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História Leal ao seu senhor - Queimando pela primeira vez


Escrita por: Agata_Arco-Iris

Capítulo 12 - Queimando pela primeira vez


Fanfic / Fanfiction Leal ao seu senhor - Queimando pela primeira vez

O sol já estava nascendo, e correndo contra sua luz estava Tsutsuji, a exemplar de Kodama. Em suas costas, tentando segurar com o que tinha de força estava Bishamon, o deus estava quase sendo projetado para longe por conta de sua fraqueza, por sorte sua força vinha do desejo de ver Emi bem, se não, caso contrário já teria desistido horas atrás.

—Ei! Toma cuidado com seu corpo, está me esmagando aqui em baixo—Gritou Kodama, que tentava inutilmente curar a ferida no abdômen do deus—Eu sou pequenininha, lembre-se disso.

—Perdão, está difícil me segurar e me manter longe do inugami ao mesmo tempo.

—Tudo bem, meus só olhos saltam da órbita, mas já voltaram.

—Desculpa.

—Tudo bem, estou acostumada. Mas falando sério, você tem algum plano?

—Resgatar Emi.

—Mas como?! Você mal está parando em pé.

—Não se preocupe, eu dou meu jeito.

Chegando à Takayama, o deus pode sentir o cheiro de Emi, e sentiu-se aliviado por vir de uma casa comum. Mas ao chegar lá ele deparou-se com uma cena triste, a mãe de Emi, Nana chorava sobre os lençóis manchados de vermelho, ele tinha certeza que a garota havia dormido lá. Bishamon caiu de joelhos ao ver tal cena, para ele havia acontecido um assassinato ali, mas por sorte Kodama estava ao seu lado e viu claramente que não se tratava de sangue, e sim de lodo.

—Gruta das amoreiras—Disse Kodama saindo do cômodo.

—O que você disse?! —Perguntou o deus quase sem voz.

—É onde ela a levou, o único lugar dessa região que tem a terra dessa cor.

—Então quer dizer que...

—Não mesmo, você é tão idiota a ponto de achar que aquilo é sangue? Aquilo provavelmente é o lodo de Ryuka misturado com a terra do bosque, vamos, ela até já te disse onde a achar. Pensei que você, mais que todos nesse mundo iria reconhecer essa terra, é na mesma região do seu antigo templo.

A gruta das amoreiras é um lugar sagrado em Takayama, o solo é infértil de terra ácida com cor do sangue, onde apenas amoras e alguns poucos arbustos crescem. Segundo as lendas, a gruta das amoreiras já foi um lugar vivo e de beleza exuberante, mas sua terra foi manchada por sangue e tanto sua terra quanto suas árvores continuam manchadas por esse sangue até hoje. Outro fato engraçado é que há uma gruta donde toda água da vila vem, ou seja, por mais que a terra seja morta, a vida brota dela.

Kodama estava certa, Ryuka se encontrava sentada em um pequeno trono feito de barro, Emi estava sentada ao seu lado com as mãos presas na terra. A criança olhava emudecida a mulher ao seu lado, Ryuka não fazia ideia do que ela via, mas aquilo a incomodava sem saber o motivo mesmo.

—O que você está olhando, garota?

—Seus olhos são brancos... — Disse Emi meio sem jeito.

—O que?! Como você consegue ver meus olhos? Estão escondidos nessa forma que criei.

— Seus olhos são como os do Mon-chan, acho muito bonito... —Disse Emi, novamente sem jeito, dessa vez escondendo o rosto.

Ryuka já não tinha paciência, ela havia se queimado toda ao tentar tirar o feitiço de proteção da protegida do deus da guerra, mas não conseguiu tirar, já que toda vez que a tocava ela voltava a se queimar. Mas ouvir Emi mencionar Bishamon à sua presença, aquilo foi uma afronta sem tamanho, então enrolou sua mão em um farrapo de seu kimono e com apenas uma mão ergueu a menina, olhou bem no fundo de seus olhos e disse:

—Você tem coragem de falar de Tamonten para mim?! Saiba que ele é o culpado de toda minha desgraça, esses olhos foram dados a mim por conta de uma maldição feita por aquele deus sujo e podre, sofri muito com isso. Ele podia ter me deixado cega logo de uma vez.... Ou ter me matado junto a minha mãe.... Ou até junto a meu marido e filho.

—Sério?! Jurava que tivesse nascido com eles, ou que... — O vento então sussurrou em seus ouvidos a verdade. E mesmo Emi, sendo apenas uma criança havia entendido o que se passava, Ryuka era filha de Bishamon, mas aparentemente ela não sabia disso.

—Ou que?! — Disse Ryuka séria, mas foi tirada de seus pensamentos ao ver algo estranho, mesmo com um pedaço de pano protegendo sua mão, sua pele estava queimando em contato com a pele da humana. Ela a jogou no chão e depois se perguntou perplexa — Não entendo, eu tirei o feitiço de proteção sobre você, mas você continua a me queimar. Como isso é possível?

—Obrigada, admito que fiz um ótimo trabalho— Disse Kodama pousando no ombro da semideusa.

—Kodama! —Ryuka bateu a mão sobre seu ombro, mas antes de encostar em Kodama, a deusa saiu voando e foi de encontro a Bishamon que estava um pouco distante —Ohh... Finalmente deu as caras, pensei que ia ter que matá-la.

—Ryuka, por favor não faça nada impensado, podemos resolver tudo apenas conversando—Disse Bishamon em uma tentativa inútil, ele não queria lutar, mesmo sabendo de tudo que Ryuka havia feito, aos seus olhos ela ainda era a criança inocente que ele um dia tanto amou.

—Um deus da guerra me pedindo para conversar?! —Ryuka riu sarcasticamente —Você não presta mesmo.

—Ótimo, pelo menos eu tentei.

Bishamon saltou e pôs-se frente a frente com sua filha, a luz da manhã iluminava a face de ambos, evidenciando todos os traços semelhantes de seus rostos, o vento soprava forte, o que fazia seus cabelos voarem junto a ele. Ela esperava que ele atacasse, ele pedia as estrelas que aquilo não estivesse acontecendo novamente, mas é difícil pedir ajuda sendo um deus, pois não há a quem recorrer em momentos de desespero, o próprio deus é seu próprio auxilio.

Então com muita raiva, Ryuka deu o primeiro golpe, com a adaga escondido em sua manga ela tentou rasgar a garganta de Bishamon, mas o deus apenas esquivou-se. Cada golpe que sua filha dava ele apenas se esquivava e tentava tirar as armas de suas mãos, se aproximando cada vez mais de sua inimiga.

—Lute comigo, seu frouxo—Disse Ryuka rindo.

Quanto mais se mexia mais sangue o deus perdia, e ele pensava “eu tenho que fazer algo”, mas não sabia o que fazer ao certo, estava em uma encruzilhada. Seus pensamentos foram longe, longe demais, diga-se de passagem, isso o fez cair no chão, como já era esperado Ryuka se aproveitou da situação, o prendendo entre suas laminas.

—Mon-chan! —Gritou Emi.

O deus olhou rapidamente para a criança, que chorava incontrolavelmente nos braços de Kodama, ao ver aquilo ele lembrou-se do que era realmente importante, Emi era sua prioridade. Tudo que ele fizesse contra as leis de Órion a partir daquele momento seria por ela, essa era a promessa feita a Kodoma, e ele a cumpriria, não importa qual fosse o empecilho.

Em um golpe que apenas levou uma fração de segundos para acontecer, Ryuka pôs sua mão dentro da ferida de Bishamon, fazendo o deus estremecer em sinal de dor. Como reação o deus transformou sua lança em uma katana e em um golpe certeiro jogou sua filha longe.

—Ótimo, você ainda tem força—Disse Ryuka limpando o sangue negro que escorreu sobre sua face.

—Já chega de brincadeiras—Disse Bishamon com mesmo olhar frio de quando está em batalha, ele finalmente havia acordado.

—Melhor ainda.

Ryuka pegou seus dois Sai e também os modificou, deixando suas laminas quase do mesmo comprimento que uma espada normal. Então pai e filha trocaram golpes com uma velocidade sobre-humana, Ryuka havia herdado o amor do pai pela guerra, era evidente isso.

Mas Bishamon já havia se cansado de tudo aquilo, ele travou a mão direita de Ryuka a forçando deixar cair seu Sai. Com ódio no olhar ela mirou em seu abdômen mais uma vez, mas dessa vez foi diferente, ele se esquivou dando um pulo para detrás de sua filha, então a apunhalou pelas costas a levantando com a força do golpe. Ryuka tinha a força de seu pai, não gritou, mas em agonia tentou o acertar com o Sai novamente, foi inútil, ela apenas lhe deu um corte na face.

Bishamon puxou com a espada de Ryuka com a mesma força que havia lhe apunhalado, fazendo a semideusa cair de joelhos. O deus respirou fundo, e antes que ela pudesse se levantar ele novamente transformou sua arma, dessa vez a fez ser um martelo do tamanho da cabeça de um boi, mais uma vez, com um só golpe ele jogou sua filha longe.

—Belo golp... —Ryuka não pôde terminar sua fala, antes que pudesse Bishamon lhe golpeou com toda força debaixo de suas costelas, a fazendo cuspir sangue novamente.

Ele já não tinha mais paciência, a mataria agora ou perderia as forças a qualquer instante, então decidido a fazer o que era certo ele ergue seu martelo contra a luz do sol e deixou a força da gravidade lhe ajudar a acabar com tudo aquilo. Ryuka via apenas um contorno preto na frente do sol, aquele era seu fim.... Seria, se ela não tivesse mais cartas na manga.

O deus bateu com toda sua força, esmagando sua cabeça, fazendo seu corpo se desfazer como areia no chão. Aquilo estava estranho, Bishamon logo percebeu, o deus permaneceu parado sentindo as correntes de ar que por lá passavam.

Então, usando sua visão periférica, Tamonten pôde ver um monte de lama crescer detrás dele, um pouco distante de seus braços. Sem pensar, mudou sua arma para lança novamente e virando rapidamente acertou o monte de terra, mas não era Ryuka, era apenas uma distração.

—Achou mesmo que ia ser tão fácil me matar? —Disse Ryuka sussurrando no ouvido de Bishamon.

Ela não havia saído do lugar, apenas estava abaixo de seus pés. Bishamon virou-se novamente, mas não foi rápido o suficiente, ela sabia muito bem onde estava sua ferida, e novamente pôs sua mão nela, deixando todo seu lodo apertar-lhe por dentro. Mesmo com a dor, ele tentou afastar-se, mas não foi rápido o suficiente, quando viu já estava no chão. A terra lhe prendeu os punhos e os tornozelos, o imobilizando e o deixando sem chance de escapar.

—Você é patético— Ryuka sentou sobre seu abdômen e pegou a lança do deus, depois a jogou longe—Não se preocupe, você não vai mais precisar disso.

Entre as árvores, escondidos das sentinelas de Ryuka estavam: Kodama, seu shinki e Emi, todos assistindo em silencio assistindo a tudo aquilo. A criança não aguentava mais ver Bishamon assim, ela sentia sua dor, mesmo ninguém tendo lhe contado ela sentia em sua própria pela a ferida que minava o sangue, junto com sua agonia de ter que lutar com Ryuka.

Seu coraçãozinho disparado, desesperado e agoniado rezava em segredo por qualquer deus que pudesse ouvi-la, foi então que o vento novamente falou com ela:

—Queime minha estrelinha—

 Espantada, em silencio Emi não conseguia entender quem havia dito isso, foi quando olhou para a lança de Bishamon e sua lâmina brilhou intensamente em seu olhar. O vento soprou em seu ouvido mais uma vez enquanto olhava a lança.

—Não deixe o morrer, queime, eu sei que você consegue—

Emi não fazia ideia de como “queimar”, mas queria ajudar Bishamon, então pensando em como queimaria, inconscientemente aconteceu. Kodama segurava a garota tampando sua boca para que não gritasse, de repente a deusa sentiu suas mãos queimarem e sem entender o que havia acontecido, soltou Emi, sem querer, deixando a menina cair da árvore onde estavam escondidos.

Por sorte, antes que a criança se machucasse, a deusa usou seus poderes para fazer um galho a pegar. Kodama trazia a protegida de volta para seus braços quando Emi percebeu que aquela era sua chance, ela ainda estava perto do chão, poderia pular sem se ferir.

A criança fez o que achava certo, Emi só conseguia pensar em uma coisa, pegar a lança, mas ao cair no chão as sentinelas de Ryuka logo a viram. Emi então olhou tudo ao redor, sentiu medo por um momento, mas o vento novamente lhe guiou.

—Você consegue.... É só um jogo de pique-pega, não deixem que eles a peguem.

—Quem é você? —Perguntou Emi esquivando do primeiro monstro de lodo.

—Meu nome é Tōdai-ji.

—É mesmo nome de um templo de Bishamon na região de Nara—Emi pulou um tronco caído e olhou novamente para a lança, que brilhava com mais intensidade.

—Nosso mestre me deu esse nome, mas acho que você já sabe o que eu sou... É realmente uma menina muito esperta.

—Você é a lança—Disse Emi parando um pouco.

Pelo menos uma dúzia de sentinelas surgiram à frente de Emi, mesmo com medo a criança olhou tudo aquilo e disse a si mesma “É só um jogo”. Então Emi correu o mais rápido que podia por entre os monstros, mas eles estavam muito perto dela, e ela mais perto ainda da lança. Ao tocar a lamina algo inusitado aconteceu, a lança começou a pegar fogo, e quase em seguida explodiu, petrificando todos os monstros perto de Emi.

A explosão chamou a atenção de Ryuka que surrava o deus da guerra um pouco a frente, a própria semideusa não acreditava no que via, na verdade nem Emi, a menina permaneceu estática no mesmo lugar.

—Essa garota já me deu nos nervos—Disse Ryuka se levantando.

—Ah, você não vai fazer isso não—Com uma força monstruosa Bishamon livrou sua mão da terra e agarrou Ryuka—Se você encostar um dedo se quer naquela garota eu juro que te mato!

—Ai que medo—Disse Ryuka friamente.

A semideusa se livrou de Bishamon e foi em direção a Emi, que ainda permanecia estática. Emi sentia-se estranha, nunca havia sentido tal coisa, mas ao tocar em Tōdai-ji, foi como se algo lhe percorresse as veias e andasse por seu corpo, e ela sentia queimar, mas não doía, muito pelo contrário, sentia prazer em sentir tal coisa.

—Eu fiz isso?! —Disse Emi em seus pensamentos.

Nós fizemos— Disse Tōdai-ji com um brilho dourado—Mas está na hora de voltar ao mundo real, concentre-se.

Ao dizer isso, Ryuka apareceu na frente de Emi, o medo percorreu seu coração ao vê-la, mesmo ela não tendo feito nenhum mal aparente à menina, Emi podia sentir toda a podridão que a filha de Bishamon carregava dentro de si. Ryuka iria encostar em Emi, mas em uma fração de segundos Bishamon levantou-se, e de longe mesmo, jogou uma pedra na semideusa, bem na cabeça, a fazendo se afastar um pouco de Emi.

Bishamon estava vermelho da terra, de sangue e de raiva, o deus pulou para perto de Emi, pôs se na frente de sua protegida e bateu com toda sua força na cara de Ryuka, fazendo seu rosto trincar. Não satisfeito, ele a segurou pelo ombro e lhe deu mais cinco socos, ao final de seu acesso de raiva a face de Ryuka estava como porcelana, quebrada, junta apenas pela proximidade dos cacos.

—Eu disse para não encostar nela—Disse Bishamon pegando Emi em seus braços.

Ryuka caiu no chão, não mexia, apenas tinha espasmos musculares com as mãos, estava literalmente quebrada. Bishamon saiu sem olhar para trás, pegou Kodama e seu shinki e levou todos a seu antigo templo. O deus pôs a criança no chão e logo em seguida afastou-se de todos, sentou-se na escadaria, ele observava a vista tentando disfarçar ao máximo sua dor, para não preocupar ninguém, principalmente Emi.

—Dói muito Mon-chan? —Perguntou Emi, se aproximando e sentando-se ao lado de Bishamon.

—O que dói?

—Isso—Disse Emi apontando para o lugar exato da ferida.

—Kodama lhe disse isso? Não se preocupe, vai melhorar.

—Não vai não, Tōdai-ji me disse que se não fizermos nada.... Você vai morrer.

— Tōdai-ji?! Você esteve conversando com meu receptáculo?

—Ele me disse como fazer—Disse Emi pondo a mão sobre a ferida—Quer que eu cuide do seu dodói.

Bishamon não sabia o que fazer ou falar, mas sabia que era impossível uma humana curar um deus, mesmo assim deu uma chance a sua estrelinha. Tirou sua armadura e abriu seu Kimono, o corte estava ainda mais feio que antes, mas Emi não parecia se importar com isso. A criança enrolou parte de seu kimono na mão e logo em seguida rasgou o pano, tampou o ferimento com farrapo, apertando delicadamente com suas mãozinhas, depois fechou os olhos e pôs se a falar uma língua própria das Mikos. O deus estranhou aquilo, já que ela ainda não havia aprendido tal língua, mas ele assustou-se mais ao sentir-se queimar por dentro.

Antes que Bishamon pudesse se quer reclamar da dor, Emi abriu os olhos sorrindo e tirou o pano sujo de lodo de cima de do deus. Era impressionante, sua ferida havia se fechado, não havia se quer uma cicatriz em seu abdômen. Kodama observava tudo de longe, ela mesma não acreditava no que estava vendo, se nem ela que é basicamente uma mestra na arte da cura não havia conseguido curar Bishamon, como uma simples criança havia conseguido tal proeza?

—Ela é realmente muito especial Bishamon—Disse Kodama transformando-se em fada e pousando no ombro de Emi.

—Eu sei disso—Disse Bishamon vendo a criança sorrindo.

 

 



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