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História Landscape - Canteiro


Escrita por: MoonFrankie

Capítulo 3 - Canteiro


Fanfic / Fanfiction Landscape - Canteiro

''–Se precisar de alguma coisa, sabe onde me encontrar.

–Onde?

–Em qualquer lugar longe de tudo.''

E eu continuava no mesmo lugar, dia após dia, remédio após remédio, corte após corte, aquele colégio miserável, em seu único canto que não me dava vontade de vomitar, ou pelo menos, não dava no começo, já não sei mais quantas vezes pulei esses muros as 3 horas da manhã com uma garrafa de vodka na mão, a cabeça rodando e o corpo doendo, de certa forma, eu me sinto assim sempre, todas essas flores, posso jurar que já ouvi elas cantando pra eu conseguir dormir, ou talvez fosse só coisa da minha cabeça.

Era um pequeno canteiro de flores, nos fundos do colégio, cercado por todos os cantos por galhos e mais galhos floridos, assim, ninguém podia ver o que tinha na parte de dentro, ficava perto da quadra, mas ainda sim meio escondido de tudo, ninguém nunca ia la, principalmente porque quase ninguém sabia que aquele lugar existia, minha mãe dizia que na época que ela estudava alguns alunos usavam esse lugar pra foder, parece até divertido, mas acho que eu ainda prefiro o banheiro pra essas coisas. Hoje em dia ainda aparecem algumas almas fumantes procurando um refúgio pra se esconder, eu era uma delas, aquele lugar era um dos poucos que eu conhecia que parecia não fazer parte do mundo, quer dizer, que não fazia eu me sentir como se eu não devesse estar ali, um dos únicos lugares onde eu não sentia o ar me sufocando, e o peso de tudo caindo sobre mim, como se o mundo tivesse tentando me expulsar.

Às vezes eu fugia de algumas aulas pra poder ficar la, eu gostava daquele lugar, mas não sabia até que ponto isso era medo de sufocar em qualquer outro lugar. Aquele pequeno canteiro me lembrava poesia, não exatamente a coisa escrita, mas, mais como o que você sente ao ler uma, aquele lugar era poesia, era arte, e me transformava em arte.

Uma vez levei Adan até la, nos dois estávamos no nosso limite, ele ficou com a cabeça no meu colo, lembro das minhas mãos no cabelo dele ao som de Cough Syrup, do Young the Giant, chorei como uma criancinha aquele dia, mas, por pior que tenha sido, eu queria poder voltar a aquele momento, toda a tristeza, as lagrimas, a música, ele, quero sentir tudo isso de novo, seu cheiro me lembrando que mesmo que por alguns segundos, eu não estava sozinha, quero poder amar aquelas flores de novo, ouvir sua música, quero poder sentir o vento limpando minha alma junto a chuva, quero sentir cada parte do meu corpo querendo que aquele momento nunca acabe.

Agora estou aqui, chove como naquele dia, um pouco fraco, mas forte o suficiente pra eu poder sentir a agua escorrendo pelo meu rosto, minha cabeça fica rodando e rodando e eu não consigo respirar, eu não devia estar aqui, eu sei que não, agora as flores me odeiam, e eu as odeio, odeio tudo nesse lugar, odeio como eu sempre fico aqui sozinha, odeio como eu posso sentir o sol direto no meu rosto quando está frio, odeio as abelhas, odeio todas essas cores, são tantas, não consigo olhar pra todas elas ao mesmo tempo, sinto como se elas estivessem me devorando, eu não consigo entender, eu achei que pudesse fazer parte desse lugar, achei que fosse uma dessas flores, mas elas não me querem aqui, o que eu fiz?

–Sinto muito– Minha voz sai fraca, talvez ficar na chuva estando doente não seja a minha melhor ideia até agora –Por favor, me deixem ficar aqui– Parece que a gravidade fica mais forte a cada segundo, sinto meu corpo sendo puxado para baixo e o ar sendo roubado de mim -Por favor- tudo vai ficando mais embaçado, enterro minhas unhas na grama e encosto minha cabeça no chão- Eu não consigo mais - Minhas lagrimas se misturam a agua da chuva -Até vocês.

Eu não posso sair daqui, mesmo que eu tivesse pra onde ir, ainda são 9 horas da manhã, eu teria que passar por todo mundo, eu não suportaria isso, os professores, eu consigo imaginar a cara deles ''O que será que foi dessa vez? Uma desilusão amorosa? Va chorar em casa'' –Eu odeio todos vocês seus filhos da puta cínicos hipócritas do caralho– E a Hanna? A Genevieve? Elas não precisam saber que eu voltei a isso, não, ninguém precisa saber, e o Adan? Ele não, nunca, me recuso a deixar ele me ver dessa forma -Puta merda eu queria tanto que você tivesse aqui- Eu não sei o que fazer.

Meu cabelo quase completamente molhado, olho para os meu braços -Vermelho - Ainda vermelho, misturando-se a chuva e caindo sobre a grama – Eu sinto muito, por favor, me desculpe, me desculpe, me desculpe, me desculpe – Tudo ainda girando, quando isso vai acabar? sempre que acho que vou conseguir levantar, meu corpo perde as forças, eu realmente não quero levantar, eu não quero sair daqui, eu não quero ver todo mundo de novo, o que eu faço? Eu não posso ficar aqui pra sempre, ou posso? Não, eu não posso - Por favor, alguém faz isso parar, eu faço qualquer coisa.

Pego meu celular e coloco Cigarette Daydreams pra tocar, a música, a chuva, sinto como se isso já tivesse acontecido milhares de vezes –Sim, nada muda– é sempre a mesma coisa –A mesma coisa – Não importa em que lugar –Você é um fracasso – Não importa quanto tempo passe, eu sempre volto para o ponto de partida –Fracasso, fracasso, fracasso – Agarro meus cabelos com força –Cala a boca, cala a boca, cala a boca – Minha voz sai como um sussurro, tento abrir os olhos e olhar em volta, minha visão ainda mais embaçada –You can drive all night­– Com a minha voz ainda fraca, começo a seguir a música –Looking for the answers in the pouring rain– Minha alma dançando como fumaça, meus olhos fechados, sentindo minhas costas sobre a grama, a chuva no meu rosto, ignorando completamente e dor nos meus pulsos e na minha cabeça, esquecendo que eu ainda estava na escola, que não eram nem 1 hora da tarde, esquecendo que eu ainda teria que voltar pra casa –Cigarette daydream you were only seventeen – Esquecendo que existia algo além daquele canteiro, algo além daquelas flores e da música, não existia mais nada –Soft speak with a mean streak nearly brought me to my knees – O cheiro de grama molhada –Um, dois, três– Vou contando enquanto tento respirar –Tudo bem – A chuva começando a cair cada vez menos, levanto minha cabeça e abraço meus joelhos, suspiro lentamente –É só mais um dia



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