História Laura e a última canção de amor - Capítulo 15

Estamos na creperia perto do campus. Rydel pediu um crepe de banana e nutella e eu um de frango com requeijão. O homem despeja o creme morno de chocolate com avelã sobre a massa fina de crepe, coloca a banana dentro fecha e derrama mais creme. Traz vitamina para ela e o meu crepe com um chocolate gelado e chantilly. Depois que comemos ficamos um bom tempo falando sobre temas aleatórios. Estamos conversando sobre filmes e atrizes quando Ross se aproxima.

- Laura, eu posso falar com você? - Ele mexe o corpo nervosamente.

- Senta aqui Ross, eu já terminei. - Rydel deixa um dinheiro sobre a mesa e volta para o campus.

Ele senta e se inclina para falar comigo, seu rosto está perto do meu e eu consigo contar as manchinhas castanhas no verde dos seus olhos.

- Sobre a outra noite… - Sua voz está irregular.

- Esquece, não foi nada. - Eu digo. - Eu já arrumei tudo.

- O que você arrumou?

Oops

- Nada.

- Eu quebrei alguma coisa? - Ele olha confuso.

- Não você não quebrou nada, você só, tipo, você sabe - Eu faço uma mímica.

Ross deixa sua cabeça cair para trás e diz:

- Me desculpa Laura, sei o quanto seu quarto é limpo e organizado.

Eu olho para o horizonte envergonhada por ter lembrado isso.

- Está tudo bem. De verdade. - Falo.

- Pelo menos foi na pia? Ou no chuveiro? - Ele coloca a mão como apoio no queixo.

- Foi no chão. E no meu pé. Mas só um pouco. - Acrescento vendo a expressão horrorizada no seu rosto.

- Eu vomitei no seu pé? - Ele aperta os olhos, mas os abre em seguida.

- Não! Só respingou. Tá tudo bem! Eu teria feito o mesmo se estivesse na sua… situação. - Assim que as palavras saem me arrependo. Ross fica com o rosto tão vermelho quanto uma melancia.

- Eu… - Ele olha para baixo. Encosta sua cadeira mais próxima da mesa. Ele abaixa a voz - Disse alguma coisa estranha para você? Esta noite?

Oh-oh

- Diferente?

- É que… eu só me lembro de estar no seu quarto. Mas eu poderia jurar que tivemos uma conversa… estranha… sabe? Alguma coisa diferente?

Meu coração bate mais rápido. Fica difícil respirar. Ele se lembra. Um pouco. O que isso significa? O que eu devo dizer? Eu estou tão ansiosa por respostas, mas não estou preparada para esta conversa. Eu preciso de mais tempo.

- Sobre o quê?

Ele está desconfortável.

- Eu disse alguma coisa estranha sobre… nossa amizade?  - E aqui está. -  Ou minha namorada? - Ele ainda a chama de namorada.

Eu olho bem para ele. Ele a chamou de namorada, não Courtney ou minha ex. Namorada. Talvez ele goste de mim. Mas não o suficiente para dizer: terminei com minha namorada por você. E não quero algo assim. Eu quero ele, quero muito, mas quero por completo. Não apenas uma metade.

Mantenho meu rosto sereno.

- Só conversamos sobre a mãe do Matthew. Só isso.

Ele me olha aliviado. É a resposta certa. Eu acho.

Depois da conversa com Ross vou para casa. Meu pai já está arrumando a mesa para o jantar quando chego. Trouxe apenas uma bolsa pequena com minha carteira e celular. O resto já está aqui. Jantamos salada e escondidinho de carne seca. Meu pai me conta sobre o seu dia e eu falo do meu. Eu já conheço seus colegas de trabalho e não precisa mais ele me explicar quem é quem quando precisa contar alguma coisa. Esses dois meses e meio que passei em Miami já fizeram eu me sentir em casa.

Termino de comer e subo ao meu quarto para conversar com Claire pelo computador. Eu peguei meu notebook com meu pai, mas sempre o deixo no campus, para não precisar carregá-lo para todo canto. Tomo um banho, visto uma camisola e enrolo a toalha no cabelo enquanto espera Claire atender minha chamada. Deixo a ela a par de todos os acontecimentos desde a última vez que conversamos.

- POR QUE VOCÊ DISSE ISSO A ELE? - Ela está gritando.

- Porque... eu não sei. - Digo.

- Não sabe se gosta dele?

- Não. Isso eu sei. Não sei se é certo.

- Como assim Laura? Do que você está falando?

- Eu o conheço há apenas dois meses. Acho que estou indo rápido demais. Eu não sei qual a profundidade desses sentimentos entende?

Ela balança a cabeça.

- Mas dois meses vendo ele no mínimo cinco horas por dia!

- Eu tenho medo que isso que sinto pelo Ross seja apenas um modo que meu cérebro encontrou de preencher o vazio pela expectativa arruinada com Peter, entende?

- Tipo, como se tudo o que você queria ter tido com o Peter e não teve se projetassem no Ross?

- Isso.

- Entendo. Mas queriam tanto vocês juntos. - Ela faz beicinho. - Pelas coisas que você conta, vocês combinam demais. Eu exijo que tenha Ross e Laura como casal em 2016! Veja os sinais.

- Você não pode exigir. E que sinais? - Respondo.

- Ele está terminando! Isso já é sinal suficiente que vocês têm que ficar juntos! E ele se declarou.

- Declarou mais ou menos né? Ele estava bêbado. E depois voltou atrás. Você devia ter visto a cara de medo e depois de alívio que ele fez. Se for para ficarmos juntos eu quero ter certeza disso tudo que eu sinto, que é real. E quero ter certeza que ele sente o mesmo, e nas mesmas proporções. - Digo.

Fiquei muito feliz por poder desabafar com alguém, até hoje eu estava guardando os acontecimentos recentes apenas para mim. Não contei para Claire sobre o feriado, eu realmente queria deixar aquelas noites como um segredo apenas entre mim e Ross. Estive pensando durante a semana e decidi que vou contar à Rydel sobre meus sentimentos pelo irmão dela, tenho certeza que se ela souber disso depois ficará chateada por eu não ter contado antes. Porém quero esperar a poeira baixar, seria inadequado contá-la agora que ele recém terminou - se é que terminou - o namoro, e impensado dizer sobre sentimentos que eu mesma venho questionando a um tempo.

Com tantos pensamentos que passavam na minha cabeça acabei adormecendo. Tirei o domingo para relaxar e infelizmente, rápido demais, eu já estava de volta ao campus.

A próxima semana é a semana de provas, e eu não vou para casa no fim de semana. Me sinto um zumbi, ando para onde tem que andar, mas mal raciocino o que estou fazendo. Eu me sinto tão preguiçosa como há tempos não sentia. Meu corpo pesa e meu cérebro parece estar a ponto de explodir. Só hoje tomei quatro copos de café e o dia ainda nem terminou.

Encontro Amaya pelo corredor e caminhamos juntas até o lado de fora do prédio. Sentamos no chão, o sol ainda está forte apesar de já passar das 17h00.

    Ela me conta sobre a prova que terá no dia seguinte e me sinto sonolenta enquanto ela fala das áreas de comunicação e métodos de escrita jornalística.

- Eu não estou aguentando o dia de hoje. - Deito na calçada. - Essa é a pior segunda-feira que eu já tive desde o começo do ano.

- Você parece um caco mesmo.

- Ahhh muito obrigada. - Digo entre risos. Descanso por alguns segundos antes de levantar. - Vamos, temos um maravilhoso jantar para comer e uma noite mais maravilhosa ainda de pelo menos oito horas inteiras de descanso. - Ela me dá a mão e eu levanto. Saímos para o dormitório e combinamos de jantarmos juntas às 18h30.

Tomo uma ducha rápida e encontro Rydel no corredor e Amaya na sala de estar do dormitório. Vamos juntas para o refeitório e escolhemos uma mesa com quatro lugares. Estamos falando sobre nossas expectativas para o feriado que já está chegando quando vejo que ELE chegou. Está usando uma camiseta azul com a bandeira dos Estados Unidos e o cabelo loiro daquele jeito arrumado para parecer bagunçado, ele anda como se estivesse flutuando, senta na cadeira ao lado de Rydel, na minha diagonal. Tento não olhar demais, mas é impossível desviar os olhos. Reparo no movimento dos lábios e nos dedos compridos quando ele limpa o molho no canto da boca.

- É.. hmmm... Laura, se o que você continuar com esses olhos arregalados para o Ross ele vai derrubar o garfo. - Amaya diz. Ross dá uma risada alta. Ah minha nossa porque fui fazer amizade com essa menina.

- Eu só… fiquei… hm… é… com vontade de macarrão à bolonhesa. - Falo quase atropelando as últimas palavras.

- Então é muita vontade, porque você até está engolindo quando ele engole. - MEU DEUS EU NÃO ACREDITO QUE ELA ESTÁ DIZENDO ISSO EM VOZ ALTA! Se não gostasse tanto dela, poderia matá-la.

- Vou buscar um pouco. - Levanto bruscamente da cadeira e saio em disparada até o buffet.

Estou comendo meu macarrão e olho discretamente para Amaya, ótimo ela não está olhando. Levanto os olhos para Ross e ele está olhando para mim, ele passa a língua pelo lábio inferior vagarosamente. Sinto meu rosto esquentar de uma forma absurda e sei que estou vermelha. Abaixo rapidamente os olhos. Ok, eu estou ficando louca. Ele percebe e dá um sorriso de canto, meu coração derrete.

Meu Deus! Como pode ser que eu conheça essa pessoa há apenas dois meses e meio, mas sinto que já passaram anos desde a primeira vez que o vi?

É, com certeza esse vai ser o ano mais longo de todos.