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História Laura e a última canção de amor - Capítulo 9


Escrita por: Cissabks

Capítulo 9 - Capítulo 9


Fanfic / Fanfiction Laura e a última canção de amor - Capítulo 9

  

Amaya e eu estamos deitadas no gramado do campus. Eu estou usando um shorts preto e uma camiseta cinza da Frida Kahlo e ela um vestido vermelho. Combinamos de nos encontrar para tomar um suco, mas o calor e a preguiça nos venceram e agora estamos deitadas sob a sombra de uma grande árvore.

- Ok, repita comigo: “kōhī”

- “Kōhī” - digo.

- Isso, kōhī quer dizer café. Tenta dizer agora “kōhī shite kudasai” que é “um café por favor”

- Kōhī shite kudasai. - O que falo sai de um jeito forçado e nada parecido com o que Amaya disse.  - Quando você fala parece tão fácil. - Reclamo.

Ela ri.

- É normal, você está apenas começando. Agora tenta se apresentar… Watashinonamaeha Amayadesu. Meu nome é Amaya. Sua vez.

- Watashinonamaeha Lauradesu. Falo.

- Quase, você acertou na ideia, mas Laura no Japão é Rōra. Tenta de novo.

- Watahinonamaeha Rōradesu - Repito bem devagar.

- Laura. - abaixo os olhos e vejo Ross olhando para mim. - Preciso da sua ajuda, vem comigo.

- Precisa ser agora? - Pergunto.

- Ah, desculpe não queria interromper todo esse seu trabalho de contar as folhas dessa árvore. - Ele fecha a cara.

- Amaya está me ensinando japonês. - Digo, mas já me levanto. - Ok, vamos. Do que você precisa?

- Eu esqueci meu caderno de aritmética, mas agora não posso pegar porque está tendo aula de zoologia e são dois tempos. Vai ter um intervalo daqui a pouco e aquele seu amigo está lá. Você poderia pegar com ele? Não posso esperar porque tenho essa aula daqui 20 minutos.

- Por que você mesmo não pede a ele? - Pergunto.

Ele tenta disfarçar.

-Eu não conheço ele, seria estranho. Vai você.

- Tudo bem - reviro os olhos - Quando é o intervalo?

- Faltam dois minutos para o sinal.

Ross e eu vamos até a zona A e esperamos pelo sinal. Ele se afasta e eu caminho até a porta que ele indicou. Alunos saem de várias salas e em questão de segundos o corredor está cheio de pessoas. De longe consigo ver o cabelo de Romeu, agradeço por ele ser mais alto que muitos garotos ali.

- Romeu! - Chamo.

Ele procura ao redor e eu o chamo novamente. Quando me vê abre um grande sorriso.

- Laura! - ele se aproxima e me abraça. - O que você está fazendo aqui? Não é dessa turma né? - Pergunta.

- Não. Preciso de um favor seu. Aquele meu amigo Ross, teve uma aula nesta sala essa manhã, ele deixou um caderno em cima da janela e vai precisar, você pode pegar para mim?

- Ah. - Ele parece levemente desapontado. Mas logo essa feição muda e ele parece animado outra vez. - Vou pegar, espera um pouco.

Ele passa por um grupo de pessoas e some dentro da sala. Logo retorna com um caderno grande e cinza.

- Só pode ser esse, era o único na janela. Ele me estende o objeto.

- Muito obrigada! - Falo e abraço-o novamente.

Romeu está muito cheiroso e é um perfume agradável, não muito forte, mas também não é suave demais. Com um toque amadeirado. Inspiro o perfume algumas vezes e só percebo que o abraço durou mais que deveria quando ele tenta ainda com os braços em volta da minha cintura encostar sua testa na minha. Gentil, mas rapidamente me afasto. Ele dá um sorriso tímido e se afasta também. Aceno e saio ligeiro.

- Obrigado. - Ross agradece quando devolvo o caderno a ele.

- Agora posso voltar a contar as folhas da árvore? - Peço irônica.

- Pode. Mas você não devia estar com esse ar de preguiça. Até fiz um favor a você. 

- Você fez? Pensei que fosse o contrário. - Digo.

- Se não fosse eu pedindo-lhe um favor, você não teria a desculpa para agarrar e abraçar o “apenas seu amigo”. - Ele faz aspas com os dedos.

Não consigo segurar a risada.

- Ahhh, tá bom então sabichão. Esse foi mesmo um graaaande favor. Por isso vou até te convidar para ser padrinho do nosso casamento.

    Ross semicerrou os olhos e manteve o olhar virado para o horizonte. Ele estava mesmo imaginando meu casamento?

- Tenho que ir. - Ele diz, já virando as costas para mim. - Obrigado.

Eu não tenho tempo de respondê-lo.

Estou no canto zen da Universidade. Não tem nenhuma placa ou indicação dizendo que esse é o nome, mas é a impressão que dá. Tem vários banquinhos de madeira e flores coloridas espalhadas pela grama. Gosto como aqui é isolado, longe de tudo e todos. O silêncio só não é total por conta do assovio do vento.

Pego meu caderno de música da bolsa e um lápis. Eu ainda não tenho uma melodia, mas estou com alguns versos cutucando na minha cabeça há horas. Escrevo e apago várias vezes antes de ter uma letra razoavelmente boa. E então alguma mágica acontece. Eu tenho ideias e mudo completamente o que escrevi, mas o resultando é tão bom que mal posso acreditar.

A música não é de amor, apesar de ser essa a intenção inicial. Eu pensei no Peter, em todo aquele sentimento que tinha guardado quando ele não prestava atenção em mim, nas vezes que o via nadar e imagina como seria ter os braços dele ao redor do meu corpo, nas vezes que o encontrei próximo ao armário e pedia licença para passar, imaginando se ele tinha reparado em mim, mas seus olhos nem passavam pelo meu rosto. Então pensei no dia da sorveteria, quando ele finalmente falou comigo e depois nos poucos momentos que passamos juntos, nos poucos beijos que trocamos antes de eu vir para Miami. Mas nada disso adiantou, tentei deixar aflorar o sentimento, mas a música simplesmente não saía. Eu escrevia e as palavras ficavam forçadas e superficiais. Então mudei completamente de ideia, escrevi sobre mim. Sobre minha independência, meus medos, sobre como me descobri forte para morar longe e sozinha, e que com tudo isso, graças à isso, me encontrei. E a letra ficou incrível. Escrevi com meu coração e isso ficou claro pelas palavras sinceras que agora estavam naquele caderno. Eu queria ir para casa e experimentar o piano, mas isso demoraria demais. Então reúno minhas coisas e decido ir à sala de música mais distante e trabalhar nessa música aqui mesmo.

Escolho a penúltima sala do corredor na zona B, felizmente apenas duas salas estão ocupadas por alunos, então isso quer dizer que tem pouca gente que poderia me ouvir. Eu não me importo de cantar para as pessoas, mas quando estou compondo preciso de concentração, e saber que alguém estranho pode estar ouvindo e julgando, não facilita meu processo de criação.

Experimento alguns acordes e notas, mas nada encaixa. Ando pela sala murmurando sons aleatórios  e nada da certo. Perco 40 minutos tentando alguma coisa sem sucesso. Decido pegar algum doce para espairecer, quem sabe quando eu volte tenha inspiração.

Vou até um quiosque perto do prédio e compro um chocolate. Enquanto espero o vendedor uma melodia vem a minha cabeça. Fico nervosa e com medo de perdê-la então assim que recebo o doce saio correndo em direção à sala. Se eu conseguir reproduzir fielmente essas notas vou terminar minha música.

- Wow! Vai tirar a mãe da forca? - Ross está vindo do lado contrário do corredor.

- Não fala comigo. Não fala comigo. - Passo correndo por ele.

Ele não diz nada, mas percebo que está me seguindo. Ok, desde que ele não abra a boca está tudo bem. Passo por grupos de pessoas e não diminuo os passos nem na curva. Finalmente chego à sala de música e sento ao piano. Ross entra também, mas fica um pouco afastado e nem mexe os pés para se aproximar. Acredito que quando percebeu para onde eu estava vindo deduziu o porquê da pressa.

Rapidamente testo a melodia que está ecoando em meus ouvidos e murmuro as palavras da letra. Está quase boa, mas tem uma coisa que não está encaixando. Tento novamente.

- Se você… - Ross se aproxima, mas antes olha para mim. Ele está pedindo permissão para dar sugestões na minha música. Balanço a cabeça afirmativamente. Ele senta ao meu lado. - finalizar em G/B e C9 - ele posiciona os dedos na posição desses acordes - a parte do “I can” vai encaixar.

Canto a música baixinho novamente e faço o que ele me indicou. Encaixa perfeitamente, fico tão feliz que paro de cantar e o abraço.

Muito obrigada, muito obrigada, muito obrigada. - Digo, ainda com os braços em volta dele. Ele coloca as mãos nas minhas costas. Encosto o queixo em seu ombro. - Obrigada mesmo.

- Não foi nada. - Ele diz.

-  Tem alguma coisa em que você não seja bom? - Sussurro. Na verdade falo mais para mim mesma do que para ele, mas como estou com a cabeça em seu pescoço ele ouve.

- Tem uma Laura. - Suspira. - Tem uma.

Não pergunto o que é, mas me afasto dele para tocar minha música novamente.

- É uma música ótima. - Ele vai até o fundo da sala e pega um violão. - Toca de novo.

Eu toco e dessa vez ele me acompanha. Depois da minha tocamos e cantamos outras músicas também. Eu não me lembro de alguma vez ter me divertido tanto com alguém sem estar fazendo nada especial, apenas cantando. Experimentamos canções de vários estilos, trocamos de instrumentos, mudamos arranjos, fizemos coros e duetos. Tocamos piano juntos e nossas mãos se tocam misturando o tom, nos fazendo perder o ritmo. Ross está tocando Dancing on my own e eu estou vendo-o tocar. Seus dedos são longos e parecem flutuar nas notas.

Quando ele termina de tocar vira o rosto para mim, eu olho seu rosto como nunca olhei antes, com calma e sem pressa para desviar o olhar. Olho em seus olhos, o nariz que faz uma voltinha na ponta e a boca, os lábios dele são finos e bem desenhados. Se é conscientemente ou não, nossos rostos se aproximam. Ele sorri e eu sorrio de volta. O sorriso dele está uma mistura de felicidade e timidez. Felicidade pela música e timidez por eu o estar encarando? Oh meu Deus eu estou encarando. Mas é impossível desviar porque... Eu não quero dizer isso porque aí estarei afirmando e a partir do momento que eu afirmar, não terá mais como negar. Ele dá outro pequeno sorriso e forma uma covinha na bochecha. Suspiro. Não dá mais para fugir. É impossível desviar porque estou apaixonada pelo Ross.  Então tudo parece tão óbvio. Entendo porque não consegui escrever a música de amor, porque nem pensando em Peter alguma palavra fez sentido, não fez sentido porque não deveria ser para ele, não deveria ser sobre ele.

E assim que a ficha cai eu vejo o tanto que isso vai me machucar. Ele não sente nada por mim, ele tem namorada, essa pessoa na minha frente vai ser sempre e apenas meu amigo. Eu estou apaixonada e isso é aterrorizante.

Levanto rapidamente do piano e ele também levanta tão rápido quanto eu. Olho para ele mais uma vez.

- Eu tenho que ir. - Digo.

Ele não diz nada.

Ele está envergonhado? Envergonhado porque percebeu o que houve e não quer estragar nossa amizade? Ou não está envergonhado e apenas pensa que eu tenho mesmo que ir? Saio sem olhar para trás.

 



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