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História Laura e a última canção de amor - Capítulo 4


Escrita por: Cissabks

Capítulo 4 - Capítulo 4


Está impossível ignorar a presença de Ross ao meu lado. Eu estou escrevendo nossas ideias de organização do ensaio no portfólio, mas é difícil me concentrar nas palavras a escrever. O braço dele está apoiado no encosto da minha cadeira e seu pescoço está tão próximo que se eu virasse o rosto para ele, meus lábios encostariam no seu pomo de adão. Minha respiração soa tão alta aos meus ouvidos que não consigo mais respirar involuntariamente. O desconforto em ter que pensar para inspirar e expirar está me deixando louca. A ponta dos dedos dele esbarram na pele nu do meu ombro, ao lado da alça do vestido. Engulo em seco alto demais. Ele retira o braço do encosto e muda de posição na cadeira, afastando-se levemente. Oh meu Deus! Será que ele percebeu? Sinto o calor subir pelo rosto. Não fique vermelha! Não fique vermelha! Aproximo o rosto da folha como se isso facilitasse para escrever. Droga! Eu não deveria ter prendido a franja. Ela esconderia meu rosto perfeitamente agora.

O próximo item a escrever é sobre os materiais que serão utilizados.

- O que… - minha voz falha, pigarreio. - O que vamos utilizar de materiais? - pergunto ainda encarando o papel. Uma folha branca nunca me pareceu tão interessante.

- Certo… - Ross muda a posição do seu corpo que estava de lado e vira para frente, aumentando o espaço entre nós. Suspiro aliviada. Ele cruza os braços atrás da cabeça e pensa por alguns segundos.

- Uma câmera - falo.

Ele permanece do jeito que está, mas me olha com o canto dos olhos e as sobrancelhas franzidas.

- Hmm… acho que isso já estava meio óbvio.  - ele fala bem devagar.

Claro que sim. Eu sabia que estava. Por que eu disse isso? Eu nem sei por que estou falando alguma coisa quando claramente é ele quem tem a habilidade fotográfica aqui. Ele sabia o que era ISO, superexposição e o tamanho de abertura ideal para uma foto com fundo fosco .

- Anota aí. - ele começou. - usaremos vários tipos lentes, multifocais, 18mm - 50mm, 24mm - 70mm, 50mm - 100mm, 75mm - 300mm.

O QUE SÃO TODOS ESSE MILÍMETROS? E para meu desespero ele continuou:

-  Para iluminação um flash remoto, um refletor e uma sombrinha. - Ok. Estou perdida. Afasto o corpo para que ele possa ler o que escrevi. - Por último coloca “os figurinos e objetos para cenário ainda não foram definidos.”

    Escrevo tudo o que ele indica, desde os materiais até as ideias de concepção do ensaio, ainda não sabemos exatamente o que será fotografado, mas a ideia principal é iniciar com um cosplay de Joseph Nicephore Niepce, uma das primeiras pessoas a tirar uma foto e terminar com uma selfie, uma das formas mais populares de foto da atualidade.

Quando a Professora Mills libera os alunos, Ross e eu ainda estamos escrevendo as frases finais. Ele dobra as partes do papel para ficar mesmo um portfólio e entregamos.

- Você está sentindo esse cheiro de fumaça? - pergunto enquanto caminhamos para fora do prédio.

- Não. De onde está vindo? - ele mexe a cabeça procurando a fonte do odor.

- Do meu cérebro. Que queimou. De tanto ouvir palavras que eu não faço ideia do que sejam. - digo, sento no primeiro banco que vejo.

Ele ri.

- Como assim? Que palavras?

- Ah tipo ISO, superexposição, abertura, tem milímetros para tudo e pelo amor de deus o que é aquele viwfindalgumacoisa que você falou? Eu disse certo? Acho que não consigo nem repetir. - solto um grunhido de tristeza.

Ele dá uma risada alta.

- Viwerfinder é o visor da câmera. - permaneço em silêncio olhando para ele. - Por onde você olha quando vai tirar a foto? - questiona. Acho que vejo um sinal de desespero em seus olhos.

Faço sinal de afirmativo e reviro os olhos.

- Não era só dizer visor da câmera? - falo.

Ele suspira.

-  Eu posso te ajudar a aprender o significado dessas coisas, na verdade terei que ajudar, ou nosso ensaio não vai ser dos melhores.

Coloco a mão no queixo empurrando minha bochecha para cima fazendo beicinho e fico olhando para ele, expressando meu aborrecimento.

- Se você não entende nada de fotografia por que escolheu arte? - Ross está em pé.

- Fotografia não é a única matéria do curso. - digo.  

- Sim, mas... você não viu a grade curricular? - ele senta do meu lado. Estamos os dois olhando para frente.

- Escolhi pela música. - falo num suspiro. Ele vira o rosto para me encarar.

- Esta é uma razão perfeita. - ele sorri. - Mas então por que não escolheu uma universidade com o curso de música?

- Eu quis, mas tive que me mudar para cá. - Ele me fitou em silêncio, então continuei - Meu sonho era estudar no Conservatório de São Francisco, eu moro lá. Quer dizer, morava. Mas minha mãe recebeu uma proposta de emprego e eu vim parar aqui, com meu pai. Para não ter que abandonar a música completamente, arte e ciências foi a melhor opção. Eu tive sorte, gosto das duas coisas. - ficamos em silêncio por um tempo. - mas e você? Escolheu pela fotografia?

- Sim e não. Fotografar é uma das minhas paixões e arte cinematográfica também, mas foram bônus. - ele está sorrindo. - minha motivação também foi a música. Eu tenho uma banda e para mim não é só passar o tempo sabe? É parte de mim. E quando canto sinto que é para isso que vivo, que é isso que eu devo fazer.

Eu sorrio. E sinto que é um sorriso grande, mas não posso evitar. Eu estou feliz em saber que ele é músico, na verdade fico feliz em saber que temos algo em comum. E essa ligação é a melhor que poderíamos ter.

- E então por que não escolheu uma universidade com o curso de música? - repito a pergunta que ele fez.

- Meu pai tem uma empresa no ramo imobiliário. Eu deveria fazer engenharia civil, mas… -  ele sorri e aponta para mim - para não abandonar completamente a música escolhi Arquitetura e Arte. E eu tive sorte, gosto muito de desenhar. - ele sorri novamente. Disse a mesma coisa que eu.

Ele olha seu relógio de pulso.

- Eu tenho que ir. - diz.

- Ok.

- Vejo você por aí? - ele pergunta.

- Você me vê por aí. - respondo.

    Depois do almoço, tive aula de biologia molecular e o resto do dia livre. Resolvo escrever para Claire e ligar para Vanessa. Sento na sombra de uma árvore e disco o número da minha irmã. Ela demora dois toques para atender. Conversamos por uma hora. Ela me conta como está a preparação para a formatura e diz que minhas passagens para Nova York já estão compradas, conta como foi no último teste para um filme e diz que está esperando pela resposta. Eu conto a ela como foi a semana que passei com papai e como foi meu primeiro dia. Conto também sobre como são as comidas aqui e ela quase surta do outro lado da linha. Despeço-me e digo que estou com saudade, ela me manda um beijo pelo telefone e desliga. Dois minutos depois, recebo uma mensagem em vídeo dela dizendo tchau.

    Vou até um quiosque perto de onde eu estava e compro um café, sento num banco para escrever o e-mail para Claire.

 

         De: [email protected]

    Data: 01 de agosto de 2016  16:09

    Para: [email protected]

    Assunto: Shakespeare

    Ei, como foi seu primeiro dia de aula? O meu começou muito cedo, mas você não vai acreditar: eu conheci um cara de nome Romeu na aula de química! A aula perfeita para ele descobrir o veneno que vai matar a nós dois depois que nossas famílias que se odeiam souberem do nosso romance LOL

Eu queria te pedir uma coisa, me manda uma foto nossa que nesse final de semana vou comprar um porta retrato para ela. Já sinto sua falta, beijo!

PS: o que você está almoçando?

 

Envio o e-mail e enquanto espero a resposta de Claire volto ao meu quarto para tomar um banho. É engraçado pensar que já estou quase na hora do jantar e ela ainda está almoçando... Isso que estamos no mesmo país. Tiro as sapatilhas que usei e deito na cama com os pés para fora. Penso sobre meu primeiro dia, é foi legal, acho que consigo me acostumar. Decido convidar Rydel para jantar comigo, deixo a minha porta aberta e atravesso o corredor descalça. Bato duas vezes e espero, ela abre alguns segundos depois.

- Ei Lau.  Entra.- ela dá espaço para eu passar, mas continuo no mesmo lugar.

- Só vim perguntar se você quer ir jantar comigo.

- Claro, que horas você vai?

- Vou tomar um banho primeiro e depois podemos ir. Pode ser? - pergunto.

- Pode sim, combinado. Quando estiver pronta bate aqui.

Separo a roupa que vou vestir e escuto o barulho de notificação do meu celular.

    

    De: [email protected]    

    Data: 01 de agosto de 2016  13:40

    Para: [email protected]

    Assunto: Re: (Shakespeaere)

    você só pode estar brincando comigo!!! faz o que… pouco mais de uma semana que você está na Flórida e já arranjou um amor para morrer?!? pq minha mãe não estuda tartarugas? as coisas aqui estão legais tbm, mas minha companheira de quarto é terrível. ela mistura sabão em pó com água sanitária para limpar o banheiro ¬¬ SERÁ QUE ELA NÃO SABE QUE UM PRODUTO ANULA O OUTRO???? Laura você poderia fazer o favor de voltar e mandar essa criminosa da química para fora do meu quarto? preciso de você no lugar dela… Se bem que… você não! Manda o tal Romeu, eu bem que estou precisando. a foto está anexada neste e-mail. Muitas sdds!

PS: meu almoço é risoto e filé de peixe. Eeee parei a garfada só para te responder, me ame!

 

    O que mais irrita a Claire são os “crimes da química” como ela chama. Que são erros comuns que as pessoas cometem, como dizer que massa e peso são a mesma coisa ou janelas de metal nas casas beira-mar. Para ela isso é um absurdo. Sorri lembrando dela. Íamos para aula juntas e voltávamos juntas, quando queríamos dizer algo importante ou contar uma novidade que não poderia esperar, era só deixar um bilhetinho na janela combinando de tirar o lixo no mesmo horário, e então quando nos encontrávamos na frente da casa podíamos contar sem ninguém ouvir. Ela conhece todas as minhas músicas e segredos, sabe que meu primeiro beijo foi com o Brian, um menino magricela da minha aula de música, e que eu não gostei e que no aniversário da minha prima Sara dei um presente que eu tinha ganhado e não usei. Eu não vejo a hora das férias chegarem ou do primeiro feriado para ir visitá-la. Porque eu vou. Na primeira oportunidade eu vou.

    Bati na porta da Rydel uma hora depois de convidá-la e sentamos numa mesa bem no meio do refeitório.

Então Laura, gostou do seu primeiro dia? - estamos comendo uma cesta com pãezinhos e molho de carne.

Gostei, foi tão diferente. Tudo é tão novo para mim.

- Sabe que depois que você saiu hoje de manhã que percebi que eu não sei qual curso você faz. - arregalo os olhos quando ouço isso.

- Eu faço Artes e Ciências, não acredito que não te contei! - exclamo.

- Quando nos conhecemos, ontem, tive a sensação que já era tão próxima de você que hoje no café da manhã quando te chamei para sentar comigo e Georgia era como se já te conhecesse há muito tempo - ela deu uma mordida no pão e esperei ela engolir para continuar - mas então quando você saiu e a Georgia perguntou qual curso você fazia percebi que não sabia. E foi tão estranho não saber, na verdade não sei nada sobre você!

- Eu senti a mesma coisa. - sorri. - mas não se preocupe, eu vou me apresentar agora e você vai sair desse jantar uma expert em Laura Marano.

- Então que comece esse curso intensivo.

- Eu nasci em São Francisco, no dia 29 de novembro de 1995. Meus pais são divorciados e me mudei para cá semana passada porque minha mãe vai passar 36 meses estudando tartarugas nas Filipinas. Tenho uma irmã, o nome dela é Vanessa e ela mora em Nova York onde estuda Artes Cênicas e Cinema.

    - Uma família de artistas. - Rydel diz. - Gostei.

    - Tenho uma melhor amiga chamada Claire, éramos vizinhas e estudei com ela a vida toda. Gosto de ciências e amo a música. Toco vários instrumentos, mas meu preferido é o piano, foi o primeiro que aprendi a tocar e como descobri minha paixão pela música. Meu sonho é que muitas pessoas conheçam minhas músicas. Minha gargalhada é estranha, minha cor preferida é vermelho e não tenho uma comida preferida, gosto muito de tudo.

    - Isso eu percebi pelo seu café da manhã. - Rydel diz rindo.

    Enquanto jantamos ela me conta sobre a vida dela também, as coisas que gosta, as histórias de família e como ela e o namorado começaram a namorar. Diz como resolveu estudar publicidade e que tem uma banda com os irmãos. Quando o assunto chega nos irmãos conto que estou na mesma turma que Ross e que ele me falou sobre a banda. Ela me diz que ele e o irmão mais velho são os mais comprometidos em levar o grupo para frente.

    Passamos boas horas juntas. Quando subimos estou tão cansada que coloco o pijama de trás para frente, mas fico com preguiça de arrumar. Fecho os olhos e logo caio num sono sem sonhos.

    

 



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