História Land Of All - Xadrez

 

2015

Naquela manhã da primeira semana de Janeiro Jimin acordou animado. Desde a promo party do ano anterior, o garoto andava mais feliz que nunca. Tudo bem que teve que agradecer as altas doses de álcool que tomou antes de chegar a festa, mas aquele dia ele pode finalmente tomar coragem para enfrentar Jungkook. E a resposta que teve do outro foi melhor do que esperava.

“Eu não te odeio Park Jimin... acho que até podemos ser amigos.”

Tudo bem que depois disso eles mal conversaram e Jimin até achou que a tal “amizade” deles fosse apena um termo usado por Jungkook para que o manter quieto, mas o fato era que Jimin andava mais sorridente. Só por conseguir cumprimentar o gênio de gelo e não receber alguns cubos na cabeça já era um enorme avanço.

Arrumou-se para os últimos meses de aula no Jonh Marshall e saiu cedo para o colégio. Jimin agora gostava de chegar cedo e passar um tempo estudando na biblioteca, pois havia enfiado na cabeça de que iria para a mesma universidade que os amigos. Tudo bem que achava um tanto em cima da hora se preparar para Harvard, mas não podia ficar para trás. Só achava uma pena Taehyung não pensar o mesmo. Taehyung queria se dedicar a música e nem mesmo pensava em prestar vestibular. Hoseok até tentou enfiar algum juízo em sua cabeça, mas não teve jeito. O punk oxigenado ainda tinha um espírito livre e rebelde, e seus pais que o aguentassem.

Jimin chegou a biblioteca e foi para o seu cantinho preferido onde podia passar bons minutos revisando deveres e aprendendo coisas novas. Mas assim que o sinal bateu, indicando que as aulas começariam, dirigiu-se a sala de sua primeira aula e seus amigos estariam na mesma sala.

Assim que entrou, seus olhos instintivamente procuraram pelo gênio de gelo e antes que pudesse cumprimentá-lo, sentiu alguém pulando em suas costas.

— Ei! — Olhou para trás encontrando Taehyung que ainda bagunçava seus cabeços. — Vai estragar o meu cabelo!

— Eu até queria isso, mas essa droga é tão boa que fica bonito de qualquer jeito.

— Sai daqui! — Cutucou as costelas do outro, afastando-o um pouco.

— Alias, eu passei na sua casa e você não estava lá.

— Estou chegando mais cedo. Eu te avisei.

— Ah! — Taehyung jogou a mochila em cima da mesa, e antes de sentar em seu lugar, foi até a frente da sala para falar com Hoseok. — Você está empenhado mesmo em virar um nerd.

— Nessa vida ou você nasce rico ou estuda. — disse Jimin, mas Taehyung já o ignorava depois de sentar na mesa de Hoseok sem a menor vergonha na cara.

— Annyeonghaseyo! — Disse Taehyung se curvando todo naquela mesa, encarando Hoseok de perto.

— Oh! Annyeonghaseyo! — Hoseok respondeu. — Fazia tempo que não ouvia uma palavrinha em coreano. Parece que fazem anos que saímos de lá né, JK?

— É.

Jungkook continuava distante e frio, mas estava ficando mais fácil tanto para Jimin quanto para Taehyung conseguirem ficar perto e conversar com ele.

— Ei Hoseok, o seu aniversário não é no próximo mês? Vai ter aquela festa? — Taehyung perguntava enquanto balançava as pernas.

— Como assim aquela festa? As festas loucas que você frequenta? Acho que a minha mãe não vai permitir uma coisa dessas na casa dela.

— Poxa... — Fez um bico divertido. — Mas a festa não precisa ser lá, podemos só sair.

— Tem vários clubes legais na cidade. — Jimin sugeria.

— Como se a gente fosse maior de idade pra ir nesses lugares. — Hoseok cruzou os braços enquanto encarava aqueles dois.

— Por que você acha que vamos te levar em uma casa de swing? — Taehyung se fez de ofendido.

— Porque eu sei de muita história sua, senhor Tae-Tae.

— Poxa, eu não tenho culpa se consigo identidade falsa. Poderia conseguir pra todos mundo aqui. — Falou baixinho com uma mão cobrindo a boca, o que fez Hoseok rir e negar com a cabeça. E por mais que a ideia fosse divertida, ele não queria se arriscar a ter problemas com a lei.

— Não eu passo. Mas podemos fazer alguma coisa no kart. Ele tem umas salinhas para alugar lá.

— É! — Jimin se animou. — Podemos juntar algumas pessoas e fazemos uma festa que não precise falsificar nada.

— Ah, fala sério. — Taehyung também cruzou os braços. — Festinha com salgados e refrigerante? Isso é coisa de criança.

— Que mania de vocês sempre estarem festejando... — Disse Jungkook um tanto emburrado, não aguentando aquela conversa em suas costas.

— Ei! Dá licença que estamos falando do meu aniversário. — Hoseok falou. — Quando for o seu a gente faz um belo nada, tudo bem?

— Melhor! — Taehyung desceu da mesa de Hoseok. — No aniversário do Jungkook a gente faz uma festa com o tema Frozen e enche a casa dele de gelo.

A piada fez com que alguns alunos em volta rissem, e Hoseok estava impressionado com a liberdade que Taehyung havia se dado para zoar Jungkook. Antigamente o platinado mal chegava perto do outro e agora brincava com ele sem medo algum. Hoseok gostava de ver aquilo, das relações que criavam com outras pessoas como se suas vidas fossem perfeitamente normais.

— Tá bom, gente. — Jimin falou baixo, movendo as mãos para que todos ficassem quietos e não perturbassem mais Jungkook que se encolheu na cadeira enquanto fingia ler um livro para ignorar as risadas. — A aula já vai começar, depois a gente ver direito o que fazer para o aniversário do Hoseok. — Mudou de assunto e logo o professor chegava, fazendo todos se sentarem em silêncio.

E lá do final da sala Jimin não tirava os olhos de Jungkook. Desde o dia que se declarou para o outro, eles nunca mais tocaram no assunto. Aliás, Jimin sabia que Jungkook não ligaria, não falaria e nem faria nada a respeito de sua declaração. Ele não tinha esperanças alguma em relação aquilo. Mas continuava contente por poder ter um pouco mais de abertura naquele coração de gelo.

 

-----§§§-----

 

O sinal para o intervalo havia tocado há um tempo e ainda assim, Jimin continuava dentro da sala estudando. E mesmo que o garoto estivesse bastante quieto, Jungkook já começava a bater a caneta em seu bloco de anotações. Olhou para trás e Jimin não tirava os olhos dos livros e cadernos. Ele se perguntava qual era a real intenção do outro em querer tanto ir para a mesma universidade que Hoseok e ele, aquele lugar não era para qualquer um e certamente aquele garoto não teria média o suficiente para conseguir uma entrevista sequer na universidade.

— Ei! — Chamou, ganhando a atenção dos olhos escuros de Jimin. — Qual curso pretende fazer?

— Hã?

— Na universidade... — Girou os olhos. Ele detestava quando as pessoas não entendiam as coisas de primeira. — Eu vejo que você anda estudando tudo de todas as matérias e não parece ter nenhum foco verdadeiro, então... qual curso pretende fazer?

— Ah... — Jimin olhou para a mesa lotada e antes de responder o que Jungkook perguntava, preferiu dizer outra coisa. — Está reparando nas coisas que eu estudo?

Jungkook estreitou o olhar e levantou, indo em direção ao outro garoto que sentiu um frio lhe subir enquanto tinha aqueles olhos predadores em cima de si.

— Olha pra isso... — Pegou alguns livros na mesa de Jimin. — Tem aqui engenharia, administração, publicidade, outras coisas irrelevantes...

— Ei! — Pegou os livros das mãos de Jungkook. — E o que tem? É bom se informar sobre tudo, não acha?

— Não para alguém como você. — Cruzou os braços, vendo Jimin abaixar a cabeça e organizar um pouco sua mesa. — Você tem uma mente limitada, Park. Devia se concentrar apenas naquilo que acha que pode ser bom e talvez assim consiga passar pelo menos na entrevista de Harvard.

— Não pedi sua opinião... — Falou baixo sem encarar o outro. E isso fez Jungkook quase ter um AVC por ter recebido tal resposta. Jimin agora sabia respondê-lo, e era sempre de um jeito que apenas ele conseguia fazer.

— Ótimo! — Jungkook deu as costas e se dirigiu à saída da sala. — Se acha que pode estudar de tudo assim como eu, então continue iludido e seja negado por Harvard. — Estava irritado. E mesmo que não se importasse com Jimin, e o seu jeito de falar parecesse sempre estar brigando, daquela vez havia apenas dado um conselho. Sabia que era ridículo ver Jimin estudando de tudo como um louco, com medo das entrevistas e vestibulares daquela famosa universidade. Mas se dissipar em várias direções seria um problema para alguém de mente limitada, o melhor que Jimin poderia fazer era se focar em uma coisa. Algo que ele realmente gostasse. Só assim para ter ao menos uma chance naquele lugar.

Mas Park Jimin havia se tornado idiota demais. Por algum motivo tinha pego liberdades consigo, assim como Taehyung que vivia jogando piadas ainda mais idiotas. Jungkook odiava os dois garotos, mas se segurava por Hoseok que agora pegava em seu pé para ser “gente”.

Jimin ouviu a porta da sala bater e discretamente sorriu. Ele tinha mesmo conseguido irritar Jungkook? Abraçou um livro e sentiu as bochechas esquentarem por achar o outro uma gracinha emburrado daquele jeito. Mas seu sorriso logo morreu. Jimin sabia que no fim, ele jamais ia conseguir muita coisa. Jeon Jungkook era alguém impossível até mesmo para ter alguma amizade.

Fechou os livros de cima da mesa e saiu da sala. Deu algumas voltas e parou em frente a sala de xadrez quando viu Jungkook lá dentro sendo desafiado pelos dois melhores enxadristas do colégio.

— Vocês querem um jogo rápido ou pretendem ficar o intervalo inteiro pensando em cada jogada? — Jungkook perguntava já se vangloriando.

— Vai mesmo jogar com nos dois ao mesmo tempo? — Um dos garotos perguntou.

— Sim. E vencerei os dois em dez jogadas no máximo, para cada lado.

Os dois garotos se entreolharam e estavam confiantes. Jimin sentou em uma das cadeiras mais distantes, pois a sala estava lotada. Todos gostavam de ver as habilidades de Jungkook. Embora não gostassem do jeito metido dele de ser, não podiam negar o quão bom ele era em tudo. Mas alguns torciam para ver o ego do garoto ser derrotado ao menos uma vez. Até mesmo Jimin queria isso às vezes.

O jogo começou e dessa vez eles não usavam o contador de tempo da partida. Jungkook jogava com as peças brancas dos dois lados, o que fazia os outros garotos acreditarem estar em vantagem por saber quais caminhos tomar, mas para Jungkook, quem iniciava pouco tinha importância no jogo.

Os garotos demoravam alguns minutos para jogar alguma peça, tudo bem diferente um do outro, e assim que faziam um movimento, Jungkook mexia alguma peça de forma rápida, parecia nem mesmo olhar para a jogada dos garotos.

Jimin olhava para tudo aquilo encantado, e se a sala não estivesse tão cheia, certamente Jungkook notaria o seu jeito bobo admirado. Ele até queria que Jungkok se ferrasse um pouco, mas foi dito e feito. Em menos de dez jogadas, Jungkook venceu um dos garotos, e em exatas dez jogadas venceu o outro. Levantou-se ouvindo os aplausos de alguns e aquilo era ótimo para levantar seu ego.

— Parabéns! — Disse Jimin, surpreendendo Jungkook que não o notou ali.

O gênio de gelo não gostou daquela sensação de estar sendo seguindo, mas pensou um pouco e achou que poderia reverter aquela situação. Fora que ainda não tinha engolido a patada que Jimin o deu minutos atrás.

— Sabe jogar? — Perguntou, desafiando o garoto com os olhos.

— Err... eu? — Jimin olhou para os demais presentes na sala. — Eu sei um pouco.

— Jogaria contra mim?

Jimin arregalou os olhos com a pergunta, jogar contra ele? Impossível.

— Claro que não, perderia praticamente em uma só jogada sua. — Corou.

— Sim, eu sei. Perguntei só pra ver seu sorriso morrer. — Deu de ombros e seguiu para fora da sala de xadrez, e agora os risinhos eram direcionados a Jimin que desviava o olhar de todos os presentes.

Mas mais uma vez ele não deixaria que o gênio de gelo o tratasse daquela forma. Levantou e o seguiu pelo corredor, gritando em coreano para que apenas Jungkook o entendesse.

— Jungkook! Eu jogo contra você.

Jungkook parou no lugar e cruzou os braços, esperando que Jimin chegasse mais mais perto.

— Quer provar alguma coisa, Park? — Perguntou sério.

— Quero! Quero provar que alguém pode te vencer e acabar com seu ego. — Falou irritado.

— Esta bem, e cadê essa pessoa? — Olhou em volta.

Por mais forte que Jimin quisesse parecer, as palavras do outro sempre o machucavam.

— S-sou eu.

— Não está falando sério, está?

— Claro que estou.

Jungkook se aproximou do menor, ficando apenas a alguns centímetros de distância. Encarando-o como um predador.

— Sabe que não é capaz.

— Eu... sou. — Disse baixinho, desviando do olhar insensível do maior.

— Que mania é essa de achar que pode ser melhor do que eu? — Disse, mais uma vez se virando para ir embora.

— E-eu não quero ser... m-melhor que você... — Balbuciou nervoso.

Jungkook parou. Pensou em perguntar o porquê então, mas já sabia a resposta. Jimin não queria ser melhor que ele, apenas queria estar a altura. O que para Jungkook também era uma tarefa inútil. Mas ele tentava tanto...

Respirou fundo, e por mais que ele não se importasse com Jimin, saber que alguém tinha os sentimentos estraçalhados não o agradava nem um pouco. Olhou para trás e encarou aquele rostinho redondo e pensava que se Jimin percebesse o quão bom era não ter sentimentos, não sofreria tanto.

— Park... Pare de gostar de mim. — Pela primeira vez em meses algum dos dois tocava naquele assunto. Jimin ficou estático. Jungkook falava em coreano para que tudo ficasse apenas entre eles. — Se você quiser continuar com seus sentimentos idiotas, pare com isso, se não você pode ficar igual a mim.

Jimin não sabia o que responder, onde estava aquele garoto que não ligava pra ninguém? Jungkook ainda tinha o cuidado em falar em outra língua para que ninguém mais entendesse a conversa, e estava dando um conselho? O pior era a teimosia de Jimin, que a cada pequena demonstração afetiva que o maior dava, se sentia com mais energia para não desistir de ser a pessoa que poderia mudá-lo. E agora era isso que tinha em mente: Mudar Jeon Jungkook. Assim como Hoseok disse que já tinha feito uma vez.

— Eu já falei que acharia melhor não gostar de você... Você só sabe machucar os outros, me fazer sofrer...

— Eu ainda nem comecei a fazer isso. — Disse ainda mais frio, e dessa vez não esperou por uma resposta do outro garoto. Deu as costas e saiu do colégio.

Jimin sentiu os olhos se encherem não acreditando que tal pessoa podia existir. Jungkook só o fazia mal e mesmo assim pensava nele todos os dias. Sempre tentado chamar sua atenção, sempre se humilhando por qualquer olhar, qualquer palavra amigável...

Depois que se declarou, Jimin pensou que teria mudado algo no maior. Pelas suas palavras, quase dando esperanças dizendo para que ele não desistisse... Pelo menos foi o que pensou. Entender aquela mente era difícil. Mas quanto mais indecifrável ele era, mais interesse Jimin tinha. No dia da última prom party, Jimin bebeu bastante antes de chegar ao local, e já tinha um bom tempo que Jungkook estava o ignorando mais do que o normal e mesmo sabendo dos possíveis motivos, Jimin não gostava de tê-lo ainda mais longe do que já tinha. Entrou cambaleando no salão e assim que avistou o gênio de gelo, foi em sua direção. Não esperou nenhuma reação do outro e soltou tudo que estava preso em si, mas como não queria que ninguém entendesse os motivos daquela monologa discussão, falou tudo em coreano. Ficou quase meia hora falando sozinho, sobre todos os seus motivos para sempre estar se aproximando, tudo o que ele achava de Jungkook, xingou-se inúmeras vezes por estar fazer aquela cena ridícula, disse que tinha pensando em desistir do que ele sentia, mas que o próprio Jungkook o havia feito continuar com aquilo. Falou que não tinha vergonha daquele sentimento e que embora fosse muito ruim, ainda era verdadeiro. Falou também da falta de coração que o maior tinha, de como ele agia infantil, de como o idiota ali era Jungkook por julgar as pessoas sem nem ao menos conhecê-las, de como toda sua inteligência era inútil para alguém que não sabia nem mesmo como era tratar os outros. E ainda disse que, ele podia não conhecer Jungkook muito bem, mas sabia que nada justificaria seu modo de agir.

E naquele momento Jungkook pensou se não estiva agindo igual as pessoas ruins que passaram por sua vida. Se estava julgando todo mundo assim como faziam com ele. Mas pra ele, o quanto mais longe conseguisse se manter de todos, melhor. E até mesmo sem demonstrar, sempre se preocupava com Hoseok poder trair sua confiança algum dia.

Jungkook levantou e afim de acabar com aquela gritaria segurou nos ombros de Jimin e disse:

“— Eu não te odeio Park Jimin... Mas não espere que eu vá ser amigável com você. Agora não precisa ficar tocando nesses assuntos, pois como você mesmo disse, eu não tenho coração. Então não me faça querer ter motivos para te machucar.”

Falava do tipo de “aproximação” que Jimin poderia querer.

“— Acho que até podemos ser amigos...”

Disse por fim e depois de muito analisar, viu que Jimin não era uma má pessoa. Mas não deixaria isso transparecer tão fácil. Foi difícil para Hoseok se aproximar dele, e aquilo foi um choque em sua vida. Achou que estava amolecendo, e não queria deixar que sentimentos interferissem mais uma vez em sua vida. Sentimentos significavam fraqueza, e Jungkook não queria ser fraco, não queria ser manipulado por seu inconsciente, queria que seu racional governasse em seu ser. Sempre estar no comando, tinha que ser firme até o dia que conseguisse tudo o que queria.

Porém, depois da festa, Jungkook ainda estava distante de Jimin, e o menor não conseguia lidar com aquilo. Conversou com Taehyung sobre o que deveria fazer, mas ele nem sabia como guiar a própria vida imagine dar conselhos a outro que sofria por um amor adolescente?

Jimin ainda tentou se contentar com a “amizade” que Jungkook o propôs, mas aquela palavra doía em seu peito. Sua birra queria algo a mais mesmo sabendo que seria impossível.

Passaram-se alguns dias e quando Jimin achou que já estava superando mais um fora de Jungkook, eles foram jogar basquete.

Jimin já havia perdido as contas de quantas vezes o maior havia dado cortes certeiros, feito passes perfeitos e o derrubado no chão com suas entradas fortes. Jimin sentia a humilhação a cada cesta de três pontos que o outro fazia apenas para se mostrar. E por sorte o seu time só não perdeu feio porque Hoseok estava nele. Aqueles dois sozinhos faziam estragos na quadra, todo mundo parava pra ver. Jungkook era um nerd, mas isso não o fazia ser sedentário. Ele gostava de esportes, mesmo que não fizesse parte de nenhum time do colégio. O infeliz aprendia qualquer coisa muito rápido e era sempre bom. Quando o jogo terminou, Jimin se jogou no chão da quadra enquanto ouvia algumas reclamações dos colegas. Ele era baixo e isso nunca ajudava muito no basquete. Ele tinha sempre que usar mais força para correr e arremessar, e por isso se cansava mais rápido, perdendo o ritmo da partida.

Jungkook via tudo de longe enquanto bebia água, e quando todos seguiram para o vestiário, Jungkook foi até Jimin e lhe estendeu a mão. O menor não entendeu aquele gesto muito bem, mas aceitou a pequena ajuda do outro, e tocar pela primeira vez a mão de Jungkook o fez arrepiar. Ela era bastante macia.

Assim que ficou de pé, Jungkook entregou a bola para Jimin que a olhou sem entender.

— Me mostre do que é capaz.

— O quê?

— Faça uma cesta de três pontos. — Jungkook ficou sério.

Jimin ainda olhou para os lados, mas a quadra começava esvaziar. Seriam mesmo só os dois ali? Deu de ombros e jogou a bola de qualquer jeito, errando.

— O que foi? — Perguntou ao ver a expressão desapontada de Jungkook. — Não achou que eu acertaria uma cesta do meio da quadra, achou?

— Eu acertaria.

— Que bom pra você.

Jungkook girou os olhos e foi buscar outra bola, jogando-a com força para o menor outra vez.

— Se continuar jogando desse jeito sempre será um peso morto pro time. — Jungkook falava enquanto se aproximava do outro.

— Hã?

— Vem cá! — Puxou Jimin para ficar de costas para si e de frente para o aro — Como está longe do aro, levante mais os braços acima da cabeça, flexione mais as pernas e use o impulso delas combinado com os dos braços para dar mais força. — Dizia enquanto levantava os braços de Jimin com as mãos. Estavam próximos demais e a cada toque que dava, Jimin parecia estremecer. Sua voz estava baixa e próxima ao ouvido do outro. — Assim que jogar a bola use a mão para direcionar o ângulo que ela fará. — Segurou a mão do outro e em uma pose quase igual a dele, pediu para que Jimin arremessasse, o que acabou sendo feito pelos dois. Jimin sentiu mais da força de Jungkook naquele lance e a bola seguiu perfeita, caindo com precisão dentro do aro.

— Oh... — Piscou um tanto desnorteado pelo o que aconteceu. Jimin nem mesmo se importava em ter acertado a bola, estava em choque por ter sentido Jungkook tão grudado em si.

— Treine mais dessa forma e aí os outros vão parar de te encher. — Jungkook seguiu para o vestiário, deixando para trás um Jimin estático que não conseguia tirar os olhos da bola que quicava.

Jimin sentia o corpo queimar em timidez, desejo e confusão. Entretanto, depois de dias como este, Jungkook voltava a agir da mesma forma fria de sempre.

 

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— Desiste disso cara.

— Eu não consigo... — Disse Jimin desanimado, sentando na cama de Taehyung.

— Eu aposto que agora que ele sabe o que você sente, vai brincar com os teus sentimentos. — Disse o platinado, afinando a guitarra.

— Jungkook não é de brincar... com nada até...

— Verdade, é só de ignorar mesmo.

Jimin suspirou.

— Pior que sempre quando eu estou tentado me afastar, ele surge de alguma forma fazendo coisas inesperadas... e depois fica do mesmo jeito que antes.

— Jimin... sinceramente, você acha que daí sai alguma coisa? Tipo... Jungkook não me parece se importar nem um pouco com isso de ficar com alguém. — Tocou algumas cordas, fechando a cara com o som, ainda não estava agradando.

— Eu acredito que vou ficar apertando a mesma tecla todo dia... Eu sei exatamente como ele é, mas quem disse que eu aprendo? — Deitou-se na cama, colocando os braços atrás da cabeça e encarou o teto. Jungkook exigia muito do seu físico e mental.

— Essa sua mania de enfrentar desafios.

— E você? Como vão as coisas com o Hoseok?

Taehyung parou a afinação para encarar o amigo que lhe sorria malicioso.

— Que coisas?

— Sei lá, me diga você.

— Por que está insinuando que eu quero alguma coisa com ele?

— Porque a cada dez palavras que você fala, onze são Hoseok. E porque você anda tomando jeito na vida e estudando mais a sério desde que começou a andar com ele. Fora que vive enfiado na casa dele também.

— E isso quer dizer alguma coisa?

— Claro! Você não ficaria cercando alguém que não estivesse afim de pegar.

Taehyung tocou algumas notas e suspirou quando conseguiu o tom que queria. E como Jimin o olhava como se não fosse terminar com aquela conversa, achou melhor deixar a guitarra no suporte por enquanto.

— Tá bem... as coisas entre Hoseok e eu vão tão bem quanto você e Jungkook.

— Não, não. Hoseok é mil vezes mais fácil de lidar do que com aquele bloco de gelo.

— Só que eu sou medroso e nunca que vou me declarar como você fez... Fora que Hoseok é muito mulherengo também... — Disse desanimando.

— Ei! — Jimin levantou o troco ao ouvir o que o amigo tinha acabado de falar. — Como assim declarar? Você está gostando dele?

Taehyung piscou um pouco antes de entender o que o que havia dito.

— Gente... — Jimin sorriu, jogando-se na cama para gargalhar. — Taehyung gostando de alguém? Com certeza isso é um sinal do fim dos tempos.

— Ei!

— Poxa... — Tentou segurar a risada, mas não estava conseguindo. — Que você estava de olho nele eu já suspeitava, mas que estava gostando? Tipo... de verdade?

— Algum problema? — Cruzou os braços irritado vendo Jimin rolar na cama de tanto rir.

— Você está tomando rumo na vida. Estou orgulhoso. — Brincou, recebendo um travesseiro na cara em resposta. — Eita! Desculpa aí. — Se encolheu todo, tentado se proteger de mais alguns travesseiros que eram jogado em sua direção.

— O Jungkook tem mesmo que te dar o fora. Quem iria aguentar alguém tão chato quanto você?

— Ok! Ok! — Jimin levantou as mão querendo dizer que pararia com as brincadeiras. — Mas enfim, Tae. Eu só vejo o Hoseok jogando cantadas nas meninas, e embora elas vivam babando por ele, nunca o vi com ninguém.

— Ele deve ter os esquemas dele. — Fez um bico chateado. — Mas tanto faz. Eu não teria coragem de falar nada porque sei que no minuto em que eu abrir minha boca será o fim da nossa amizade.

— Hmm... — Jimin entendia o receio do outro, e embora Taehyung gostasse de mostrar que não ligava para muitas coisas, dizer que gostava de um amigo era sempre um caso complicado. A famosa friendzone e fim de amizade andavam lado a lado. — Bom... eu até podia dizer que não precisa ter medo e falar o que você sente, porque eu fiz isso e não fui morto pelo Jungkook, mas...

— Infelizmente eu peguei a amizade de Hoseok... — Riu um pouco sem graça, desviando o olhar por um tempo. — Eu podia ter chegado já cantando ele, porque aí o fora não ia incomodar tanto como será agora.

— Eita! Já está nesse nível de paixão toda? — Brincou, e dessa vez Taehyung subiu em si e começou a beliscá-lo. — Sai! — Empurrou o outro e levantou da cama, pegando a mochila que estava no chão para fugir dos ataques de beliscões.

— Volta aqui! — Taehyung foi atrás, puxando Jimin pela mochila que abriu o zíper e derrubou todo o material no chão.

— Olha o que você fez!

— A culpa foi sua.

— Pode catar tudinho. — Jogou a mochila para cima do outro que ainda se recusou a pegar suas coisas, mas depois de um pequeno bate boca amigável, ambos se abaixaram para pegar tudo do chão. E quando Jimin pegou o caderno para guardá-lo, um pedacinho de papel caiu por entre as folhas. Nele havia um emaranhado de letras, e só de reconhecer aquilo, Jimin ficou branco.

— O que foi? — Taehyung perguntou ao perceber o estado pálido do amigo.

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Jimin ficou boquiaberto com o que dizia naquele encripto, estava diferente do primeiro que recebeu no dia e que foram juntos ao shopping, mas o padrão era o mesmo. E só de ter conseguido decifrar a frase mentalmente, Jimin se sentia um gênio.

— Não estou dizendo, Tae? Quando eu quero me afastar ele faz alguma coisa inesperada.

— Mas o que diz aí? — Perguntou confuso, e por mais que olhasse, Taehyung não sabia o que aquele bolo de letras queriam dizer.

E Jimin ouviu a dúvida do amigo, mas estava mais curioso em saber quando Jungkook tinha enfiado aquele papel em suas coisas.

 

-----§§§-----

 

Hoseok estava na cozinha enchendo o copo de refrigerante mesmo que Jungkook o olhasse torto por aquilo. Jungkook vivia brigando com ele por só beber e comer coisas nem um pouco saudáveis. Dizia que Hoseok tinha sorte por não engordar ou ter algum problema de saúde com tantas porcarias que ingeria, mas Hoseok nem mesmo dava ouvidos ao outro, sempre alegando que, depois de Jungkook ter lido alguns livros de nutricionismo, havia ficado muito chato em relação a comidas. Eles eram adolescentes e precisavam comer besteiras. Só assim a vida teria graça.

E como ambos estavam quietos na cozinha e não tinha mais ninguém em casa, Jungkook decidiu ter uma conversa diferente enquanto arrumava a bagunça que Hoseok tinha feito após preparar um lanche para eles.

— Hoseok... você já gostou de alguém?

Hoseok se engasgou com o refrigerante que tomava. Demorou alguns minutos até se recuperar das dores que sentia nos pulmões e só então começou a rir, deixando Jungkook irritado.

— Já pode parar com a brincadeira.

— Você está gostando de alguém JK? — Perguntou, batendo no peito que ainda doía, mas o sorriso não saia da cara.

— Claro que não seu idiota.

— Então?

— Perguntei porque eu só queria saber... como é...

— Volto a perguntar se você está gostando de alguém.

Jungkook lançou um olhar assassino.

— Queria saber como a pessoa se sente quando gosta de alguém, para tentar entender os motivos dela agir tão idiota.

— Hã!? — Hoseok não entendia o que o amigo queria com aquela conversa. — Bom, eu nunca gostei de ninguém e o que você pensa sobre esse sentimento, eu concordo em partes e...

— Concorda em partes? Antes você dizia concordar totalmente.

— É, mas agora eu quero sentir isso... deve ser bom.

— Bom? É um sentimento idiota e inútil. É quase um controle mental. — Falava irritado enquanto terminava a limpeza da mesa. — As pessoas fazem coisas absurdas por causa das outras, e elas nem ligam.

— Por que está falando sobre esse assunto? — Perguntou voltando a tomar mais refrigerante, só que com mais cuidado dessa vez.

— O idiota do Jimin disse que gosta de mim.

E se não estivesse bebendo bem devagar, Hoseok sabia que teria se engasgado novamente.

— Então ele já te falou?

— Você sabia?

— Sim.

— E não me falou?

— E isso ia importar? E também ele não havia me contado, eu apenas percebi o que ele estava sentindo. E eu não poderia entregar o perfil de alguém assim, sem o consentimento dessa pessoa né?

— Por que não vai trabalhar pra polícia como perfilista?

— Eu quero distância da polícia. — Disse sorrindo, mas trincou os dentes e aquilo também não passou despercebido pelos olhos atentos de Jungkook. — Mas e aí? O que aconteceu?

— Nada. Mas ele é idiota. Ele faz coisas mesmo sabendo que eu não dou importância nenhuma pra ele.

— E por que está incomodado?

— Porque ele... é um idiota!

— Esta ficando sem argumentos Jeon Jungkook? — Levantou uma sobrancelha, sorrindo de canto. Mas o outro garoto apenas o fuzilou com os olhos, jogando em sua direção o pano que usava para limpar a mesa.

Hoseok começou a rir alto enquanto Jungkook saía da cozinha querendo esquecer daquele assunto. Agora era bem provável que Hoseok encheria sua paciência pelo resto da semana. E ele também não entendia o motivo de estar tão incomodado com aquilo. Ele não se importava com Jimin e independente do jeito que o tratasse, Jimin continuaria no seu pé. Arrependeu-se de todas as vezes que o tratou bem e até mesmo pelo bilhete que enfiou em seu caderno dias atrás. Aquelas ações eram estranhas, afinal, se queria manter Jimin longe, era só ignorá-lo o tempo inteiro.

Jungkook lembrou de quando conheceu Hoseok e que quando começou a agir mais aberto e gentil, era porque estava deixando que ele entrasse em sua vida. Seria o mesmo com Jimin agora?

— Ei Jk! — Hoseok o seguia, o segurando pelo pescoço. Tentou se livrar daqueles braços, quase machucando o amigo que deu alguns passos para trás ainda sorrindo. — Mas sério, o que está te deixando tão incomodado assim? É o fato de ser um garoto que gosta de você ou... É por ser o Jimin em específico?

— Já disse que não tenho nada contra o Jimin... mas eu não queria que ele se aproximasse de mim.

— Ah... é preconceito então?

— Também não é isso.

— E é o quê?

— Eu soube lidar contigo, porque você quis apenas ser meu amigo, agora ele...

— Ele? — Hoseok estava bastante curioso. Ver Jungkook dando atenção aquele tipo de coisa era um momento raro.

— Ah! Não importa. — Deu de ombros e subiu as escadas, era melhor voltar aos seus códigos. — Esse assunto não vai chegar em lugar nenhum mesmo.

Hoseok cruzou os braços e continuou rindo. Ver situações como aquelas deixavam sua consciência mais tranquila. Queria tanto que o amigo só tivesse que se preocupar com coisas bobas e leves como ter alguém gostando de si e não saber como lidar. E enquanto via o outro subindo as escadas, ouviram a campainha tocar, o que os deixou paralisados por um momento.

Hoseok olhou para todos os lados e tentava analisar o que poderia usar como defesa caso fosse necessário. Virou-se para a porta e Jungkook o encarava nervoso e desconfiado. O silêncio que se instalou ali dentro era preocupante e assustador. A campainha tocou mais uma vez e Hoseok sentiu os músculos tensionarem. Suas armas estavam muito bem escondidas em seu quarto, não teria tempo de fazer muita coisa.

— Jungkook... — Chamou baixo, e antes de pedir para que o outro saísse correndo dali, ouviram uma conversa atrás da porta. Eram Jimin e Taehyung.

— O que eles fazem aqui? — Jungkook perguntou, mas sua respiração estava bem mais aliviada naquele momento. Só tinha achado estranho ver Hoseok tão tenso quanto ele.

— Visitar você é que não foi. — Brincou, tentando quebrar o clima. Foi até a porta e assim que a abriu, percebeu Taehyung desviar o olhar um tanto constrangido. — Tae? Jimin?

— Err... Você está muito ocupado? — Taehyung perguntou, juntando alguma coragem para encarar nos olhos de Hoseok.

— Claro que não, querem entrar?

— Ótimo! — Disse Jimin animado. — É que o Taehyung fez uma música maravilhosa e está precisando da avaliação de um especialista.

— Hã? E eu sou esse especialista? — Sorriu, fechando a porta assim que os amigos entraram. Mas ainda deu uma espiada na rua para ver se não tinha nada suspeito por perto.

— É o que temos de mais próximo de um.

Jungkook ainda estava no alto da escada quando Jimin cruzou com seus olhos.

— Oi Frozen! — Taehyung cumprimentou, recebendo aquele olhar assassino que só Jungkook tinha.

Jimin olhou para o amigo e estava pasmo com a ousadia dele. Mas como sabia que Taehyung havia se enchido de vinho antes de ir até a casa dos Jeons mostrar uma de suas músicas a Hoseok, entendia sua língua solta.

Taehyung pegou o violão que trazia nas costas e o tirou do case. Subiu as escadas como se a casa já fosse dele e rumou para o quarto de Hoseok, sendo seguido pelos dois que até então estavam parados na sala. Ao chegarem no quarto, Taehyung fechou a cara para Jimin como se dissesse que era para ele esperar ali fora. E assim que entendeu o recado Jimin olhou para Jungkook que continuava quieto perto da escada.

— Err... O-oi. — Balbuciou.

— Por que fecharam a porta pra você?

— Taehyung é muito tímido em relação as suas músicas... — Falou sem graça.

— E não seria melhor você estar ao lado dele?

— S-sim... mas pelo visto ele não quis né? — Disse, mostrando um tímido sorriso.

Jungkook olhou para os lados e percebeu que agora teria de “fazer sala” para Jimin. O que não o agradou nem um pouco.

— Vai esperá-los?

— S-sim.

— Eles vão demorar?

— Eu não sei.

Na verdade Jimin estava com medo de Taehyung acabar agarrando Hoseok lá dentro. Tinha medo que o amigo acabasse apanhando ou... sabe-se lá o que poderia acontecer. Taehyung também poderia desmaiar de nervoso.

Seguiram para a sala minutos depois e como estavam sentados no sofá, um olhando pra cara do outro e para todos os possíveis cantos daquele lugar, Jimin já começava a bater as mãos nas coxas de tão agoniado que estava ficando naquela situação. Fizeram silêncio. E por falta do que fazer, Jimin começou a reparar nos móveis e decorações dali. Tudo arrumado de forma impecável.

— A mãe do Hoseok parece a minha por gostar tanto de arrumação. — Tentou puxar algum assunto.

— Todos aqui são assim.

— Eu percebi isso só pelo seu quarto. — Tentou continuar o assunto, mas lembrou do estranho dia em que entrou no quarto de Jungkook e ele o expulsou aos gritos. E por isso decidiu mudar rápido de assunto. Afinal o gênio de gelo já estava estreitando os olhos em sua direção. Estalou a língua quando se lembrou do bilhete criptografado que encontrou em seu caderno no dia anterior. — Ah! Eu vi o seu bilhete.

Jungkook parou para escutá-lo. Já tinha alguns dias que tinha colocado o papel nas coisas de Jimin, mas só agora ele tinha entendido o significado? Se esforçou para não corar com aquilo.

— Só agora o entendeu?

— Na verdade eu só o vi ontem... e entendi na hora. — Sorriu.

Jungkook sentiu as bochechas esquentarem. Por que estava sentindo aquilo? Pedir desculpas para o idiota era o que devia não? E agora queria saber o porquê de precisar mesmo fazer isso.

— Hmm... — Foi tudo o que conseguiu responder. Mas Jimin continuou com o assunto.

— Nunca pensei que você me pediria desculpas... ou escreveria. — Jimin viu o maior ficar corado, e mesmo sabendo que não era uma boa, decidiu continuar com aquela conversa. — Acho que com esse mínimo de gentileza vamos conseguir ser amigos, não é?

— Hmm...

Jimin abaixou a cabeça desanimado por não ter nenhuma resposta melhor do que aquilo. Ao longe ouvia o som do violão de Taehyung e se perguntava se aquilo demoraria. Queria pelo menos estar lá em cima com os dois amigos, mas não podia atrapalhar Taehyung. Suspirou e voltou a olhar para as coisas da sala, só então reparando no belo tabuleiro de xadrez de vidro em cima da mesa de centro. Jungkook e Hoseok o deixavam ali para os dias de tédio.

— Nossa... é bonito. — Falou, ganhando a atenção de Jungkook que também encarou o tabuleiro.

— É... — Jungkook parou um pouco e pensou se falava ou não de onde tinha surgido aquela peça. Não queria realmente puxar assunto com Jimin, mas aquele silêncio o deixava nervoso demais. — Foi um presente do meu pai.

— Ah... Eu posso? — Estendeu a mão para pegar uma das peças quando Jungkook confirmou com a cabeça. As peças eram pesadas e a forma que o vidro havia sido moldado era perfeito. Aquilo com certeza era mais decoração do que um jogo. — Você joga com ele?

— Por que não jogaria? É um jogo.

Jimin fez um bico por aquela patada. As coisas entre eles seria sempre daquela forma?

— Vamos jogar então?

— Como?

Jimin só queria passar o tempo mesmo.

— Eu sei que vou perder, mas acho que jogar com um gênio pode me ajudar a melhorar. — Disse um pouco tímido, mas tinha um pouco de brilho no olhar.

— Quer jogar comigo só pra analisar o meu jogo?

— Também... embora você deva ter mil jogadas diferentes em mente.

— Milhares.

“Metido” Pensou, sem tirar o sorriso do rosto.

— Vamos jogar? — Tentou mais uma vez.

— Jogar só por jogar não me interessa, mas...

— Mas?

— Podemos apostar.

— Apostar? — Disse já desanimando. Sabia que suas chances de vitória eram menores que vários zeros seguidos sem nenhum outro número.

— Sim... se eu ganhar você some da minha vida.

— Quê?

— Exatamente, se eu ganhar você me deixa em paz e nunca mais fala comigo. — Ficou sério.

Jimin se contraiu no estofado. Jungkook estava mesmo falando sério? O queria longe? Sentiu o coração acelerar, pois Jungkook não brincaria com algo do tipo. Na verdade, ele nunca brinca. Mas se era sua distância que ele queria, não precisaria de um jogo idiota para aquilo, era só falar. E por esse motivo, achou aquele gênio infantil demais. E se ele era infantil, então podia entrar naquela aposta. Pensou em uma estratégia que nem mesmo sabia se daria certo e sentou mais ereto querendo passar confiança. Jogos de xadrez podiam levar muito tempo para terminar, então...

— E-eu aceito, mas se eu vencer...

Jungkook soltou uma gargalhada. Jimin raramente o via rir daquela maneira, mas mais uma vez se sentiu diminuído por aquele gesto.

— “Se você vencer”? Por favor Park, isso não vai acontecer.

— Se não vai acontecer então me deixe fazer mesmo assim o meu pedido.

— Pra que vai perder seu tempo pedindo alguma coisa? Só está se iludindo.

— Se estamos jogando apostado, então eu tenho que fazer o meu pedido de aposta.

— Nossa! Como é idiota... peça então. — Disse, cruzando os braços já se mostrando mais irritado.

Jimin respirou fundo e mesmo sabendo que perderia, ainda tinha um truque na manga. Só teria que controlar suas emoções durante aquele jogo. Durante aquele longo jogo. E ter uma mente bastante masoquista até.

— Se eu vencer...

Jungkook sorriu debochado.

— Se eu vencer... — Jimin fechou os olhos tentando controlar sua irritação com aqueles risos. — E-eu... quero um beijo seu.