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História Latte - Sonhos misturado a álcool


Escrita por: Prince2aeng

Notas do Autor


Muito obrigada a todos que leram, favoritaram e comentaram! Muito obrigada mesmo.

Boa leitura.

Capítulo 2 - Sonhos misturado a álcool


Aquele era o primeiro dia em muitos anos que Jaehwan conseguia acordar depois das 6 da manhã. Se espreguiçou lentamente em seu novo quarto. Não conseguia conter toda a excitação de felicidade por ter mudado de emprego, de apartamento, de tudo. Nada parecia conseguir abalar ele agora.

 

Sorrindo fez toda sua higiene matinal, se trocando. Já que tinha tempo antes de ir para o trabalho, mesmo que houvesse se mudado de vizinhança também, decidiu que iria passar no café na esquina de sua antiga casa. Sempre amou as bebidas de lá, porém como nunca tinha tempo tomava apenas um expresso horrível e voava para dias eternos de reuniões mais horríveis ainda.

 

Hoje não!

 

Não demorou muito para passar pela porta do café, o sino anunciando sua entrada. Decidiu que dessa vez sentaria no balcão e aproveitaria todo o tempo do mundo. Também sabia que o dono do café sempre conversava com os clientes, Jaehwan estava curioso em conhecer ele.

 

Se ajeitou no balcão, ao lado da vitrine de doces, pensando se deveria pedir algo para acompanhar o café. Para ser tão doce quanto tinha certeza que seu dia seria. Hakyeon saiu da cozinha para ver quem era o cliente, vendo o rapaz no balcão parecendo namorar os doces.

 

Mesmo com toda ressaca do dia anterior, Hakyeon sorriu e se aproximou.

 

-Bom dia, seja bem vindo! Já sabe o que vai pedir?

 

-Bom dia! - Retribuiu com um sorriso ainda maior e espontâneo que do outro. -Quero o café do dia, por favor.

 

Hakyeon não se demorou muito no pedido, caprichando ao ver o quão alegre seu cliente era. Adorava pessoas assim, que eram sinceramente felizes e que acabavam passando um pouco para os outros. Era o que precisava com a ressaca e o dia anterior.

 

Voltou para o balcão, servindo o outro e de repente ele lhe encarou divertido.

 

-Algum problema?

 

-Eu frequento seu café há anos e só agora tenho tempo para conversar com você! - Esticou a mão para o outro. -Sou Jaehwan, muito prazer.

 

Hakyeon se sentiu confuso, mas logo entrou na diversão do rapaz, apertando a mão dele.

 

-Hakyeon. Fico feliz em saber que é um cliente frequente então.

 

-Eu morava aqui perto antes. Mas tinha um trabalho horrível que me fazia ter reuniões longas e cansativas, nunca tinha tempo para nada. - Fez um bico, finalmente provando do café. -Uou! É tão bom quanto eu imaginava!

 

Hakyeon sentia-se a pessoa mais grata e feliz quando elogiavam o que preparava com todo amor e sinceridade.

 

-Obrigado pelo elogio! - Seu sorriso agora era sincero. -Seja lá que trabalho era esse, ele realmente era horrível. Ninguém pode viver sem um bom café ou um bom doce. Concorda?

 

-Concordo plenamente! - Bateu a mão no balcão.

 

-E no que você trabalhava, Jaehwan?

 

-Essa é uma boa pergunta! - Tomou outro gole do café antes de continuar. -Eu era executivo de uma das empresas do meu pai.

 

-Oh, era algo importante então. - Ficou um pouco surpreso.

 

-Nada é importante quando somos infelizes. - E mesmo assim, ele ainda sorria.

 

-Você falando isso com essa felicidade, difícil de acreditar que era tão horrível. - Riu divertido.

 

-Mas é verdade! - Bateu no balcão de novo. -Agora sim, eu trabalho no que eu amo. Achei minha vocação. - E Jaehwan levantou o punho no ar, fazendo uma pose que Hakyeon imaginou como um emoticon dos chats de celular.

 

-E o que você faz agora?

 

-Sou professor de artes. - Respondeu com muito orgulho na voz, terminando o café.

 

-Isso é interessante! Qualquer tipo de arte me encanta. Ensina o que? - Hakyeon perguntou enquanto se afastava do balcão, indo até a vitrine ao lado, parecendo escolher algo.

 

-Desenho! Antes eu era professor voluntário nessa escola, e ai surgiu uma vaga para ser professor fixo. Larguei tudo sem pensar duas vezes. Acho que fui um pouco precipitado. - Começou a rir. -Minhas economias despencaram por fazer de forma impulsiva.

 

Hakyeon riu junto. Conhecia muitas pessoas que faziam coisas impulsivamente. Infelizmente alguma delas machucavam outras no processo. Voltou com o doce escolhido embrulhado e esticou para Jaehwan.

 

-Para comemorar sua nova carreira e por ter me dado essa agradável conversa, uma fatia do meu bolo especial.

 

-Ta brincando né? - Ele parecia sem graça. -Muito obrigado! Nossa, vou devorar isso no caminho. - Só parecia mesmo.

 

Jaehwan continuou agradecendo e comentando como tudo era delicioso enquanto pagava pelo café. Hakyeon desejou boa sorte para ele.Talvez aquele dia não fosse tão ruim assim.

 

Mudou radicalmente de ideia quando Taekwoon entrou pela porta. Respirou fundo, adentrando a cozinha e preparando o pedido do mais alto. Voltou com um sorriso já pronto.

 

-Desculpa vir de novo… - Ele só não esperava que o outro fosse falar aquilo ao pegar o café.

 

-Fique a vontade, Taekwoon-ah. Eu sei que ama cafés. - Manteve o sorriso firme em seu rosto.

 

Por sorte o local começou a encher, não o dando tempo para pensar em nada.

 

Se Hakyeon soubesse que desde então o moreno iria começar a frequentar o café todos os dias, ele teria se preparado melhor emocionalmente todos dias antes de sair de casa. E então se completou duas semanas desde a primeira vez que Taekwoon havia entrado em seu estabelecimento.

 

Jaehwan chegou, trazendo todo o humor dele para o local, rapidamente atingindo o dono. Hakyeon já sabia que ele sempre pedia o café do dia, querendo surpresa no que iria consumir. Preparou rapidamente, o servindo e então escutando-o desandar a falar.

 

Gostava disso. Ele ficava apoiado no balcão e Jaehwan dissertava sobre as aulas, os desenhos, os alunos. Eles se conheciam tão pouco, e mesmo assim parecia muito confortáveis um com o outro. E Hakyeon sabia que foi assim que ganhou Wonsik na vida dele.

 

Tudo ia muito bem, mas a hora de Taekwoon chegar se aproximava. Tentava não se abalar com isso, não querendo que o outro percebesse. Porém assim que o moreno entrou, algo não esperado aconteceu.

 

-Ah! Taekwoon hyung! - Jaehwan o cumprimentou.

 

Eles se conheciam, e Hakyeon sequer tinha pulso para achar aquilo interessante e querer se juntar a dupla. Sussurrou um ‘já trago seu pedido’, entrando na cozinha rapidamente. Percebeu que não estava mais conseguindo aguentar o peso do próprio corpo, as pernas fraquejando.

 

-Você já conhece o dono também! - Jaehwan comentou animado, vendo o outro escolher uma mesa. Pegou seu café, se juntando a ele. -Posso me sentar junto, certo?

 

-Hun, fique a vontade. - Foi a única coisa que respondeu. Não queria falar sobre como conhecia Hakyeon.

 

-Ele já sabe seu pedido também? Eu adoro isso, parece que o café vem ainda mais gostoso. - Sorria amplamente.

 

-Você tem razão. - Novamente foi curto na resposta.

 

Uma moça se aproximou com o café de Taekwoon, enquanto Jaehwan questionava onde estava o dono do café, recebendo como resposta que ele estava preparando um novo cardápio na cozinha, o moreno encarava o café.

 

Ele sabia que fazia mal a Hakyeon indo àquele lugar todos dias, então ao mesmo tempo que incomodava não ser servido por ele, era melhor assim. Suspirou, focando-se em tomar seu café.

 

-Ah, obrigado. - Respondeu a funcionária, soltando um resmungo. -E você hyung, como está levando a vida por aqui?

 

-Fazendo alguns free em escritórios de arquitetura por aqui, ainda não achei nada que me deixe feliz.

 

-Huuuun! Pelo menos consegue ganhar um dinheiro para se manter. No que o hyung tem interesse?

 

-Não sei. Quando eu era mais novo queria ser jogador de futebol, ou cantor ou cozinheiro.

 

-Uah, são três coisas muito distintas uma da outra. - Riu divertido.

 

Jaehwan parecia já ter se acostumado com o monólogo que tinha com o mais velho. Se divertia até com isso. Viu que ele quase já terminava seu café, finalizando o seu.

 

-Olha, na escola onde eu dou aula eles tem alguns cursos de canto. Apesar que lá tem mais vaga para voluntários do que para professor pago, mas é uma chance de você ver se é algo que quer pro resto da vida.

 

E os olhos de Taekwoon pareceram brilhar com vida pela primeira vez para o outro. Ele até mesmo se ajeitou na cadeira, sinceramente interessado.

 

-Você pode me levar até lá hoje?

 

-Mas é claro! Vamos pagar o café e te levo até lá. - Se empolgou, levantando-se e indo para o balcão, o moreno lhe seguindo.

 

Quando estavam terminando de pagar, a moça chamou por Jaehwan, lhe entregando algo embrulhado.

 

-Ah, ele lembrou disso mesmo ocupado! - Comentou animado. -Do que é o doce hoje?

 

-O especial da casa! - Ela respondeu sorrindo. -Bolo gelado de abacaxi.

 

Escutar aquilo foi quase como se Taekwoon tivesse levado um tiro no peito. Demorou para reagir ao outro lhe chamando, caminhando para fora do estabelecimento e nem sentiu o percurso até a escola. Era o bolo favorito de sua mãe.

 

Ao chegarem na escola, Jaehwan cumprimentava todo mundo, sem exceção. Ali já era um ponto bem claro de como eram extremamente opostos. Jaehwan era ridiculamente sociável, Taekwoon era pateticamente introvertido.

 

Uma professora chegou meio ofegante, parecendo preocupada.

 

-Jaehwan, ainda bem que chegou. O professor da turma C faltou, eu poderia pedir para você dar aula lá hoje?

 

-Mas é claro! É depois da minha turma certo? Só preciso pegar onde o professor deles parou.

 

-Nossa, nem sei como agradecer. - E ela pareceu perceber a presença do mais alto. -E seu amigo bonitão, não vai apresentar? - Ela disse em um tom de brincadeira, mãos na cintura.

 

Enquanto Taekwoon sentia ficar levemente vermelho, Jaehwan começou a rir alto.

 

-É um hyung meu. Ele tem interesse nos cursos de canto, como professor. Sabe se tem alguma vaga Haeun?

 

-Oh! Veio numa excelente hora! Sabe tocar algum instrumento? As crianças da turma dois estão sem professor hoje.

 

-Hun. - Ele limpou a garganta, ainda sem graça. -Eu sei tocar piano…

 

-Melhor ainda! Jaehwan, com licença. - Ela puxou o moreno pelo braço, arrastando ele pelo corredor. O mais novo gritava algo como ‘boa sorte hyung, nós vemos depois!’.

 

Quando ela abriu a porta, Taekwoon deu de cara com 10 crianças extremamente fofas, sentadas no chão. Todo nervoso que o outro sentia desapareceu. Amava crianças quase como amava café.

 

-Crianças, o professor Park não pode vir para dar aula a vocês hoje. - Todas crianças fizeram uma reclamação em uníssono. -Porém, o colega do professor Jaehwan, vai tocar piano no lugar dele.

 

-Ebaaaa!

 

-O professor Park é chato mesmo. - Resmungou uma das crianças.

 

-Jin, não fale assim! - Tentou advertir a criança, rindo nervosa.

 

-O novo professor sabe tocar a música do urso? - Uma das meninas perguntou com uma voz manhosa.

 

Taekwoon sentia por dentro borbulhar de felicidade e fofura por aquelas crianças, nem percebendo quando sorria tão sinceramente.

 

-Depende qual é essa música? - Até mesmo sua voz estava mais clara e suave.

 

O único garoto loiro ali tentou cantar o ritmo do que seria a música do urso. As crianças resmungaram com o som que ele fazia, mas Taekwoon achou encantador e logo entendeu que música era. Fez uma reverência a professora que o acompanhava, entrando na sala e indo até o piano. Sentou-se de forma elegante, ajeitando-se em frente ao piano e tocou o mesmo ritmo que o garoto cantava.

 

-Seria essa?

 

Todas as crianças ficaram afobadas, se levantando e se sentando mais próximas do piano. A professora sorriu satisfeita ao ver que ele já havia se dado bem com as crianças, saindo silenciosamente e fechando a porta.

 

-Professor, qual seu nome? - O garoto Jin perguntou.

 

-Taekwoon.

 

-Ah, é um nome muito grande. - As crianças resmungaram, algumas fazendo um bico.

 

-Fica difícil de pronunciar.

 

-Hun… - Ele pareceu pensativo por um instante e voltou-se a elas com um sorriso divertido. -Que tal me chamarem de Leo? - Há anos não usava aquele apelido, mas não sentia que faria mal usar com aquelas pequenas crianças.

 

-Leo… - O loirinho repetiu para si mesmo.

 

-Que nem um nome em inglês professor?

 

-Isso mesmo! Fica mais fácil?

 

E todas as crianças o chamaram ao mesmo tempo como resposta.

 

-/-

 

Jaehwan estava se preparando para trocar de turma quando Haeun entrou sem anunciar em sua sala. Ela tinha uma expressão entre a surpresa e a felicidade.

 

-Aconteceu algo?

 

-Seu amigo aconteceu! Onde você achou ele, Jaehwan-ah?!

 

-Eu não vou te contar minha magia de encontrar pessoas boas. - E colocou os dedos no queixo, fazendo pose de todo poderoso. Os dois começaram a rir.

 

-As crianças não param de elogiar ele. E você sabe como elas são difíceis, já que tentou dar aula pra elas.

 

-Ao mesmo tempo que estou surpreso, eu não estou. - Franziu o cenho. -Taekwoon-shi é alguém muito especial. Graças a minha magia eu encontrei ele. - Repetiu a pose anterior, dessa vez levando um tapa no ombro.

 

-Quando é possível conversar sério com você?!

 

-Mas eu estou falando sério! - Ela rodou os olhos em resposta. -Haeun-ah, eu sou assim. Alegre, impulsivo e hiperativo e estou atrasado para a aula na outra turma. Byeee~. - Cantarolou, saindo.

 

Haeun sacudiu a cabeça negativamente, as mãos na cintura. Quando ela se preparava para ir embora também, ele voltou rapidamente para a sala.

 

-Você pode avisá-lo que não vou poder ir embora com ele?! Eu esqueci disso.

 

-Vai logo, Jaehwan! - Saiu da sala, o empurrando.

 

-/-

 

Wonsik e Hakyeon almoçavam juntos, jogando conversa fora e sendo críticos da comida com a desculpa que realmente entendiam de tudo por conta da faculdade, a risada também presente.

 

-Você vai voltar a dar aula?! - Apesar do tom surpresa, os olhos dele brilhavam, animado.

 

-Não seria exatamente voltar a aula. Dessa vez quero apenas fazer cursos rápidos e práticos.

 

-Mas já é algo! Você é muito bom em ensinar os outros a cozinharem. Graças a você eu não reprovei naquela matéria na faculdade! - Acabou rindo ao se lembrar disso, tomando mais um gole de seu chá gelado.

 

-Hakyeon, você só é bom em cafés e doces mesmo. Se eu não te ajudasse você estaria até hoje tentando passar na parte salgada da faculdade.

 

-Ugh, para de jogar na minha cara. Eu te elogio e você usa como oportunidade para caçoar do seu hyung. - Fez uma careta, fingindo estar realmente irritado.

 

Wonsik acabou rindo dele, recebendo outro olhar ferino. Pareceu se lembrar de algo ao mexer na mochila ao seu lado, pegando alguns papéis.

 

-Será que você pode deixar isso no seu café? Eu preciso atrair alunos. Se eu não fechar pelo menos quinze alunos, eu perco a cozinha que eu aluguei pro curso. - Choramingou.

 

-Ok! Vou dar meu melhor para te ajudar, dongsaeng ingrato! - Mas disse isso com um sorriso, fazendo o outro rir mais uma vez.

 

-/-

 

Aquela semana passou rápida, parecendo ser produtiva - ou nem tanto - para todos. Taekwoon foi tão elogiado pelas crianças, que acabou aceitando mesmo que voluntariamente, virar professor piano fixo delas. Se adaptando a nova rotina, ele não foi ao café nenhuma vez. Por um lado isso era ótimo para Hakyeon que não precisava lidar com todo seu lado emocional, e ao mesmo tempo ele admitia que sentia falta do outro nem que fosse para apenas encarar ele ou mimá-lo com um café.

 

Jaehwan chegava com cada vez mais novidades ao dono do café, agora como professor de três turmas diferentes, comentando sobre sua arte, as aulas, a empolgação de estar realizando um sonho, e um segredo deles: amando o aumento de salário!

 

Wonsik corria com todos preparativos para dar início ao curso dele, rezando que Hakyeon conseguisse os quatro alunos que faltavam para fechar a exigência de quem alugou as coisas para ele.

 

Aquela quinta-feira passava lentamente, fazendo com que Hakyeon suspirasse toda hora ao encarar o relógio. O movimento estava tão devagar quanto aquele dia e ele estava ficando preguiçoso. De tão distraído pelo tédio, deixou uma bandeja cair, praguejando enquanto agachava para pegar.

 

O sino anunciou a chegada de um novo cliente, Hakyeon tentou recolher tudo mais rápido para atender, até ouvir a voz da pessoa.

 

-Hun...Tem alguém aí? - Se aproximou do balcão para tentar ser atendido e ouviu o barulho forte de algo batendo.

 

Hakyeon havia chocado a cabeça contra a prateleira, perguntando a si mesmo por que raios ele havia colocado uma embaixo do balcão. Se levantou lentamente, uma mão no local onde havia batido, e deu de cara com a expressão surpresa e preocupada de Taekwoon.

 

-Bom dia! - Acabou respondendo em um misto de risada e um gemido de dor.

 

-Esse barulho...Foi você que bateu?

 

-Pois é…

 

Hakyeon observou o moreno em uma indecisão, sabendo que ele estava preocupado porém sem saber como agir devido toda aquela situação patética entre eles. Sim, depois de muito pensar, o rapaz de cabelo platinado definiu como patético tudo aquilo.

 

-Mas vai ficar tudo bem! No máximo um galo que vai me acordar pelos próximos dias. - Sorriu satisfeito ao ver a expressão do mais alto se abrir.

 

Antes que mais alguma coisa pudesse ser dita, Hakyeon foi até a cozinha preparar o café do outro. Não se demorou muito, vendo que ele havia se ajeitado por ali no balcão mesmo.

 

-Você mudou a vitrine de doces. - Ele comentou como se fosse o assunto mais interessante do mundo.

 

-Sim. Um cliente desagradável quebrou a antiga semana passada. - O serviu, terminando de ajeitar toda bagunça que havia feito antes do moreno chegar.

 

Taekwoon chegou a franzir o cenho, incomodado com o que ouviu. Não sabia que o outro tinha que lidar com clientes desagradáveis. Era um café e não um bar. Apenas sacudiu a cabeça, focando no café a sua frente, que como sempre estava impecável.

 

Quando Hakyeon decidiu ir até o caixa arrumar algumas notas, viu o envelope destinado à Taekwoon que Jaehwan havia deixado. Como raios aquele moleque sabia que o moreno iria vir ao café hoje?!

 

-Hey, Jaehwan-ah deixou isso para você. - Voltou ao balcão, entregando o envelope amarelo.

 

Taekwoon agradeceu, pegando da mão dele e então o encarou.

 

-Você olhou o que tem dentro?

 

-É lógico que não! - Deu uma risada. -Até parece que esqueceu que eu nunca quebro a privacidade dos outros, Taekwoon-ah.

 

O moreno não conseguiu evitar de sorrir. Sim, Hakyeon definitivamente sabia guardar segredos e evitar eles também. Abriu o envelope, curioso com o que poderia ser e seu sorriso aumentou mais ainda ao ver o que era.

 

Hakyeon poderia ter todo esse compromisso de nunca invadir a privacidade dos outros, mas isso não o impedia de ser alguém curioso. Ver as reações do outro o fez morder o lábio inferior para conter sua curiosidade. Acabou limpando a garganta, voltando a se encostar próximo a vitrine, encarando o relógio como estava antes. Tentava ignorar o barulho dos papéis.

 

-Hakyeon-ah… - Mas escutar ele lhe chamando o fez se arrepiar todo, rapidamente voltando para frente dele.

 

-Sim?

 

-Eu quero que você veja o que é. - E entregou um dos papéis ao mais velho.

 

-Sério? - Hesitou antes de pegar o papel. Com a falta de resposta dele, desviou o olhar para o que tinha agora em mãos, lendo o que era. E então seus olhos arregalaram. -Uau! Como você conseguiu isso?!

 

-É a escola onde Jaehwan dá aula. Ele me levou até lá e eu acho que dei sorte.

 

-Mas isso é muito legal, Taekwoon-ah! Juntou duas coisas que você gosta muito.

 

E foi por isso que o moreno havia decidido deixar ele ler os documentos que o oficializavam como professor de piano. Ignorando todas as perturbações que tiveram, Hakyeon o conhecia como ninguém e ficaria feliz dessa maneira por ele.

 

Interrompendo os comentários de alegria e excitação do mais velho, o sino anunciou a chegada de outra pessoa. Uma garota entrou ofegante e se aproximou em passos rápidos do balcão.

 

-Oppa! Meu irmão disse que você tinha algo pra mim. - A garota parecia confusa. Hakyeon parou tudo que fazia, se afastando um pouco do outro.

 

-Ah sim! Aqui. - Pegou um papel de uma pilha que estava no canto do balcão, entregando a ela.

 

-Ah! Que legal! Como você lembrou que eu queria fazer um curso de culinária, oppa?!

 

-Eu lembro de tudo. - Piscou para ela, vendo-a rir.

 

-Muito obrigada! Vou me inscrever hoje mesmo! - E fez uma reverência para os dois, saindo tão apressada quanto entrou.

 

Taekwoon apenas apontou para a porta com a cabeça, curioso.

 

-O que?!

 

-Oppa?

 

-Ela é apenas uma cliente, Taekwoon-ah. A não ser que esteja com ciúmes. - Piscou para ele, vendo-o rir.

 

-E curso de culinária? Posso ver?

 

-Claro! - Entregou o panfleto para ele, aproveitando para devolver o documento que o outro havia lhe deixado ler. -Você tinha interesse em cozinhar também.

 

-Hun. - Concordou com ele, lendo tudo sobre o curso. -Vou dar uma olhada nisso aqui.

 

Taekwoon terminou o café, pagando e se despedindo do outro, que lhe desejou sorte para realizar todos seus sonhos.

 

-/-

 

Sexta-feira finalmente chegou e toda ansiedade de Wonsik iria acabar. Chegou ao prédio onde começaria seu curso, não sabia como lidar com toda felicidade que sentia ao ouvir que não só tinha conseguido os quinze alunos exigidos, mas sim dezenove! Mais do que amava cozinhar para os outros, era ensiná-los um pouco do que fazia.

 

Abriu a sala, organizando os balcões e distribuindo os ingredientes que usariam naquela primeira aula, bem como os acessórios de higiene - toucas e luvas. Após confirmar que tudo estava em seu devido lugar, foi até o balcão no centro da sala, na frente de todas, onde ficaria como professor. Dessa vez arrumou suas próprias coisas, olhando o relógio. Estava ansioso para conhecer seus alunos e ter uma aula divertida.

 

A hora combinada deu e todos entraram, escolhendo seu balcão e se ajeitando. Pegaram os aventais - que como dizia no panfleto, deveria ser trazida a de cada um, limpa de preferência. Enquanto todos se preparavam, Wonsik limpou a garganta.

 

-Olá a todos! Antes de começar a aula eu queria a agradecer todos vocês por terem se interessado e se inscrito no curso. Eu espero fazer dessa aula a mais divertida e proveitosa possível. Sou o professor Wonsik. - E fez uma reverência, recebendo risos e aplausos como resposta.

 

Começou a explicar como iria funcionar o curso, sobre o que iriam fazer e como fazer. Anotava a ordem do processo todo na lousa atrás de si, fazendo desenhos - nada bem feitos inclusive, - arrancando mais risadas dos alunos. Quando terminava e ia pedir para que começassem a por em prática, a porta se abriu de uma forma um tanto brusca. Todos olharam em direção a ela.

 

-Me desculpe o atraso! - Taekwoon não sabia como cavar um buraco fundo o suficiente para sumir. Havia atrasado para o primeiro dia de aula do curso por causa de uma reunião que foi um total desperdício no fim das contas. E ele odiava chamar atenção daquela forma.

 

-Tudo bem, pode entrar! - Respondeu divertido. Não havia percebido que um dos balcões estava vago.

 

Taekwoon passou rapidamente por todos, indo ate o único balcão livre. Deixou sua maleta no chão, tirando terno e gravata e jogando de qualquer jeito sobre ela, então pegou seu avental e colocando. Só não havia percebido que o professor loiro acompanhou todo seu trajeto, ao levantar o rosto, vendo-o lhe encarar.

 

-Bom, infelizmente você perdeu toda a parte teórica, mas acho que se você seguir o que está na lousa você consegue fazer o prato. - Sorriu divertido, recebendo um aceno sem graça do moreno. -E a todos, podem começar, qualquer dúvida só me chamar. O mais importante: divirtam-se!

 

A aula prosseguiu sem muitos problemas, Wonsik foi chamado poucas vezes até o balcão dos alunos, de certa forma satisfeito que sua explicação foi clara suficiente para não gerar dúvidas. Quando todos terminaram e experimentaram a torta de maçã - prato do dia, - sons de aprovação preencheram a sala. Não só havia ficado gostoso, como todos conseguiram atingir um resultado satisfatório.

 

Taekwoon mesmo estava muito feliz com o que havia feito mesmo tendo se atrasado.

 

Os alunos passavam pelo balcão de Wonsik, agradecendo a aula e alguns até comentavam a ansiedade pela próxima com outro prato. O loiro novamente não cabia em si de felicidade. Quando parecia que todos já haviam ido embora, ele se surpreendeu com o aluno atrasado parando ao seu lado.

 

-Eu queria pedir desculpas novamente pelo atraso. Ainda bem que não atrapalhei sua aula. - E fez uma reverência desajeitada ao ter que segurar terno, gravata, maleta e avental.

 

-Essa roupa não combina com esse tipo de coisa, não é? - Desviou do assunto, divertido com o fato de ter um aluno de social ali.

 

-Ah! - Acabou rindo. -Eu não esperava ter uma reunião justo hoje. Por isso acabei me atrasando e nem pude me trocar antes de vir.

 

-Faz o que? - Perguntou enquanto finalmente começava a recolher suas coisas, vendo a faxineira já na porta querendo limpar a cozinha.

 

-Faço alguns free como arquiteto. - Talvez tivesse respondido com sinceridade até demais para alguém que nem sabia o nome.

 

-Huuun! Um cargo importante. - Pegou suas coisas, sendo acompanhado pelo mais alto até a saída. Quando chegaram ao estacionamento, chamou pelo moreno. -Como não sabemos se isso pode acontecer de novo, sinta-se a vontade em pedir ajuda após o horário de aula em algum prato.

 

Taekwoon fez mais uma reverência, agradecendo a atenção do loiro que não conseguia parar de sorrir.

 

-E como você não chegou a tempo da apresentação, sou o professor Wonsik.

 

-Jung Taekwoon. E mais uma vez, obrigado pela aula. - Sorriu, se afastando e indo embora.

 

O loiro repetiu o nome para si mesmo, percebendo o quanto aquele aluno era interessante num todo. Chegar atrasado de terno, a quantidade de pedidos de desculpas, a voz baixa e suave. E ficava ainda melhor sorrindo.

 

Depois da tarde produtiva que teve, Wonsik vai direto para o bar, onde ainda teria que trabalhar como rapper naquela noite. Pelo menos poderia contar sobre seu primeiro dia de aula a seu melhor amigo.

 

Aquela noite estava tão cheio o bar, que os dois colegas demoraram a ter um tempo de folga. Quando finalmente se jogaram em uma mesa qualquer com sua janta, Hakyeon resmungou como aquele dia estava cansativo.

 

-Você precisa dar um jeito de arranjar um segurança, N. - Chamou ele pelo pseudônimo que usavam naquele ambiente.

 

-Eu sei disso. Eu só realmente não esperava que aquele maldito cliente voltasse e quebrasse um dos meus quadros favorito. - Resmungou de novo, passando as mãos no rosto e então bagunçando o cabelo.

 

-Da próxima vez eu mesmo vou quebrar a cara desse cliente. - Apontou o garfo na direção do mais velho, que apenas riu.

 

-Me fala do seu dia. Melhor ouvir sobre seu primeiro dia de aula do que sobre meu dia de merda.

 

Então o loiro contou nos mínimos detalhes sobre seu dia, Hakyeon soltando um ou outro comentário, preferindo apenas curtir a felicidade do amigo o acompanhando com um enorme sorriso no rosto. Sorriso esse que foi morrendo quando ele começou a descrever o aluno que deixou ele totalmente intrigado.

 

-Eu me perdi na conta de quantas vezes ele pediu desculpas, agradeceu ou fez reverência. - Acabou rindo sozinho. -O nome dele é Taekwoon, e parece que ele é arquiteto, muito estranho alguém de social fazendo aula de culinária, não acha?

 

Hakyeon apenas conseguiu concordar com a cabeça, tentando engolir o sorriso triste que queria surgir em seu rosto. Pela descrição já havia adivinhado quem era, principalmente ao lembrar que ele que deu o panfleto na mão do moreno. Ouvir o nome foi só como uma faca confirmando o que já sabia.

 

Escutou o amigo continuar falando sobre o ‘aluno’ dele, cutucando a comida em seu prato. Prometeu a si mesmo que não contaria nada a ele sobre seu envolvimento com Taekwoon. Conhecia o loiro e não queria que ele tomasse suas dores, acabando por estragar o que fosse que estava surgindo entre eles.

 

-/-

 

Taekwoon cansou de encarar o teto com tédio. O fim de semana foi extremamente agradável, principalmente após a aula de culinária. Havia devorado toda torta já, não achando que podia fazer algo tão bom na cozinha. Sentia que ia ficar mais produtivo por conta desse curso.

 

Mas então segunda veio sem nenhum trabalho e aquela terça parecia que ia seguir o mesmo caminho. E sabia que no dia seguinte também não havia nada para fazer, nem tocar piano para as crianças iria.

 

Sentou-se na cama decidido, pegando o telefone e o cartão de ken. Esperou pacientemente a chamada acontecer e o outro finalmente atender.

 

-Jaehwan-ah, é o Taekwoon.

 

-Ah! Taekwoon-shi! De que número você está me ligando? Eu tenho o seu celular. - E o moreno podia imaginar ele fazendo um bico do outro lado. Naquele um mês de amizade ele já havia aprendido alguns costumes do outro.

 

-Estou ligando do fixo. Mas escuta. Eu queria que você me recomendasse algum barzinho legal.

 

-Barzinho? O hyung frequenta bar? Quer dizer….Você totalmente não encaixa nessa situação na minha mente.

 

Taekwoon apenas conseguiu rir como resposta.

 

-Jaehwan-ah, eu posso ser sério e usar terno, mas sim, eu frequento e gosto de beber também.

 

-Ehhhhhhhhhhh! Uma nova descoberta do hyung! Na verdade eu conheço vários, quando quer ir?

 

-Hoje de noite. Não aguento mais passar tédio.

 

-Oe! Você não trabalha, não?!

 

-Você está mesmo me dando bronca? - Perguntou divertido.

 

-Não posso permitir meu hyung de sair fora da linha!

 

Mais uma risada do moreno. Um dos motivos de ter se apegado a amizade com Jaehwan. Não era difícil rir quando estava com ele.

 

-Não tenho nada do escritório e nem da escola. Por isso estou passando tédio.

 

-Huuuun….Então eu vou com você! Tem um bar ótimo, fui duas vezes lá.

 

-Hey, e você vai sair da linha depois de brigar comigo?!

 

-Eu também não trabalho amanhã. Te explico com mais detalhes no bar haha.

 

-Certo, me passa o endereço.

 

E então combinaram de se encontrar na estação próxima a rua do bar. Taekwoon não se preocupou em se arrumar demais. Não estava indo para nenhum flerte ou algo do gênero. Iria apenas beber um pouco e conversar com um amigo.

 

Não demoraram muito entre se encontrarem no metrô e se sentarem a uma mesa no bar. Fizeram seus pedidos, começando com uma conversa leve.

 

-Então, por que não vai trabalhar amanhã?

 

-Bom, eu fui intimado a ir no almoço de aniversário da minha ex. - Jaehwan respondeu cheio de ácido, rindo nervoso.

 

Taekwoon ergueu uma sobrancelha como resposta.

 

-Se é sua ex, por que está sendo obrigado?

 

-Uma longa história, Taekwoon-shi. - Se ajeitou na cadeira e era a primeira vez que o moreno o via desconfortável e sério. -Quando eu decidi pegar uma das empresas do meu pai para mim, eu acabei me envolvendo com a filha de um dos executivos. Achei que realmente gostava dela.

 

-Hun.

 

-Ai o tempo passou e eu percebi que não era nada, mas continuei como negócios. - Taekwoon negou com a cabeça, e sabia que o mais velho não ia aprovar essa sua atitude. -Só que ai eu me interessei por outra pessoa e achei melhor terminar com ela. Ela não aceitou isso muito bem.

 

-Mas ela sabia que você estava com ela por negócios.

 

-Sim, mas antes estar com ela por interesse que deixar ela sozinha. Ela disse algo assim.

 

-Eu não entendo esse tipo de relação…

 

-É, acho melhor você nem tentar entender, hyung. - Acabou rindo. -Ela me ligava quase todos dias querendo voltar e começou a me seguir e tudo mais. E descobriu que a outra pessoa, era na verdade um homem.

 

E ai estava. Não bastava serem parecidos em história e personalidade, agora Jaehwan era igual a seu antigo amigo de Incheon até na orientação sexual.

 

-Na época eu não me importava de descobrirem isso. Meus pais sabiam que eu era bi e a única coisa que queriam era um relacionamento discreto e que não atrapalhasse no quanto eu poderia fazer as empresas crescerem.

 

Taekwoon apenas conseguiu concordar com a cabeça para incentivar o outro a continuar a história. Era a primeira pessoa que conhecia, que era aceito pelos pais em relação a sexualidade.

 

-Só que quando eu comecei a ser professor voluntário de artes, as ameaças dela de me expor para todo mundo começaram a finalmente me dar medo. Como executivo ninguém se importa, você pode abafar tudo com dinheiro. Mas como professor? Nenhum pai deixaria eu educar os filhos deles.

 

Jaehwan respirou fundo, virando seu drink. Ele odiava aquela fraqueza de não poder ser quem ele era por causa das ameaças da ex e o preconceito da sociedade.

 

-Isso é horrível. - O moreno se perguntava como podia existir tantas pessoas ruins em usar algo assim como expor outra pessoa apenas por egoísmo próprio em ter alguém que não te ama perto de si.

 

-Eu basicamente tenho que frequentar todos almoços e jantares familiares dela e estar por perto. Eu sei que atualmente, tem muitas leis que me protegem, ainda que ser professor bi ou gay ou que seja, é muito arriscado. Mas eu acho que já estou no automático em obedecer ela. - Deu uma risada amarga, pedindo outro drink.

 

Taekwoon nem sabia o que responder diante de tudo aquilo. Jaehwan era sempre uma pessoa extrovertida, empolgada e feliz. Saber aquele lado da vida dele, vê-lo chateado, nervoso e sério. Não sabia como agir.

 

Se sentiu obrigado a retribuir a confiança do outro em lhe contar aquela parte da vida dele, em se abrir daquele jeito para ele. Com dois drinks, criou coragem para contar sua história. A mesma de sempre. Seus pais negando o que queria fazer da vida, o seu relacionamento com Hakyeon - sem citar nomes, não queria envolver o dono do café tão a fundo. - Sobre como lidou com toda pressão dos pais em relação aquilo e fugiu. Aproveitou e resumiu brevemente sua vida em Incheon antes de voltar para Seoul.

 

-Uau! - Jaehwan estava realmente surpreso, os olhos arregalados. -Hyung, você passou por muita coisa. É tipo um guerreiro! - E começou a aplaudir.

 

-Pare com isso. - Tentou segurar as mãos dele, vendo ele rir e esconder elas de baixo da mesa.

 

Enquanto ficava sem graça pela reação do outro, que pedia desculpas, observou uma pessoa estranhamente conhecida.

 

-Hyung! Desculpe por sempre deixar você sem graça com minhas atitudes impulsivas. Vou pedir um drink como pedido de desculpas. - E chamou um dos garçons.

 

-Já está ficando bêbado para falar manhoso assim?

 

-Eu sou sempre manhoso. - Fez outra pose vergonhosa, algo como cruzar as pernas e colocar o dedo nos lábios, mas dessa vez o moreno acabou rindo.

 

Novamente a pessoa lhe chamou a atenção. Tentava forçar a vista para identificar quem era, incomodado com aquela sensação. E qual foi a enorme surpresa ao ver Hakyeon. Não por estarem em um bar, por que mesmo quando eram adolescentes ele sempre dava um jeito de ir a alguma balada ou beber escondido, mas pelo estado lastimável que o outro estava.

 

Mesmo de tão longe, podia perceber claramente o quão bêbado o rapaz de cabelo platinado estava. Acompanhando o trajeto dele, o viu tropeçar para dentro do que parecia ser o banheiro, e como se o seu antigo instinto - como amigo ou namorado, tanto faz - tivesse voltado, acabou pedindo licença a Jaehwan e indo até o outro.

 

Ao entrar no banheiro, Hakyeon estava lavando o rosto.

 

-Hakyeon? - Chamou por ele, não achando que ele iria levantar o rosto de imediato, lhe encarando através do espelho.

 

Só que não era o Hakyeon de sempre, com um sorriso e brilhos nos olhos. Pelo contrário. Apesar de estar levemente maquiado - pelo que conseguia perceber naquela iluminação horrível, - estava sério, os olhos totalmente irritados e vermelhos.

 

-Começou a me seguir agora, Taekwonnie? - E aquele tom carregado de cinismo.

 

-Você sabe muito bem que não. - Respondeu firme.

 

As poucas experiências que tinha com o outro bêbado, era que precisava ficar o mais firme possível. Hakyeon enfrentava, ameaçava, brigava, as vezes até chantageava.

 

-Eu não sei de mais nada. - Respondeu rouco, pegando o papel da caixa ao lado para enxugar o rosto.

 

-Você fica assim com frequência?

 

Hakyeon o ignorou completamente, voltando a se encarar no espelho, parecendo ajeitar o cabelo e ver o que restou da maquiagem.

 

-Ou esta assim por que eu voltei?

 

-Nossa, você está se achando agora. - Começou a rir.

 

-Hakyeon, você acha que eu não percebo que te faço mal? O quanto eu tento evitar ir no seu maldito café?! - Acabou se irritando.

 

-O que?! Agora vai querer se arrepender? Vai se sentir mal? Se fazer de vítima? - Negou com a cabeça, ameaçando sair do banheiro. Taekwoon que ainda estava na porta, o empurrou para dentro de novo.

 

-Não fale desse jeito, quando você sabe muito bem a verdade.

 

-EU NÃO SEI DE NADA! - Gritou enquanto encarava o mais alto com raiva.

 

Os dois ficaram alguns minutos em silêncio se encarando. Aquilo estava errado, totalmente errado. Eles não podiam levar aquilo daquela forma pro resto da vida.

 

-Me deixa explicar o que aconteceu aquele dia. É o único jeito de nós dois... - Foi cortado bruscamente.

 

-Vai explicar merda nenhuma, Taekwoon!

 

-A única forma de você e eu conseguirmos seguir nossas vidas, é esclarecendo tudo, Hakyeon!

 

-Para, Taekwoon! Apenas para! - Passou as mãos no cabelo, voltando para perto da pia. -Eu estou bêbado, foda-se o que você fale, não vou lembrar de nada.

 

-Mentira! - Hakyeon levantou o rosto, lhe encarando com um olhar ferino. -Não importava o quão bêbado você ficava, você sempre se lembrava de tudo no dia seguinte. Beber não te da amnésia, Hakyeon…

 

O rapaz de cabelo platinado começou a rir, o som preenchendo todo ambiente. Era uma risada nervosa, nada bonita de se ouvir.

 

-Me deixa pedir desculpas, Hakyeon. Me deixa explicar, tentar consertar o que eu fiz!

 

A essa altura o outro já havia abaixado a cabeça novamente, rindo e chorando ao mesmo tempo. Taekwoon começou a se sentir angustiado, principalmente ao ver como o outro colocava as mãos no cabelo, puxando os fios em um ato de desespero.

 

Hakyeon já estava descabelado, com a maquiagem totalmente destruída, o rosto encharcado.

 

-Por que você está fazendo isso? Não faz sentido você querer tanto assim me machucar…

 

-Pelo contrário. Eu só quero resolver isso para que você possa seguir sua vida… - Estava começando a perder suas forças ao ver o quanto o outro chorava.

 

Taekwoon também não conseguia ser de ferro o tempo todo, mesmo sabendo que baixar a guarda naquele momento não era seguro.

 

-Por que de repente agora você se importa? Por que depois de mais de dez anos você decide que se importa, sendo que fui eu, Taekwoon, FUI EU! - Encarou o outro com os olhos já inchados de chorar. -Eu que fiquei aqui, sendo odiado por nossos pais. Recebendo ligações de sua mãe pedindo para eu devolver o filho dela, quando você sumiu! Quem derá ainda ouvir isso se eu realmente tivesse escondendo você…

 

Taekwoon apenas mordeu o lábio inferior, sentindo os próprios olhos arderem ao ver o outro naquela situação e ouvir aquelas palavras.

 

-Eu fui um adolescente estúpido, Hakyeon...Eu não conseguia reagir em ver tudo que meus pais fizeram com você.

 

-E sair correndo ao invés de me abraçar, ao invés de ficar do meu lado, era mais fácil hun? - Cortou ele, ácido.

 

O moreno chegou a entreabrir os lábios para responder, mas desistiu. Ele não tinha direito de falar nada. Ele foi o errado de toda aquela situação. E sentia-se pior ainda ao ver o quanto o outro sofria, e ele sequer sentia algo mais por Hakyeon.

 

Observou o outro voltar a se apoiar na pia, respirando fundo.

 

-Para onde você fugiu?

 

-Busan….Trabalhei lá até conseguir me formar, e então me mudei para Incheon, fazendo minha vida.

 

-Fazendo sua vida. - Riu, nervoso. -E decidiu voltar por que? Se arrependeu de ter me largado naquela situação?

 

-Não… - Taekwoon não sentia mais forças para continuar aquela conversa. Cada dor que sentia do outro perfurava seu coração. -Eu fugi por que eu não queria mais ser controlado pelos meus pais...E então, eu percebi que já havia conseguido tudo para ser quem eu queria ser...E voltei.

 

Hakyeon apenas concordou com a cabeça. O peso de todos seus sentimentos naquela conversa e o álcool não estava sendo uma boa combinação.

 

-Eu preferia mil vezes que você me socasse do que te ver chorando assim.

 

Hakyeon começou a rir enquanto as lágrimas escorriam com força novamente.

 

-Essa frase só mostra que você não mudou absolutamente nada! - Taekwoon se permitiu dar um sorriso fraco com aquela reação. -Mas seus sentimentos…

 

Hakyeon se afastou da pia, se aproximando a passos lentos do moreno sem desviar o olhar. Taekwoon sabia que já era tarde demais em impedir o outro quando baixou a guarda. Cruzou os braços em uma tentativa falha de impedir que o outro continuasse com o que passava na cabeça dele, sabendo que seria pior.

 

Não adiantou ao ver o outro tão perto, a respiração dele batendo em seu rosto. A única coisa que o moreno percebia naquela situação era o quanto Hakyeon estava destruído. E mais uma vez a culpa lhe dava facadas.

 

O mais velho lia claramente nos olhos de Taekwoon que não existia mais nada, nem resquícios do sentimento que tiveram anos atrás. Ele compreendia perfeitamente que era o único a ainda carregar algo, transformando-se em um amor unilateral. Com um último soluço mal disfarçado, encerrou a distância entre os dois, encostando seus lábios aos do moreno.

 

Foi coisa de alguns segundos. Hakyeon queria provar para si mesmo, fazer com que sua mente finalmente entendesse que aquilo não existia mais. Talvez um último beijo fosse o suficiente. Se afastou sem encarar o outro no rosto, se afastando a passos lentos. 

 

Taekwoon sentia-se morrer por dentro. Ele entendia o significado daquilo. De certa forma, odiava a si mesmo por não sentir nada, por saber que na verdade nunca amou o outro como deveria ter amado. Ou o quanto ele lhe amava.

 

Quando o mais velho alcançou a porta, ainda pode ouvir a voz baixa e rouca dele.

 

-Você não precisa parar de ir ao café...Só entenda quando eu não conseguir te encarar.

 

Taekwoon fechou os olhos, deixando uma única lágrima escorrer. Pelo menos esperava que isso fizesse Hakyeon se sentir livre para esquecê-lo e seguir a vida, conhecer outra pessoa. Ele implorava que isso acontecesse. Não conseguiria viver sabendo o quanto o mais velho ainda era apegado desse jeito a si.

 

Se recompôs, tentando eliminar qualquer vestígio do que aconteceu. Por sorte, Jaehwan estaria bêbado suficiente para ter perdido a noção do tempo e não ter notado seu sumiço.



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