1. Spirit Fanfics >
  2. Laura e a última canção de amor >
  3. Capítulo 6

História Laura e a última canção de amor - Capítulo 6


Escrita por: Cissabks

Capítulo 6 - Capítulo 6


Fanfic / Fanfiction Laura e a última canção de amor - Capítulo 6

O calor em Miami estava tão intenso que eu não conseguia ficar fora do prédio por mais de cinco minutos. Meu cabelo está preso num rabo de cavalo alto e apertado. Agradeço mentalmente à pessoa - seja lá quem ela for - que resolveu colocar ar condicionado por todo campus. Romeu e eu estamos sentados em nossos lugares de sempre, ele está com o livro “Fisiologia do Sistema Nervoso Central” aberto e eu estou escrevendo as respostas no questionário que a professora entregou.

- Você não apareceu. - Ele diz.

- Huh… o que? - Pergunto.

- Na festa, no fim de semana. Você não foi. - Ele passa o livro para o lado indicando o que eu tenho que copiar.

    - Ah, é. - Começo a escrever no rascunho sobre a condução dos impulsos elétricos pelo axônio -  Eu passei o final de semana todo fazendo relatórios e aquele questionário de biofísica. Próxima pergunta: o que são células gilas? - Devolvo o livro a ele para encontrar a resposta e passo a limpo a questão anterior. - Eu não vi você aqui pelo campus, pensei que tinha ido para casa.

    - Eu fui sábado de manhã, a festa era na sexta.

    Coloco a caneta sobre a mesa e descanso a mão.

       - Então sem chance de eu ter ido nessa festa. Sexta fiquei tão concentrada na biblioteca que até perdi o jantar. - Digo. O sinal bate e nós saímos em direção à zona A onde teríamos aula de botânica.

         Romeu está me contando o porquê dos gatos ronronarem e rio quando ele tenta imitar isso. Ele diminui o passo e olha para mim com o canto do olho.

       - Laura, você gostaria de… sei lá… - Ele coça a nuca - Sair para tomar um sorvete ou pegar um cinema algum dia desses?

         Eu fico sem reação. O Romeu é divertido, bonito e inteligente, mas seria justo eu sair com ele gostando de outra pessoa? Porque apesar de eu estar morando em Miami eu ainda tenho sentimentos pelo Peter, faz pouco mais de um mês desde a última vez que saí com ele e ainda está tudo muito recente para mim.

-Romeu você é muito legal... - Começo, ele dá uma meia risada.

-Mas?

- Mas eu gosto de outra pessoa. - Digo.

- Tudo bem então, mas ainda podemos sair como amigos certo?

- Claro, vai ser legal. - Sorrio.

- Laura! - Olho para trás e vejo Ross saindo de uma das salas e vindo até minha direção. - Está tudo em pé para amanhã não é?

Romeu me olha e levanta as sobrancelhas em indagação, depois dá a Ross um olhar de desprezo que eu não imaginaria num rosto tão simpático como o dele. Ross percebe e devolve na mesma moeda. Romeu é um pouco mais baixo que Ross, mas os dois se encaram por um segundo como se fossem da mesma altura. E aí viram para mim!

- Claro Ross, vamos trabalhar no portfólio amanhã. - Eu quis deixar claro que os planos com o Ross não eram nada mais que trabalho, não porque quero alguma coisa com o Romeu, mas eu acabei de dizer que gostava de outra pessoa, não quero que ele pense que menti ou que a pessoa de quem gosto é o Ross.

    Ross olha novamente para o Romeu e os dois se encaram por um momento, então vira as costas e vai embora. Tá, o que acabou de acontecer aqui?

        Depois que Romeu e eu saímos da aula ele foi encontrar alguns amigos e eu fui atrás de Rydel para jantarmos juntas. Fiquei em dúvida se contava a ela ou não sobre a coisa estranha e sem graça que aconteceu, mas resolvi não dizer nada. Eu não sabia qual o grau de profundidade da relação entre ela e Ross e fiquei receosa de contar, ela dar uma bronca nele e acabar piorando as coisas entre ele e o Romeu. Eu não queria uma situação de precisamos-falar-sobre-o-elefante-na-sala entre meus dois amigos.

Agora Rydel está pintando as unhas do pé e eu estou vendo vídeos no computador dela.  

- Eu não posso esquecer de pegar meu notebook com meu pai esse final de semana. - Falo.

- Ah por mim tá ok você estar sem notebook, estou gostando das várias visitinhas que você me faz.

           Ultimamente estou usando o computador da Rydel para fazer pesquisas, mas praticamente todos os dias que vim, depois de pesquisar, ficamos conversando e ouvindo músicas e por isso as pesquisas tornaram-se uma desculpa para passarmos um tempo juntas. Semana passada fizemos uma chamada de vídeo com a Claire. Num primeiro momento acho que ela teve ciúmes da Rydel, não dava muita atenção para as coisas que ela dizia ou mudava de assunto quando eu concordava, mas depois um tempo ela gostou da minha nova amiga e nós três tivemos um bom tempo juntas. Claire até convidou Rydel para ir junto quando eu for para São Francisco.

           Volto para meu dormitório e tomo um banho rápido para refrescar, visto um shorts folgado e a camiseta azul de vaquinhas voadoras do meu pijama. Estou guardando as calcinhas que trouxe da lavanderia e que estavam sobre a cama quando ouço as batidas na porta.

      -   Espera um pouco! - Digo.

         Abro a porta e dou de cara com o Ross! Ele está com o cabelo molhado e uma camiseta branca. Minha expressão deve ser de puro choque. O que ele está fazendo aqui?!

          -Sei que combinamos para amanhã, mas eu estava matando tempo e pensei em adiantar o trabalho. - Ele diz.

          - Hmm, ok. Pode ser.

Afasto o corpo para ele passar, mas ele fica parado por alguns segundos. Vejo um sorriso começando a se formar.

- Gostei das vaquinhas.

- Cala a boca.

- É sério, eu gostei mesmo.

Sinto como se alguma coisa tivesse se mexido dentro do meu estômago. Ele entra e vai até o meio do quarto, acompanho seus olhos examinando minhas coisas. Ele estica o braço para pegar a tartaruga que está na prateleira em cima da escrivaninha. Sua camiseta levanta mostrando parte do abdômen. Alguma coisa em mim derrete.

         Ele me mostra a pequena tartaruga azul em porcelana que comprei no final de semana que passei com meu pai. Levanta a sobrancelha em ar questionador.

         -Para eu me lembrar da minha mãe. - Falo. - Ela foi estudar tartarugas.

          Ele olha minhas fotos, vai até a minha cama e pega o pinguim de pelúcia que está sobre meu travesseiro.

          -Qual o nome dele?

          - Friederich. - Falo baixinho. Isso é tão humilhante, não foi assim que imaginei Ross no meu quarto. Quer dizer, não que eu tenha realmente imaginado, mas se fosse para imaginar com certeza não seria com uma camiseta de vacas gorduchas e um pinguim de pelúcia.

          Ele olha pro rosto do meu pinguim

           - Friederich… - Repete. E aí seu rosto muda de expressão. A boca forma um pequeno O e rapidamente muda para um sorriso torto - Ahh não! - Encosto um lábio no outro fazendo um pequeno estalo. - É Nietzsche não é? Friederich Nietzsche?

      Ok, preciso acabar logo com isso.

            Sim. - Vou até ele e puxo Fried.

            -Desculpa. - Ele diz.

            Franzo o cenho sem entender.

           -Por vir e mexer nas suas coisas. - Ele aponta para o objeto em minha mão.

           - Ah, sem problemas. - Solto rapidamente o pinguim em cima da cama. - você pode pegar em qualquer coisa minha se quiser.

           Ele levanta as sobrancelhas. Um pequeno sorriso surge em seu rosto antes que eu perceba o que disse. Ele abaixa a cabeça e batuca os pés. Ele está envergonhado? Ele não tem motivo para estar envergonhado, quem falou a bobagem fui eu. E também eu não quis dizer o que pareceu que eu disse. Não que seja algo ruim e impensável, ele é um garoto bonito, é alto e tem um cabelo ótimo. Ah o que eu tô pensando? É o Ross! O Ross meu amigo. O Ross que tem namorada. E é do Peter que eu gosto.

          Ele senta na beirada da minha cama.

- Então, você e aquele cara estão saindo? - Ele pergunta. Cara? Que cara?

Aí me lembro da situação estranha-esquisita da tarde.

- O Romeu? - Pergunto. Sento na cadeira, não quero ficar do lado dele, é desconcertante.

- Romeu é tipo um apelido romântico que vocês meninas criaram para chamar ele ou…?

- É o nome dele. - Interrompo. Por algum motivo eu quero acabar logo com esse assunto. - Somos amigos. Não vou sair com ele. Apenas amigos. Ele é meu parceiro em ciências. - Porque estou falando tanto? Eu não preciso me explicar, Ross tem uma namorada e minha vida pessoal não diz respeito a ele.

- Por que? Ele parece gostar de você. Você tem namorado ou algo assim?

-  Não, mais ou menos. - Falo. - Eu tinha alguém, mas não deu tempo de... Me mudei antes.

        Ross não fala nada. Fica um silêncio desconfortável e eu não consigo pensar no que dizer, mas aí:

- Não é todo mundo que tem uma Courtney. - Resmungo. Assim que as palavras saem percebo que foi uma besteira, ele junta as sobrancelhas em confusão.

         -  Como você…?

         -  A Rydel comentou alguma coisa. - Falo rapidamente. Fico indignada com minha estupidez. Ele vai pensar que fico futricando sobre a vida dele. - Eu tive uma ideia para o nosso ensaio! - Exclamo. O problema é que não tive ideia nenhuma. Pensa, pensa, pensa.

          Ele permanece alguns segundos com as sobrancelhas franzidas me estudando, mas por fim diz:

        - O que você pensou?

         As vaquinhas voadoras. Nuvens. Céu. Avião.

         -  Podemos tirar foto de um avião. - Solto. Por que eu disse isso?

- É uma boa ideia.

- É? - Pergunto indecisa. Do que ele está falando?

- Podemos tirar a foto de um avião de brinquedo em um céu de fotografias. - Ele apoia os cotovelos nos joelhos. Pensa comigo: a gente tira fotos do céu e coloca um aviãozinho em frente às várias fotografias! Para quando chegarmos no tema das primeiras fotografias aéreas.

Estou aliviada por ter conseguido mudar de assunto sem que ele percebesse. Eu pego um caderno para anotar todas as nossas ideias e passamos pelo menos duas horas discutindo propostas e escrevendo detalhadamente os procedimentos do nosso saio. Combinamos que a primeira sessão será na quinta, só não decidimos qual o tema porque estamos cansados demais para continuar o assunto.

- Conta alguma coisa legal. - Ross diz. Estamos deitados no tapete fofo do meu quarto olhando para cima.

- Quando eu estava na quarta série, decidi que queria ser cupido. Eu planejava como poderia juntar as pessoas que se amavam sem elas saberem. Era tudo perfeito na minha cabeça. Um dia na escola eu soube que um coleguinha da minha turma, o Ryan, gostava de uma garota da outra turma. E que ela gostava dele. Eu escrevi uma carta como se fosse ele e coloquei na mochila dela durante o recreio. Entrei escondida nas salas e consegui escrever e colocar sem ninguém me pegar. Escrevi uma como se fosse ela e colocaria na mochila dele, mas o sinal bateu. Então esperei a hora certa. Num momento quando a professora estava de costas eu tentei colocar escondida na mochila dele, eu não lembro o que aconteceu. Acho que fiz barulho ou ela acertou exatamente a hora para se virar e me viu. Acredito que ela pensou que era eu quem gostava dele, por isso na hora da aula não disse nada. Mas quando o sinal bateu ela pediu para eu ficar e leu a carta, perguntou se era eu quem tinha escrito aquilo e eu menti. Foi tão amedrontador, ela era alta e eu sempre fui pequena. Ela ficou parada na minha frente questionando se eu tinha mesmo escrito aquilo e eu neguei muito. Não queria que ela me mandasse para a diretoria. Eu sempre fui boa aluna, ir parar na sala da diretora seria humilhante. Por algum motivo ela não contou. Talvez tenha pensado que a Beatrice, a garota por quem me passei naquela carta, tinha pedido para eu entregar ao Ryan. Passei tanto medo naquela tarde que desisti para sempre da minha carreira de Eros. - Ross riu. -  Aquelas cartas foram minha primeira experiência em tentar passar sentimentos através das palavras. E pensando bem, ainda bem que desisti. Porque depois disso, essas coisas sobre sentimentos, eu escrevi em músicas.

- Então você é uma romântica nata?

- Sou. Por isso fiquei tão triste com a separação dos meus pais. Era a prova de um amor real na minha frente, que eu acreditava ser duradouro. - Suspiro. - Eles não brigavam sabe? Acho que isso foi o problema, guardaram coisas demais por tempo demais.  

Eu não sei porque estou sendo tão aberta sobre isso. Não comentei isso nem com a Rydel, mas agora neste momento estou me sentindo confortável para expor um assunto que há muito tempo não tocava com alguém.

 - Eu acho lindo o amor. - Falo. - Acho incrível você precisar de alguém, não para te ajudar ou dar coisas, mas simplesmente estar ali. E a certeza de que aquele alguém vai estar só se tem quando existe amor. Se sentir infinito porque em qualquer lugar que você for a pessoa está com você. É um sentimento inexplicável, maior que todos nós.

Ross fica em silêncio e imagino se ele dormiu. Viro o rosto para vê-lo e ele está com os olhos parados para o teto. Começo a me sentir constrangida por ter falado tanto.

- Você me pediu para contar algo legal, não algo tão melancólico. Desculpe.

- Não, não é isso… - Ele diz. - Só estou pensando no que você falou.

Ele vira o rosto para mim e não consigo segurar a risada.

- O que? - Ele pergunta.

- Tem uma penugem no seu nariz.

Ross tira o pedacinho de lã e sorri.

- Obrigada Laura.

- Pelo que?

- Por ser você.

E nesse momento eu posso jurar que o mundo ficou mais leve.

 

    


 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...