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História Learn - Do Começo


Escrita por: thereddiamond

Notas do Autor


Olá! Como vão?
Como prometido no prólogo, aqui estou trazendo o primeiro capítulo da estória e finalmente dando o início a ela HAUHAUAHUAHAUHUAHUA.
E, antes de deixá-los ler, peço que aceitem essas minhas poucas palavras de gratidão, porque eu sinceramente não esperada uma reação tão rápida a fic, que estava somente com um conceito muito básico e superficial. Eu nunca apostei muito em meus prólogos, pois gosto de ir diretamente ao assunto, mas fico feliz que tenha atraído atenção e tenho que prometer aqui de que farei o máximo para corresponder suas expectativas!
Sendo assim, muito obrigado!! Rs.
Agora sim podem ler XD. Boa leitura! Bjus ;)

Capítulo 2 - Do Começo


No lado de fora tudo poderia estar frio e congelado pelo vento e pela fina chuva que cobria a pequena cidade no leste da Rússia. Entretanto, dentro daquele pequeno quarto de motel vagabundo a beira da estrada que interligava a cidade inóspita ao quase nordeste da Mongólia, o clima permanecia quente e confortável.

Dormindo tranquilamente entre dois corpos quentes, voluptuosos e carnudos, que lhe agarravam como gavinhas, se encontrava Yuri. Em sua pele morena sobraram rastros avermelhados, que tracejavam um pecaminoso caminho em seu abdome indicando que a noite passada foi mais do que selvagem. As duas mulheres que repousavam ao lado tinham sido um ótimo presente de despedida. E embora desejasse dormir um pouco mais, seu sistema biológico automaticamente acordou o cérebro. Ainda era muito cedo para se levantar e a preguiça tentou dominá-la, porém isso apenas não aconteceu, pois sua consciência apitou um lembrete. Se ficasse mais um pouco acabaria por quebrar seus próprios códigos de moral, mesmo que não fossem muitos.

Jamais se apegar. – Sua mente repetiu para si a primeira e importante regra de sobrevivência, abrindo os olhos para a fraca claridade que entrava pelas persianas da janela.

Com cuidado se arrastou para fora da cama, tendo que se desvencilhar de uma confusão de pernas e braços, ignorando resmungos inconscientes. Deixando-os para trás, seguiu imediatamente para o chuveiro. Tomou um longo banho quente sentindo o corpo dolorido em muitos cantos, além de um suave pulsar na têmpora por ter exagerado nas vodcas russas. Não tinha o organismo fraco para bebida, mas precisava lembrar de que na manhã seguinte sua cabeça reclamaria inoportunamente, como se utilizassem seu cérebro como tambor.

Terminou o banho com certa pressa, limpando qualquer vestígio da noite passada, para só então notar as marcas no corpo. Que deliberadamente não eram poucas. Rosnou para aquilo. Não gostava quando faziam isso, marcando-a como se fosse seu gado. Simplesmente acabava com seu humor.

Tentando não se deixar dominar pela raiva, se dirigiu para fora do banheiro, vendo que elas ainda estavam dormindo agradeceu aos céus por estarem apagadas. Não se importou em acordá-las, apenas vestiu as roupas que tinha jogado no chão, na noite anterior, e calçou as botas de neve para então seguir até a saída. Não sabia falar com tanta propriedade a língua russa, mesmo tendo sido inexplicavelmente fácil convencer aquelas duas mulheres a irem para sua cama, sendo esse o maior motivo para não se incomodar em deixar qualquer nota de “agradecimento” pela noite. Pelo menos fez questão de pagar a conta do motel e seguiu para seu carro com pressa em se esconder da chuva enregelante.

Ao entrar no conforto quente dos bancos de couro do jipe, estremeceu para afastar o frio e rapidamente acionou a ignição, ligando o aquecedor para desembaçar os vidros, como também levar para longe a dormência em seu nariz avermelhado pelo vento.

Pensou por rápidos instantes, enquanto o carro esquentava, sobre o que faria a seguir. Começava há planejar seu dia, embora não tivesse muita coisa para fazer. Primeiramente compraria alguma coisa quente para comer. Sua dor de cabeça desapareceria depois de tomar um bom cappuccino, acompanhado de um adocicado croissant de chocolate belga. Uma ótima maneira de elevar seu humor. Sendo assim deu marcha ao carro que cuidadosamente deslizou para frente, entrando na estrada quase vazia pelo horário. O sol tinha se erguido no céu nublado, mas ninguém parecia efetivamente à vontade de sair do conforto de suas casas, para enfrentar o frio do verão russo.

Enquanto dirigia na estrada escorregadia, ligou o rádio colocando numa estação de música qualquer, apenas para distrair a mente de pensamentos. Dessa maneira poderia curtir a paisagem chuvosa das montanhas mais ao fundo. Um estilo engraçado de country russo embalou seu início de dia, fazendo-a lembrar de que aquele seria seu último dia naquele país. Seu trabalho estava concluído, deixando para trás um caos que sua agência teria que concertar. Não poderia se importar menos, afinal era o trabalho deles e era devidamente paga para provocar esse tipo de problema. Matar um influente político, sem que isso provocasse um tumulto de proporções alarmantes, seria praticamente impossível de ser evitado.

Lembrava com detalhes minuciosos a missão, que teve a irritação de escrever um relatório na noite passada, e como tudo ocorreu passo a passo.

Diferentemente de suas missões habituais, a agência tinha sido enfática ao dizer que a morte daquele corrupto político deveria ser discreta e mais limpa possível. Não poderia usar nenhum tipo de arma. Não necessitava sequestra-lo ou tortura-lo, muito menos assustá-lo com ameaças. Seria muito mais fácil preparar uma emboscada ou guiar uma situação para que sua segurança criasse uma brecha e de longe poder mata-lo com um rifle de precisão, sem ao menos arriscar expor seu rosto, porém teve que se infiltrar no gabinete do Secretário de Defesa do Estado, agindo como uma de suas habituais putas para que pudesse envenenar sua comida. Claro que isso custou alguns milhares de dólares para corromper seguranças e empregados, sem mencionar que precisou invadir o sistema de vigilância nacional pra poder apagar imagens suas. Principalmente apagar o registro do passaporte falsificado, mudando-a pelo de uma pessoa qualquer, para poder ir embora sem chamar nenhum tipo de atenção. Como se necessitasse de tanta preocupação. Raramente suspeitavam das mulheres, ainda por cima se forem bonitas. Bastava um olhar inocente ou a palavra certa para que acreditassem em qualquer besteira que saísse de sua boca. Homens eram facilmente manipulados.

Concluindo seus pensamentos, chegou à conclusão de que trabalhar como uma freelancer era fácil. Tirando o fator do perigo constante, os muitos milhões que brilhavam em sua conta fazia o trabalho valer a pena. Poderia ser qualquer coisa que a contratassem, desde que pagassem, é claro. Assassina de aluguel, mercenária, guarda-costas e até mesmo espiã. Tudo ficava mais divertido trabalhar daquela maneira, ao invés de dentro de um escritório sendo obrigada a aguardar ordens superiores. Ela fazia seus próprios horários, comia e se exercitava da maneira que achasse melhor. Aproveitava o dinheiro que ganhava em festas, mulheres e bebidas, não tendo que se preocupar em acordar no dia seguinte, precisando correr para chegar no horário no trabalho. Em poucos anos chegou até a conhecer mais da metade do globo terrestre, entrando em contato com muitas culturas e línguas. O emprego perfeito. Bastava atender o celular e tudo ficava por sua conta.

Obviamente que havia um “porém”. Não fazia qualquer tipo de trabalho “sujo” e muitas vezes se obrigou a recusar ofertas generosas. Gostava de provocar o caos no mundo, deixando sua marca silenciosa no sistema doente e manchado pela ganância, mas somente aceitava casos que fosse comprovado o quão sujo seus alvos eram. Seja para desmontar uma empresa que polui o Rio Amazonas ou matar um Sheike dono de uma riqueza incontável, que financia o cartel de drogas na Argentina. Se fosse para tornar o mundo num lugar melhor, aceitaria. No final das contas tinha uma conduta quase que “nobre”.

Só falta ser a Madre Teresa de Calcutá... – pensou com ironia contorcendo os lábios.

Guiou o carro por uns bons quilômetros, até que finalmente encontrou uma lanchonete aberta e pouco movimentada tecnicamente no meio do nada, que integrava a um posto de gasolina. Nada poderia ser melhor que isso. Iria comer e ainda encher o tanque para seguir seu rumo até Moscou.

Depois de abastecer estacionou em frente à lanchonete, entrando nela em seguida, novamente sendo obrigada a correr da chuva para se abrigar. O lugar tinha o forte cheiro de café e gordura, que se misturavam a uma doce fragrância de canela e hortelã. Alguns clientes a olharam dos pés a cabeça quando a sineta da porta tocou, chamando suas atenções, notando a diferença de seu corpo alto e atlético. Não importava onde fosse sempre atrairia esse tipo de olhar estranho. Nunca pertencia a lugar nenhum. Seu tom de pele mais escura a tornava diferente em casa e fora dela, seus olhos puxados se tornava um tipo de chamariz. Sem mencionar o fato de que usava roupas bem conservadas e relativamente novas. Ao entrar naquele lugar teve a sensação de voltar no tempo, dando a impressão de que a moda teria se estagnado no final dos anos oitenta.

Ignorando-os com diplomacia se sentou numa mesa de madeira riscada, marcada pelos copos e lascada pelo tempo, acomodando-se numa cadeira velha que rangeu pela falta de uso. A garçonete imediatamente se aproximou mascando seu chiclete já gasto, endurecido pelo uso excessivo e sorriu mecanicamente. Seus profundos olhos azuis a analisaram com interesse, parecendo não se conter.

Yuri retribuiu com simpatia o seu sorriso, pois não conseguia sorrir de maneira diferente e fez seu pedido com pressa. O cardápio era muito enxuto, agilizando o processo. Logicamente não tinha o que desejou antes, mas se contentou com um pão doce de canela coberto por açúcar mascavo e canela, ovos fritos com tiras de bacon como acompanhantes e uma caneca quente de café com creme, que logo foi servido. Enquanto sorvia a adocicada e suave bebida, sentiu algo vibrar no bolso do grosso casaco de inverno. Ao procurar a fonte de rebuliço, encontrou seu celular de trabalho piscando em alerta. Utilizava um aparelho antiquado de serviço pré-pago, altamente descartável, para receber chamadas da agência sem ser facilmente rastreado. Ele era um item essencial para quem trabalhava num ramo tão perigoso como o seu.

O número que piscou na tela do aparelho era mais do que conhecido. Um sorriso cresceu nos lábios grossos, antes mesmo que pudesse se controlar.

- Dóbraie últra moy drug! – Saudou ao arriscar em russo, agindo animadamente ao telefone, escutando uma risada rouca e grossa do amigo retrucar seu bom humor.

- Nunca acreditei que você atenderia uma ligação minha com tanta animação... – Ele resmungou com forçado rancor, arrancando outro sorriso da morena, que balançou a cabeça negativamente. – Bom saber que o clima cinzento não roubou seu humor.

- Não seja maldoso, Heechul. Da maneira como fala parece que sempre sou fria com você! – Ela começou a rir da própria piada, sendo acompanhada por ele, que resmungou algo ininteligível antes de se silenciar. – Me diz a que devo sua ligação?

- Ao que mais seria... Trabalho. – Disse a última palavra com mais seriedade, não perdendo o humor na voz profunda e enrouquecida. Yuri se ajeitou na cadeira ao confirmar suas suspeitas, afundando-se nela de maneira confortável.

- Para onde vou ser mandada agora? – Questionou intrigada com a ligação, enquanto agradecia a garçonete por lhe entregar sua comida. Pegou os talheres e deu uma rápida garfada no pão amarronzado em seu prato, imediatamente provando-o. Sua boca salivou agradecida por aquilo. Estava delicioso. Macio e doce, da maneira como gostava.

- Queremos você de volta para casa. – Ele contou sendo sincero e pontual na questão.

- Voltar? Depois de tantos anos? – Tinha ficado duvidosa com a repentina mudança no traçado de seu trabalho, fazendo-a engolir em seco sua refeição. Fazia quase cinco anos que não pisava em solo coreano. – O que motivou essa mudança?

- Fora o fato de que você se mostrou terrivelmente leal a nós... – Murmurou meio satisfeito com o fato dela não ter rechaçado a oferta, pelo menos não imediatamente, mostrando-se aberta a conversar. – Eles aceitaram uma proposta do governo.

Aquela novidade lhe pegou desprevenida, e mesmo compreendendo a situação, não conseguiu evitar reagir negativamente sobre o assunto. Sinceramente isso era a última coisa que esperava ouvir dele. De todos os trabalhos que havia aceitado, até agora, nenhum deles havia sido direcionado ao governo “x” ou “y”. Sempre eram particulares que tinham condições de pagar por seus serviços. Resumindo sua clientela a empresários, ou sócios que tinham profundas ligações com a agência. E repentinamente, eles queriam mandá-la para um trabalho relacionado ao governo, ainda mais em sua casa... Isso certamente não era boa coisa. Deveria ter uma motivação maior por trás daquilo e necessitava questionar seu amigo sobre a verdade.

- Heechul... – Resmungou começando a ficar irritada.

Contudo, ele não permitiu que continuasse. Precisava convencê-la a aceitar aquela oferta, era uma chance de ouro, um grande trabalho. E, para isso, precisavam conversar.

- Yuri, venha para casa... Nós vamos conversar e então te conto mais sobre o trabalho. – Suspirou audivelmente mostrando que em breve teria respostas, deixando-a meio apreensiva, pois raramente aquele homem agia daquela maneira. Parecia exausto. Sua reação poderia significar apenas uma coisa. – Eu sei que você não gosta de trabalhar para o governo, mas pelo menos dê a chance de escutar a oferta. Acho que você vai querer aceitar.

- Duvido muito. – Rosnou convencida por se conhecer, contrariando-se logo voltou a relaxar, chegando a sorrir novamente. – Chegarei aí pela sexta... Espero que vá me buscar no aeroporto!

- Estarei de esperando com uma plaquinha. – Retrucou humoradamente, arrancando risadas da morena que voltou a comer.

Tiveram pouco tempo para aprofundar qualquer tipo de assunto, obrigando-os a fazer uma rápida despedida. Quando encerrada a ligação, Yuri se apressou para terminar seu café da manhã e pagar a conta, antes de novamente pegar a estrada. Agora que tinha compromisso marcado, precisava comprar suas passagens e montar todo o aparato necessário para seu retorno.

A filha pródiga estava voltando ao lugar onde pertence.

 

*

 

- Alguma resposta da agência? – A voz entediada e estressada de Jessica seguiu até seu ouvido, obrigando Tiffany a reprimir um forte suspiro resignado.

Não havia nada pior do que enfrentar sua amiga estressada, pois ela começava gravitar ao seu redor, como se fosse um parasita. Normalmente não reclamaria daquilo, gostava de saber que havia confiança na relação entre as duas, mas hoje o dia não havia amanhecido dos melhores. Existia um sentimento do qual não compreendia a importunando, desde o momento em que levantou da cama.

- Ainda não... Eles me disseram que um de seus funcionários competentes entrou em contato com o candidato, mas este estava fora do país a trabalho e precisava retornar para que pudessem discutir sobre a proposta. – Explicou pacientemente ao telefone, enquanto andava pela sala de seu apartamento, apanhando o resto das caixas vazias da comida chinesa que havia pedido ontem à noite.

- Não sei se mando aquela agência à “merda” ou se explodo o prédio inteiro com eles dentro! – A outra se exaltou mostrando que havia perdido de vez a paciência, fazendo a amiga chiar contra o celular. Respirando mais calma voltou a falar. – Tiffany, pode me dizer por que entramos em contato com eles mesmo?

Tiffany passou inquietamente à mão em seus longos cabelos cor de ébano, sorrindo de Jessica, tendo mais liberdade por fazê-lo ao saber que não poderia ser vista. Gostava da amiga, muitos mesmo e fazia questão de ajuda-la no quer o que fosse, mas existiam momentos que seu mal humor ultrapassava o bom senso da amizade. Se não compreendesse a quantidade de responsabilidades que tinha em suas costas, certamente teria encerrado aquela ligação para tomar um pouco de chá.

- Você sabe que estamos sem pessoal preparado para iniciar a nova investigação... – Começou a explicar mecanicamente, enquanto apoiava o telefone entre o ombro e o ouvido, começando a lavar a louça que tinha deixado acumular pela semana. Algo certamente não cheirava bem dentro da pia. – Eu poderia muito bem buscar na base da polícia especializada alguém capaz, mas não temos tempo para treiná-lo. Por isso fomos atrás de uma pessoa mais experiente.

Jessica bufou audivelmente, mostrando-se terrivelmente teimosa e resignada. Deve ter notado seu tom hesitante ao mencionar “experiente”.

- Desde que tomei o cargo do papai – ela começou a comentar com a voz mais amena, porém não menos estressada e carregada, fazendo de tudo para que a ironia na voz fosse perceptível. A ideia lhe desagradava em todas as maneiras. – nunca pensei que chegaria tão baixo, sendo capaz de contrariar meus próprios princípios.

- Jess, eu sei o que você pensa sobre contratar assassinos de aluguel. – Resmungou com evidente compreensão, voltando a ensaboar uma de suas canecas de café prediletas. – Infelizmente a situação pede o contrário... E se isso te fizer sentir melhor, pense que estamos contratando um espião.

- Pra mim eles são a mesma coisa! – Voltou a bufar irritadiça permanecendo intransigente.

- Está bem, amanhã à gente conversa melhor isso. – Ela tentou encerrar o assunto para evitar se cansar mais do que estava, apaziguando os ânimos, movendo a cabeça para que o celular não escapasse do ouvido. – Tente não matar ninguém nesse meio tempo, está bem? Prometo que eles vão resolver o nosso problema até amanhã!

Tiffany escutou a respiração de Jessica pelo telefone, agradecendo ao fato de que seu chefe tinha uma boa cabeça e conseguia entender que nada adiantaria se estressar ou importuná-la daquela maneira. Murmurando alguma coisa sem sentido, se despediu da amiga e encerrou a ligação.

Ela sorriu para o telefone e o guardou no bolso de trás da calça, desejando ignorá-lo eternamente. Ainda estava vestida da maneira como chegou do trabalho, somente arregaçando as mangas da camisa social de linho cor de chumbo, para que elas não atrapalhassem enquanto lavava a louça, trocando os saltos por seus chinelos róseos. O olhou caiu irrequietamente sobre o relógio da Hello Kitty, que havia ganhado de presente de uma das amigas por ser rosa e engraçado, pendurado na parede da cozinha, percebendo com certa preocupação que Taeyeon estava atrasada.

Procurou se distrair daquele detalhe lembrando a si, como um mantra, que a mulher com quem dividia o apartamento não era nenhuma criança.

Contudo, era impossível não rondá-la com esse tom de responsabilidade, principalmente pelo fato de conhecer sua história. Eram amigas há quase doze anos. Naquela época era uma estrangeira perdida indo se aventurar nas ruas de Seoul a procura do pai, sendo acolhida por uma garota que a recebeu com um sorriso tranquilo em seu rosto. Elas deveriam ter apenas quinze anos na época, contudo ambas tinham tido experiências, marcantes e profundas, para se apoiar na outra. Ambas tinham fugido de casa e precisavam se virar da maneira como podiam para sobreviver no mundo, obrigando-as a confiar nessa amizade recém-construída.

Espero que não esteja bebendo... – resmungou mentalmente enquanto dava por finalizada a pilha de louça, guardando o último prato perfeitamente limpo.

Enxugou as mãos num pano de prato e sorriu satisfeita para a limpeza que havia promovido. Odiava deixar a casa bagunçada, somente não tinha tempo para fazer uma faxina decente, obrigando-a a contratar uma diarista para fazê-lo. Seu trabalho consumia praticamente todo o seu tempo...

...O som da porta sendo aberta finda por cortar todos seus devaneios, fazendo o coração saltar exaltadamente contra o peito. Correu diretamente para a entrada e encontrou a recém-chegada retirando os sapatos na área perto da porta, soltando um longo suspiro cansado, encurvada sobre o corpo usando a parede como apoio. Antes que seus pés tocassem a cerâmica fria da sala, braços longos circundaram repentinamente seu corpo pequeno e magro, impedindo-a de seguir em frente. Quando ela erguer o olhar encontrou olhos sorridentes. Seus lábios perfeitamente delineados se esticaram num sorriso sincero.

- Posso saber o motivo dessa demora? – Tiffany reclamou em tom de brincadeira mesmo estando visivelmente preocupada, arrancando uma risada nasalada da amiga, que se agitou no inesperado abraço.

- O transito estava infernal hoje... E olhe que nem é sexta-feira! – Taeyeon retrucou franzindo o nariz para a situação que enfrentou para chegar em casa, fazendo piada. Se não fosse uma pessoa tranquila e gostasse do silencio, certamente teria entrado num colapso nervoso por passar duas horas presa em engarrafamentos. Deveria aprender a sair mais cedo do trabalho ou teria que se acostuma a enfrentar esse tipo de situação todos os dias.

Sem quebrar o abraço caloroso se separaram minimamente, tendo cada uma atravessado um braço sobre os ombros, movendo-se da maneira que pudessem andar confortavelmente. Juntamente se jogaram no sofá branco da sala, suspirando alto enquanto se acomodavam, sorrindo para a outra. A pequena mulher, que tinha os cabelos claros, se esticou sobre o centro de mesa para pegar o controle da televisão e o ligou antes de relaxar no estofado aveludado, sintonizando num canal e programa qualquer.

- Quer jantar o que? – Ela questionou Tiffany que não cansava de inspecionar seu rosto pequeno e infantil, procurando sinais do característico rubor alcóolico em suas bochechas. Havia notado sua atitude inquieta mesmo sem precisar olhá-la. Apenas fingia que não o via e se focava na tela da televisão.

- Você não foi ao bar com a Sunny e Sooyoung? – A pergunta saiu de sua boca como se a repreendesse e gritava em alívio por não concretizar suas suspeitas. Sabia ler o rosto da colega de apartamento e se seu estado permanecia tranquilo de sempre, isso trazia bons significados.

Taeyeon desviou o olhar da televisão e encarou seus olhos castanhos escuros com profundidade, encontrando a desconfiança e medo dentro deles. Gostava de saber que estava preocupada consigo, mas não podia permitir que Tiffany desconfiasse de seu autocontrole. Tinha aprendido a lição da pior maneira e do que precisava fazer para evitar a bebida. Havia recusado o convite das colegas de trabalho para comemorar o aniversário de Sunny, que insistiu para irem a um bar em Hongdae. Além de ser totalmente contramão do caminho de sua casa, sabia onde acabaria aquele tipo de comemoração e nada de bom acontecia quando se embebedava.

- Não se preocupe comigo, Fany-ah... – Pediu com a voz adocicada, passando lentamente os dedos entre as mechas de seu cabelo escuro que caiam pelos ombros como cascatas de cachos. Abriu um sorriso delicado para tentar acalmá-la. – Aquilo não vai acontecer de novo. Eu prometo.

Embora confiasse plenamente em suas palavras, algo no fundo do coração Tiffany a deixava inquieta sempre que tocavam no assunto. Taeyeon estava longe da bebida há quase dois meses e isso é o máximo que tinham conseguido melhorar em seu tratamento, desde que tomou ciência de seu problema com o alcoolismo. Era um tipo de doença que a consumia toda a vez que se encontrava na berlinda. Transformando de uma maneira inexplicável. Sempre que alguém a convidava para beber ou simplesmente tomava uma dose de soju num churrasco, aquele seu lado obscuro emergia das sombras, obrigando-a a ultrapassar a cota da sensatez. Por causa disso não tinham nenhum tipo de bebida em casa que gerasse tais impulsos e evitavam sair separadas em festas ou bares, pois ela era a voz de sua consciência a impedindo de ceder à vontade. Da ultima vez que ocorreu uma recaída, ela não conseguia esquecer a imagem da amiga vulnerável e fraca deitada em uma cama hospitalar, que parecia se agarrar em seu corpo magro e pequeno, que quase entrou em coma alcóolico. Isso a assombrava desde então. Por pouco, se não tivesse sido rápida ao notar seu sumiço durante a festa, obrigando-a a procura-la por todos os cantos do bar, teria naquele dia a perdido para o vício. Sendo assim não era a toa sua preocupação.

Mesmo se sentindo estranha e inconfortável com o enveredar da situação, que por sinal havia provocado inconscientemente, suspirou discretamente aliviada e sorriu brandamente. Estava feliz por somente tê-la em casa completamente bem e saudável.

- Como foi o trabalho hoje? – Taeyeon mudou de assunto com sabedoria, tentando desviar sua atenção para conversas mais amenas, baixando o volume da televisão para concentrar-se integramente nela. A morena contorceu o rosto a contragosto em resposta, mostrando-se insatisfeita em falar sobre isso. Sua expressão cansada a fez franzir as sobrancelhas. – Muito cansada?

- Até demais... – Ela suspirou fortemente em resposta, jogando a cabeça para trás, recostando-se no sofá.

A loura observou seu perfil de perto e não conseguiu parar de sorrir para aquela imagem adorável. Não gostava de ver que sua amiga não sorria e andava sobrecarregada por conta do trabalho, mas isso fazia lembrar que Tiffany também era humana e ás vezes se cansava, por mais que mostrasse o contrário. E, embora trabalhassem no mesmo ambiente, havia uma enorme diferença com o que faziam, pois cada uma tinha a própria responsabilidade.

Ambas trabalhavam para serviço da nação, numa corporativa particular que trabalhava com a segurança do país, tendo financiamento e apoio integral do governo. Elas haviam sido recrutadas para o trabalho na época em que prestava vestibular. Sendo convocadas ao cargo de “agente júnior”, que era um termo mais bonito para “estagiário de escritório”. Claramente o porte físico de Taeyeon foi questionado por seus recrutadores. Realmente a mulher parecia ser feita de papel e era extremamente frágil quando tinha de enfrentar provas físicas muito intensas e, se não fosse por suas boas notas e intelecto avançado para criar táticas, além de possuir uma cabeça fria e tranquila que permitia tomar decisões rápidas e confiáveis em momentos de pressão. Acabou sendo remanejada para o setor de apoio, ficando a encargo dela e outros mais de servir como inteligência tática ás equipes de campo, devendo orientá-los durante as missões, sendo-lhe entregue uma mesa com computador de última geração, dentro de uma sala barulhenta e visivelmente cheia no quinto andar. Sua situação era completamente diferentemente de Tiffany que, com sua constituição saudável e forte, não esquecendo mencionar sua persistência incomum que jamais a fazia ceder em nenhuma situação, mantendo-se firme como uma pedra. Teve sua entrada para os times de campo, estando sempre em ação, acabando por demonstrar-se uma líder incrivelmente competente.

De acordo com o passar do tempo às coisas foram se assentando e organizando-se da maneira mais confortável para ambas. Chegaram a subir de cargo com poucos anos de experiência. Lentamente foram conquistando respeito dos colegas e status na corporação, chegando a onde estão atualmente. A morena ainda permanecia com os trabalhos de campo, sendo permitida a usar um termo mais admirável de “agente especial”, geralmente ficando responsável pelo treinamento de novos agentes. Tendo que responder diretamente ao presidente da empresa. Era um cargo de confiança. Situação não muito diferente da sua, que conseguiu se remanejada para uma área mais tranquila, onde poderia trabalhar sozinha num escritório próprio, ganhando uma comissão maior e bastante generosa. Era, até então, a responsável pelo setor administrativo daquela sociedade empresarial, sendo a pessoa por manter em funcionamento o prédio e as pessoas que nela trabalham como um organismo vivo, somente precisando que responder as ordens do presidente da companhia.

Todavia, por melhor que estivesse à situação financeira e profissional de ambas, o trabalho infelizmente consumia uma porcentagem relevante de suas vidas, sobrando praticamente nada de tempo para relaxar. Então momentos como aquele em que ambas estavam em casa, sentadas enquanto batiam um papo tranquilo no sofá, era algo raro nos dias de hoje. Por isso precisavam quebrar a rotina.

- Quer que eu peça comida tailandesa? - Taeyeon perguntou a amiga com um sorriso presunçoso crescendo nos lábios, atraindo o olhar cansado de Tiffany, que cintilou em animação.

- Você definitivamente sabe como me animar... – Comentou humoradamente se ajeitando no sofá, puxando o celular do bolso entregando-o imediatamente a ela.

Piscando de maneira cumplice, a loura tomou o aparelho e logo ordenou a comida. Nada melhor do que um tempero diferente para mudar o humor de alguém.

 

*

 

O sol brilhava intensamente sobre suas cabeças, indicando que o verão ardia na capital da coreana, como se quisesse derreter todas as pessoas. Abrigada na sombra de uma sorveteria, tomando um geladíssimo milkshake de morango, Yuri se impressionou com a mudança drástica do clima. Mal havia desembarcado da gélida Rússia e já teve que enfrentar temperaturas abrasantes como essa. Sorte sua que seu organismo era forte para enfrentar condições como aquela. Cuidar-se tinha suas vantagens, por isso nunca se esquecia de tomar as vitaminas diárias.

A sua frente, remexendo-se irrequieto na alta banqueta da sorveteria, parecendo meio deslocado no lugar com seu terno e gravata, Heechul encarou a amiga de longa data, escavando seu sorvete de manga com a palheta colorida de plástico. Ela era a única pessoa nesse mundo capaz de obriga-lo a enfrentar esse tipo de situação vergonhosa. Evidentemente aquele não era o seu ambiente dentre tantas crianças e donas de casas suadas e barulhentas.

- Parece que seu sorvete não está tão bom, Heechul. – Ela zombou ao apoiar o queixo na mão. O homem elegantemente pigarreou desconfortável e azedou a expressão, passando a mão em seu grosso cabelo escuro, como recompondo sua integridade profissional.

- Achei que iríamos num lugar mais... – Olhou ao redor e retorceu o nariz. – Adulto.

- Se queria que te levasse a um clube ou algo assim, sinto muito desfazer seus planos. – Sorriu sem estar nem um pouco preocupada em irritá-lo, ficando cada vez mais agraciada com o fato de poder desfazer a pose arrogante do amigo com tanta facilidade, chegando a ser patético, mostrando o ponto que haviam discutido quando o encontrou pela primeira vez depois de tantos anos fora. Havia afirmado que o homem precisava relembrar as raízes da qual pertenceu, afinal tiveram que passar pela infância. Em algum momento da vida teve que andar por lugares como esse. Entretanto respirou fundo e tomou uma posição mais firme. Não estavam ali para brincar, para sua infelicidade. – Cadê a pasta?

Perguntou pelo objeto que continha todas as informações das missões, da qual a agência fazia questão de manda-la por mensageiros e não pelos próprios empregados. Ele observou nervosamente ao redor deles, tomando cuidado para não parecer muito suspeito e ao notar que ninguém ligava para eles, pegou a maleta executiva que trouxe consigo, estacionada no chão ao seu lado, a destravando com cliques robustos e pegou uma pasta parda bastante cheia. A estendeu na sua direção com certa pressa, mantendo a expressão séria.

- Como eu disse ontem... Sua missão é muito importante. Digamos que essencial. – Contou com tranquilidade vendo-a pegar a pasta e abri-la, olhando seu conteúdo com atenção.

Os olhos da morena se arregalaram minimamente ao notar o que havia escrito naqueles papeis, tomando ciência da gravidade do pedido. Se estavam chegando aquele estágio... Então isso somente poderia significar uma coisa.

- O governo está querendo provocar uma guerra civil. – Ela afirmou secamente com o olhar endurecido, fechando a pasta bruscamente, respirando fundo para pensar.

“Infiltre-se na guerrilha Naiel Jeonsa.” - Lembrou vivamente o conteúdo do pedido, que piscava por todos os cantos da mente como um alerta de perigo.

Percebeu que aquilo agora lhe provocava uma terrível dor de cabeça, da qual tentou acobertar ao voltar a tomar seu milkshake. Não era um pedido fácil de aceitar. Não quando estavam avançando muitas jogadas, de nível absurdamente perigoso. Parecia um tipo de jogo doentio de viva ou morra. Se fosse pega dentro daquela milícia, com certeza sofreria retaliação e a morte seria o de menos. Mas no final das contas, o que estaria perdendo?

- Isso não vai ser nenhum pouco fácil... – Suspirou conformada com o provável resultado, cruzando os braços sobre o abdome, endurecendo o maxilar para se segurar para não tecer mais nenhum tipo de comentário.

- Não se preocupe. Daremos apoio no que precisar... Apenas trate isso como um trabalho comum. – Ele explicou com calma, finalmente terminando o seu sorvete com um sorriso debochado crescendo em seus lábios astutos. – Além de que você é a melhor no ramo. Não há com o que nos preocuparmos.

Yuri riu amargamente de suas palavras. Sabia que não se podia questionar o nível de suas habilidades, pois dificilmente se encontrava alguém habilidoso como era. Praticamente não tinha como tratar aquilo como um “trabalho comum”. Aquele seria O trabalho da sua vida. Precisava evidenciar que, de qualquer maneira, seria considerada “inimiga do país” por ter que se infiltrar entre aqueles radicais, que atualmente provocava desordem por toda a Coréia do Sul. Suspirou profundamente ao tomar extensão daquele pedido.

Iria aceitar de um jeito ou de outro, então discutir seria inútil.


Notas Finais


Comentários? Até a próxima! ^^


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