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História Latte - Recomeço com café Latte.


Escrita por: Prince2aeng

Capítulo 1 - Recomeço com café Latte.


Jung Taekwoon era um arquiteto disputado no mercado de Incheon, trabalhava em um escritório médio no centro da cidade, tinha seus projetos e clientes fixos. Ganhava bem, morava bem - em uma casa de frente para a praia, feita por ele mesmo.

 

E mesmo assim as pessoas podiam dizer que ele não era o homem mais feliz do mundo. Taekwoon tinha uma expressão fixa, como se passasse 24h por dia com tédio ou cansado. Ou bravo, dependendo do formato das sobrancelhas. Sempre estava com a roupa e o cabelo impecáveis, nada fora do lugar.

 

Ele parecia quase um robô em funcionamento perfeito. O que as pessoas não sabiam, era que Taekwoon apenas não era sociável e extrovertido. Ele também frequentava as festas de fim de mês, bebia com os colegas de trabalho - mesmo que odiasse a maior parte deles.

 

O único que parecia não ganhar esse ódio, ainda tinha a sorte de conhecer os raros sorrisos e a risada sincera do mais alto. Taekwoon era apenas incompreendido pelas pessoas a sua volta.

 

O final do semestre se aproximava, e com ele um projeto para entregar. Taekwoon batia a caneta na mesa, sem nenhuma inspiração ou paciência. Parte da falta desta era seu colega da mesa ao fundo que não parava de reclamar da ressaca.

 

Taekwoon foi na festa. Todos beberam. E todos lhe encheram por novamente não participar daquele círculo rídiculo de conversas fúteis. Ele apenas ficou na sua bebendo. A diferença é que ele era um homem responsável, que conhecia seus limites e não deixava pra ter uma ressaca na entrega de um projeto.

 

Bufou alto quando o rapaz reclamou novamente, jogando a caneta na mesa. Sem inspiração, em um ambiente que não dava para se concentrar. Taekwoon se levantou e saiu do escritório. Ele nunca o fazia sem ser para o almoço ou no final do expediente, o que fez todos ficarem surpresos. Caminhou até o estacionamento na parte de trás do escritório, agachando contra a parede e respirando fundo.

 

Para logo em seguida começar a tossir, engasgado por uma fumaça. Foi só então que percebeu que havia outra pessoa ali, que ria divertida de si enquanto fumava.

 

-Servido? - Ele ofereceu o cigarro, recebendo apenas o olhar maroto do outro. -Opa, eu esqueço que Jung Taekwoon odeia cigarros.

 

Taekwoon apenas balançou a cabeça em um movimento negativo.

 

-Posso dizer o quão chocado estou por você estar aqui fora sem ser no horário de almoço? Ou sua rebeldia adolescente chegou tarde?

 

-O que?! - E se permitiu rir sinceramente. -Apenas estou sem inspiração.

 

-Droga! Eu realmente queria que você estivesse em uma rebeldia tardia. - Jogou o cigarro no chão, pisando para apagar.

 

-O quanto você bebeu ontem? - Perguntou ainda divertido.

 

-O suficiente para dormir bem. - Agachou ao lado do moreno, encarando ele. Taekwoon era tão certinho, que dava até arrepios. -Você nunca teve uma época rebelde na vida não?

 

-Por que tanto interesse nisso? - Arqueou as sobrancelhas.

 

-Sei lá. - Deu de ombros. -Você é tão irritantemente perfeito. Esse cabelo todo bem cortadinho e ajeitado, a gravata com um nó bem dado, nunca sai sem ser a hora do almoço, não fuma, bebe bem.

 

-Hey! Não precisa me narrar todo! - Acabou ficando sem graça. Taekwoon não era bom em lidar quando ele era o assunto ou com elogios.

 

-Seu sotaque é muito estranho. Você nunca me contou da onde você era. - Começou a cutucar o outro, recebendo um tapa meio forte.

 

-Eu nunca devia ter te dado tanta intimidade. - Fuzilava ele, desviando completamente do assunto.

 

-Ahhhhh! Você seria tãaaao sozinho na vida, Taekwoon! - Passou o braço pelo ombro dele, agarrando-o pelo pescoço e fazendo um cafuné forçado. Parou apenas quando o moreno lhe empurrou, fazendo se desequilibrar e cair sentado no chão. -Tão violento.

 

-E você tão chato!!! - Bufou, arrumando o cabelo.

 

Quando o outro ameaçou pegar outro cigarro, Taekwoon segurou o pulso dele.

 

-Se eu contar da onde eu vim, você para de fumar?

 

-Uooooooo! Você está querendo negociar, Taekwoon?! - Jogou o isqueiro e cigarro longe. -Conte-me sua vida!!!!

 

-Isso é tão interessante assim? - Tentava segurar a risada com a reação exagerada dele.

 

-Lógico que é! - Deu um peteleco na testa dele.

 

Taekwoon respirou fundo, olhando para o céu e então desistiu de ficar agachado, sentando-se com as pernas esticadas.

 

-Eu sou de Seoul.

 

-Mentira! Quem em sã consciência nasce em Seoul e se enfia em Incheon ser rico?

 

-Calado! Eu estou tentando contar minha vida aqui. - Mais um olhar ferino na direção do amigo.

 

-Se você for nesse ritmo, terminamos a conversa amanhã. Ai! - Reclamou com o chute bem dado que recebeu.

 

-Eu tive uns problemas com meus pais e fugi de casa.

 

-Quantos anos você tinha? Você com problemas com os pais? - Estava claramente chocado.

 

-19. - Taekwoon ria.

 

-Ok, então sua rebeldia adolescente existiu. - Começou a aplaudir para o nada, Taekwoon apenas parando de rir e olhando torto de novo. -Isso faz mais de dez anos, você é um ganhador na vida, hun?

 

-Quem sabe…

 

-Ah! Queria eu ter fugido de casa. Mas não, eu fui jogado para fora, literalmente. - Começou a rir.

 

-Por que de repente está me contando sua vida? - Taekwoon parecia reclamar, mas estava curioso.

 

-Porque eu gosto de falar, diferente de você.

 

Taekwoon se permitiu dois minutos de silêncio antes de demonstrar sua curiosidade. Estava falando mais que o normal.

 

-E por que foi expulso?

 

Viu seu amigo entreabrir os lábios várias vezes, parecendo pensar muito antes de falar. O que era raro.

 

-Primeira vez na vida que eu fico embaraçado com isso, tinha que ser você. - Bateu na perna de Taekwoon, lhe mostrando a língua.

 

-Não é por que vocês acham que eu sou perfeito que eu sou tão ruim assim de saber as coisas. - Tentou não ser grosseiro ao ver a situação delicada do outro.

 

-Surpreendente. - Rolou os olhos, fazendo várias caretas antes de finalmente falar. -Meus pais descobriram que eu sou bi.

 

Ficou encarando Taekwoon esperando as reações de sempre. Ou alguém o consolava, fingindo se importar e ignorando o que dizia, ou a pessoa ficava tão chocada que se afastava completamente. Mas o moreno apenas manteve um olhar calmo, como se esperasse terminar a história.

 

-Você não vai reagir? - Perguntou inseguro.

 

-Só isso?

 

-Como só isso? - Riu nervoso. -Naquela época a homofobia e o nojo das pessoas era mil vezes maior que hoje, Taekwoon. Eu nem sei como estou vivo.

 

E Taekwoon apenas concordou em silêncio, sem nenhuma reação exagerada.

 

-Ok….Ou você é desses que é indiferente a tudo, ou você realmente respeita pessoas como eu, ou… - Franziu o cenho.

 

-Ou o que?

 

-Alguma chance de você ser também? - Aquilo estava ficando cada vez mais bizarro, e ao ver o sorriso sem graça do outro, começou a aplaudir pro nada. -Nossa senhora! Jung Taekwoon não é tão perfeito assim.

 

-Yah! - Chutou ele com mais força, vendo-o rolar no chão de dor.  -Não comemore desse jeito. E eu não sou bi, sou gay mesmo. - Deu de ombros, na maior naturalidade.

 

-Você realmente tem 31 anos? Às vezes sua pronúncia sai claramente infantil.

 

-Você quer morrer?

 

-Então foi por isso que fugiu de casa? - Falou rapidamente, temendo a vida.

 

-No começo eu queria fugir porque eles queriam que eu fosse executivo e eu queria jogar futebol, ou cozinhar ou ser cantor. - Começou a rir sozinho.

 

O amigo dele decidiu voltar a sentar ao seu lado, achando seguro.

-E você fugiu para usar terno e ficar enfiado em um escritório sendo arquiteto? Percebe que você seguiu os planos deles, hun? - Fez uma cara de deboche.

 

-Oh...É verdade… - Bateu contra a própria testa, olhando novamente para o céu. -Ai eu descobri que gostava de garotos.

 

-Ai seus pais surtaram?

 

-Não até descobrirem meu namorado. Foi rídiculo. - Sua expressão ficou em uma mistura de raiva e mágoa. -Meus pais simplesmente me arrastaram para a casa dele, chamando por ele e os pais dele. E começou a pedir que a mãe dele o deixasse longe de mim, por que ele era contagioso.

 

-Ow shit! - Acabou xingando em inglês. -Essa é uma reação muito ruim.

 

-Não, a reação dele foi pior…

 

-O que seu ex fez? - Fazia as perguntas para incentivar a conversa. Sentia como se Taekwoon precisasse desafogar daquele passado que nunca compartilhou com ninguém.

 

-O pai dele começou a brigar com os meus, dizendo que eu que devia ter influenciado ele a essa ‘coisa ruim’, já que o filho deles nunca faria isso… - Respirou fundo, aquela lembrança era uma das que mais lhe marcou. -E ele simplesmente admitiu na frente de todos que foi ele quem me beijou primeiro. - Começou a rir nervoso.

 

-Pera...Teu ex pegou todo ódio para ele, assim, gratuitamente? - Estava claramente chocado.

 

-E eu simplesmente saí correndo, fui pra casa, fiz minha mala e fui embora. - Fechou os olhos em dor.

 

-Ouch…. - Deu um tempo para o outro, sabia que memórias assim era algo bem difícil de digerir. -Você tem ideia da merda que você fez? Teu ex assumiu tudo e você...Foi embora.

 

-Eu sei. Eu sou o pior. - Seu sorriso era tão triste que o outro fingiu dar um tiro em sua própria cabeça por ter falado aquilo. -Não precisa fazer isso, eu tenho total noção do que eu fiz.

 

-Alguma explicação para isso? - Olhou discretamente para o relógio. O escritório já ia fechar. Ele nunca ouviu tanto Taekwoon naqueles 5 anos de amizade, mas estava feliz de ter aprendido tanto sobre ele.

 

-Eu era um adolescente inconsequente que não tinha ideia de como reagir a pressão? - Perguntou rindo.

 

-Um adolescente rebelde que acabou seguindo os sonhos dos pais, é, pode ser. - Levou uma cotovelada, mas o sorriso ainda estava no rosto do moreno. -Só que agora você tem 31 anos, é podre de rico e bem sucedido e totalmente livre para ser o que quiser ser. Temos leis a nosso favor, diferente de 10 anos atrás.

 

-Onde quer chegar com isso?

 

-Volte para Seoul e faça sua vida do seu jeito. Ou quer morrer de terno seguindo seus pais mesmo tendo fugido de casa? - Se levantou, ajeitando a roupa. -Não é como se você pudesse mudar o que deixou para trás, mas você pode finalizar ou recomeçar.

 

E ele simplesmente viu o amigo saindo, ainda sentado no chão. Não se importou com isso, deixando-se ver o céu mais uma vez, a temperatura esfriando. Lembrar de tudo aquilo machucou muito, mas ao mesmo tempo o alívio de ter desabafado era imenso.

 

Taekwoon precisava aprender a falar mais com as pessoas. Principalmente quando soluções podem surgir delas. Levantou-se decidido. Ele iria voltar para Seoul e recomeçar.

 

Uma semana depois, Taekwoon já havia visitado um escritório de imóveis em Seoul. Escolheu um dos poucos apartamentos que seguia seu padrão de gostos. Já que não poderia desenhar sua própria casa como fez em Incheon -não tinha tempo e nem poderia ter muitas despesas já que pediria demissão.

 

Após confirmar a compra, começou a vender tudo que tinha que não era de valor. Sobrou apenas duas caixas de lembranças de sua casa da praia, fazendo seu amigo ficar reclamando como ele era desapegado por viver 7 anos lá e levar apenas duas caixas consigo. Vendeu a casa por um excelente preço e rumou para sua terra natal.

 

-/-

 

Taekwoon estava satisfeito com a vizinhança que havia escolhido. Tudo era muito simples, parecia ser calmo e silencioso a noite, e havia um café bem na esquina. Decidiu que assim que arrumasse suas coisas em sua nova casa, iria conhecer o estabelecimento como o bom amante de cafés que era.

 

Entrou no hall do prédio, anunciando sua chegada ao porteiro e parando para admirar a estrutura e decoração do lugar. Fez algumas pontuações do que mudaria se tivesse construído aquele prédio, se distraindo completamente.

 

-Taekwoon-shi?

 

Encarou quem lhe chamava. Era uma rapaz um pouco mais baixo que si, o cabelo penteado de qualquer forma, castanho. Também parecia usar a primeira roupa que pegou no armário, finalizando com um moletom rosa. Taekwoon não era nenhum fashionista, mas aquele visual incomodou seus olhos.

 

-Sim?

 

-Jaehwan! - Abriu um enorme sorriso, estendendo a mão. -Eu nem sei como agradecer por estar comprando meu apartamento.

 

-Ah! Muito prazer. - Fez uma reverência breve antes de apertar a mão do outro.

 

-É um excelente apartamento e uma excelente vizinhança. Não vai se arrepender!

 

Taekwoon já havia comprado e se decidido pelo apartamento, mas o outro parecia fazer aquela propaganda como se temesse que desse para trás. Suspeito.

 

-Posso perguntar por que está se mudando então?

 

-Oh, claro que pode. - Seu sorriso pareceu aumentar ainda mais. -Eu mudei de emprego e o atual não tem condições de bancar esse estilo de vida.

 

O moreno se identificou com a história. A diferença é que ele fez uma ótima poupança naqueles anos trabalhando em Incheon, então mesmo que mudasse de emprego conseguiria manter um padrão de vida bom por um tempo.

 

-Compreendo.

 

-E você?! Algum motivo especial para ter vindo para uma cidade tão movimentada? Você veio de Incheon, certo?

 

Taekwoon piscou seguidamente, tentando acompanhar o ritmo do outro. Aquele jeito de desandar a falar e fazer perguntas abertamente, mesmo nunca terem se conhecido antes, lembrava o amigo que deixou para trás.

 

-Muitas perguntas…

 

-Oh, me desculpe. Eu não consigo me controlar quando me empolgo. E sabe, eu tenho o dom de a primeira vista saber quem é uma boa pessoa ou não, e me interessei por você.

 

E Taekwoon quase começou a rir, aquilo poderia ser confundido claramente com uma cantada. Sacudiu levemente a cabeça, espantando aquelas ideias e abrindo o primeiro sorriso do dia.

 

-Você realmente pode afirmar isso?

 

-Oras, mas é claro! - Ele pareceu ofendido.

 

-Certo. Vou tentar te dar uma chance. - Comentou divertido, vendo o outro arquear a sobrancelha, confuso.  -Também estou mudando de emprego, por isso vim embora de Incheon.

 

-Opa! Tá vendo, já estamos ligados. Ambos mudando a vida radicalmente!

 

Apenas rodou os olhos, vendo o outro dar um soquinho no ar, feliz consigo mesmo por algo que não compreendia o que era.

 

-Agora, a chave. - E esticou a mão.

 

-Ah sim! - Pegou as chaves do apartamento, dando-a para o outro e junto um cartão. -Se precisar de alguém para conversar, conhecer a cidade, indicações ou apenas quiser ouvir minha voz linda, pode entrar em contato comigo.

 

Esse tipo de pessoa fazia Taekwoon sair correndo para não ser grosseiro e violento, porém ele realmente parecia muito seu antigo amigo e agora que voltava para Seoul, estava completamente sozinho de novo. Talvez pudesse dar realmente uma chance a ele e ganhar um amigo valioso ali. Mesmo que suas personalidades fossem bem distintas.

 

Olhou o cartão, vários desenhos nele em um design péssimo. ‘Lee Jaehwan, 92line, seu super fofo professor de desenho’, um coração e o email e telefone do outro. Ele era mais novo, e quem raios colocava a data de nascimento em um cartão de negócios?!

 

-Eu não sei se você gosta de café, mas o que tem aqui na esquina é um dos melhores. Mesmo quando eu não tinha tempo devido o outro emprego, eu sempre passava lá de manhã. Minha primeira indicação para você. - Piscou para ele.

 

-Hun, obrigado. - Jaehwan foi embora acenando todo empolgado, e estava sozinho mais uma vez.

 

Taekwoon subiu rapidamente com suas coisas. As caixas deixou na sala, verificando que tudo estava no devido lugar já. Se soubesse que Jaehwan já havia recebido seus móveis teria agradecido apropriadamente. Deixou as malas no quarto, se trocando. Apesar de estar cansado da viagem, decidiu que seria bom experimentar o café.

 

Saiu do prédio, caminhando até a esquina e observando o local do outro lado da rua ainda. Por fora parecia ser um estabelecimento pequeno e delicado. Taekwoon gostava desse tipo de ambiente, parecia ficar mais confortável, com uma sensação aconchegante. Só mudaria a cor daquele bizarro laranja com verde para algo mais discreto.

 

Finalmente atravessou a rua, adentrando o pequeno café, o sino da porta anunciando sua entrada. Ficou surpreso ao se deparar com algo completamente diferente da expectativa. Por dentro era bem mais amplo com direito até a segundo andar. O balcão era extenso em um tom bege, assim como a parede. Por dentro todos os tons das paredes e da decoração eram pastel, deixando o ambiente fresco e agradável.

 

Como o bom arquiteto que era, Taekwoon levou um tempo apreciando cada mínimo detalhe.

 

-Olá, seja bem vindo! - Ouvir aquela voz vindo do balcão fez um arrepio percorrer todo corpo do moreno enquanto se virava lentamente. -Já sabe o que vai pe-.

 

A pessoa que falava consigo parou bruscamente, os olhos arregalados. Era realmente ele?

 

-Ha...Hakyeon?

 

Nenhum dos dois soube dizer quanto tempo ficaram parados no meio do café, se encarando. Taekwoon observava o quanto ele havia mudado. O cabelo agora bem cuidado e platinado, mais para um tom cinza que loiro. A pele naturalmente bronzeada mais bonita do que nunca contrastando com a roupa dele. Uma camisa azul sem mangas e uma calça branca.

 

-Hun… - Limpou a garganta, chamando a atenção. -Quanto tempo, Taekwoon…

 

O moreno não tinha ideia do que responder ou agir. Talvez esperava uma atitude mais grosseira, rude? Como ser colocado para fora ou berros virem da parte do outro? Mas ele estava ali, sorrindo.

 

-Muito tempo… - Foi o que conseguiu fazer de útil além de encarar ele como se fosse uma assombração.

 

-Escolha uma mesa, eu já trago seu pedido. - E sem dar chances de respostas, ele deu as costas indo para o que parecia ser a cozinha atrás do balcão.

 

Taekwoon ficou confuso. Ele não havia feito nenhum pedido. Sacudiu a cabeça, sentindo-a pesar e quem sabe até uma enxaqueca se aproximasse. Escolheu uma mesa qualquer, encarando o nada. Poderia esperar qualquer coisa no seu primeiro dia em Seoul. Menos reencontrar seu ex de 12 anos atrás.

 

Do outro lado, Hakyeon tentava parar de tremer, lembrar de respirar e fazer o café ao mesmo tempo. Apesar de ter recebido ele com um sorriso, o susto inicial ainda estava presente. Por que Taekwoon surgia depois de tanto tempo? E ainda nem era proposital, como sonhou por alguns anos. Que ele retornasse com o sorriso elegante e tudo voltasse ao normal.

 

Afinal, que normalidade era essa que procurava?

 

-Reponha-se, Hakyeon. Sonhar acordado não vai criar milagres e nem sustentar seu café. - Sussurrou para si mesmo, finalizando o pedido e antes de sair da cozinha, a famosa máscara sorridente já estava de volta.

 

Taekwoon só percebeu que o outro voltou quando ele colocou o café a sua frente, puxando uma cadeira e se sentando também. O moreno encarou a xícara, vendo seu café favorito ali. Algo mexeu dentro de si.

 

-Você ainda se lembra…

 

-Mas é claro. Café Latte, gelado por que está bastante calor lá fora.

 

Se fosse há doze anos atrás, Taekwoon poderia dizer que uma das coisas que o conquistou em Hakyeon era o sorriso. Agora, só lhe torturava vê-lo. Não podia ser que depois de tudo que fez, o garoto - não, eles não eram mais garotos. - O homem a sua frente não o odiasse ou sentisse algo.

 

Provou do café, sentindo-o perfeito, exatamente do jeito que gostava. E se lembrou de quando Hakyeon praticava cafés e o fazia experimentar.

 

-Então, quando foi que você voltou? Onde estava? - E ele até ia perguntar mais, desistindo e se calando. -Quer dizer, que bom que você voltou…

 

-Cheguei hoje… - Foi a única coisa que respondeu. Taekwoon não sentia que era uma hora adequada para conversarem sobre aquele assunto. Onde esteve e o que fez e o principal: por que fugiu.

 

Eles ficaram em um silêncio estranho, angustiante e desesperador, cada um em seu pensamento sobre o passado. Taekwoon terminou o café, pegando a carteira para pagar e sentiu a mão do outro suavemente em seu pulso.

 

-Considere como um café de boas vindas! - E sorriu mais uma vez, saindo com a xícara.

 

Taekwoon não tinha mais coragem de continuar ali dentro, de esperar ele voltar e se despedir como se nada tivesse acontecido. Aquela situação foi tão naturalmente forçada, tão casual. Ele não queria que reencontrar seu ex fosse daquela forma.

 

Pegou suas coisas, saindo de certa forma apressado.

 

-/-

 

-Eu não tenho ideia por que está bebendo tanto hoje, mas vai ter condições de subir no palco depois? - O loiro parecia genuinamente preocupado.

 

-Não reclame, sabe que minhas performances ficam melhores e mais sexys após beber. - Respondeu, virando outro copo.

 

O loiro apenas começou a rir, sentando-se à sua frente. Estavam em um bar no centro da cidade, famoso pelas bebidas e comidas exóticas e principalmente por causa das apresentações no palco de tamanho médio que havia no meio do estabelecimento. O loiro era Kim Wonsik, o único amigo que Hakyeon tinha.

 

Se conheceram na faculdade de gastronomia, criando uma forte ligação que durava até então. Hakyeon já frequentava aquele bar na época e levou o loiro, que ganhou um desafio de rap e acabou se tornando um apresentador de free style fixo no bar.

 

Ambos trabalhavam com pseudônimos no bar, como se quisessem deixar suas vidas pessoais do lado de fora da porta. Hakyeon era um dançarino e as vezes barista.

 

-Certeza que não quer parar de se afogar no álcool e desabafar com teu amigo? - O loiro interveio mais uma vez ao vê-lo abrir outra garrafa de vodka.

 

O rapaz de cabelos platinados soltou um suspiro cheio de mágoas, largando tudo e debruçando-se sobre a mesa.

 

-Hoje é só o pior dia da minha vida.

 

-Dá para contar nos dedos as vezes que você se deixa abater assim. O que houve? - Insistiu de novo.

 

-Você se lembra quando minha família me deixou para trás, que eu te contei sobre meu ex?

 

-Sim… - O loiro se ajeitou na cadeira. Não sabia que o assunto ia tão fundo assim. Aquela parte da vida deles era como a caixa de pandora.

 

-Ele simplesmente apareceu no meu café hoje.

 

-Oi?! - Engasgou meio rindo, não sabendo se estava mais surpreso pela naturalidade que o outro contou aquilo ou de fato pelo tema. -Está vendo fantasmas agora?

 

-Quem dera fosse um fantasma. Parece que ele voltou, oficialmente, para Seoul. E foi direto no meu café. Ele agiu como se eu fosse uma assombração de fato.

 

-Ele agiu mal?

 

-Acho que não ajudei, sorrindo sem parar. - Voltou a se sentar ereto na cadeira. Apesar de falar como se não fosse nada, o loiro já podia notar os olhos vermelhos do outro. Fosse de álcool ou tristeza.

 

-Ele deve ter algum arrependimento. Qualquer pessoa de bom caráter se arrepende das atitudes que ele teve.

 

-Por que eu não consigo odiar ele, Ravi? - E se fosse um momento não tenso, o loiro iria zuar ele por aquela expressão de cachorro abandonado.

 

-Eu sinto muito que você ainda goste dele. - Foi o máximo que conseguiu dizer.

 

O sorriso amargo que o mais velho deu já era como uma resposta para tudo que se passava no interior dele. Um dos staffs veio os chamar para se arrumar para a apresentação e Hakyeon só queria terminar logo aquela noite e apagar na sua cama. Por sorte, a bebida ia bloquear qualquer sonho.



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