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História Land Of All - Pequenos Segredos


Escrita por: Shiniz

Notas do Autor


Oieweee T.T eu sei que dei uma demoradinha por aqui D: mas oh o cap novo <3333
E estou com muito sono e dor de cabeça então nem vou escrever muito nas notas .-.

Boa leitura <3

Capítulo 4 - Pequenos Segredos


 

Passaram-se alguns dias e as aulas recomeçaram, e por faltar apenas dois meses até que o ano letivo finalmente terminasse, muitos alunos praticamente se arrastavam para as aulas. Eles só conseguiam pensar nas gloriosas férias de verão. Hoseok aproveitaria para sair com os colegas e até mesmo pensou em um acampamento com os garotos, mas Jungkook, assim que chegou em casa, tratou de se trancar em seu quarto e suas férias seriam resumidas naquilo. Hoseok costumava dizer que o amigo hibernava nas férias, mal o via na própria casa e quando este finalmente dava as caras, estava magro e pálido.

Jungkook chegava a passar dias sem dormir, seus dedos até mesmo doiam por todas as anotações que fazia naquelas diversas folhas que se espalhavam e acumulavam na parede. Ele preferia manter tudo daquele modo, enxergar tudo de uma forma ampla lhe dava mais lembranças e mais certezas do que estava fazendo. Concluiu consigo mesmo que talvez levaria muito tempo para juntar cada pedaço daquele imenso quebra cabeças, mas não teria outro jeito. No final, sabia que tudo aquilo mudaria pra sempre o mundo, principalmente o seu.

Taehyung e Hoseok saíram mais vezes. Iam no kart, em shows ou apenas ficavam um na casa do outro jogando. Taehyung adorava quando estavam juntos e acabavam por passar tardes nas lojas de música onde podiam tocar alguns instrumentos, isso quando não estavam criando melodias pelo computador na casa de Hoseok. Taehyung sempre teve fascínio pela música, e fora tudo o que sabia fazer, gostava de cantar, mas tinha vergonha de fazer isso na frente do amigo. Sempre dizia que não sabia cantar quando Hoseok perguntava ou implorava algumas vezes, mesmo que por brincadeira. O loiro rebelde até que gostava de inventar várias coisas com a voz, mas se sentia tão inferior a qualidade musical do outro que preferia ficar na sua. Não conseguia cantar sério na frente de Hoseok.

“— Não posso mostrar o quão ruim sou para alguém tão perfeito como ele.”

Era o que Taehyung sempre dizia a Jimin quando este o questionava sobre o porquê de não mostrar o talento que tinha.

“— Você é o pior aluno da escola e mostra isso sem vergonha nenhuma.

Era o que Jimin sempre o respondia.

Taehyung, desde criança, andava pela casa cantarolando. Não tinha interesse em mais nada que não fosse a música e por isso era péssimo na escola. Matava aulas para ensaiar com alguns garotos mais velhos em suas garagens, fugia de casa as noites para fazer shows em bares ou em algumas pequenas casas noturnas. E quando seu pai descobriu sobre suas sumidas, tanto de casa quanto da escola, começou a castigá-lo mais severamente. Seu pai vinha de uma típica família coreana, e não admitia o jeito ocidental do filho. O garoto nem mesmo se dava ao trabalho de aprender a língua de sua família, dizendo que detestava o país onde tinha suas origens. Era feliz por ter nascido no “centro do mundo”, onde todos os olhares se voltavam, o grandioso Estados Unidos. A família do garoto morava em Los Angeles e crescer em um lugar com bastante influência musical, com todos os ritmos ali presentes, abria um grande leque para todas as possibilidades. Ficar parado dentro de casa, apenas estudando e ter um emprego chato e comum não estava nos planos de Taehyung. Estava na cidade que tinha tantas oportunidades, e não iria perdê-las.

Taehyung também tinha outra paixão, as corridas. Um dos seus primos já corria em campeonatos de Kart e isso acabou chamando sua atenção também. Quando tinham tempo de se ver, passavam horas construindo carrinhos de madeira para correrem pela rua, atrapalhando os vizinhos e estragando algumas latas de lixo sempre que queriam correr mais. E quando abriu um Kart Indoor perto de onde moravam, os dois foram direto pra lá. O pai de Taehyung não se importava muito em vê-lo correr, mas já o mundo da música era o que não o agradava nem um pouco. Principalmente esse mundo punk rock que tinha uma apresentação bastante errada para aquele senhor.

— E então, não tá a fim de aprender a cantar? — Hoseok perguntou enquanto tocava algumas notas em seu baixo.

— Err... — Taehyung ficou vermelho. Esconder que não sabia cantar, quando sua maior vontade era se mostrar para todos o sufocava, mas Hoseok era tão perfeito, excelente em qualquer coisa que sentia vergonhar de errar algo em sua frente.

— Vamos lá eu te ensino, não é difícil.

— Bom… — Coçou a nuca em nervosismo. — Na verdade eu sei… um pouco.

— Sabe? Desde quando?

— Tem um bom tempo já…

— Hã? E por que sempre disse que não sabia? Ah não! Agora vai ter que me mostrar isso.

Taehyung sentiu que suava mais que o normal. Ele estava empolgado e nervoso por ver que Hoseok parecia mesmo interessado em seu canto.

— É que eu não me acho muito bom nisso…

— Ora, então deixa eu te avaliar.

Taehyung preferia se jogar pela janela do que ser avaliado por alguém tão inteligente quanto Hoseok.

— Para com isso, Hoseok. Você canta tão bem que vai ser uma perda de tempo ouvir o meu fracasso.

— Nada disso, eu quero ouvir. — Deixou o baixo de lado e se ajeitou melhorr na cama, cruzando os braços. — Não precisa ter vergonha cara. — Tinha na face um sorriso confortante para o outro.

— Ah… — Taehyung olhou em volta, sentindo-se acuado no momento. Estava nervoso e queria se controlar mais. Nunca teve vergonha, nunca ligou para o que estavam pensando de si, mas cantar na frente de Hoseok era diferente. Ele era o “popular” do colégio. O garoto que todo mundo gostava de estar perto. Ele era bom em tudo e tinha uma moto! É, nos Estados Unidos as pessoas podiam tirar habilitação aos dezesseis anos, e o pai de Hoseok fez questão de lhe dar uma moto de presente. Na verdade o senhor Jung queria mesmo era comprar um carro, mas o garoto adorava motos pelo fato de se sentir mais “cool”.

Hoseok gostava de mostrar que era bom, porém, não deixava que a fama subisse a cabeça. Fugiu tanto dela quando criança.

Depois de longos minutos Taehyung escolheu cantar ‘Someone Like You’, e, tentou a todo custo não passar vergonha. Não cantou tudo, afinal achava que iria se embolar todo, mas sua pequena amostra foi o suficiente para arrancar algumas palmas e um sorriso enorme de Hoseok.

— Uau cara, você canta muito!

— Não é tudo isso… — Acabou corado e só queria se enterrar em um buraco naquele momento.

— Não, sério. Você é muito bom. Não acredito que ficou se escondendo esse tempo todo. — Hoseok estava mesmo animado. — Já estou te escalando para vocalista da banda.

— Banda? Que banda? — Começou a rir, mas lá no fundo uma animação começava a tomar conta de seu ser.

— A nossa! Vamos formar uma.

— Que besteira. — Virou o rosto, sentindo o rosto ficar ainda mais quente e queria se socar por toda essa “frescura”. Taehyung não era garoto de se comportar daquela forma. Em momentos como esse ele devia jogar suas cantadas e indiretas, mas tudo o que conseguia fazer era se sentir envergonhado. Por que Hoseok o causava essas coisas?

— Besteira nada. — Hoseok voltou a pegar o baixo. — Todo mundo fica falando pra eu cantar, mas eu prefiro mesmo é ficar nos instrumentos.

— Ah… eu também prefiro. — Tentou se esquivar, mas Hoseok apenas sorriu. — O quê? Eu acho bem mais fácil tocar alguma coisa do que cantar. — E suas mentiras continuavam.

— Você pode até tocar alguma coisa, você também é bom na guitarra, mas será um vocalista.

Taehyung apenas negou com a cabeça e preferiu se dar por vencido. Se Hoseok estava dizendo que ele era bom para assumir o papel do vocal, quem seria ele para discordar? Mas ainda sim tinha o fato do outro apenas estar o agradando por pena, certo?

— Mas enfim… — Taehyung preferiu mudar um pouco o foco do assunto. — Em vez de formar banda, bem que você podia fazer sucesso em carreira solo.

— Eu? — Hoseok tocou mais algumas notas no baixo.

— Sim! Cara, nós moramos em Los Angeles, você poderia chegar em qualquer uma dessas gravadoras que te contratariam na hora. Você é bom em tudo, um verdadeiro show man.

Hoseok sorriu. Talvez isso fosse mesmo verdade, mas ele não queria se expor muito.

— Não pretendo fazer nada por agora, tenho anos de faculdade pela frente. Não daria para conciliar muito bem a fama e os estudos, né?

— Você nem precisa estudar, seu nerd.

— Claro que preciso! Eu não vivo enfiado em livros e nem tenho uma memória fotográfica como o JK. Ele sim que não precisa estudar.

— Sei, sei. — Riu. — O infeliz que nunca tire uma nota ‘B’ tentando se passar por humilde. Você devia era ter vergonha dessa sua cara de pau!

— Ei! — Hoseok acabou rindo da acusação que recebera.

— Alias, posso fazer uma pergunta? — Taehyung lembrou de um certo detalhe sobre aqueles dois gênios.

— Sim?

— Por que você e o Jungkook não foram estudar nessas escolas de nerds?

— Escolas de nerds?

— É. Nessas para superdotados.

Hoseok se calou por alguns segundos pensando no que responder. Muitos já haviam feito aquela pergunta e sempre que precisava responder, tinha que dar boas voltas para nunca dizer a verdade. Era impossível esconder a grande capacidade dos dois, mesmo que de início eles tentassem não chamar atenção.

— Não somos ricos né? Essas escolas custam um absurdo.

— Mas eu ouvi dizer que, para alguns alunos, fazem um teste de QI, umas provas e não sei mais o quê, e dependendo, ganham uma bolsa de estudos nesses lugares.

Taehyung era esperto, e isso preocupava Hoseok. Se Jungkook e ele fossem para uma escola do tipo, tinha certeza de que chamariam atenções demais. E isso incluía pessoas que eles queriam manter longe. Principalmente pessoas que poderiam trazer problemas para Jungkook.

— Jungkook não quer competições, sabe…

— Competições?

— Mesmo que um lugar desses fosse ótimo para o desenvolvimento daquela cabeça genia, Jungkook prefere não se misturar com gente que tenha QI maior que o dele. Tenho certeza que ele cometeria alguns homicídios por lá.

— Credo… e qual é o seu QI mesmo?

— Cento e sessenta.

— Nossa que medo. E o do Jungkook?

— Cento e noventa e dois.

— Meu Deus! — Taehyung se espantou. Aqueles garotos com quem Taehyung convivia realmente não eram quaisquer um. E agora ele se sentia como Jimin. Tão burro.

— Mas ter um QI elevado também não significa nada. — Hoseok deu de ombros. — Não é como se isso nos tornasse superpoderosos ou ricos.

— Superpoderosos não, mas ficarem ricos é questão de tempo pra vocês dois.

— Quem sabe… — sorriu, pensando em algumas besteiras. — Se eu ficar rico poderei abrir minha própria gravadora e fazer de você um cantor famoso.

— Ah! Vai se ferrar! — Jogou um dos travesseiros em Hoseok, fazendo ambos rirem por aquilo.

E depois de tocarem mais um pouco, e passarem algumas horas jogando corrida, terminaram o dia em uma maratona de séries. Taehyung nem queria voltar pra casa, e aproveitou aquelas férias para se enfiar de vez na cada de Hoseok. Pelo menos seu fígado estava agradecendo por ficar tanto tempo longe das noitadas repletas de bebedeira. Mas o garoto se embriagava todo apenas com a presença de Hoseok.

 

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Jimin viajou com a família para San Francisco, onde moravam alguns parentes. Era costume da família Park ficar alguns dias por lá nas férias de verão. O garoto até que estava bem, embora férias em família ser sempre algo entendiante, elas não poderiam ter vindo em melhor hora. Os 619 quilômetros distância de Los Angeles o deixava mais animado. Os últimos dias de aula foram desgastantes, nem mesmo conseguia mais se concentrar nas últimas matérias, e se não fosse por todo o esforço durante todo o ano, talvez tivesse pego uma bela recuperação.

E por mais que não tivesse conseguido grandes progressos com o coração de pedra, arrogante e bonito Jeon Jungkook, Jimin não parava de pensar em como ter alguma aproximação. Na verdade ele pensou sim em desistir dessa fixação pelo “gênio do mal”, mas era impossível tirar os olhos dele. O garoto se sentava sempre nas primeiras cadeiras e Jimin ficava lá atrás. Jungkook costumava cruzar os braços enquanto prestava atenção nos professores, e quando escrevia algo, que era uma raridade pois ele não sentia necessidade de copiar os conteúdos —porque já sabia deles. Tudo o que era mostrado e dito ficava gravado no “HD” de sua mente pra sempre—, Jungkook costumava balançar a cabeça para arrumar os cabelos que caíam sobre os olhos, assim como também mordia a ponta da caneta, fazendo o garoto parecer fofo. E aparentemente ele era fofo, mas só para quem não o conhecia.

Jimin se odiava por ter o desafiado alguns dias depois da chegada de Jungkook no colégio. Jimin estava em mais uma de suas demonstrações de como era hábil com os cubos mágicos para os alunos da classe. Mandava qualquer um embaralhar os cubinhos e em alguns minutos, mostrava-o pronto, com os bloquinhos e cores cada um em seu lugar. Ele era muito bom com aquilo, ainda mais quando comprou um cubo de 4x4x4 e outro de 5x5x5, mas esses ele demorava mais para resolver. Em um dia em especial, Hoseok observava Jimin brincar com os cubos de Rubik enquanto estavam na cantina, e acabou chamando Jungkook para se juntar ao pequeno grupo ao redor do garoto. Jimin não conhecia o jovem direito e mesmo assim fez a ousadia de o desafiar na frente dos colegas. Não fez aquilo com maldade alguma, sabia que o garoto era inteligente apenas pelos livros que lia, e achou o motivo da brincadeira com os cubos ótima para uma aproximação.

Mas não soube frear a própria língua quando Jungkook o ignorou. Jimin disse em alto bom tom que Jungkook não conseguiria resolver o “simples” jogo, e nesse momento o jovem apenas levantou, fechando delicadamente seu livro, deixando-o sobre a mesa e foi em direção de Jimino. Pegou dois de seus cubos 3x3x3, totalmente bagunçados, olhou para cada face deles e fechou os olhos. Moveu os dedos como se fossem patas de aranha e em um pouco menos de um minuto os cubos estavam arrumados.

Jungkook voltou a seu lugar pegando o livro. Jimin ficou calado por um tempo enquanto os amigos em volta seguravam o riso. Não se sentiu humilhado, mesmo sabendo que era isso o que o maior queria, sentiu apenas que aquele garoto era um desafio para si. E a princípio queria ser melhor que ele, mas suas ideias se perderam e quando se deu conta, estava gostando do garoto de gelo.

Ele tem mesmo razão em dizer que sou tão idiota”. Era o que Jimin pensava enquanto se balançava naquele pneu velho que estava preso na árvore atrás da casa dos tios. Olhava para o céu sem nenhuma nuvem e tentava imaginar o que os amigos estavam fazendo naquele momento, e claro, Jungkook. Certamente o garoto estaria trancado no quarto como Hoseok costumava contar.

Pensava no porquê do outro não sair um pouco. Los Angeles tinha tantos lugares legais para se curtir nas férias. Jungkook poderia ir nos teatros de lá, no Kodak Theatre que era o melhor, ou no Griffith Observatory, ou mesmo no California Science Center, que Jimin achava que ele poderia se interessar mais.

Talvez Jimin não tivesse tanto com o que se preocupar, mais um ano Jungkook iria embora para o outro lado do país estudar em Massachusetts, bem longe. Talvez tudo o que tivesse que fazer era reprimir seus sentimentos e ignorá-lo também.

 

-----§§§-----

 

E passou rápido para uns e lento para outros, mas as férias de verão acabaram. Era agosto e os alunos voltavam para as escolas, mais um ano letivo se iniciava, e, para os quatro jovens ali, o último ano no ensino médio também. Mesmo que Taehyung fosse o pior aluno da sala, foi impressionante ver como sua dedicação nos estudos melhorou bastante. Nem ele mesmo acreditava nisso, mas ter o incentivo de Hoseok era o bastante para fazer o rebelde loiro se focar mais nas responsabilidades estudantis. E foi por pouco que Taehyung não repetiu de ano. Passou boa parte das férias na recuperação, mas ter Hoseok como seu professor particular o rendeu bons resultados. E pela primeira vez os pais de Taehyung o viram pegar em livros para estudar de verdade.

As aulas começaram com muito entusiasmo dos seniors do John Marshall High School. Último ano pedia uma grande festa de formatura. Para os alunos do futebol, mais um campeonato pela frente para ser vencido e as cheerleaders já estavam nos ensaios de novas coreografias assim como já desenhavam os novos uniformes, que cada vez ficavam menores.

O início das aulas era de correria para alguns alunos, escolher suas matérias e entrarem em clubes ou times era tudo o que se ouvia falar pelos corredores. Os novatos faziam muito barulho, e para a alegria de vários e tristeza de poucos, alguns alunos acabavam caindo em turmas diferentes, e era isso o que o jovem Jimin queria, mas não teve essa sorte.

— Oh! Caímos na mesma turma das matérias obrigatórias, legal né? — Taehyung falava baixo, perto da carteira de Jimin que estava com a cabeça deitada na mesa.

— Não muito… — Disse desanimado.

— Hum… — Os quatro garotos ficaram mais uma vez na mesma turma. Hoseok e Taehyung estavam animados com isso, Jimin, embora gostasse daqueles dois, não podia se sentir “melhor” com Jungkook junto também. E Jungkook, o gênio do mal —novo apelido dado por Taehyung—, Bom, pra ele tanto fazia quem estava em sua turma ou não. — Jimin, eu não entendo essa sua cabeça. O que te deu pra gostar dele, hein? Aliás, quem gosta de alguém como ele?

Jimin suspirou cansado, quem gostava de alguém como Jungkook? Ele gostava.

Se eu pudesse dizer “Jimin pare de gostar dele agora” e eu parasse, eu já teria feito isso. — Levantou com preguiça, e agora estava escorregando na cadeira, quase deitando sobre a mesma. Os alunos estavam aproveitando a ausência do professor para conversarem alto sobre suas férias. — Mas não é fácil…

— Bonito aquela peste é, mas por favor Jimin… Não dá pra ficar suspirando por uma pedra de gelo.

— Por que ele me ignora tanto? — Disse baixinho, talvez apenas pra ele mesmo ouvir. — Eu não sou bonito? Eu não sou nem um pouco interessante?

— Ei? Que conversa estranha é essa? Você bebeu antes de vir pra escola é? — Se aproximou do amigo, não querendo que mais ninguém escutasse a conversa deles.

— Eu terminei de ler aqueles livros que ele me falou, eu entendi tudo lá… Queria falar pra ele.

— Jimin? - Taehyung notou a face avermelhada do amigo e algumas gotas de suor nela. Colocou a mão na testa do outro e ele estava quente. — Você tá doente Jimin. Como você vem doente pro colégio seu doido?

— É uma febre passageira…

— Passageira nada, levanta daí, vamos na direção pedir pra alguém vir buscar você.

Taehyung não esperou uma resposta do outro e já foi o levantando com cuidado. Pegou sua mochila que estava jogada no chão e seguiu ao lado direto para a saída da sala, mas Jimin acabou parando ao lado de Jungkook, puxando a mochila que estava nas costas de Taehyung e tirou algo de dentro dela. Colocou o objeto na mesa de Jungkook e seguiu para a porta, sem olhar para trás.

Em cima da mesa estava o undecágono arrumado. Depois de dias tentando, Jimin finalmente havia conseguido resolver aquele “cubo” mágico. Jungkook o segurou por um tempo e lembrou que um dia, Jimin chegou na escola e puxou a primeira cadeira que viu e sentou a sua frente. Jimin pegou dois cubos e fechou os olhos, resolvendo-os algum tempo depois. Demorando cerca de três minutos pelas contas de Jungkook, e quando Jimin abriu os olhos, com um sorriso estampado, Jungkook disse que aquilo não era nada e que no dia que Jimin conseguisse resolver um undecágono de olhos fechados aí sim ele poderia ir falar com ele.

O “falar” era só uma força de expressão, mas naquele momento Jungkook percebeu que para Jimin não era.

 

-----§§§-----

 

Hoseok mexia no celular enquanto andava ao lado de Jungkook. Os garotos estavam voltando pra casa depois de mais um dia de aula. E a cada dia que passava, Jungkook estava cada vez mais entediado com aquele colégio. Era uma droga se fingir de aluno “um pouco acima da média”. Aquele disfarce o cansava, mas era necessário por um tempo. Enquanto ninguém estivesse com os olhos voltados em sua direção, tudo ficaria bem.

— Tem dois dias que o Jimin não vem pro colégio… — Hoseok falou aleatoriamente, fazendo o amigo o encarar estranho.

— O número 32 não disse que ele estava doente?

— Número 32?

— Sim, o punk oxigenado que não sai da nossa casa.

— Ah! O Taehyung?

Jungkook teve que respirar fundo e girar os olhos para não dar uns tapas em Hoseok.

— De quem mais eu estaria falando, Hoseok?

— Você devia aprender os nomes das pessoas em vez de chamá-las por números.

— Tanto faz. — Deu de ombros, ajeitando o capuz na cabeça.

— Enfim… — Hoseok sabia que teria muito trabalho com aquele garoto. Jungkook não era alguém fácil de lidar. — Você parece bem relaxado com o fato do Jimin não estar indo as aulas.

— E estou mesmo. Tenho motivos para gostar da distância dele. Ele me irrita mais que qualquer um nesse colégio.

— Jimin é tão legal, JK. Você que só sabe reclamar de todo mundo.

— Não reclamo tanto do número 32. — Continuou a fazer cara de paisagem enquanto caminhavam. Mas assim que se lembrou de um detalhe, tratou de enfiar as mãos no bolso da blusa de frio e encarou Hoseok de canto. — Você que entende melhor sobre expressões corporais… Poderia me dizer o que o Park quer?

A pergunta fez Hoseok pensar um pouco, e embora tivesse algumas suposições sobre Jimin estar sempre querendo se aproximar do amigo, muita coisa ainda não fazia sentindo para ele. Jungkook e Hoseok podiam saber muita coisa sobre qualquer assunto, mas “aqueles” em específicos eram verdadeiros fracassados.

— Eu já tentei traçar o perfil dele e acredite se quiser, eu também não entendo.

— Não entende?

— Na verdade… A princípio eu pensei que ele só queria competir com você, ganhar de você seja lá no que for, sabe? Pensei nisso por culpa dos cubos mágicos, mas depois o perfil dele ficou diferente. Ele não quer mais competir…

— Como não? Você mesmo me disse que ele estava lendo coisas que eu lia, escutando coisas que eu escutava, pesquisando sobre interesses meus. Eu o acho tão idiota por tentar me superar que até chego a sentir dó dele.

Hoseok parou seus pensamentos ao ouvir aquilo.

— Você sente dó? Desde quando você sente alguma coisa por alguém, mesmo sendo dó?

— Pra você ver. É ridículo uma pessoa como ele querer se comparar a mim, você não acha? A batalha é simplesmente injusta para ele. Se ele fosse ao menos como você, mas não, uma pessoa comum, de mente comum. Por mais que ele se esforce nunca chegará aos meus pés. E eu não estou falando isso pra me gabar.

— Bom, como eu ia dizendo… — às vezes Hoseok não aguentava o ego do amigo. — Eu não acho que o que ele quer é competição, ou coisa do tipo.

— Então o que seria?

— Acho que ele tem admiração por você.

Jungkook parou de caminhar, fazendo Hoseok também parar.

— Admiração?

— Sim, ele quer saber o que você gosta pra tentar te entender melhor. Ele te admira assim como um fã admira um ídolo, sabe?

Jungkook voltou a caminhar em silêncio. Já tinha escutado muitos adjetivos direcionados a si das outras pessoas, mas o mais próximo daquilo que Jimin sentia era mais uma “puxação de saco”, agora, admiração, nunca. Perguntava-se como alguém podia sentir isso por ele. Jungkook era bom em tudo e sabia que seria reconhecido por isso, só que Jimin já o conhecia bem, o normal era ter se afastado porque sua personalidade arrogante fazia isso com as pessoas. Jungkook não era legal e nem um pouco amigável, então por que Jimin o admirava? Por que esse interesse em si?

Mesmo com essas dúvidas, Jungkook deixou um sorriso escapar por entre os lábios. Era ótimo saber que haviam pessoas que o admiravam, isso só era prova do quão bom ele era.

— Hey JK! — Hoseok chamou sua atenção.

— Sim?

— Vamos fazer uma boa ação e ir visitar o Jimin?

— Que ideia é essa?

— Ora, vamos lá? E seja um bom garoto.

Hoseok segurou o braço do amigo e o arrastou na direção onde ficava a cada de Jimin. Ouviu gritos e xingamentos, mas ignorou.

Depois de muito protesto os dois finalmente chegaram até a residência dos Parks. Entraram pelo pequeno portão de madeira pintado de branco. Na América as casas não costumavam ter grades, portões ou muros. Algumas tinham aquelas graminhas e árvores que circulavam a casa e outras nem mesmo tinha isso. As casas dali davam um ar de liberdade e até mesmo segurança, não havia tanta necessidade de proteções.

Hoseok subiu alguns degraus que davam acesso à porta da frente e tocou a campainha. Ele já foi ali algumas vezes com Taehyung, e pelo que sabia, Jimin devia estar sozinho em casa. Mas tinha mais certeza por não ver nenhum dos dois carros da família na garagem.

A porta foi aberta devagar, e dentro da casa saiu um Jimin um pouco abatido. Taehyung já havia dito que Jimin era do tipo que ficava de cama com qualquer gripe. E Jimin se espantou ao ver Hoseok em sua porta sem estar acompanhado do punk oxigenado.

— Hoseok? O quê… — Calou-se ao ver que logo atrás do garoto estava Jungkook com a costumeira cara amarrada.

— Oi Jimin, viemos ver como você está. — Hoseok disse animado, colocando-se na frente da visão do outro.

Jungkook puxou mais o capuz para cobrir seu rosto. Era uma clara mentira Hoseok ter usado o plural naquela frase.

— E-eu... estou bem, amanhã ou depois eu já devo voltar pras aulas. — Respondeu um pouco tímido, vendo que Jungkook sumia dentro daquela blusa preta, um pouco grande demais para ele.

— Quer que a gente traga os conteúdos pra você? Bom, não somos da sua turma em algumas matérias, mas já seria uma boa ajuda, né?

— Err... o Tae disse que resolveria isso, não precisa se preocupar. — Suspirou um pouco cansado, parecia que sua febre aumentava somente com a presença de Jungkook.

— Jimin vamos entrar, está frio e você está doente, não é bom ficar aqui fora. — Disse Hoseok, praticamente invadindo a casa alheia. Jimin deu passagem para o garoto e ficou encarando o outro que ainda estava do lado de fora.

— Err… entra. — Disse, ainda mais corado. E pelo menos estava com febre, assim Jungkook não perceberia o real motivo daquela vermelhidão.

Jungkook apenas girou os olhos, estava mais amaldiçoando o amigo que o arrastou para ali do que o garoto a sua frente. Viu o Jimin paralisar por entrar pela primeira vez em sua casa e Jimin ainda fitou a rua, implorando que sua mãe chegasse logo. Tinha medo de desmaiar na frente dos garotos e não seria pelo motivo de estar doente. Contou mentalmente até dez antes de fechar a porta e entrar.

Hoseok já estava sentando em um dos sofás, enquanto Jungkook ainda se mantinha em pé no canto da sala observando e decorando cada parte daquela casa. Tudo que fosse novo precisava ser rapidamente decorado. Jungkook fazia isso inconsciente já. E assim notou que em cima do sofá em que estava Hoseok, havia um dos livros que indicou para Jimin alguns meses atrás.

— Ainda não terminou? — Perguntou, vendo a marcação das páginas em algumas dezenas de folhas.

— Na verdade, estou lendo pela segunda vez. — A voz de Jimin saiu fraca, estava se sentindo acuado no momento.

Jungkook encarou o garoto e depois Hoseok que folheava aquele grosso livro. Decidiu então testar Jimin para ver se a teoria de Hoseok estava certa.

— Você gosta desse tipo de literatura?

Jimin abaixou o olhar, não conseguia conversar cara a cara com Jungkook que tinha o olhar mais penetrante de todos.

— Nunca tinha lido nada do tipo, mas eu gostei…

— Se eu te falar outros títulos desse autor, você irá lê-los?

— E-eu não sei… — Sentiu a face corar mais do que já havia corado em toda sua vida e sentiu a respiração ficar difícil. — Talvez…

— E se eu te indicar autores diferentes, vai ler também?

Jimin não entendia o motivo daquelas perguntas, mas, com certeza, iria se esforçar.

— Sim, acho que sim.

— Por quê?

A pergunta fez Jimin levantar o rosto encarando aqueles sérios olhos escuros.

— “Por quê”?

— Sim. Por que vai ler o que eu indico?

Hoseok olhou para aqueles dois e sabia onde Jungkook queria chegar.

— Porque é uma ótima leitura e é bom para o intelecto, né Jimin? — Disse, sorrindo para o garoto que começava a suar. — Agora vamos para a caminha que você não está nada bem, né? — Levantou e começou a empurrar Jimin para fora da sala. — Desculpe Jimin, a gente só veio fazer uma visita.

Jimin entrou em seu quarto e sentou na cama, encarando Hoseok sem entender nada.

— Você acredita que, um pouco antes da gente vir pra cá, para a América, eu também peguei uma gripe horrível. Fiquei dias de cama e o Jungkook ia me visitar todos os dias. Assim que chegava no meu quarto ele pegava o meu caderno e anotava as coisas importantes da aula, e, quando eu ficava entediado ele trazia alguns mangás pra mim. Ele não gosta dessas coisas, mas sabia que eu gostava e comprava só pra eu ler.

— Hã?

— Sabe, por mais que o Jungkook adore de conversar comigo sobre tudo o que ele gosta e eu saber do que se trata, não significa que temos os mesmos gostos. Somos bem diferentes. — Tentou explicar, querendo que Jimin o entendesse. — Eu gosto de muitas coisas que ele não suporta, e eu não ligo nem um pouco. As vezes ele vem falar comigo sobre umas coisas que eu não dou importância nenhuma e o mando sumir. — Sorriu. — E bom, as perguntas que ele te fez lá na sala era mais pra saber o motivo dos seus interesses pelos interesses dele. Ele nunca viu ninguém querer saber tanto disso quanto você.

Jimin abaixou o olhar, não podia contar ao melhor amigo de Jungkook sobre seus motivos e sentimentos.

— Bom… — Hoseok notou que Jimin pareceu incomodado com o assunto. — Jungkook é uma ótima pessoa, mesmo que não pareça, então não precisa querer agradá-lo ou coisa do tipo para se aproximar. Seja você mesmo e não deixe ele folgar pra cima, viu?

Jimin sorriu um pouco sem graça, virando o rosto para o lado enquanto Hoseok o analisava. Ele sabia que não era certo analisar as pessoas, mas Jimin acabou instigando sua curiosidade também. E depois de juntar pequenas peças daquele quebra-cabeça que Jimin parecia ser, pode identificar o que se passava dentro daqueles olhos negros. Assustando-se por um segundo. Sempre demorou para traçar aquele tipo de perfil.

— Pode contar comigo, tá? Fico muito feliz de saber que alguém além de mim se importa com aquela pedra de gelo. Mas já sabe que aquilo ali é difícil de entender, né?

— E como você conseguiu? — Jimin olhou para a porta, pensando se Jungkook estaria os escutando.

— Então… — Pensou na melhor resposta que poderia dar. — Digamos que eu precisava fazer isso. — Sorriu de uma forma que deixou Jimin ainda mais confuso. — Bom… Vou indo. Desculpe perturbar e desculpe por aquele dali.

— Tudo bem. — Sorriu fraco, vendo Hoseok se despedir e embora de seu quarto.

Enquanto isso, Jungkook continuou encostado no sofá com os braços cruzados, fuzilando o amigo com o olhar.

— Pensei que ficaria aqui o dia todo.

Hoseok ignorou as palavras de Jungkook e passou reto por ele. Abriu a porta e os dois saíram da casa de Jimin. Mas Jungkook não gostou nem um pouco de receber tão tratamento de Hoseok. Detestava ser ignorado.

— Ele está bem? — Jungkook perguntou.

— E isso importa pra você?

— Não queria que eu fosse educado?

— Não comigo. Por que não volta e pergunta pro Jimin se ele está bem?

Jungkook apertou o passo e parou na frente do amigo que estava mais sério que o normal.

— O que deu em você, Hoseok?

— Nada. — Olhou firme nos olhos do amigo.

— Por que está me tratando assim? — Ficou irritado. Hoseok nunca era daquele jeito consigo.

— Estou te tratando do jeito que você trata todo mundo.

Lentamente Jungkook foi mudando a expressão irritada para uma de preocupação. Jungkook não entendia o que poderia ter feito o amigo ficar daquela maneira, mas receber tal tratamento de Hoseok era sufocante. Não sabia o que responder. Sempre jogou olhares reprovadores ao amigo quando este fazia brincadeiras sem graça, ou quando o fazia passar por situações que não gostava, mas nunca foi de tratá-lo como os outros. Hoseok era especial de algum modo.

E Hoseok percebeu que tinha agido por impulso naquele momento. O que tinha acabado de traçar da mente de Jimin estava deixando sua cabeça bagunçada. Havia tomado as dores do outro.

— Desculpa JK, mas pode voltar sozinho? Tenho que passar na casa do Tae-Tae.

— O que está me escondendo?

Hoseok pensou que não devia ter ensinado sobre reconhecimento de linguagem corporal para Jungkook. Embora ele fosse melhor nesse quesito, o amigo não ficava atrás.

— Não posso te contar. — Era o máximo que podia responder.

Jungkook pensou em dar de ombros e ir embora com aquilo. Sua curiosidade pelo que tinha acontecido no quarto de Jimin não lhe interessava. Somente o que tinha feito o amigo ficar daquele jeito. Suspirou devagar e assentiu com a cabeça. E antes que Hoseok pudesse ir para a casa do punk oxigenado, resolveu esclarecer um detalhe entre eles.

— Desculpe… Pelas vezes que eu te tratei mal. — Falou, vendo Hoseok tomar um pequeno susto.

Mas logo Hoseok abriu um largo sorriso. Não esperava aquela atitude e ficou feliz da pequena demonstração de que era importante. Feliz por ver que, depois de tanto tempo, o coração do amigo estivesse voltando ao normal. Muito de sua vida havia mudado por um erro incorrigível, e se culpava muito por isso. Despediram-se e ambos seguiram em direções contrárias na rua.

— Sou eu quem devia pedir desculpas por ter mudado toda a sua vida JK… Fui tão egoísta. — Hoseok sussurra para si mesmo.

 

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Mantinha os olhos fixos na pequena luz que piscava um pouco acima da porta daquela sala. Enquanto estivesse piscando em amarelo significava que estava trancada. Abaixou o olhar para a grande janela espelhada logo a sua frente, sabia que tinham pessoas no outro lado o observando. Deitou-se no chão branco e macio. A sala era totalmente acolchoada e completamente branca que tinha apenas uma mesa baixa de vidro. Se sentia em um hospital, e crianças odiavam hospitais.

O pequeno estava com fome, já estava preso ali há algumas horas, queria tirar aqueles fios que estavam grudados em si. Era a segunda vez que a criança ia naquele lugar. Achava muito legal quando faziam perguntas para si, sobre qualquer coisa e ele sabia responder. Quando davam cálculos estranhos e testes de lógica. Gostava de mostrar que os resolvia rápido. Mas já queria voltar para a casa.

“— Hobi, já terminamos.”

Ouviu a voz sair pelo pequeno alto-falante acima da janela espelhada. Logo a luz que piscava em amarelo se apagou e a porta abriu. Uma jovem também trajada de branco entrou. Ela trazia nas mãos uma prancheta com várias folhas e uma pequena caixa que as deixou de vidro e começou a tirar os eletrodos do garoto que sorria animado.

“— Eu fui bem, Noona?” — Perguntou animado.

“— Sim, você é o melhor Hobi.” — A moça mostrava um sorriso falso.

Tirou a aparelhagem do garoto e pegou seus testes em cima da mesa. Jogando tudo dentro da caixa que trouxera.

“— Você voltará aqui durante muitos dias, promete guardar segredo de tudo o que fizer aqui?”

“— Sim! É uma missão secreta só nossa, Noona. Eu prometo.”

A moça sorriu. Tinha conseguido levar a criança no papo, e claro que alguns doces e brinquedos o ajudaram a manter a boca fechada.

Enquanto o pequeno se levantava, deixou os olhos passarem rápido sobre a prancheta da moça, não viu muita coisa, mas no canto superior de uma delas havia uma foto de outra criança, e seu nome era Jeon Jungkook.

 

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Enquanto andava pelas ruas movimentadas, Jungkook tinha a mente na conversa que teve com Hoseok. Queria saber o que Jimin devia ter feito para que o amigo agisse daquela maneira, e o odiou ainda mais. Conhecia Hoseok há quase três anos e não admitia que alguém chegasse do nada e abalasse aquela amizade.

Andava um pouco distraído com seus pensamentos, e enquanto fitava lugares aleatórios da rua, deixou o olhar cair em um modesto bar que ficava em frente a praça por onde passava. Percebeu que ali dentro havia um homem que o observava, e quando um se deu conta de quem era o outro, o homem levantou na mesma hora, deixando o copo de cerveja na mesa do bar. Jungkook sentiu o frio descer pela coluna e teve que lembrar que tinha pernas para começar a correr.

Olhou para trás e o homem saiu rápido do bar, também correndo em sua direção. Jungkook estava longe e tinha uma vantagem, passou rápido por entre algumas ruas e casas e como conhecia bem o seu bairro, conseguiu sumir das vistas do homem, mas nem por isso parou de correr. Não podia acreditar que aquelas pessoas tinham descoberto o que ele fez. Demorou alguns anos, mas ninguém daquele lugar era burro. Estavam atrás de Jungkook mais uma vez…

Sentiu um bolo se formar na garganta, mas não ia chorar. Não iria mais demonstrar os sentimentos que lutou para apagar de dentro de si.

Passou por entre os carros nas pistas movimentadas e não ligava para as buzinadas que levava, só conseguia pensar se iriam levá-lo de volta para a Coreia. E podia sentir a pele doer pelas amargas lembranças. Seriam mais agressivos consigo pela mentira? O corpo começou a pedir para parar com a corrida, mas não obedeceu a necessidade. Sofreria severas punições por trair o próprio país? Certamente.

Virou mais algumas avenidas e correu em direção do Mount Lee. O lugar parecia bom para se esconder por um tempo. Correu ainda mais rápido e seus músculos doeriam muito no dia seguinte, mas não se importava.

 

-----§§§-----

 

— Perdeu o garoto? — Perguntou a voz zangada do outro lado da linha.

— Ele saiu correndo e eu tentei ir atrás, mas ele sumiu. — Respondeu o homem que olhava para as ruas sem nenhum sinal de Jungkook.

— Claro que ele sumiu. Estamos falando de Jeon Jungkook! — A voz agora gritava para o homem que teve que afastar um pouco o aparelho do ouvido. — Foi um erro ter mandado você aí, demoramos anos para saber do paradeiro do garoto e você consegue fazer com que ele saiba que estamos atrás dele. Ele é esperto, vai sumir mais uma vez e é tudo culpa sua.

— Sei disso senhor, desculpe.

— Nada de desculpas, apenas o traga o mais rápido possível. — Disse a voz que logo encerrou a ligação.

 

-----§§§-----

 

Hoseok chegou em casa já a noite depois de ter passado a tarde na casa de Taehyung —que tinha um ensaio com alguns amigos, mas desmarcou tudo só pra ter mais tempo com Hoseok— Abriu a porta com sua chave, jogou a mochila no sofá e deitou-se ali. Estava cansado.

— Jungkook? Hoseok? — A voz de sua mãe vinha da cozinha.

— Sima! — Hoseok respondeu.

— Chegaram tarde hoje. — Continuava a conversar com o garoto sem sair do cômodo. Dava pra escutar o chiado do óleo nas panelas, ela havia chegado há algum tempo e estava preparando o jantar.

— Eu passei na casa do Taehyung, por isso demorei. — O jovem agora se estirava no sofá.

— Ah! Então você está, finalmente, conseguindo tirar o Jungkook de casa? Fico feliz por isso.

Naquele momento Hoseok abriu os olhos assustado. Sua mãe estava falando como se o Jungkook estivesse chegado naquele momento junto consigo? Jungkook ainda não tinha chegado em casa então? Levantou rápido e subiu as escadas, nem mesmo se dando o trabalho de bater na porta do quarto do outro, abrindo-a com certo desespero. E ele estava vazio. Jungkook não estava em casa. Hoseok pegou o celular e discou o número do amigo, e a cada toque sentia o coração parar uma batida. Mais alguns toques e a ligação caiu. Desceu as escadas e pegou as chaves da moto, e antes de sair, gritou para sua mãe.

— Vou sair com o JK de novo, já voltamos! — Mentiu. Mas não saberia como explicar o sumiço do amigo. Jungkook não saía e quando raramente fazia isso, avisava. Sempre atendia o telefone, era muito responsável. Algo tinha acontecido.

Pegou a moto do pai e a levou para longe de casa, só assim para ligá-la sem que sua mãe escutasse e começasse a reclamar. E enquanto corria pelas ruas de Los Angeles, em várias direções sem saber onde ir, sem saber por onde procurar, tentava de minuto em minuto ligar para Jungkook que não atendia as ligações.

— Merda JK, cadê você? Atende essa porra!

Parou a moto em um cruzamento qualquer, olhou em todas as direções e nem mesmo sabia onde começar suas buscas. Jungkook devia estar em casa, trancado no quarto estudando coisas complicadas.

Sentiu os olhos encherem já se sentindo culpado por alguma coisa. Pensava que devia ter voltado pra casa com o outro. Andou por mais algumas ruas e sem muitas opções acabou ligando para os amigos. Claro que não tinha esperança alguma de Jungkook estar com algum deles, mas não sabia o que fazer. Como ia chegar em casa e explicar aos pais que Jungkook havia desaparecido? Que desviou do seu caminho e o deixou só? Jungkook não era nenhuma criança que não sabia o caminho de casa, ninguém melhor que ele para decorar o mapa mundi e nunca se perder. No entanto, se sentia responsável, responsável por tudo em sua vida e agora mais do que nunca, responsável pelo seu sumiço.

Acabou ligando para Jimin no desespero.

— Jimin! Jimin! — Não esperou o outro atender direito e já começou a gritar.

— Hoseok? O que foi?

— O… o JK… — Não conseguia segurar mais o choro. Certamente iria se odiar mais tarde por ter demonstrado suas emoções assim.

— O que aconteceu? — Falou ainda mais preocupado, percebendo o estado de Hoseok ao telefone.

— Você não sabe dele? Não viu JK?

— Quê? Como assim? Depois que vocês saíram daqui?

— Sim…

— Não… O que aconteceu?

A voz de Hoseok se calou do outro lado, mas Jimin conseguia ouvir seu choro, e isso só fez seu peito doer. Levantou da cama e suas mãos já tremiam.

— Hoseok? O que aconteceu? — Repetiu, e era tão estranho toda aquela preocupação em si.

— Ele sumiu… O JK não chegou em casa. Eu fui um estúpido, eu deixei ele voltar sozinho. Merda, eu não deveria ter ido na casa do Tae… Não devia ter deixado o JK voltar sozinho. — Disse, se enrolando um pouco na explicação, mas Jimin conseguiu entender. — O JK não é de sair, de sumir assim, ele não atende o telefone, eu não sei o que fazer.

E sem pensar direito, Jimin abriu o guarda roupa e pegou alguma coisa mais decente pra vestir, já que estava de pijamas o dia inteiro. Ainda estava tonto pela febre que não tinha passado, mas sentia que precisava fazer alguma coisa.

— Onde você está Hoseok? Eu vou aí, vamos procurá-lo juntos. Vou pegar o carro do meu pai. — Não ouvia resposta do outro lado da linha, apenas a respiração descompassada do garoto.

Jimin se vestiu rápido e correu para a sala, pegando as chaves da mãe que ainda tentou impedi-lo de sair de casa tarde e ainda por cima doente, mas Jimin insistiu, dizendo que era um assunto urgente. Pegou sua carteira e entrou no carro sem tirar o celular do ouvido uma única vez.

— Estou indo aí, Hoseok. Fica calmo. — Falava, mas quem estava nervoso de verdade era ele. Olhou pro volante e desde que tirou a carteira, havia pegado poucas vezes em um carro. Mas aquela não era hora pra ficar com medo. Girou a chave e saiu dali.

Em pouco tempo conseguiu achar a localização de Hoseok. Ele estava em uma das avenidas de Hollywood, bem longe de casa.

— Jimin! — Hoseok gritou assim que viu o carro da mãe de Jimin.

Jimin saiu rápido de dentro do veículo, indo em direção do outro que estava tremendo. Estavam nervosos e era visível seus olhos vermelhos pelas lágrimas. Hoseok, mesmo preocupado, não deixou de se impressionar com o estado de Jimin. Praticamente igual a ele, desesperado com o sumiço de Jungkook. Aquilo era mesmo reflexo do que traçou mais cedo?

— Não tem nenhuma ideia de algum lugar que ele poderia ter ido? — Jimin perguntou, tentando se manter calmo, embora seus olhos estivessem ardendo apenas por ver Hoseok tão abatido.

— Não tem nem por onde começar. O JK simplesmente não é de sair de casa assim. Eu não sei o que fazer Jimin, eu tinha que ter voltado com ele, eu sei que ele já é grande, mas eu cuido dele como se fosse meu irmão — Levou uma das trêmulas mãos à testa. — Nem dá pra ir na polícia, esses idiotas iam falar pra gente esperar algumas horas pra dar o caso como desaparecimento.

Jimin concordou, mas segurou Hoseok pelos ombros, querendo que ele se acalmasse. Seu corpo queimava com a febre, no entanto, fazia o possível para se manter forte.

— A gente vai encontrá-lo. Vamos pelo menos tentar e olhar nos lugares que ele pode ter ido, perguntar pra todo mundo na rua, gritar e colocar a polícia atrás dele, mas vamos achá-lo. — falou firme. — E-eu prometo pra você.

— Tá… — Hoseok respirou fundo, sabendo que não podia se desesperar ainda. E naquele momento, vendo Jimin daquela maneira, viu o quanto Jungkook estava errado em dizer que Jimin era um idiota.


 


 


Notas Finais


* O povo dos EUA podem tirar carteira de motorista aos 16 anos XD
No caso, o Jimin tem, o Hoseok não, por isso ele pega a moto escondido.

*Undecágono: https://ideiasesquecidas.files.wordpress.com/2015/10/megaminx.jpg

Bjoosss <3


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