História Lay Me Down (Ziam Mayne) - Car Radio

"Pegou tudo?" Zayn perguntou alongando as costas.

Não era como se eles tivessem quinhentas mil coisas para levar, mas não custava conferir. Liam estava meio bêbado de sono porque o tempo que dormiram não tinha mudado muita coisa, mas ele estava animado.

"Peguei, e você?" Fechou a porta traseira do carro e finalmente parou.

"Yeap." Balançou a sacola que carregava em mãos.

"Vamos ter que passar no mercado quando chegarmos em Londres porque no apartamento não tem nada além de água." Entrou no carro.

"Você já dormiu lá alguma vez?" Fez o mesmo.

"Não, terminei de limpar ontem. Eu tava dormindo no Niall."

"Entendi." Meneou a cabeça e colocou a chave na ignição antes de colocar o cinto de segurança.

"Ta tudo bem?" Tocou a coxa do menor, procurando seus olhos.

"Tudo ótimo." Sorriu sem mostrar os dentes. "Melhor você dormir agora."

"Não, eu quero te fazer companhia."

"Você do meu lado já é o suficiente, então não vai me deixar sozinho se dormir."

"Tem certeza?"

"Tenho, Liam." Respirou fundo. "Se acontecer alguma coisa você dirige, mas não vai poder fazer isso se estiver com sono."

"Tudo bem, rola beijinho de boa noite?"

"Não." Girou a chave e respirou fundo mais uma vez.

"Rude."

"Te amo, agora dorme." Saiu da vaga e ligou o rádio, dando continuidade no CD.

Liam reclinou o banco e virou de lado, tirando os sapatos para ficar mais confortável. Zayn preferia dirigir sem ninguém falando em sua cabeça, mas não queria magoar o namorado com essas palavras. Não era nada pessoal.

Malik tirou esse tempo em que estava bem para pensar. Em tudo. Na vida, na morte, no que faria e no que deixou de fazer. Pensou também em quantas vezes achou estar apaixonado, mas não passava de desespero. Era muita coisa.

Quando Zayn tinha por volta de seus dezessete anos, jurou para si mesmo que estava apaixonado por um garoto que era seu melhor amigo virtual. Seu nome era Marco, e ele era um doce. Gentil, carinhoso, aquariano, porém, hétero. Esse último ponto foi o que mais doeu, mas não o único. A verdade era que ele gostava da segurança que o outro lhe passava, mas aquarianos estavam sempre ocupados em serem inteiros sozinhos para poderem ajudar alguém pela metade.

Demorou um ano para que Zayn conseguisse aceitar isso. Infelizmente a amizade foi se perdendo, e o garoto começou a dizer que Zayn o estava prendendo, e que ele era problemático demais. Ele realmente era, claro que sim. Mas ouvir isso doeu também.

Então ele desencanou e começou a se envolver com qualquer cara que lhe desse mole. Malcolm, Bryan, Danny, Joseph, Dylan, Justin, Robert, Adam, enfim. Sexo fazia aquele vazio deixado por Marco sumir temporariamente, e era um alívio.

Mesmo que estivesse dando relativamente certo, Zayn ainda não estava completamente satisfeito. Não que ele quisesse Marco de volta, longe disso. Mas com o tempo o que o completava passou a deixá-lo mais vazio. Por sorte isso durou pouco, porque Jade o ajudava a perceber que ele não precisava de ninguém além dele mesmo para ser feliz.

Então, finalmente, quando estava quase se sentindo completo sozinho, Liam apareceu. Sem dizer absolutamente nada ajudou Zayn a terminar de encher seu copo. Não era mais necessidade, Malik não precisava mais de um cara para ocupar o vazio. Ele tinha Liam para transbordar consigo.

"Please use discretion when you're messing with the message man. These lyrics aren't for everyone, only few understand" Cantarolou sem desviar os olhos da estrada.

As primeiras duas horas se passaram assim. Zayn cantarolava as músicas enquanto Liam roncava ao seu lado. Ele parecia realmente cansado, já que não costumava roncar. Isso era preocupante.

Quando Payne finalmente acordou, Malik quis rir e lamber a cara do namorado. Seus olhos estavam pequenos, e metade do rosto amassado e avermelhado. Sem contar sua voz rouca e lenta.

"Descansou?" Zayn perguntou. Estava repetindo o CD.

"Mais ou menos, parece que dormi por cinco minutos." Ajeitou o banco e abriu a janela.

"Sua cabeça ta doendo?"

"Um pouco." Estalou o pescoço.

"Seu cansaço não é físico, amor. É psicológico."

"Que merda, eu tava suspeitando. Posso acender um cigarro?"

"Eu tava esperando você acordar pra fazer isso."

"Quer que eu dirija?" Pegou um cigarro no console do carro e o acendeu, dando o primeiro trago.

"Não, ta de boa." Aceitou o cigarro do namorado e deu um trago.

"Esse CD ta tocando há quanto tempo?"

"Desde quando saímos de Bradford." Deu de ombros. "Pode trocar, o carro é seu."

"Você moraria comigo?" Acendeu outro cigarro, preferindo deixar o primeiro com Zayn.

"Jesus, quando a conversa ficou tão séria? Eu ainda tava falando de Twenty One Pilots." Soprou a fumaça.

"Foi só uma pergunta, não precisa responder se não quiser." Deu de ombros.

"Eu moraria com você, só não sei quando."

"Posso lidar com isso." Tirou o CD do rádio e guardou de volta na capa.

"Que tesoura, eu amo aquela música."

"Posso te fazer amar outras." Escolheu um de seus CDs e colocou no rádio. "Gosta de Tame Impala?"

"Quem não gosta?"

"Que lindo, me dá um beijinho." Fez bico.

"Não." Crispou os lábios tentando não rir.

"Vai se foder então." Bateu o cigarro para fora da janela antes de voltar a prendê-lo entre os lábios.

"Vou mesmo, mas você vai comigo." Espelhou os movimentos do namorado.

O restante da viagem ocorreu sem muito diálogo. Liam se ocupava em cantar as músicas, e Zayn apenas em dirigir. Até que o mais velho falando na sua cabeça não o estava irritando tanto quanto pensou que irritaria.

Quando chegaram em Londres Liam guiou Zayn até que chegassem ao shopping onde ele sabia que teria tudo o que precisariam.

"Quer gravar os nomes hoje?" O acastanhado perguntou.

"Não faço questão não." Passou uma mão pelos cabelos. Eles estavam procurando uma vaga no estacionamento. "Tem certeza que aqui tem lubrificante?"

"Tenho. Você prefere à base de água ou silicone?"

"Silicone."

"Que horas são?"

"Seis e trinta e um. Sua dor de cabeça melhorou?" Apoiou a mão na coxa de Liam.

"Yeap."

"Que bom então." Estacionou numa vaga perto dos elevadores sem grandes dificuldades. Ele era um bom motorista.

"Eu to com sono." Desceu do carro se espreguiçando.

"Se prepara que você ainda vai se cansar hoje." Sorriu pervertido dando a volta no carro para abraçar Liam.

"Tenho ciência." Passou os braços pelos ombros de Zayn, olhando-o nos olhos.

"Posso te bater?" Mordiscou o próprio lábio inferior beliscando os culotes de Liam.

"Me bater?"

"Isso." Deu o primeiro tapa nas costas do acastanhado.

"Ow! O que eu fiz?"

"Nossa, merece apanhar mais só por não lembrar." Se afastou do abraço para socar o peito do outro.

"No peito não." Se protegeu. "Eu vou ficar sem ar."

"Eu ainda to com raiva porque você disse que voltaria em uma semana." Socou o braço de Liam a cada palavra, empurrando-o contra o carro na sequência.

"Me perdoa, eu não consegui." Payne tentava não rir para não ganhar um na cara.

"Eu já perdoei." Socou o ombro do acastanhado uma última vez, apoiando-se no carro.

"Porra, seus socos doem." Payne fez bico acariciando seu braço.

"Que bom, né? Senão eu ia ficar muito bravo." Deitou a cabeça no ombro do namorado.

"Eu te amo, sabia?"

"Eu também." Mais uma vez abraçou Liam.

"A gente precisa entrar também. Pra você poder me cansar logo, e tal." Gesticulou com as mãos.

"Como eu namoro com você? Você só pensa em sexo, isso é um absurdo! E o romantismo foi pra onde?" Antes mesmo de terminar a frase Zayn já estava rindo. Liam parecia ter um ponto de interrogação no meio da testa.

"Eu tava quase te levando a sério."

"Ai, babe." Respirou fundo desfazendo o abraço para poderem andar. "Você deve ter alguma coisa em Peixes."

"Isso é bom?"

"É ótimo, você um amorzinho." Coçou um dos olhos por debaixo do óculos.

"Não acredito em você." Liam franziu o cenho duvidoso.

"Peixes costuma ser mais... devagar." Explicou.

"Eu sabia." Apertou o botão do elevador e puxou Zayn para o seu peito.

"Você ta muito grudento." Inspirou o perfume do acastanhado, os olhos fechados.

"Duvido que não tenha sentido falta disso."

"Eu senti falta de tudo, idiota. Até de você babando em mim enquanto dorme."

Liam gargalhou.

"Eu também senti sua falta, babe. Você nem faz ideia do quanto."

"Será?"

Antes que as respostas fossem dadas, o elevador chegou.