História Laura e a última canção de amor - Capítulo 2

Nos meus dois últimos dias de férias meu pai e eu levamos as coisas até meu dormitório na FIU (Florida International University). O quarto era para uma pessoa e ficava no prédio em frente ao US onde eram os cursos de Arquitetura e Arte, Arte e Ciências, Publicidade, e Ciências Biológicas. O quarto era até espaçoso, tinha a cama, uma mesa e um armário maior que o do meu quarto na casa do meu pai. Tinha também outra porta em frente a cama que levava ao banheiro.

Hoje eu estou na porta despedindo-me do meu pai.

- Você não precisa ficar preocupado pai. Vou ficar bem. - nós estávamos abraçados e ele passava a mão várias vezes sobre meu cabelo.

- Quero que você vá para casa todos os finais de semana que puder. Assim poderei sempre cuidar de você.

Depois daquela noite que passei chorando com ele do meu lado, conversamos sobre os motivos pelo qual eu não queria viver ali - exceto a parte do Peter - e meu pai me tranquilizou de uma forma que eu não achava ser possível. Ainda estava chateada, mas já não era tão desesperador. Desde esse dia ele estava com um sentido protetor enorme e repetia várias vezes durante o dia que se eu estivesse muito mal ele me buscaria em qualquer lugar.

Sorrio e o abraço mais uma vez. E ele vai embora. Fecho a porta e desarrumo a última mala que trouxe. Coloco a escova de dentes e creme dental no banheiro, na gaveta uma escova de cabelo e maquiagens e troco as fronhas e lençol bege do dormitório pela minha roupa de cama azul com nuvens desenhadas. Durante a semana comprei novos porta retratos e agora arrumo cada um deles sobre a mesa com as fotos que escolhi. O primeiro sou eu, Vanessa e minha mãe. O segundo eu e meu pai. O terceiro Claire e eu. O quarto uma minha sozinha em frente ao piano.

Olho meu relógio e já são onze horas e quarenta e cinco minutos, desço para o almoço. Pela manhã vários funcionários esperaram a chegada dos calouros tirando fotos nossas que logo foram impressas e coladas em crachás que eles nos entregaram em seguida, cartões alimentícios para usar no campus, formulários com os horários das refeições, formulários com instruções e regras. O almoço seria das 11h00 às 13h40m, a partir das 14h00 a recepção estaria aberta para que os alunos pegassem seus horários de aulas.

O refeitório é enorme, com várias mesas de quatro, seis e oito lugares dispostas pelo salão. Olho para as opções de carnes, saladas e massas. Se eu soubesse que as refeições eram assim, talvez tivesse ficado menos chateada. Ri sozinha com esse pensamento. Pego meu prato e sento numa mesa com quatro lugares. Olho ao redor e vejo grupos de pessoas sentadas juntas. Como essas pessoas fizeram amizade assim tão rápido?

    Depois de comer coloco a bandeja no lugar indicado e volto para meu prédio. Várias pessoas ainda estão recolhendo coisas para dentro dos seus dormitórios. Dois garotos passaram ao meu lado carregando um frigobar. Quando chego ao meu dormitório só quero deitar e descansar, mal dormi de ansiedade e antes das oito horas já estava em pé colocando as últimas coisas no carro e pensando se não esqueci nada. Arrumo o despertador do meu celular para 14h40m e fecho os olhos.  

    Quando o despertador toca levanto rapidamente, escovo os dentes e arrumo o cabelo que está levemente bagunçado. Olho e minha camisa está toda amassada. Pego uma camiseta do armário, ela é rosa com uma nuvem e um arco-íris, o arco-íris tem carinha brava e um balãozinho de fala escrito “I’m not a puke! I’m just a rainbow!” Saio e tranco a porta.

    Na recepção tem três pessoas na minha frente, espero e olho os quadros na parede. Tem certificados, pinturas de ex-alunos que tornaram-se famosos, prêmios e fotografias da Universidade com o passar dos anos. Chega minha vez. A secretária é uma mulher de aproximadamente 60 anos, cabelo vermelho e curto.

   -  Nome e curso?

    - Laura Marano e o curso é Artes e Ciências. - ela levanta e vai até grandes gavetas atrás dela e pega uma pasta.

   -  Aqui tem seus horários, um mapa mostrando todo o campus e as salas que você vai frequentar. Tem uma lista com o nome dos professores, as matérias e os livros que eles vão usar. - Ela me entrega os papéis.

    Volto para meu bloco com um montinho de folhas e um formulário para preencher.

   - Camiseta legal! - uma garota loira alta está parada na porta do quarto em frente ao meu.

   - Obrigada. - agradeço.

  - Eu sou Rydel. - Ela estende a mão. Está usando uma camiseta branca, uma calça jeans larga até metade da canela, tênis e uma corrente preta de veludo com três cordões. Ela tem estilo.

  - Laura, prazer. - cumprimento.

  - Quer um café?

Por qual motivo uma estranha está me oferecendo um café? Penso por um segundo. Ela também deve não conhecer ninguém por aqui e está tentando fazer amizade.

- Claro. - aceito.

O quarto dela já está todo arrumado. A roupa de cama é vermelha e a parede ao lado da cama coberta de quadros, a roda gigante de Londres, a torre eiffel, os Beatles, aquela foto famosa do casal em um beijo apaixonado comemorando o fim da guerra, todos em preto e branco.  Na mesa dela tem um telefone daqueles antigos vermelho, uma porção de canecas em várias cores e desenhos diferentes e ao lado uma cafeteira ligada na tomada.

- Seu quarto é bem bonito. - digo.

- Obrigada. - Ela está de costas preparando o café.

Sento no chão e encosto-me nos pés da cama.

-  Queria ter pensado nisso e trazido uma cafeteira também. - reclamo.

Rydel ri.

- Você aprende essas coisas depois do primeiro ano.

    Como assim ela não era do primeiro ano?

- Você não é caloura? - questiono.

Ela virou com duas canecas marrons e entregou-me uma.

- Não, estou no terceiro. - diz e senta ao meu lado.

- Pensei que esse andar fosse apenas para os alunos do primeiro ano. Pelo menos esse lado. - revelo.

- Eu também pensava assim. Não sei qual critério eles usam para separar os alunos.

Balanço a cabeça assentindo.

- Que curso você faz? - tomo mais um gole do café.

- Publicidade.

Realmente, faz todo sentido para ela. O quarto dela é completamente artístico.

- Combina com você. - digo. - pelo menos é o que dá pra notar pelo seu quarto. - levanto e analiso o quarto dela. Na parede em cima da mesa tem um mural de fotos, ela em vários lugares com os braços abertos, ela e algumas garotas ela e vários meninos e várias dela com o mesmo menino. -  Seus amigos? - pergunto, apontando uma foto dela com cinco garotos.

- Irmãos e namorado.

Rydel parece ser uma pessoa bem legal.

- Obrigada pelo café. - agradeço.

- Que bom, vou te convidar mais vezes. Gostei de você. - ela diz.

Espera, eu acabei de fazer uma amiga.

- Quando convidar eu virei. - Coloco a caneca sobre a mesa e caminho até a porta. Rydel ainda está sentada. Abro a porta e um garoto loiro quase cai em cima de mim.

- Desculpe. - ele aparenta estar confuso, com um vinco entre as sobrancelhas. - eu deveria ter batido. - ele vira para sair.

- Você está procurando a Rydel? - interrompo.

- Ela está aí? - Ele volta.

Nossa ele é bonito.

- É o quarto dela. O meu na verdade é o da frente. Vim tomar um café -  Aponto para minha porta. Por que estou falando tanto? Rio, minha risada sai mais estridente que o normal. - Me chamo Laura! - Que animação é essa? Fico nervosa. Por que estou nervosa?

- Sou Ross. - Ele dá um sorriso de canto e balança levemente o corpo, como se o nome dele fosse uma ótima coisa a se dizer.

Saio da frente da porta e entro no meu quarto.

Escuto a voz animada de Rydel: “Ross!!! Cadê os outros?” Sento na cama. Se eu vou passar os próximos anos nessa Universidade eu definitivamente tenho que aprender a conviver com caras bonitos.