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História Learn - Prólogo


Escrita por: thereddiamond

Notas do Autor


Anyong~~!
Seja bem vindo(a) a Learn e sinceramente espero que goste da minha estória, porque é minha primeira estória Yulsic e Taeny, então tô meio nervosa com isso kkkkkkkkkk.
Enfim, apenas quero dizer que esse prólogo somente existe porque quero dar uma profundidade maior as personagens e como irei abordá-las no decorrer da fic. Porém ficará ao cargo de vocês adivinhar quem é quem, porque quis fazer mistério, pois sou fresca com essas besteiras HAUHAUAHUAHAUHA. Mas acredito que tá fácil já que dei algumas dicas, então não tem com o que se preocupar! XD
Sim, também não posso esquecer de mencionar que a estória vai ter um tom mais pesado, então sintam-se avisados. ^^
Sobre o primeiro capítulo... Bom, se a fic tiver um bom feedback, acredito que estarei postando na madrugada da sexta pro sábado. Ou seja, tentarei fazer algo semanalmente, mas sou estudante de direito e praticamente todo dia tenho algum trabalho acadêmico pra fazer ou uma prova para estudar, então a frequência é algo imprevisível. Contudo farei o máximo para atualizá-la o mais rápido possível!
Bom, acredito que já falei demais aqui, então desde já agradeço por estar me lendo e até a próxima! Bye~~! ;D

Capítulo 1 - Prólogo


O céu parecia queimar juntamente com a casa. Altas labaredas a consumiam num fogo alaranjado, brilhante e chamativo, lançando nuvens negras de fumaça e fuligem. Sobrando vestígios de que havia, um dia, existido ali. Aquele pequeno mundo desabava, restando cinzas e pó. Há muitas horas que os bombeiros e alguns vizinhos voluntários estavam tentando extinguir aquela flâmula que ardia de longe, acordando o bairro para a arrepiante cena.

Atrás da fita de contenção erguida pela polícia local, olhos curiosos observavam o terror do qual presenciavam, totalmente paralisados e horrorizados com a tragédia. Não sabiam o que estava acontecendo além do que viam. Apenas entendiam que a casa estava pegando fogo e que a única testemunha, salva por dois bombeiros, era uma criança.

Seus pequenos olhos escuros há muito tempo haviam sido desviados da ardente cena. A mente estava completamente branca, extinta de pensamentos e por mais que os paramédicos a arrodeassem de perguntas, examinando-a e tratando das poucas queimaduras leves em seu corpo, nada a fazia acordar para a realidade. Os adultos murmuravam entre si de que sua atitude apática havia sido provocada pelo trauma. Mas aquela não era a única verdade.

Ela havia visto coisas... Sabia da verdade por trás de tudo. Entretanto tudo parecia irreal, como um eterno pesadelo do qual vivenciava com muita dor, não havendo maneiras como escapar disso. Estava presa naquela sensação de impotência, de que seus braços não tinham força para se manter viva, porque simplesmente não havia necessidade. Para que viver quando se estava sozinha naquele mundo? Por mais quente sua casa queimava, o frio penetrava em suas roupas como se a abraçando para a eterna escuridão.

Não precisava que a polícia viesse avisá-la. Havia visto a carne de sua família ser consumida pelo fogo, sendo esta a comprovação necessária de sua solidão. Presenciara tudo com o olhar vidrado na imagem de seus corpos estirados ao chão, como sacos de batatas, gravando-a pela eternidade em sua mente, sabendo que em breve findaria por ter mais pesadelos relacionados a isso.

E então, sentada no degrau da ambulância, vendo as pessoas passarem ao seu redor sem demostrar importar se ainda estava ali, totalmente apressadas em apagar aquele fogo que consumia sua casa, não notou o tempo passar. O incêndio por vez apagava qualquer vestígio ou lembranças que construiu com sua família. O sorriso de sua mãe. O abraço apertado do pai. A voz profunda e acalentadora do irmão... Tudo não passava de memórias vagas, que ficariam borradas com o passar dos anos. Sempre queimadas pelo fogo e manchadas por sangue.

Sim, havia sangue no meio disso tudo. Não foi o incêndio que os matou, ele apenas cobriu um crime macabro e violento.

Aquelas pessoas os executaram a sangue frio, sem ao menos saber que seus atentos olhos testemunhavam em silencio, enquanto forçava os gritos a permanecerem presos na garganta, assim como sua mãe havia exigido, pedindo para que se mantivesse escondida dentro do armário junto com o irmão, que a desobedeceu e não teve tempo para se esconder, pois tiros foram imediatamente disparados e não houve chances de se salvar do ataque. Ele foi estúpido e imprudente, coisa que sempre evitou, exceto naquele momento. Não entendia o motivo das pessoas terem agido daquela maneira. O por que de arrancar sua família de seus braços permaneceria um eterno mistério. Apenas compreendia que estava sozinha e isso não mudaria nada. Tomar consciência disso fazia a dor em seu peito aparecer com mais força, encolhendo-a em seus braços que lhe arrodeavam fracamente. No geral parecia anestesiada e a balbúrdia de sirenes e gritos apressados de background não tinha efeito nenhum sobre si. Estava morta por fora.

Quando a confusão acabou, policiais a levaram até a delegacia, conduzindo-a com gentileza e palavras de segurança, que somente os homens fardados conseguiam transmitir com frieza em situações extremas como aquela. Eles a acolheram com olhares de profunda pena, cobrindo seu corpo exposto pelo pijama com uma jaqueta velha, que exalava um cheiro engraçado de menta e cigarro. Ofereceram-lhe água e comida, até mesmo chocolate quente. Teve que recusar ao notar que, embora agissem com solidariedade, existia a nauseante realidade que faziam isso por ser uma “pobre órfã”. Seu estômago deu uma volta em revolta sobre tal pensamento, não sentia fome nenhuma de qualquer jeito.

Ainda desejando ajuda-la, insistiram mais uma vez e novamente foram rechaçados por um leve balançar de cabeça, recusando sem pensar duas vezes. Vendo que não chegariam a lugar nenhum daquela maneira, desistiram de tentar força-la a comer, restando aguardar a chegada da assistente social. A garotinha precisava de um lar para dormir, para todos os efeitos. Um porto seguro curaria suas feridas, eles pensavam com boa-fé.

Uma gentil senhora de cabelos tingidos de louro, que tinham o serviço de esconder o avanço da idade de seus poucos fios brancos, maquiando as profundas rugas com profundas camadas de pó, se sentou ao seu lado para simplesmente conversar. Sem temor nenhum e com um sorriso gentil abraçou os ombros encurvados e magros da jovem órfã. Falou algumas palavras calorosas para começar, confiando-se na fé que sentia por seu deus e do quanto era misericordioso com suas almas. Principalmente com a de seus pais e irmão, que seriam recolhidas em seu reino eterno. Disse que rezaria por sua família, e se quisesse a ensinaria também a rezar por eles, mas que a partir de agora cuidaria dela e que, se as coisas seguissem o curso correto da vida, encontraria novamente a felicidade. Que as imagens das quais presenciou ficariam presas no passado e não passariam de memórias ruins. Em breve construiria muitas outras e elas seriam intensas e mais felizes. Foram muitas promessas caridosas.

A garota ergueu o olhar escuro em sua direção, assim que ela parou de falar. Seus grossos lábios avermelhados não sorriam, tinha o olhar morto e frio. Estava completamente apática e não se importava com nada. Somente queria que tudo aquilo acabasse, mesmo que isso significasse o fim de sua vida.

Notando tais sentimentos, a senhora manteve o sorriso caloroso e acariciou seus cabelos longos e escuros. Alguns nós se desfizeram entre o suave toque de seus dedos, completamente queimado. Sussurrou com carinho que precisavam ir, lhe ofereceria um teto, uma cama confortável, além de um banho quente e roupas limpas. Havia fuligem enegrecendo sua pele escura e sangue manchando o pijama esverdeado. Precisava descansar o corpo convalescido e deitar a cabeça para poder pensar melhor.

Não tinha força para negar, então porque negar algo àquela doce senhora?

Deixou-se ser levantada por ela sem nenhuma reclamação, entrou em seu carro velho e apoiou a cabeça vazia no banco de couro que rangia sob o corpo. Realmente estava cansada e quase que imediatamente fechou os olhos. Tinha medo de adormecer, mas para sua surpresa não teve pesadelos e sim sonhos de que, um dia, poderia ter em suas mãos algo melhor do que a dor.

O sangue do homem que executou sua família seria derramado e seria ela quem o faria. Teria sua vingança. E quando esse momento chegar, não seria piedosa.

 

*

 

Seu quarto estava parcialmente escuro, pois a porta entreaberta permitia que a luz do corredor penetrasse a tranquilidade estabelecida naquele cômodo.

Era hora de dormir... Ao menos essa intensão havia sido deixada esclarecida, quando sua mãe a colocou na cama, cobrindo-a com suas cobertas, depositando um suave beijo em sua testa. Entretanto, por mais que tentasse, não conseguia dormir. Faltavam poucos minutos para dar meia noite e aquilo seria o significado do fim do dia de seu aniversário. E mais um ano de sua vida se iniciava, dando pequenos passos para a velhice, que por muitas razões óbvias permanecia bem longe. O que era um alívio.

A festa havia sido encerrada horas atrás, mas ainda assim permanecia a comemorar. E que comemoração mais depressiva. Nunca se sentiu tão vazia por dentro, como se tudo que vivenciou até agora não se passasse de futilidade, totalmente coisas sem sentido. Não importava a quantidade de doces, salgados e pedaços de bolo tenham sido consumidos. Quantos presentes caros e bonitos haviam sido presenteados. Ainda se sentia vazia e faminta por algo que não tinha ideia do que se tratava.

Havia ganhado muitos presentes, tantos que formavam pequenas montanhas se então acumuladas. Eles estavam espalhados perto da cama, alguns desembalados, enquanto outros permaneciam intactos. Teria tempo para vê-los durante a manhã, porém nesse instante não se sentia nada estimulada a abri-los.

Sentada na janela, que mais parecia uma doma cortada ao meio, com um largo assento de estofado rosado, permaneceu com as pernas encolhidas contra o peito, observando o objeto que tinha em mãos. Sendo banhados pela luz da lua que brilhava prateada do lado em suas costas, refratada pelo vedro da janela, olhou atentamente alguns detalhes que chamou sua atenção. Alguém dentre seus convidados havia lhe entregue uma família de ursos panda. Eram fofos e estavam agarradinhos no outro num abraço cheio de carinho, como uma família verdadeiramente feliz. Sua mão deslizou sobre a figura do pai e viu que seus longos e grossos braços felpudos mantinha o aperto firme ao redor da mulher, mostrando-se inabalável e imóvel. Era o pilar entre eles.

Um sorriso cheio de sarcasmo e dor se abriu no rosto bonito. Para ela aquela imagem não passava de uma mentira. Não existia felicidade em sua família, aquilo era simplesmente o retrato de seus desejos mais íntimos, do que sonhou por toda a infância. Um pai que a abraçasse daquela forma... Seria pedir demais por isso?

Suspirou contra a vontade e se segurou para não sair do quarto quente para olhar sua mãe. Estaria ela se sentindo confortável e bem, mesmo sabendo que o marido não voltaria para casa naquela noite e nem no dia seguinte, porque estava preso em emergências do trabalho. Sempre seria culpa da porcaria daquele trabalho. Ele nunca estava disponível para a família, nem mesmo para comemorar o aniversário da filha mais velha, que lentamente alcançava a adolescência. Praticamente não recordava mais o rosto do pai. Era como se suas feições permanecessem nubladas eternamente por um borrão, uma mancha. Recordava alguns detalhes porque sua mãe fazia questão de lembra-la quanto se pareciam. Eles tinham os mesmo cachos castanhos e grossos. A curva acentuada dos olhos amendoados, que lembravam suas amêndoas e os lábios mais finos, completamente rosados. Fora isso, nada dele vinha em mente. Sua imagem nunca estava disponível, diferente de seu dinheiro. Digamos que era mais fácil lembrar uma nota de cem dólares, do que sua pessoa em carne e osso.

Ah, poderia ser pior, pensou zombeteira. Ao menos seus colegas não perguntavam sobre ele, pois estavam ocupados demais usufruindo o que seu dinheiro poderia pagar. Apesar disso, era meio que óbvio sentir-se incomodada com os olhares laterais e esquisitos que os adultos, os chamados amigos de sua mãe, lançavam sobre elas. As pessoas sempre comentavam em voz baixa, embora não discretamente o suficiente para que não escutasse, o quanto sua família era desajustada.

Teria seu pai outra família? Ao menos era isso que aquelas mulheres maldosas falavam. Ter o homem da família sempre fora e indisponível significava que alguma coisa escondia.

Era isso que deveria descobrir a todo custo, pois precisava saber da verdade, por mais que dolorosa fosse. E como o faria? Restava a ela pensar numa maneira. Conheciam-na como a garota das boas ideias. Contudo não o faria agora. Queria apenas proteger sua irmã, seis anos mais nova, que dormia encolhida na sua cama depois de ajuda-la a desembalar alguns dos presentes dos quais insistiu muito em abrir.

Se levantou em silencio, com as pantufas felpudas de fofos coelhos brancos abafando os passos, voltou para a cama de onde não deveria ter saído, observando atentamente o rosto limpo e tranquilo da irmãzinha. Ela era tão linda e inocente. Só tinha quatro anos e em breve entenderia o problema que cobria a família. Pegou a família urso que tinha em mãos e colocou junto dela, afirmando que ao amanhecer daria aquele presente a garotinha, que chupava o dedão enquanto dormia.

Não conseguindo se conter, acariciou seus longos cabelos escuros e sentiu inveja. Ela tinha sorte de ter nascido com a aparência de sua mãe. Seria a garantia de que, não importando o que acontecesse no futuro, seria forte e linda. Diferente dela.

Poderia se tornar alguém frio e distante como o pai?

Se a resposta fosse sim, batalharia para que isso não acontecesse ou estaria apenas repetindo o ciclo de dor, mantendo-o vivo e firme.

 

*

 

Ah, quantas vezes tinha que ser obrigada a escutar aquilo mesmo?

Não suportava mais tudo que a rodeava, sentia nojo até mesmo de sua própria presença. Sua casa havia se tornado o santuário do diabo, se é que existisse, como se não bastasse o dia estar terrivelmente quente e o ventilador não servir de nada para abrandar a sensação de estar sendo cozida viva, que cobria o quarto. Seus pais pareciam não ligar para nada além deles, permanecendo firme e forte naquela discussão se qualquer traço de lógica.

Viver diante daquele cenário de pura instabilidade, certamente havia a obrigado a criar esse extraordinário senso de autocontrole em não intervir, principalmente por saber que apenas traria resultados desagradáveis a sua pessoa, não importando se fisicamente ou psicologicamente. Há muitos anos havia aprendido, da pior maneira, que não adiantava chorar diante deles. Eles estavam presos naquela redoma de ódio e raiva, que ao menos suas súplicas e lágrimas de pedido de trégua conseguiam alcançá-los. Na verdade isso provocava ainda mais a raiva do pai, que simplesmente desviava a fúria da mãe e descontava inteiramente sobre ela. Injustiça atrás de injustiça. Não poderia ser nada melhor que aquilo.

E então, por vez, os sons tornaram-se mais agressivos. Não eram mais palavras jogadas cheias de ofensas e sem freio contra o outro, eram sons de tapas e o choro de socorro da parte mais frágil que era denegrida com agressões. Seu corpo reagiu automaticamente aquilo, encolhendo-se na cama, como se ancorando para ter forças e se manter quieta.

Quando isso começava, o circo de horrores era armado, apenas se obrigava a pegar os fones de ouvido do toca fita portátil, deixando-o no volume mais alto e adormecer com lágrimas queimando por trás dos olhos. A raiva borbulhava o sangue como uma flâmula que não findava por parar de queimar, pois enquanto houvesse o sentimento de indignação, de impotência, mais crescia como se alimentando de todos os sentimentos ruins que a abordavam. Era um ciclo diferente de ódio. Ela não queria descontar em ninguém a não ser na figura nojenta do pai ou e qualquer uma parecida, que se esquecia das palavras de amor que jurou durante o casamento e seu nascimento. Das promessas de que manteria aquela família com carinho, protegendo-as de todo o mal. Não. Na verdade alguém precisava era protegê-las. E para piorar, sua mãe, embora alvo de todas aquelas injustiças, aprendeu que a culpa era da filha.

Por que isso acontecia? Não sabia e nem tinha curiosidade de procurar a resposta. Apenas esperava poder crescer e sair daquele inferno.

Por causa disso aprendeu a descontar sua frustração, começando a usar a cabeça e não os punhos para defender a si. Estudava fervorosamente e praticamente não tinha vida social por se obrigar a isolar-se no quarto. Sabia que um dia seria recompensada por se abster daquilo tudo, das frivolidades da infância. Poderia ser a esquisita da escola, porém seria algo mais do que aquelas pessoas falsas esperam.

Contudo, por algum motivo inesperado, hoje não conseguia dormir como sempre fazia. Sua mão procurou algo embaixo da cama e a encontrou solitária dentre sua bagunça. Era uma garrafa de vodca. Desenroscou a tampa e sentiu o cheiro da forte bebida abalar seus sentidos. Havia compreendido uma vez, enquanto olhava a mãe se afogar nas bebidas depois que o pai saiu de casa, após dar-lhe o primeiro tapa, de que o álcool servia como um tipo de sedativo para a dor que sentia no peito. Ajudava a conviver com os pesadelos e facilitava o sono a consumi-la.

Deu um longo gole diretamente do gargalo, não se preocupando de respirar ou pensar, sentindo a forte bebida descer queimando a garganta e segurou a forte vontade de vomitar quando o líquido transparente se chocou no estômago seco, revoltando-o por completo. Antes de fechar a garrafa e a esconder novamente embaixo da cama, sentiu-se mais calma. Seus pais não a notariam ali, pois era ela quem cuidava da casa, porque nenhum deles tinha condição de fazer aquilo. Ao menos eles fingiam para as outras pessoas de que era uma família perfeita e feliz que, embora não tenham muito dinheiro, conseguiam manter uma casa.

Afastou levemente o fone de ouvido e percebeu que tudo havia se tornado silencioso. Mas ao fundo do abafar da porta de seu quarto fortemente trancado, conseguia escutar o choramingar de sua mãe na cozinha e os soluços do pai vindos do quarto ao lado. Por mais insano que fosse, depois de toda a bagunça sentimental que explodia entre eles, findavam daquela maneira. Cada um em seu canto, chorando pelos cantos, dizendo-se arrependidos.

Como odiava aquele tipo de hipocrisia. Poderia ser apenas uma criança, mas compreendia o significado daquela palavra, que simplesmente descrevia sua vida. Falsidade era algo que aprendeu a conviver.

Que sentimento seria aquele que os tomava durante suas explosões violentas? Amor é um sentimento tão doloroso assim, que deixa a outra pessoa roxa e cheia de cicatrizes? Porque se fosse, em hipótese alguma, desejaria senti-lo. E se não sabia o que era, tinha mais chances de nunca senti-lo. Sendo assim preferia se manter na ignorância e na inocência. Era isso que momentaneamente a salvava.

A única coisa que a fazia ficar triste era sobre seus irmãos. Não entendia como seu irmãozinho mais novo conseguia dormir em seu quarto e muito menos como o irmão mais velho suportavam aquilo tudo. Era como se nada os afetasse e se afetava fingiam muito bem para que ninguém notasse. Provavelmente eles estavam corrompidos pela situação e não havia como voltar. Ela era a única célula boa e consciente daquele monte de sujeira jogada embaixo do tapete.

Apenas esperava poder sair daquele inferno. Era tudo o que mais desejava.

 

*

 

Sua dor era profunda, chegando a cortar o ar de seus pulmões, dilacerando seu frágil coração. Assim como seus irmãos mais velhos, não conseguia conter o choro, por mais lágrimas tivesse derramado, seus olhos pareciam incansáveis. Estavam doloridos e avermelhados, completamente alagados.

Perder a mãe nunca seria fácil, mas ver que aquele homem chorava, fingindo sofrer tanto quanto mesmo que eles, fazia a fúria se instalar no peito, provocando ainda mais o choro de injustiça.

Ela odiava seu padrasto desde o primeiro momento em que o conheceu. Nunca conseguiu fingir que o gostava e muito menos se importava com sua situação. Ele jamais verdadeiramente amou sua mãe e depois de sua morte não adiantava lamentar, porque em hipótese alguma seria convencida a chama-lo de pai, mesmo que as pessoas insistissem em afirmar que agora eles eram uma família. Pois tinha um pai de verdade e desejava vê-lo agora. Faria de tudo para ficar com ele, viajar juntos, morar na mesma casa. Fazia muito tempo que não o visitava, pois não o fazia por causa da mãe, que tinha se apegado muito a seus filhos e não os queria longe. Sem falar que sua doença complicou tudo, ainda mais o fato de que seu pai não parava em casa, sempre viajando a trabalho como um capitão de um navio.

Ela vivia na América há quase nove anos e nunca se sentiu em casa como se sentia ao visitar o pai na Coréia. Adorava viver por lá durante as férias de verão, principalmente por sentir o abraço caloroso do homem que por muitos anos foi casado com sua mãe. Por ser muito jovem ninguém fazia questão de explicar os verdadeiros motivos dos dois não conseguir ficar juntos, culminando na separação pouco tempo depois de seu nascimento, acabando por separá-los. Nem mesmo após a morte da mãe alguém fazia questão de explicar-lhe algo. Apenas sabia que em um momento estava embarcando com os irmãos num avião, partindo para os Estados Unidos onde a mãe verdadeiramente pertencia, sendo obrigada a acenar para seu pai, que os observava de longe na plataforma de embarque.

Era triste saber que sua felicidade tinha durado pouco tempo, pois logo em seguida Ele entrou na vida dos quatro, agindo como se fosse à pessoa mais descente desse mundo, conquistando todos com um de seus sorrisos nojentos. Nada nele fazia-a se sentir bem quando estavam no mesmo ambiente, como se uma áurea negra o dominasse.

Pena que quando percebeu isso havia sido tarde demais. Não teve ao menos a chance de salvar sua mãe.

Os médicos diziam que ela havia morrido por causa de uma doença degenerativa nos pulmões e no cérebro, por ter inalado muito da química das tintas que usava para pintar seus belíssimos quadros. A vida de uma artista nunca foi fácil. Os sintomas apareceram com certa lentidão, tirando um pouco da firmeza em suas mãos, para logo depois iniciarem os suaves mal estar, forçando-a a passar mais tempo em casa deitada e descansando. A tal “doença” foi evoluindo lentamente para breves desmaios, perca do apetite e consequentemente em uma forte fraqueza a dominou, que por vez prendeu na cama. Sua vida aos poucos se resumiu em viver entre os delírios de intensas febres e idas e vindas ao hospital, onde ninguém dava um resultado concluso e efetivo, verdadeiramente se dispondo a procura algum tipo de cura. Até que finalmente a doença a matou, restando apenas a memória de que um dia a presença de sua mãe foi constante em sua vida, sendo decepada de uma hora para outra, não dando chance para que se preparasse para tal fatídico momento.

Era uma criança que se permitia a pensar daquela maneira adulta, mas sabia entender as entrelinhas quando alguém mentia e aquele homem era a personificação da falsidade. Não havia nada bom vindo dele, sentia isso do fundo de seu inocente coração. Em seus olhos somente enxergava maldade e agora seria obrigada a conviver com ele, pois seu pai se recusava a voltar de casa, permanecido perdido entre as ondas que guiavam o navio.

Sentiu o braço de sua irmã abraça-la fortemente, permanecendo sentada ao seu lado no banco, escutando o coro da igreja cantar louvores finais, dando por encerrada a cerimônia. Em breve estariam levando o caixão com o corpo da mãe para fora da capela, onde a enterrariam sete palmos abaixo da terra.

Enquanto tentava consolar as duas, seus olhos se ergueram pela capela toda feita de madeira e pedras cinzentas, parando na longa cruz metálica que se erguia atrás do altar. Deus seria tão complacente ao ponto de permitir que homens como seu padrasto permanecesse impune, sem corresponder a nada por seu crime? Seria ele misericordioso para perdoar os pecados daquele homem que secretamente envenenava sua mãe, chegando a retirar dela sua vida? Tudo isso por causa do dinheiro que tinha herdado do falecido avô e sua ganancia era maior que o “amor”?

Era doentio perceber que ninguém fazia as mesmas questões que ela. Nem mesmo seus irmãos que estavam na mesma situação pareciam acreditar nela, totalmente imersos na situação que se estendia a sua frente. Eles simplesmente a ignoravam dizendo que era pequena demais para entender as coisas e, velha demais para sair criando histórias maldosas de pessoas íntegras e boas. Deveria ter maturidade e ao mesmo tempo criança para não querer se envolver onde não era chamada, tornando a compreensão confusa e revoltante.

E ao invés de sentir raiva, sentia pena de todos que a arrodeavam. Ela era a única capaz de enxergar a verdade, enquanto todos eles estavam cegos pelas aparências, negando-se a aceitar que o mundo não era tão perfeito. O ser humano mentia... A carne do homem havia sido criada para pecar. Não poderia se sentir mais triste por eles.

Enquanto via o caixão da mãe ser baixado dentro daquela cova, tomou a promessa de que, quando pudesse, iria expor a verdade.

Mesmo que isso a consumisse por completo.


Notas Finais


Se gostou ou não gostou, comente e deixe sua opinião! Ela vale ouro! Ah, se teve algum erro ortográfico, peço mil desculpas, pois mesmo corrigindo duas vezes as palavras escapam dos meus olhos, ainda mais trabalhando de madrugada... Tô meio vesga aqui HAUAHUAHUAHAUHAUAHUA.
Até a próxima! ^^


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