Liam se sentia confuso num nível extremo. As primeiras coisas que vieram à sua cabeça depois de seu celular ter despertado, era que ela estava doendo, aquele não era seu quarto, e tinha alguém roncando na cama de cima.
O acastanhado fechou os olhos novamente, pressionando as têmporas levemente. Não tinha nada mais insuportável do que acordar com dor de cabeça. Na verdade tinha sim, acordar sem Zayn Malik. Sem seu cheiro, seu corpo pesando, e seus pés sempre gelados. Isso sim faria Liam chorar, e ele quase o estava fazendo.
Lentamente, Payne se esforçou para sentar e esfregou o rosto, se arrependendo amargamente quando seu olho esquerdo latejou. Maldito hematoma. Xingando baixo levantou do colchão que seria sua nova cama por tempo indeterminado e cambaleou para fora do quarto.
Liam não sabia dizer para si mesmo o motivo de ter pedido um tempo para Zayn. Malik era quem o mantinha com os pés no chão e a cabeça nas nuvens, mudava seu humor apenas com o som de sua voz e fazia suas pernas virarem gelatina com um simples sorriso. Uma amostra grátis de felicidade.
Niall havia dito que Liam precisava pensar em que rumo daria para sua vida dali para frente, e talvez manter a relação com Zayn o atrapalhasse em algum momento. Payne não concordava totalmente com aquilo porque seu namorado não o atrapalhava, muito pelo contrário. Porém achava que precisava de um tempo para se restabelecer.
Depois de passar o trinco na porta, o acastanhado apoiou as mãos na pia e se encarou no espelho. Seu olho ainda estava roxo e inchado, não muito melhor do que no dia em que o ganhou. Só faziam dois dias, afinal de contas. Lavou o rosto com um cuidado excessivo apenas para acordar, e fez suas necessidades. Ele não estava nem um pouco disposto a tomar um banho, até porque já o tinha feito antes de dormir, e não via necessidade para tal ato.
Payne só vasculhou as gavetas procurando qualquer analgésico, e o tomou com água da torneira sem se importar muito. Na verdade sem se importar nem um pouco.
Voltou para o quarto disposto a vestir alguma roupa, visto que estava apenas de samba canção, e colocou uma skinny jeans azul clara, e a camiseta amarela que servia como uniforme. Sua sorte era que Niall tinha o sono pesado como um urso na hibernação, porque quando Liam precisava ser silencioso, nem precisava do sino no pescoço.
No térreo Maura estava sentada no sofá com o neto no colo, enquanto este tomava sua mamadeira assistindo desenho. Payne não deixou de sorrir para a cena.
"Bom dia." Saudou tão baixo que tinha dúvidas sobre ter sido escutado.
"Bom dia, querido." Maura olhou para trás por cima do ombro. "Como estão seus ferimentos?"
"Doendo." Deu de ombros indo sentar ao lado da mulher. "Hey Theo."
O garotinho apenas acenou brevemente, não dando muita atenção. Afinal, estava passando Dragon Ball Z!
"Eu disse que era melhor ter dado uns pontos na sua sobrancelha." Sorriu triste. "Conseguiu dormir?"
"Um pouco."
"Você parece triste, aconteceu algo além do que eu já saiba?" Arqueou uma das sobrancelhas analisando o garoto.
"Eu pedi um tempo pro Zayn." Respondeu sem delongas. "Foi tão horrível... eu podia ouvir ele quebrando."
"Você chorou?"
"Muito, nossa. Pareceu tão mais fácil na teoria." Engoliu. Liam não queria chorar de novo.
"Tudo parece mais fácil na teoria, amor." Usou a mão que não apoiava as costas de Theo para tocar o joelho de Liam. "Você acha que ele te sufoca?"
"Não, de jeito nenhum. Na verdade eu tenho medo de que seja o contrário."
"Se você tem consciência disso, saiba que não o faz. Senão ele quem teria pedido um tempo." Sorriu complacente.
"Eu tenho medo de não ter feito a coisa certa, sabe? De ter magoado ele à toa."
"Algum motivo tem." Ela disse. "Você não decidiu fazer isso do nada, estou certa?"
"Hum, sim." Esfregou uma mão na outra. "Acho que primeiro preciso estar bem comigo mesmo para poder ficar bem com ele. Se ele precisar de ajuda agora não vou conseguir dar, e... eu não sei. Tenho medo de parecer insuficiente."
"Liam, você também é uma pessoa que tem suas fraquezas, medos, sentimentos. É natural que em algum momento coincida de vocês ficarem mal no mesmo período, mas se forem romper sempre que isso acontecer a relação não amadurecerá."
Payne assentiu, pensativo.
"Imagina se vocês morarem juntos, aí sei lá, você tem uma crise existencial e o Zayn também? Você o deixaria sozinho para ir pra rua pensar ou vice-versa, sem sequer pensar em resolverem isso juntos?" Perguntou retoricamente. "Mesmo que os dois estivessem mais ou menos, teriam que dar um jeito de juntar as partes inteiras para incentivar o outro a se remontar."
Não cabia espaço para respostas. Liam preferia ouvir a sabedoria de uma mãe e refletir sobre. Como ela havia chegado a tal conclusão?
"Entende o que quero dizer? Uma relação amorosa é, de certa forma, uma constituição. Não importa se é namoro, casamento, não importa. Se duas pessoas levarem a sério, se gostarem e darem certo, foi constituída uma relação."
"Acho que sim, uhm. Eu amo o Zayn, e sei que ele me ama também. Então mesmo quando não estivermos totalmente bem, podemos juntar nossas partes boas e nos fortalecer. É isso?"
"Bom, em suma sim. Que bom que me entendeu. Então, já que pediu o tempo, aproveite para fazer o que tem que fazer. Se ele sofreu tanto com a sua decisão, Zayn te ama e vai te entender."
"Obrigado."
"Não tem porquê agradecer, eu só quero que veja as coisas de uma percepção diferente. Eu te amo, menino." Acariciou a bochecha de Liam.
"Por que minha mãe não é assim?" Perguntou retoricamente.
"Porque eu sou Maura, ela é Karen." Piscou.
-
Liam olhou pela enésima vez para o ecrã de seu celular, mas a hora parecia se arrastar. Era como se o relógio tivesse congelado nas 5:58pm, sendo que seu horário de sair do trabalho era às 6pm.
Suspirou e olhou novamente para a entrada da livraria; não poderia estar mais deserta. Transferiu o peso de uma perna para a outra e suspirou. Liam não aguentava mais suspirar.
"Payno." Uma voz feminina chamou, e o acastanhado se virou. "Se quiser conversar, ou só distrair a cabeça, saiba que me tem como amiga."
"Obrigado." Liam meneou a cabeça forçando um sorriso para Ally. Ela era legal.
"Vai fazer alguma coisa hoje? A gente podia sair pra beber, chamar outras pessoas."
"Ally, hoje é terça-feira." A olhou por alguns segundos com um sorriso contido, logo desviando o olhar. "E eu nem to com cabeça pra isso, mas obrigado pelo convite. Talvez numa próxima."
"Tudo bem." Ela disse, voltando para onde estava.
E finalmente seu relógio marcava 6pm. Liam suspirou satisfeito e se dirigiu à área dos funcionários para pegar suas coisas. Sophia estava sentada à mesa tomando café, e sorriu para Payne.
"Como ta seu olho?" Ela perguntou.
"Bem." Murmurou tentando não ser rude ao que pegava sua mochila no armário 3.
"Mas seu coração não."
"A vida tem dessas." Deu de ombros levemente colocando seus óculos escuros. "Até amanhã, Smith."
"Até, Payne." Respondeu contrariada, não podendo fazer mais nada além de observá-lo sair.
Uma vez na rua, a primeira coisa que Liam fez fora acender um cigarro. Tanto para nutrir o vício quanto para se acalmar, se bem que um ato estava ligado ao outro.
Ao longo do dia Payne havia decidido que gastaria o menos de dinheiro possível, porque precisava dele para seguir com a vida. Não fazia parte de seus planos voltar a morar com seus pais, e ele já era adulto. Precisava ter o seu canto. Logo, de dinheiro também.
O acastanhado foi tirado de seus devaneios quando seu celular começou a vibrar em seu bolso traseiro, e ele se enrolou um pouco na hora de pegar o aparelho. Era Niall.
"Diga." Atendeu.
"Vai fazer alguma coisa hoje?"
"Vou. Dormir." Respondeu apressando o passo, visto que o tempo estava se formando para chuva.
"Não fica assim, vamos fazer alguma coisa. Quer assistir algum filme?"
"Niall, eu só quero descansar. Não precisa ficar em casa mofando comigo. Sei lá, liga pro Ed."
"Ele não ta em Londres, mas isso não vem ao caso. Eu reservei minha noite pra ficar com você, então escolhe alguma coisa."
"Você tem maconha?"
"Eu tenho álcool."
"Não quero beber até ficar bêbado, é cansativo. E eu já to cansado."
"Okay." Cantarolou. "Ta com vontade de comer alguma coisa?"
"Petit Gateau." Tragou seu cigarro, batendo a cinza no chão na sequência.
"Algo que esteja ao meu alcance, por favor."
"Muffin?"
"Perfeito. Me espera na padaria?"
"Vai chover." Resmungou. "Eu odeio chuva."
"Eu vou com o seu carro." Riu fracamente. "Aí a gente já vai na biqueira."
"Eu até te beijaria em forma de agradecimento, mas tenho um namorado em outra cidade."
Niall engasgou do outro lado da linha, fazendo Liam se questionar se ele o tinha levado à sério. Não, eles só eram amigos.
"Daqui a pouco chego aí." E desligou.
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