História Last Kiss (oneshot) - Last kiss

O dia no escritório tinha acabado e eu finalmente poderia ir para casa. Apesar de não querer ir para o que eu chamava de casa, já que não se parecia com um lar mais. Todos os comodos ainda continham as memórias dele. Não iria para casa, a sexta feira ia ser longa demais se eu fizesse isso, então fui para o bar a caminho de casa. Por sorte, não estava muito cheio e consegui uma banqueta no balcão do local, pedindo um drink leve. 

Justin sempre dizia que minhas bebidas eram fracas demais, mas ele nunca bebia quando eu bebia, preferindo que um de nós ficasse sóbrio. Quando ele percebia que eu já estava mais animada, me pegava pela mão e me levava até a pequna pista de dança. Nunca fui muito de dançar, mas quando ele afagava as mãos em minha cintura e me puxava para perto de seu corpo, eu sorria e começava a mexer meu corpo timidamente. Ele sempre chamava atenção de todos, indepentende do lugar que estava. Seja porque era a pessoa mais bonita do restaurante ou porque tinha ganhado de todos na sinuca. Eu revirava os olhos e ficava observando a luz que brilhava ao seu redor. Mas nesta noite, nenhum de nós estava na pista de dança e outro casal ocupava a sinuca. Paguei pelo meu único drink e entrei no táxi que parou ao meu sinal. Eu nunca pensei que a gente teria um último beijo. 

Fechei a porta do apartamento atrás de mim, observando o lugar escuro por uns instantes, quase visualizando Justin largado no sofá, com sua palavra cruzada em mãos, mas quando liguei a luz, o lugar estava vazio. Eu deveria ter bebido mais, quem sabe assim eu conseguia pensar em outra coisa a não ser ele. Abri as cortinas da janela da sala e observei o céu limpo, apenas pela lua bem fina, quase invisível. Um avião atravessou o céu e eu o segui com o olhar, não conseguindo evitar a lembrança de cinco anos atrás, outro 9 de julho. Desci do avião correndo, com pressa de chegar logo, mas o asfalto molhado pela chuva me obrigou a desacelerar o passo. No saguão, Justin me esperava, com sua calça jeans colada em suas pernas e sua mão em seu bolso, como de costume. Levei instantes para observar que em sua outra mão havia uma placa, não com meu nome, mas com os dizeres "quer namorar comigo?". Eu esqueci que deveria pegar minhas malas e corri em sua direção, o abraçando com força. Ele estava nervoso e eu conseguia sentir seu coração pulsar rapidamente, como se pudesse pular para fora da camiseta. 

Um vento entrou pela janela e eu afastei a sensação de seus braços ao meu redor. As pessoas conseguem prever uma mudança de clima, mas eu nem ao menos imaginei que ele poderia mudar de ideia, eu nunca achei que a gente teria um último beijo.

Em direção ao meu quarto, sua camiseta xadrez ainda estava pendurada na cadeira próxima a mesa e antes que pudesse me controlar, vesti-a, sentindo seu perfume mais forte do que nunca. Confusa e quase sonolenta, me sentei ao chão, apoiando as costas na parede, como se pudesse ficar de alguma forma confortável. O celular estava em minhas mãos e eu tinha medo do que poderia fazer, então afastei-o, colocando no chão ao meu lado. Eu tinha tudo o que queria, meu próprio apartmento e carro, um bom emprego, meus amigos eram ótimos e minha saúde física estava ótima, eu só não conseguia fazê-lo sentir minha falta. Ele não tinha me procurado, nem mandado mensagem ou me ligado. Tinha sumido e tudo que me restava agora eram suas fotos. 

Ainda me lembrava de quando chegamos da casa de seus pais, quando os conheci pela primeira vez. Justin estava empolgado e não conseguia parar de sorrir, mesmo que o dia havia sido cansativo e estávamos deitados. Eram quase 2h da manhã, o quarto estava todo escuro, mas ainda nos encarávamos, vidrados um no outro. Ele afagou minha bochecha com  o polegar e com a voz rouca, disse "eu te amo", também pela primeira vez. Ele adormeceu primeiro e eu fiquei o observando dormir, um dos meus passatempos favoritos durante todo o tempo que passamos juntos. 

Fechei os olhos encostando a cabeça na parede e alcancei o celular. A única forma que eu tinha notícias dele eram por meio das fotos que ele e nossos amigos postavam nas redes sociais. Nas fotos, ele parecia bem, não parecia ficar chorando pela casa e definitivamente não usava uma roupa minha para me sentir mais perto. Eu conseguia sentir que ele estava me esquecendo, assim como eu costumava sentir sua respiração quente toda vez que seu rosto estava perto de mim.  Seu perfil ainda tinha as fotos comigo, como se ele não tivesse se dado o trabalho de apagá-las. A foto com meu pai exibia seu grande sorriso e o típico aperto de mão dos dois que eu tanto amei. Apertei os olhos na falha tentativa de afastar meus pensamentos, porém fui invadida por mais lembranças. 

A minha pessima mania de falar muito, desenvolveu outra mania dele,  sempre que eu começava a tagalerar sem parar, ele me calava com um beijo, me interropendo rudemente. E sempre funcionava, porque eu sempre perdia a linha do pensamento. Enquanto ele fingia odiar minha voz, eu fingia odiar ser interrompida, mas não tem um dia que eu não deseje que ele me impeça de falar novamente. Eu queria seguir em frente. Queria encontrar outra pessoa e poder desviar meus pensamentos e planos fracassados com Justin. Queria romper com seus amigos e parar de sair com eles só para perguntar como ele estava. 

E, do fundo do meu coração, eu esperava que ele tivesse vivendo dias bonitos, com o sol radiante no céu, e por um momento, se lembrasse de mim e que deveria ter ficado. Queria que se lembrasse de como as pontas de seus dedos traçaram minha nuca, me fazendo arrepiar e fechar os olhos. Que se recordasse tão bem quanto eu daquele beijo que eu não sabia que seria o último. De como eu fixei meu olhar em seus olhos cor de mel e passei meus dedos por seus cabelos, deslizando até suas costas. A forma com que nossos lábios se tocaram e o encaixe de sua mão em minha bochecha, alisando-a. A tamanha intensidade que seu beijo tinha provocado em mim, deixando seu nome eternizado em meus lábios. O celular ainda estava em minhas mãos e com uma lágrima escorrendo pela bochecha, digitei rapidamente e mais rápido ainda, enviei, antes que pudesse me arrepender. 

"Você disse que me amava, então porque foi embora?"