sério que ele fez isso? — Hoseok perguntou ao telefone.

— Sim, eu até fiquei com medo... O que ele tem? — A voz no outro lado da linha saiu tristonha.

— Ah, ele é assim. Mas ele não te expulsou por mal. Digamos que ele tem umas paranoias sabe... Você não devia ter ido atrás dele.

— Eu fiquei preocupado...

— Preocupado? — Era a primeira vez que Hoseok ouvia alguém dizer aquilo sobre Jungkook. Normalmente as pessoas só o achavam estranho mesmo.

— Sim... Tinha medo nos olhos dele.

— Hmm... — Hoseok podia fazer ideia do que significava esse medo. — Mas está tudo bem, não se preocupe.

— Queria pedir desculpas a ele.

Ao ouvir aquilo, Hoseok engasgou-se com o refrigerante que tomava. Jungkook surtou, expulsou o cara aos gritos, foi arrogante e mesmo assim Jimin estava preocupado e queria pedir desculpas por ter entrado sem querer no quarto do outro e levado um esporro? Apesar da surpresa, Hoseok não deixou de abrir um sorriso. Jimin de fato era uma boa pessoa.

— Que tal sairmos? — Sugeriu.

— Sairmos? Quem?

— Eu, você, o Jungkook...

— Sério? Só se você garantir a minha integridade física.

Ambos riram.

— Tá na hora do Jungkook se enturmar. Já tem um ano que estamos aqui e ele só fica trancado naquele quarto. Foi um milagre eu ter conseguido arrastá-lo para a festa de formatura.

— Verdade, acredita que naquele dia eu consegui conversar com ele por mais de dois minutos?

— Sério? Isso é um bom sinal. — Riram como se aquilo fosse um ganho de um prêmio. — Então, amanhã a gente podia se encontrar lá no shopping. Eu quero ver alguns instrumentos novos mesmo...

— Por mim tudo bem.

…

…

Na tarde do dia seguinte Hoseok e Jungkook andavam pelo shopping da região. Jungkook abaixava sua touca cinza como se quisesse tapar todo o rosto. Ele, visivelmente, não queria estar ali, e realmente não entendia como Hoseok conseguia tirá-lo de casa para suas “irrelevâncias”. Aquele shopping estava lotado por culpa do recesso estudantil. Jovens e mais jovens circulavam pelo local, e Jungkook sentia que todo mundo acabava olhando para sua cara. Enfiou as mãos nos bolsos da calça e apenas seguia o amigo em todas as lojas que entrava. Praticamente se colando as costas do outro como se tivesse medo de que alguém o tocasse ou simplesmente falasse consigo.

Mas nada como circular por alguma livraria para aliviar seu estresse. Ou nas lojas de informática e até mesmo de instrumentos musicais. Nesses pequenos momentos Jungkook podia esquecer do restante do mundo. E enquanto se distraía com algumas guitarras, Hoseok viu Jimin aparecer na loja junto de Taehyung.

— Hey! — Hoseok bateu na mão dos dois garotos, cumprimentando-os.

— Encontrei o Tae-Tae pelo caminho. Ele também estava vindo pra cá, aí o convidei pra sair com a gente, tudo bem? — Jimin informou.

— Tudo certo! — Hoseok sorriu ao loiro que se escondia atrás de grandes óculos escuros. — E por que você parece estar de ressaca, Taehyung? — Reparou no semblante abatido do garoto que ainda tentava arrumar os cabelos bagunçados.

— Porque ele está de ressaca. — Jimin entregou, recebendo uma cotovelada leve de Taehyung.

— Hein? Mas eu o deixei inteiro na porta de casa ontem.

— Na porta de casa não significa dentro. Muito menos dentro do meu quarto ou na minha cama. — Taehyung respondeu, e queria rir pela indireta tão descarada.

— Então você ainda saiu pra farrear ontem a noite?

— Claro. — Deu de ombros. — Estou de férias.

— Como se você não saísse pra farrear independente do dia ou horário. — Jimin acabou levando outra cotovelada, o que fez todos rirem. Menos Jungkook que olhava a cena emanando energia negativa.

— Enfim. Vocês vão ficar por aqui? Preciso ir na farmácia comprar algo pra dor de cabeça.

— Compra vergonha e passe nessa tua cara. Vai melhorar rapidinho.

— Você está muito engraçadinho hoje, Park Jimin. — Taehyung deu um tapa no braço do amigo e saiu da loja de instrumentos, mas ainda pode ouvir Jimin gritando para que ele não o chamasse daquela forma oriental.

— Qual o problema dele te chamar assim? — Hoseok perguntou, voltando a dar atenção para algumas guitarras penduradas.

— Fica estranho falar o sobrenome antes do nome, não acha?

— É? Na Coreia é super normal.

— Mas eu não sou de lá. — Jimin inflou as bochechas em um gesto infantil. O que fez Hoseok o achar bastante fofo.

— Okay. Não precisamos discutir sobre assuntos culturais. — Deu um tapinha em suas costas. — Agora me deixe escolher a minha nova paixão. — Os olhos de Hoseok brilhavam diante dos belos instrumentos a sua frente.

Nisso, Jimin desviou sua atenção para Jungkook que parecia ignorá-los naquele instante. O garoto segurava uma guitarra e a conectou em um dos amplificadores que estavam espalhados pela loja. Começou a dedilhar algumas notas antes de fazer algum solo que Jimin não fazia ideia de qual seria, mas era ótimo.

Até mesmo alguns clientes pararam por alguns instantes para ouvir Jungkook tocar. A forma como seus dedos deslizavam sobre a corda com maestria, rápido e intenso, fazia parecer tão fácil tocar o instrumento. Ele nem mesmo olhava para onde seus dedos precisavam seguir, parecendo um profissional. Jungkook nunca teve interesse por música, mas depois de conhecer Hoseok, acabou se aproximando dos instrumentos. E apenas para provar a si mesmo o quanto era bom, aprendeu a tocar todos os instrumentos que podia.

Ao terminar o solo, Jungkook olhou em volta e por um momento seus pulmões ficaram comprimidos. A sensação de ter ser observado o incomodava, mas antes de ter qualquer ataque mais sério, a mão de Hoseok em seu ombro o trouxe de volta a realidade.

— Vamos lanchar, JK?

— Hã? — Piscou algumas vezes, encarando o amigo que o sorria do seu jeito leve de sempre.

— Depois eu volto aqui pra pegar uma guitarra. Melhor irmos comer agora.

Jungkook apenas assentiu e devolveu o instrumento ao seu lugar. E assim que levantou, teve que encarar Jimin mais de perto que, com dificuldade, abriu um sorriso assustado, cumprimentando-o. Mas tudo o que teve de resposta, foi um Jungkook passando ao seu lado, seguindo em direção a saída da loja.

— Ele me odeia? — Questionou a Hoseok que também passava ao seu lado com um sorriso sem graça em um pedido de desculpa pela falta de tato de Jungkook.

— E o resto do mundo. Mas ele é inofensivo. — bateu de leve nas costas de Jimin, e assim seguiram para a praça de alimentação onde Taehyung apareceu pouco tempo depois.

E Jimin não conseguia tirar os olhos de Jungkook. Mesmo que sentisse medo, achava melhor estar preparado caso o garoto quisesse atacá-lo com uma bandeja ou uma cadeira.

 

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Durante toda a tarde, algo deixava Jimin e Taehyung confusos. Pelo o que eles podiam dizer conhecer em Jungkook, achavam que o “nerd assustador” ficaria emburrado o tempo inteiro por culpa de suas presenças. Imaginavam que ele os xingaria e furaria seus olhos com um garfo. No entanto, o que viam ali era um garoto normal, animado e muito falante.

Mas sua atenção era totalmente direcionada a Hoseok.

Os dois passaram horas conversando animadamente sobre coisas que, de início Jimin e Taehyung entenderam, entretanto, minutos depois os outros dois garotos passaram para assuntos complicados sobre fórmulas matemáticas de universidades, algo como a Soma de Riemann ou Equação do pêndulo, ou de Laplace. Jimin e Taehyung apenas sugavam seus refrigerantes pelo canudinho enquanto se sentiam invisíveis e burros. Até mesmo quando os dois “aliens” falavam de música era de forma extremamente técnica. E quando chegavam no assunto criptografia aí sim Jimin e Taehyung queriam dar um tiro na própria cabeça por achar que estavam ouvindo grego. Isso quando de fato não acabavam por ouvir tal língua.

O mais estranho para ambos, ou talvez mais estranho para Jimin, era ver Jungkook sorrindo e às vezes até gargalhando. E isso o fazia se questionar se o garoto que havia o olhado de forma fria e o expulsado de casa aos gritos em uma tarde qualquer era o mesmo que comia um lanche natural a sua frente.

— Poxa Hoseok, você demorou mais de cinco minutos pra resolver as questões que eu te dei. — Jungkook falava, sem dar a menor atenção aos outros dois garotos que estavam tão quietos que realmente pareciam terem sumido.

— Fala sério, você fica usando essas suas manias de criptografias. — Hoseok reclamava. — E cinco minutos e vinte e dois segundos não foi tão ruim assim.

— Você precisa treinar sempre o seu cérebro, assistente.

— Nem vem com história de assistente.

— Claro que sim, já disse que quero o melhor ao meu lado. Vou cobrar muito de você.

— Só se você construir um Jaeger pra mim.

— Vou construir uma espaçonave pra te jogar lá na lua onde é o seu lugar. — Disse sorrindo, enquanto terminava seu chá.

Jimin se impressionava com a forma que Jungkook fazia brincadeiras.

— Err... vou no banheiro — Taehyung informou, sabendo que apenas Jimin o ouviria. E ser ignorado a tarde inteira pelo “nerd possível crush” o deixava irritado.

Já Jimin apenas olhava para aqueles dois sem saber como poderia entrar em algum assunto com eles. E seu nervoso aumentou quando Hoseok levantou alguns minutos depois, dizendo que iria pegar mais uma rodada de refrigerante para eles.

— E um chá pra mim, eu não tomo essas porcarias gaseificadas. — Disse Jungkook.

— Ok, senhor inglês que só toma chá. — Hoseok zombou, pegando os copos da mesa para colocá-los na bandeja. E assim foi em direção ao balcão das bebidas para recarregá-las e pedir mais um chá para o amigo.

E só nesse momento que Jungkook percebeu que havia mais alguém sentado naquela mesa. Encarou Jimin que o ofereceu um sorriso educado e o ignorou no mesmo instante, pegando um guardanapo para rabiscar algumas coisas. Jimin pode identificar -de alguma forma- que aquilo se tratava de algumas equações, mas não fazia ideia de quais. E como o clima não parecia melhorar, resolveu tentar uma aproximação.

— Err... me desculpe. — Decidiu começar pelas desculpas em relação ao outro dia. E finalmente conseguiu a atenção dos olhos de Jungkook. — Por ontem...

Jungkook o olhou intensamente por um momento, e Jimin sentia que sua alma estava queimando no inferno.

— Hmmmm... — Jungkook respondeu entortando a boca, e voltou a dar atenção aos rabiscos do guardanapo.

E se Jimin conhecesse bem o garoto, assim como Hoseok, saberia que um suspiro longo significava “Tudo bem”. Porém, achou que estava sendo ignorado mais uma vez e decidiu levar o monólogo para o que Jungkook tanto escrevia. Mesmo com medo de ser atacado com aquela caneta.

— O que está fazendo? — Perguntou, mostrando um outro fraco sorriso.

Nesse momento Jungkook bateu a caneta na mesa, fazendo Jimin jogar o corpo para trás, de encontro ao encosto da cadeira. Jungkook o olhou daquela forma fria e arrogante e então pegou um outro guardanapo e começou a escrever algumas letras e números. Em seguida, o entregou a Jimin e não disse uma só palavra.

Jimin pegou o pequeno papel e encarou aquela escrita, e quando fez menção de dizer alguma coisa, Jungkook já havia levantado para ir ao banheiro, passando por Taehyung que congelou no lugar.

— Nossa! Da até pra sentir um vento gelado quando ele passa perto, né? — Disse assim que sentou ao lado de Jimin, reparando o papel confuso em suas mãos. — O que é isso?

— Não sei. O Jungkook que me deu. — Mostrou o guardanapo que continha a seguinte frase encriptada: Z0V 4S3 4O 1E10U.

— Hein? Que porra é essa?

— Aqui estão seus refrigerantes. — Hoseok voltava com a bandeja em mãos. — Cadê o JK?

— Ele foi no banheiro. — Jimin respondeu desanimado.

— Ah...

— Hoseok, o que é isso? — virou o papelzinho para o outro. — O Jungkook me deu.

— Oh! Não acredito. — Disse, segurando a risada. — Ah Jimin... é uma frase encriptada, ele adora fazer essas coisas.

— E o que diz?

— Eu não posso responder, você terá que descobrir sozinho.

— Fala sério. Tem bem um palavrão aqui, não tem? — jogou o papel sobre a mesa, irritado.

— Cara, você tem sorte que esse é o tipo mais fácil de códigos e está escrito em inglês. Quando ele me deu um, estava escrito em códigos de trás pra frente e em russo. E olha que isso foi um pouco antes de nos tornamos amigos.

— De que planeta vocês são? — Taehyung perguntou abismado como Hoseok dizia aquilo da forma mais natural possível.

Jimin encarou o pequeno papel e após alguns segundos de careta, uma chama se acendeu dentro de seus olhos por aquele desafio. Se era um código dos mais fáceis, certamente era porque Jungkook não confiava em sua capacidade, o que Jimin não tinha do que reclamar, afinal, se Jungkook tivesse dado algo escrito de trás pra frente e em russo, era porque de fato não queria que ele descobrisse, então...

Pegou a caneta que Jungkook havia deixando na mesa e concentrou-se naqueles códigos. Lembrou que rolava na escola alguns textos bobos escritos com números por serem parecidos com as letras, e talvez isso valesse para aquela frase também.

O número “4” era um “A”, o número “1” era um “I” e o número “3” era um “E”.

Z0V 4S3 4O 1E10U

ZOV ASE AO IEIOU

Ok, mesmo assim nada se encaixava com nada. Porém, a última palavra ficou clara na mente de Jimin quando este as letras “E” e “U” com os dedos, se revelando um possível “IDIOT”. E naquele momento foi como se uma lâmpada tivesse acendido acima de sua cabeça. Jungkook havia substituído as letras originais pelas suas posteriores. E o que Jimin tinha de fazer era apenas trocar cada letra escrita no papel pela sua anterior.

O que era Z viraria Y, o que era Y viraria X, e assim por diante. E mesmo com a frase revelada ali não ser nada agradável, Jimin não conteve um largo sorriso.

YOU ARE AN IDIOT

E assim que Jungkook voltou ao lugar, Jimin o entregou outro guardanapo com a frase : Z0V'S3 4OO0Z1OH. O que conseguiu arrancar um sorriso sarcástico de Jungkook.

Naquele momento Jimin estava como criança que ganhava um doce. Jungkook poderia estar rindo de sua cara, mas mesmos assim, Jimin estava contente por finalmente entender um por cento da mente estranha do outro e não se sentir tão burro dessa vez.

 

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Depois de alguns dias, novamente os quatro jovens se reuniram, mas dessa vez era na casa de Hoseok e Jungkkok. Estavam na sala da casa, e um deles ainda se recusava a fazer parte do quarteto, mas infelizmente não tinha como fugir daquilo. Jungkook olhava para aqueles dois “estranhos” sentados no sofá de sua casa conversando com Hoseok, e sentia vontade de sair dali o mais rápido possível.

A desculpa da vez, era para que eles finalmente terminassem seus trabalhos escolares, no entanto, não demorou para que Hoseok arrastasse Taehyung para o seu quarto para jogarem videogame. O deixando a sós com Jimin com a desculpa de que eles não queriam atrapalhar o estudo dos dois. Clara mentira.

— Hmm... podemos começar com o trabalho de história? Quero deixar os cálculos por último. — Jimin sorriu sem graça. Era péssimo com números apesar de ser bom em lógica. E talvez seu nível até tivesse subido um pouquinho por conseguir decifrar os códigos de Jungkook dias atrás. Pelo menos queria acreditar nisso.

— Por que você trouxe tudo isso? — Jungkook apontou para a pilha de livros e cadernos que Jimin trouxera.

— É sobre o tema de cada trabalho.

Jungkook arqueou uma sobrancelha. Do seu lado da mesa de centro não havia um livro sequer, apenas as folhas onde seria escrito o conteúdo dos trabalhos, coisa que até agora se perguntava o porquê de não ter terminado. Isso evitaria qualquer visita de Jimin. Porém, Jimin insistia tanto em ajudar que Jungkook não pegou nos materiais. O que lhe deu mais tempo para lembrar de mais códigos e escrevê-los em sua parede.

— Você precisa mesmo de tudo isso?

— Infelizmente sim...

— Então faça o que você sabe que eu farei os de cálculos.

— Não! — Jimin elevou a voz sem querer. — Err... se você fizer sozinho eu não vou aprender isso nunca.

— Com certeza não vai.

— Então vamos começar pelos de cálculos, assim você me ajuda com isso. — Disse, se aproximando um pouco.

— Eu te ajudar?

— Por favor!

Jungkook suspirou e girou os olhos. Se ensinar criptografia avançada para Hoseok não fora tão complicado, então ensinar cálculos simples do ensino médio a um idiota também não deveria ser um problema.

Mas essa precipitada conclusão teve fim alguns minutos depois. Mesmo que Jungkook soubesse o que era ter paciência, aquele garoto sabia como tirá-lo do sério.

— Como assim não entendeu? Eu expliquei três vezes. — Disse, mostrando-se bem irritado por aquela ameba parecer não ter dado atenção a nada do que dissera muitos e muitos minutos atrás.

— Só mais uma vez, estou quase entendendo. — Jimin juntou as mãos em um pedido sofrido.

— Você só me fez perder tempo. Se não tivesse enchido tanto a minha paciência eu já teria terminado esses trabalhos e agora nem mesmo eu te explicando você não aprende. Mas que droga de bloqueio é esse que tem na sua cabeça?

— Desculpa...

— Que droga! Olha só, mesmo que eu fale você ainda responde errado. — Pegou algumas folhas mostrando as respostas erradas de Jimin. — Afinal de contas, que língua você fala? Não entende o meu inglês? Quer que eu explique em coreano?

— Des... desculpa...

— Odeio gente burra! — começou a apagar com voracidade todas as respostas. — Você vai ferrar as minhas notas. Seria vergonhoso tirar um B por incompetência de terceiros.

Jungkook nem ao menos notava que Jimin se forçava em segurar as lágrimas e então jogou as folhas em direção do garoto com brutalidade.

— Faça de novo, é a última chance. — Disse por fim, levantando sem nem ao menos olhar para Jimin que estava estático encarando as folhas novamente em branco.

Jungkook subiu as escadas, encontrando no final dela um Hoseok irritado.

— Que foi?

— O que eu disse?

— Ah, ele é idiota demais. — Falou em bom tom para que o Jimin realmente escutasse.

— JK!

— Da licença. — Afastou o amigo e foi para o quarto.

Hoseok viu a porta ser fechada com força e balançou a cabeça em negativa. Até quando aquela arrogância de Jungkook iria durar? Terminou de descer as escadas e viu que Jimin escrevia algo nas folhas, tentando responder novamente tudo o que tinha errado.

— Me desculpa pelo JK, Jimin. — Assim que se aproximou viu que o garoto chorava e que algumas gotas escorriam pelo rosto e caíam nas folhas, manchando-as. — Jimin! — Tocou em seus ombros com cuidado. Sentia-se mal por ver como Jungkook atingia as pessoas da mesma forma que foi atingido tantas vezes atrás. Não era nem um pouco saudável descontar suas mágoas daquela forma.

— Eu vou terminar... — Jimin fazia um bico infantil enquanto tentava segurar suas lágrimas inutilmente.

— Deixa isso Jimin...

— Não.

— Quer que eu te ajude?

— Não. Obrigado. Eu tenho que fazer isso sozinho... — Disse, passando as mãos no rosto para limpá-lo.

— Não precisa fazer isso. Não precisa provar nada pro JK.

— Eu não sou esse idiota burro que ele pensa. Eu vou mostrar pra ele que... que eu posso ser tão bom quanto ele, aquele arrogante. — Gritou a última palavra para que de algum modo Jungkook o escutasse. — Eu não sou idiota!

— Ei Jimin!

— Quem ele pensa que é pra tratar os outros dessa maneira? — Jimin já estava apagando tudo o que tinha respondido mais uma vez.

— Eu também não concordo com essas atitudes, mas ser desse jeito com todo mundo é uma forma de defesa dele...

— Defesa do quê?

— Acredite, antes de conhecê-lo, ele era bem pior. Eu até consegui mudar o visual dele. — Sorriu com algumas lembranças que vieram em sua mente. — Sabe Jimin, as pessoas costumam se aproveitar de pessoas como nós, de várias formas... e o JK aprendeu a ser azedo para manter todos a distância. Quando eu era pequeno era tido como um trofeuzinho, sabe? Me mostravam em tudo que era lugar, e depois de um tempo eu passei a odiar aquela exposição besta. As regras que tentam me impor e todas as chatices e canseiras da vida artística cedo demais... Até mesmo comecei a ficar igual ao JK, e quando viram que o pequeno Hoseok, bonitinho e inteligente era arrogante e metido, todos me deixaram em paz. Só que eu fazia disso uma estratégia, eu não era de fato aquela criança desagradável, embora tivesse uma época em que nem eu mesmo me aguentava de tão chato que era. Só que eu acho que amadureci muito rápido minha cabeça em relação a isso. Não é fazendo os outros terem medo ou raiva de você que você vai conseguir alguma coisa. Eu aprendi a me relacionar novamente com os outros, agora o JK... ele tem mais motivos para querer todos longe dele.

— Terminei! — Jimin sorria fitando as folhas a sua frente. — O que você estava dizendo, Hoseok?

— Você não ouviu nada do que eu falei?

— Mais ou menos... agora cadê aquele metido dos infernos? Quero esfregar na cara dele que eu sei fazer as coisas.

Hoseok piscou por alguns segundos. Como assim Jimin não prestou atenção em tudo o que ele falou? E por que Jimin teimava em querer provar ser bom a Jungkook? Lembrou que no dia em que os quatro passearam juntos, depois que saíram da lanchonete, os garotos foram até uma livraria. Na hora que entraram Jimin correu para alguns livros que estavam na sessão de lançamentos e Jungkook o chamava de idiota toda vez que pegava algum livro mais “modinha” e falava sobre quanto os lançamentos só continham histórias lixos, e que a juventude iria se perder com tanta informação inútil.

Na mesma hora Jimin pediu para que Jungkook o indicasse bons livros então, e o garoto apontou para a prateleira de literatura estrangeira, indo em direção a nomes antigos e grossos livros. “Se você gosta de literatura, leia alguma que preste.” Jungkook pegou algumas obras e as entregou a Jimin. E Hoseok se perguntava o motivo de Jimin realmente estar lendo aquilo que era tão complicado de entender, segundo o próprio garoto.

— Nossa, você acertou tudo. — Disse Hoseok conferindo as respostas.

— Eu sou um pouco lento, mas aprendo na marra quando é preciso.

— Então você funciona sobre pressão?

— Não sei... mas quando o Jungkook começou a me ofender eu disse a mim mesmo que precisaria aprender de um jeito ou de outro. Não vou admitir que ele me trate assim.

— Hum... Vou chamá-lo, mas não espere grandes mudanças. — Hoseok levantou e assim que subiu as escadas, Taehyung apareceu na porta de seu quarto, reclamando pela demora do lanche que Hoseok disse que iria buscar.

— Eu só vou chamar o JK aqui e já voltou.

— E diga a ele que eu espero por um pedido de desculpas! — Jimin gritou da sala. O que espantou Hoseok.

Jimin queria mesmo aquilo? Querer que Jungkook fosse amigável já era difícil, um pedido de desculpas então... Era tão raro ele dizer tais palavras para Hoseok, imagina para gente de fora? Afinal, Jimin estava querendo entrar em algum tipo de guerra com o Jungkook?

— Eu sei que ele te deve esse pedido, mas você tem certeza disso? — Hoseok perguntou do alto da escada, encarando o outro garoto sentado no chão com os braços cruzados.

— Claro, ele me ofendeu.

Hoseok apenas respirou fundo. Sentia que Jimin queria mesmo ser enterrado mais cedo e Taehyung concordava com aquele pensamento.

— Vou voltar pro jogo, qualquer assassinato, me avise. — Disse Taehyung já fechando a porta do quarto de Hoseok.

E assim, Hoseok teve que chamar por Jungkook.

— JK, o Jimin quer falar com você. — Disse assim que a porta foi aberta.

— O que ele quer?

— Te mostrar que já terminou os exercícios.

— Você o ajudou? — estreitou o olhar para o amigo.

— Não, ele fez tudo sozinho, me ignorando, e está tudo certo.

— Por que aquele baixinho demora tanto pra entender as coisas?

— Não fale assim e por favor, o mundo não é feito de gênios como você que sabem de tudo apenas com uma única olhada.

— Você também é assim.

— Nem tanto, okay? E sabe... às vezes eu te acho bem burrinho quanto a isso.

— Como? — Encarou Hoseok como se fosse sua presa.

— Sim, burrinho e ignorante. — Levantou a mão para que Jungkook não falasse nada. — E fica quieto que você está errado. Agora desça lá. E hoje à noite vamos ter uma conversa.

Jungkook cerrou os dentes irritado. Odiava que mandassem nele e odiava mais ainda os sermões do amigo. Ele não tinha direito algum de tratá-lo daquela maneira, mas para evitar o olhar negativo sobre si, resolveu descer.

 

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De fato Jimin se esforçava muito desde que os novos alunos chegaram e não sabia o porquê de estar naquela procissão de se fazer ser notado pela única pessoa que, no mundo, não queria notar ninguém. Puxar assuntos aleatórios com o jovem de face bonita e de olhar arrogante foi um erro. Primeiro, porque o garoto sempre o ignorava ou falava que aqueles assuntos eram pra pessoas idiotas como Jimin e o resto do mundo. Segundo, que Jimin não sabia sobre o que conversar com Jungkook. Se assuntos “normais” não chamavam atenção, então o que chamaria?

Jimin gostava de desafios, isso era óbvio. E Jungkook, sempre escondido em suas largas blusas de frio e capuz atiçavam sua curiosidade. Mas como se aproximar de alguém que não dava a menor brecha pra isso? Uma vez tentou conversar com Hoseok e descobriu que Jungkook não dava a mínima para pessoas “não inteligentes” O que podia sentir na pele. Só que não podia ser qualquer pessoa inteligente a se aproximar também. Jungkook tinha receio daqueles que sabiam mais que ele, entretanto, admirava aquelas que ele jamais poderia se aproximar. Grandes escritores e gênios em diversas áreas, por exemplo. Jungkook tinha admiração por algumas personalidades e foi nesse ponto que Jimin começou suas pesquisas.

Jimin queria conhecê-lo melhor e buscou conhecer o que Jungkook gostava. Mas isso não era garantia de conseguir se aproximar. Queria ser interessante e reconhecido por aquele garoto de gelo. Passava dias lendo e estudando duro, querendo estar à altura de algum modo. Mas seus esforços não pareciam adiantar. Quanto mais se aproximava, mais se machucava, mais era ignorado e insultado. E quando estava para desistir, foi quando recebeu o pequeno sorriso debochado quando conseguiu decifrar o pequeno código no guardanapo. E isso voltou a queimar alguma coisa dentro de Jimin.

E o motivo de tudo aquilo era bem simples. Jimin estava apaixonado. Por mais que odiasse a situação, não tinha como negar.

Taehyung bem soube disso quando, no primeiro mês após a chegada de Hoseok e Jungkook a escola deles, Jimin não parou de falar do quieto e misterioso Jungkook Jeon.

 

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Depois de dar o ultimato a Jungkook, Hoseok voltou pro quarto, encontrando Taehyung concentrando no jogo de corrida.

— O que deu lá embaixo, o Jungkook matou o Jimin? — Perguntou sem olhar para trás. Aquela corrida na tela estava muito interessante.

— Quase... às vezes o JK parece tão criança. Teimoso.

— É? Eu morro de medo dele sabe... aquele ar de “não me toque se não eu te mato com meus poderes psíquicos” é assustador.

— Ele não tem esse ar por mal. Infelizmente ele ficou assim...

Taehyung deu pausa no jogo e encarou o outro deitado na cama. Hoseok estava jogado ali, tinha um braço encostado na testa, o que impedia Taehyung de ver seus olhos direito. E havia um tom de melancolia na voz de Hoseok naquele momento.

— Aconteceu alguma coisa com ele? — Taehyung perguntou, vendo o outro apenas suspirar cansado.

Hoseok sabia que o amigo agia errado, mas não gostava de ver ninguém falando ou pensando mal dele. Jungkook tinha um lado mais “normal”, e aqueles dois puderem ver na tarde que lancharam no shopping. Só que Jungkook não conseguia ser daquele mais divertido com ninguém que não morasse naquela casa, não adiantava. Mesmo que Hoseok defendesse as atitudes do amigo, sabia que ninguém entenderia os motivos de Jungkook se ele não explicasse. Entretanto, não podia correr o risco de contar a alguém sobre a vida do amigo sendo que este jamais abriu a boca para lhe contar sobre seu passado. E se Jungkook descobrisse que Hoseok sabia sobre muito mais detalhes de sua vida, talvez não só a amizade dos dois fosse perdida.

— Tudo o que vivemos nos levam a ser como somos hoje. Uma linha reta do destino. Mudá-la sempre causará estragos... — Hoseok falava mais para si mesmo.

— Ihh... não venha com frases complicadas.

Hoseok sentou no chão ao lado do amigo. Pegou uns dos controles do console e reiniciou o jogo.

— Desde que chegamos aqui que o Jimin tem essa mania com o JK. Não sei o porquê disso...

— Sabe que o Jimin gosta de desafios, mesmo que não seja muito bom neles. — Taehyung deu de ombros, como se não soubesse da verdade. — Ele gosta de desvendar coisas complicadas. Não é a toa que ele tem uma coleção de cubos mágicos. Agora ele comprou um que se chama do... dode...

— Dodecágono?

— Isso! Deus do céu! Já tem meses que ele tenta resolvê-lo. Mas enfim, ele viu que o JK era um desafio e... — Parou de falar quando o jogo iniciou, e também teve que frear as palavras para não revelar coisas demais. Assim como Hoseok, Taehyung defendia o amigo e sabia de coisas comprometedoras. Só não era tão mais complicada e perigosa quanto ao que envolvia Hoseok e Jungkook.

— É, mas digamos que o JK seria um cubo mágico de mil lados então. O JK não pode ser resolvido facilmente e talvez ele seja um desafio impossível para Jimin. Primeiro, porque ele não gosta de se relacionar com ninguém, segundo, ele só abre brechas para pessoas relativamente iguais a ele e... Ei! — Gritou ao ver o veículo de Taehyung se aproximar do seu. — Está melhorando muito Tae-Tae.

Taehyung sorriu não só por ter melhorado no jogo, mas por ver que Hoseok, em toda a sua inteligência, não percebia o que Jimin queria. E essa falta de tato para assuntos tão bobos deixava Taehyung ainda mais animado.

— Corrida é minha paixão, Hoseok. E você é um desafio pra mim também. — Sorriu. Talvez gênios simplesmente não percebessem sentimentos como aqueles.