História Lay Me Down (Ziam Mayne) - Dinner

Zayn subiu as escadas calmamente, a mente vagando sobre coisas aleatórias, até que finalmente chegou ao seu destino. Sua antiga psicóloga tinha os lábios erguidos num pequeno sorriso, enquanto analisava seu paciente.

"Olá, Zayn." Ela disse.

"Olá." Retribuiu, permitindo que a mulher fechasse a porta.

"Pode sentar." Pediu. Pegou seu celular sobre a mesa e sentou na poltrona de frente para Malik. "Não nos vimos por algum tempo, como estão as coisas?"

"Não sei." Cruzou as pernas e passou a fitar os dedos sobre o colo.

"Tudo bem. Louis me ligou e me contou um pouco do que aconteceu, quer me contar do seu ponto de vista?"

"Eu tava triste." Começou a falar. "E resolvi me drogar pra acabar com isso, porque eu não conseguia ver nada além daquilo como solução."

"Agora você enxerga isso como solução?"

"De certa forma."

Silêncio.

"E o que mais passou pela sua cabeça naquela hora?"

"Eu tomei de madrugada quando a Waliyha tava dormindo, mas o efeito só veio depois."

"Você tomou o que?"

"Os antidepressivos." Suspirou. Zayn odiava falar sobre aquilo. "Na hora eu fiquei meio tonto e até dormi um pouco, mas depois parecia que eu não tinha tomado nada."

Uma pausa.

"Então eu repeti a dose."

"Você tinha como objetivo chegar ao óbito, ou volta naquela questão de tentar acordar pra vida?"

"Eu queria, de verdade. O medo nem era de morrer, mas de deixar as pessoas. De elas sentirem a minha falta."

"Então a culpa te impediu?"

"Claro que não. A quantidade de comprimidos que eu tomei poderia ter me matado de overdose, mas Louis sempre pressente. Sempre."

"Ele me disse que precisou arrombar a porta do seu quarto."

"Essa parte eu não sei porque já tinha desmaiado. Eu só lembro de ter acordado num leito no hospital."

"Uhum."

"Eu meio que entrei em pânico e comecei a chorar porque porra, não tinha dado certo, e eu me sentia muito pior do que antes." Olhou para a psicóloga. "Vários médicos foram até mim, perguntaram o que eu tava sentido, mas eu só conseguia chorar e gritar."

"Continua."

"Quando consegui me acalmar com Louis me abraçando, eu vomitei minha alma no chão. Tanto que chegaram momentos que eu achei que fosse morrer sem ar, mas naquela hora a vontade já tinha passado."

"Você se arrependeu?"

"Não." Respondeu simplesmente.

"Faria de novo?"

"Não sei." Voltou a fitar seus dedos.

"Certo. O que aconteceu de bom na sua vida desde quando paramos de conversar?"

"Hum. Eu to namorando." Disse mais como uma interrogação, fazendo a mulher arquear uma sobrancelha.

"Não tem certeza?"

"Ele pediu um tempo, mas não foi por minha causa. Quer dizer, ele disse que não."

"Você confia nele?"

"Claro que sim. Eu o amo, Olivia."

"Você me parece meio inseguro com relação a esse tempo."

"Ele é o único cara que eu tenho medo de ser abandonado, entende? O que eu sinto pelo Liam vai muito além de sexo."

Os dois continuaram conversando até completar uma hora de consulta, e Zayn suspirou em alívio. Ele gostava daquela psicóloga, mas não era muito chegado a falar sobre si mesmo.

"Até semana que vem?" Morris se levantou, sorrindo sem mostrar os dentes.

"Vou tentar não meter o louco." Rolou os olhos levemente aceitando um abraço antes de sair do consultório e descer as escadas na velocidade da luz.

Waliyha estava sentada numa das cadeiras, as pernas cruzadas sobre a mesma e um livro no colo enquanto os fones pendiam de suas orelhas. Para chamar a atenção da mesma, Zayn simplesmente deu um tapa em sua cabeça.

"Por que você é tão desagradável?" Ela grunhiu arrancando os fones.

"Porque sou seu irmão, otária. Agora vamos, preciso passar na biqueira."

"Te amo, irmãozinho." Se levantou sorridente e guardou o livro em sua ecobag.

"Interesseira do caralho. Tchau, Mary." Acenou para a moça da recepção.

-

O jantar de Zayn estava sendo uma caneca de café puro quase sem açúcar e pipoca. Ele estava sozinho em casa, e aquilo era o que sua disposição e dotes culinários permitiam.

Waliyha tinha ido dormir na casa da namorada, e Trisha tinha saído para jantar com o marido. Ou seja, as únicas companhias de Zayn eram Thor e Hulk, seus cachorros. Mas eles eram desengonçados demais para ficar dentro de casa sem causar estragos.

Depois de comer e arrumar as poucas coisas que sujou, Malik tomou seu remédio que sua irmã "escondia" na gaveta dos panos de prato, e foi para os fundos da casa brincar com seus cães. Os dois eram irmãos, ambos pretos com cinza. Eles estavam ocupados mordendo seus brinquedos, mas foi só Zayn se aproximar da porta de vidro que correram na direção do dono.

"Querem dar um rolê com o papai?" Perguntou, se abaixando minimamente para ser cumprimentado. "Faz um tempinho que a gente não sai."

Thor começou a correr em círculos enquanto Hulk pulava em Zayn com mais força e intensidade, respondendo que sim, eles queriam dar um rolê.

"Então a gente já vai." Manteve a porta aberta e foi até onde ficavam as coisas deles, pegando as guias e sacolas para recolher as fezes.

Foi trabalhoso prender os dois, mas Zayn já estava acostumado. Eles eram muito agitados e fortes, sem contar o tamanho. Ambos eram vira-latas, mas com certeza um dos pais era Labrador.

Uma vez na rua, Malik os convenceu a ir na mesma direção, porque cada um queria ir para um lado e quase rasgaram o dono ao meio. Os cães só cederam porque era na direção da praça onde ficavam soltos.

Zayn tentava não pensar tanto em Liam para evitar que seu coração apertasse, mas tinham momentos que não dava. Ali, por exemplo, o falso loiro imaginou o namorado consigo, levando um dos cachorros e fazendo piadas ruins.

"Vai dar tudo errado." Murmurou para si mesmo. "Eu sei que vai. Liam disse aquilo pra eu não me sentir tão mal, Thor. Mas ele não vai voltar comigo."

Parou de andar esperando Hulk terminar de fazer as necessidades, e agradeceu por ter sido só xixi.

"Vocês vão ver, ele vai trocar de número e me bloquear nas redes sociais." Prendeu um cigarro entre os lábios e se virou contra o vento para acendê-lo.

"Todo mundo fala que eu devia ser menos pessimista e capricorniano, mas eu só to sendo realista, entendem?" Perguntou aos cachorros como se eles soubessem falar.

Quando finalmente chegaram na praça, Zayn soltou os animais e os acompanhou com o olhar enquanto terminava seu cigarro. Ele só queria ter vestido um hoodie, porque estava esfriando.

Cansado de ficar de pé, Malik se sentou num banco de concreto e pegou seu maço de cigarros do bolso com o intuito de pegar seu beck que estava ali também. Deu o último trago em seu cigarro antes de descartar a guimba no asfalto, e olhou em volta para acender a erva.

Deu o primeiro trago e escondeu o beck do vento para colocar alguma música enquanto ainda prendia a fumaça. Brisar em silêncio era a mesma coisa que ir comer sozinho no shopping; solitário e depressivo.

"Aleatório, capricha." Soprou a fumaça e deu play em suas músicas aleatoriamente.

Quando Lay Me Down do Sam Smith começou, o garoto apertou os olhos fechados e bufou negando com a cabeça. Ele amava aquela música e fazia tempo que não a escutava, mas cada estrofe o fazia lembrar de um certo careca de olhos chocolate e sorriso cativante. Era inevitável, Liam Payne não era uma pessoa fácil de ser esquecida, e nem Zayn o queria esquecer.

"You told me not to cry when you were gone, but the feeling's overwhelming, they're much too strong"