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História Learn - Confuso


Escrita por: thereddiamond

Notas do Autor


Olá ^^

Perdão a demora, gente T.T. Depois de muito tempo tomei vergonha na cara para escrever o novo capítulo, para só agora corrigir e postar kkkkkkkkkkkkkkk. Mas né, quando as férias chegam tomo todo o tempo para descansar, embora não tenha descansado a mente. Essa pequena pausa me ajudou a criar outras ideias, tanto Taeny e Yulsic, cheguei até a postar uma fic nova (vou fazer um jabar sim u.u) e tô começando a me enrolar mais, porque desde ontem uma ideia para Yulsic me acometeu e já estou escrevendo outro projeto... É, eu andei dentro de um furacão de ideias kkkkkkkkkkkk

Fora isso, retornando ao foco, Learn finalmente está chegando ao ponto que acho mais interessante da trama e acredito que se prestarem bastante atenção a certos detalhes, pode ser que fique bem esclarecida algumas dúvidas... Como também pode enganar muita gente... Não sei, vai depender da interpretação HUSDHASUDHSUDH.

Enfim, falei demais! As férias tão acabando, sendo assim acredito que vou voltar a trabalhar mais, deixar a preguiça de lado e escrever com mais regularidade XD. Perdão se tiver erros não corrigidos, faço isso durante a madrugada e eu meio que fico zarolha kkkkkkkkkkk

Boa leitura e beijos! <3

Capítulo 21 - Confuso


Jessica estava agitada. O coração não parou de bater forte desde que saiu da Lucius. Seu motorista, por outro lado, permanecia tranquilo ao dirigir. Ele era silencioso e observador, sempre averiguando pelo retrovisor interno do carro se sua patroa estava bem ou se acabara adormecendo durante a viagem. Não fazia questionamentos, era pago para não fazê-lo.

A localização do rancho estava marcada no GPS e toda vez que ela desviava o olhar para ele, sentia-se mais agitada.

Era a primeira vez que saia feito uma louca desvairada atrás de uma pessoa, sem saber se seria seguro. Suspirou forte quando a consciência começou a pesar, tratando de se martirizar. O que tinha dado nela para fazer algo tão sem sentido assim? Seu motorista poderia ser treinado – era um ex-militar que trabalhou para o seu pai durante dez anos e agora servia a ela –, mas não seria de muita ajuda caso encontrasse um exército de inimigos armados. Havia se tornado, por vontade própria, um alvo fácil.

Pensar nesse conflito com a guerrilha a dava dor de cabeça.

Compreendia o porquê de seu pai querer acabar com a guerrilha, que recrutava cidadãos para derrubar o governo, incentivando uma espécie de anarquismo. Não existe mudança sem derramamento de sangue, eles falavam. Afirmavam estar na busca da equidade, da equiparação social, criando uma terra onde todos teriam direitos. Mas Jessica não sabia se isso era verdade.

Tinha estudado sobre aquele caso desde a época em que era uma mera criança, se prendendo na trama misteriosa de intrigas, ódio e traição. O ponto de ignição dessa história se encontrava no passado, há exatos vinte anos.

O serviço secreto não era a mesma dos dias atuais, se tratando de uma divisão de alto escalão do governo. Apenas militares especialistas, treinados em combate furtivo, poderia se tornar um efetivo daquele força tarefa governamental. Em especial existia uma equipe de elite, seu líder se chamava Kwon Yejun, considerado um grande patrono da arte de espionagem. Era um mestre nisso. Entretanto, esse seu conhecimento o tornou arredio e acabou sendo morto após ter se rebelado contra o governo, durante uma operação de busca e apreensão, reagindo às autoridades com agressividade. Com sua morte, a equipe antes militarizada e fiel ao governo, se subverteu ao ódio, criando uma pequena legião de seguidores revoltados e traidores, seguindo o então nomeado líder Park Jinyoung.

O pai da Jessica, Jung Seyoon, que naquela época trabalhava para o governo coreano no antigo serviço secreto, estava integrado numa repartição de baixo escalão.

Ele, um jovem que havia entrado na carreira por ter uma inteligência acima da média, não teve muitas oportunidades para subir no emprego, até que descobriu a traição da equipe de elite. Eles pretendiam matar o presidente vigente, lançando um ataque terrorista na casa presidencial. Ao relatar isso ao seu superior, Seyoon conseguiu o que tanto queria. Uma promoção.

Jessica nunca duvidou da ambição do pai e, em pouco tempo que foi subindo na carreira militar, sua família foi enriquecendo, enquanto que ele esquecia a esposa e as filhas, passando a enclausurar-se no trabalho, erguendo um império graças à ligação que tinha com o governo. Quando criança não entendia o motivo dele ser tão ausente − chegando a odiá-lo −, mas depois que praticamente tomou seu lugar, acabou descobrindo o que fazia e consequentemente compreendendo parte dos problemas que o envolvia. Ele mentia para a própria família dizendo que não passava de um empresário. Um mero investidor das bolsas de valores, que enriqueceu graças à sorte de ter comprado uma empresa de segurança falida. Não, Seyoon sempre foi mais que isso. A Lucius não passava de uma fachada para o serviço secreto coreano.

O celular vibrando em seu colo a retirou dos pensamentos. Ao olhá-lo percebeu que se tratava de uma ligação da Tiffany. Ponderou se deveria atender, mas acabou o fazendo. Seria melhor dar explicações enquanto tinha tempo.

— Jessica! Onde você está? – Tiffany foi logo gritando, não dando chance para que respondesse. – Quando eu voltei e não te vi aqui, fiquei preocupada! Caramba, porque não disse que ia sair... Na verdade, onde você está indo e porque saiu tão apressada?

Ela está desconfiada. – Jessica disse mentalmente.

Não chegava a verdadeiramente duvidar de sua preocupação, porém, no fundo de tanta amabilidade, a amiga era uma exímia investigadora e instintivamente sabia que tinha algo de errado com seu “desaparecimento”.

— Não precisa perder a cabeça, Fany – ela retrucou calmamente, atuando de maneira impecável, agindo como se aborrecida e entediada estivesse, quando na verdade não o estava. Era um poço de nervos e tensão. – Aconteceram tantas coisas ao mesmo tempo, que não pude dizer a Taeyeon que precisava sair...

— Então onde você está? Estou preocupada... Você parecia abalada na última vez que nos vimos. – A Hwang afirmou com leve desconfiança.

— Estou indo para casa agora. Tenho que comparecer a uma reunião – Jessica pensou rápido numa desculpa convincente, tentando evitar que as próprias palavras e o tremor em sua voz a traíssem. – Você sabe que papai deixou um monte de pendências e uma delas me ligou pedindo para nos encontrarmos... Coisas de negócios. – Fingiu reclamar da mentira que inventou, acreditando que quanto mais inventasse, mais acabaria por terminar de se enrolar. Como resultado da longa desculpa, sentiu pelo silêncio de Tiffany no outro lado da linha, que não havia a convencido. Deveria mudar a estratégia. – Preciso que você me substitua enquanto eu estiver fora.

— Quê? – A agente parou para ponderar o peso de seu pedido, meio que se assustando quando percebeu o que se tratava, ficando incrédula. – Você sabe que preciso estar em campo agora. Não posso ficar presa na empresa…

Tentou negar de imediato, buscando motivos, pois comandar aquele barco era algo que nunca se atreveu a fazer.

— Tiffany – chamou-a  para que parasse de falar. Ao menos poderia colocar alguém de confiança em seu lugar, por enquanto que estivesse ausente. – não sei por quanto tempo isso irá me tomar e estamos no meio de uma situação muito delicada.

— Me conta a verdade, isso não é um problema deixado por seu pai. Aconteceu algo e você não quer me contar.

Tardiamente Jessica notava que não tinha como esconder algo de sua melhor amiga. Ela era mais esperta do que aparentava, não era a toa que estava num cargo como uma agente especial sênior. Foi um erro tentar enganá-la, mas como tinha a distância a seu favor findou não se importando muito. Tiffany era esperta para saber que fazer um estardalhaço, apenas atrairia a atenção das pessoas erradas

— Aconteceu algo sim, mas não posso te contar. Sei que viria atrás de mim e isso é algo que quero resolver sozinha. – Admitiu derrota pela insistência da outra, sabendo que não era a hora para agir amigavelmente. – Te peço que não saia da Lucius, até que eu volte... Estamos entendidas?

Tiffany não resposta imediata e antes mesmo que pudesse acreditar ter perdido para a teimosia dela, escutou-a suspirar pesadamente. Parecia ter sido derrotada por sua insistência.

— Droga, Jess... Toma cuidado com o que você pensa estar fazendo – resmungou ao relutar para não ceder à preocupação. – Não importa o que você esteja fazendo, uma decisão errada você morre... – Voltou a suspirar. – Espero que não se arrependa.

Um breve sorriso brotou nos lábios de Jessica ao notar que tinha a convencido, a sua maneira, é claro. Aquela pequena missão era sua, poderia tomar a decisão e com as próprias mãos executá-las, não dependia de outras pessoas para isso.

— Obrigado, Fany... Estava precisando do seu apoio.

— Não estou te apoiando nessa loucura! – Retrucou ao grunhir, parecendo ter se ofendido. – Apenas não posso fazer muita coisa já que você é cabeça dura.

Jessica não conseguiu controlar a risada, agradecendo a amiga por aliviar um pouco a pressão em seu peito, deixando-a menos ansiosa. Não podia ter seu apoio, mas finalmente encontrava a liberdade que precisava para continuar. Então, com uma breve promessa de que retornaria sã e salva – pelo menos tentaria –, se despediram.

 

*

 

O carro deslizou pela entrada de um enorme rancho, quando se computou seis horas do desaparecimento de Yul. Finalmente estava perto de encontrá-la, pensou a presidente, notando que aquele era o ponto de encontro.

Seus olhos atravessaram pela janela do carro, passando a observar cada detalhe do rancho. Havia um pasto cercado na entrada, um celeiro construído no meio de nada e mais ao fundo terreno encontrava-se uma simpática casa de madeira, de telhas avermelhadas envelhecidas pelo tempo, excesso de sol e chuva. E nada mais que isso. Pacato e simples, como uma casa do campo deveria ser.

O motorista se aproximou da entrada da casa, estacionando ao lado de uma velha caminhonete suja de poeira e lama. A lataria estava desbotada e poda se encontrar algumas ferrugens que roia parte da pintura. Em frente ficava a escadaria da casa, que levava a uma varanda, onde uma cadeira de balanço estava abandonada, parecia mais servir de decoração.

— Siwon, você sabe o que fazer? – Jessica se voltou para o motorista, com a mão parando sobre a maçaneta da porta, hesitante em sair.

— Estarei na sua retaguarda, Srta. Jung. – Ele respondeu enquanto tirava do porta-luvas uma pistola nove milímetros, a escondendo dentro do terno que usava como uniforme de trabalho.

A presidente tomou sua atitude como uma garantia de segurança. Sentia as mãos coçarem para tocar em uma arma, mas se contentou com alguém mais habilidoso portar uma. Abriu a porta depois de respirar fundo e saiu do carro, bem a tempo de ver uma mulher correr de dentro da casa.

— Você deve ser a Jessica, não é? – Questionou ao parar em frente dos dois. Agora que estavam próximas conseguia notar algumas rugas ao redor dos olhos e mechas brancas em seu cabelo escuro. – Eu sou a dona do rancho... Me chamo Kate. Fui eu quem ligou para você. – Jessica mal teve tempo de responder e já estava sendo guiada para dentro da casa com muita pressa, a urgência em suas feições maduras a deixou desnorteada. – Sua amiga ainda está na nossa sala.

Os visitantes tiveram que entrar na casa, receosos em encontrar uma situação perigosa, mas confiando na sorte. De início foram apresentados à sala de estar, pequena e simples, encontrando poucos móveis, como uma televisão e o sofá.

Ao direcionar o olhar para o sofá, Jessica se deparou com Yul deitada. A morena permanecia vestida com as roupas do início da tarde, mas não era a mesma pessoa que saiu da empresa. Parecia uma maltrapilha, a camiseta branca estava imunda, suja de sangue e lama, porém não foi isso que chamou a atenção e sim ao fato de um garoto – claramente ainda em fase de crescimento, um adolescente – estar pressionando um pano em seu abdômen.

— Ela está toda suja e molhada porque a encontramos boiando na margem do rio, que fica atrás da nossa casa... – Kate se explicou com pressa em trazê-los para mais perto, apontando o que havia acontecido, notando o olhar surpreso da presidente. – Nós não sabemos de onde ela veio.

Concluiu com uma explicação que ninguém pediu, evitando ser questionada sobre algo que não fazia a menor ideia do que se tratava. Estava claro que havia um problema grande acontecendo naquela aparição misteriosa, mas não queria saber de nada disso.

— Há quanto tempo ela está aqui? – Jessica teve que engolir em seco depois de se recuperar da surpresa, indo diretamente para o garoto, que a olhou curiosamente. Ao vê-la se aproximar, ele se levantou e abriu espaço.

— Desde o início da noite. Meu filho gosta de brincar perto do rio e acabou a encontrando. Achávamos que estivesse morta... – Pela tensão que dominou seu semblante, a frieza na voz, deixou esclarecido que não era nada espantoso encontrar um cadáver boiando em seu rio.

Jessica não quis fazer mais perguntas, se voltando para o que importava nesse momento e, com cuidado, temendo machucar a morena, se sentou na ponta do sofá, próxima às pernas esticadas de Yuri e tirou o pano que tinha sobre a barriga. Se arrependeu no mesmo instante de tê-lo feito ao ver o corte inflamado e sangrento que o pano escondia. Por sua sorte, graças ao nervosismo que enfrentou no dia, não tinha comido nada para poder vomitar. O estômago revirou do avesso.

— Por que não a levaram para um hospital? – Desviou o olhar da ferida, caindo acusadoramente sobre a mulher e o filho, que ficaram inquietos com a pergunta.

— Ela simplesmente não permitiu... – Kate deu sua explicação. – Depois que a tiramos do rio, até pensamos em colocá-la na caçamba da caminhonete, mas ela não deixou. – Respirou um pouco ansiosa, apertando os ombros do filho parado a sua frente. Ela também estava na defensiva. – Fiquei com medo de que se mexesse demais e terminasse piorando a ferida.

A Jung não se sentiu satisfeita com aquela explicação, mas diplomaticamente preferiu engolir as questões e a liberou de seu olhar inquisitivo. Os olhos caíram sobre a ferida e parou um instante em como deveria prosseguir, em seus ouvidos havia um zunido estranho, a pressão baixou.

Notando o desconforto em seu rosto, que empalideceu, o motorista saiu de sua imobilidade e se aproximou de Jessica. Sabia quais eram as prioridades e sair acusando as pessoas, colocando-as contra a parede, seria o mesmo buscar confusão.

— Se não for muito problema, você pode ir pegar para mim uma maleta de primeiros socorros no meu porta-malas? – Ele se dirigiu ao garoto jogando a chave do carro, fazendo-o acordar e pegá-la no meio do ar.

Sem reclamar, parecendo bastante grato por poder sair dali, o menino correu para fora desaparecendo pela porta. Como se tomando conta da situação, Siwon tirou o paletó e gravata, se ajoelhando perto da morena. Tranquilamente observou a ferida, erguendo a camiseta com cuidado para não magoar o corte. Jessica teve de desviar o olhar, sentindo-se enjoada com a aparência da carne. Não fazia tantas horas que ela havia desaparecido e suas feridas pareciam nojentas e sujas.

— Quem são vocês? – Kate questionou ainda parada na entrada da sala, observando tensamente a arma guardada no coldre nos ombros largos do motorista.

— Não se preocupe, não iremos fazer nada com a senhora e seu filho – Jessica se pronunciou, tentando desviar a atenção dela da arma, ficando mais consciente de que deveria ser mais delicada. – Somos os mocinhos. – O cenho da mulher franziu em desconfiança, obrigando-a a agir de maneira mais convincente. – Trabalhamos para a polícia.

— Não me importa quem vocês sejam... Apenas terminem o que vieram fazer e nos deixe em paz.

Cruzou os braços permanecendo afastada, como se realmente temesse se envolver naquela confusão. Notando que estava a um passo de ultrapassar as boas intenções da mulher, Jessica aceitou que por hora deveria colocar isso de lado e se focar em Yul, que ainda estava desacordada.

Se ergueu do sofá e deu espaço para que seu motorista começasse os primeiros socorros, colocando aquele trabalho em suas mãos. No final das contas não saberia o que fazer e como ele aparentemente já tinha algo em mente, o deixou no comando daquela tarefa. O garoto que tinha ido ao carro pegar a maleta, voltou correndo, indo ajudar com o que fosse preciso. A dona do rancho saiu da sala para pegar uma vasilha com água fria e outra quente, colocando tudo a disposição de Siwon, que encarava o corte. Assim que as coisas que pediu foram reunidas, ele começou a limpar o local da ferida, rasgando a camiseta que estava suja demais para que ela continuasse a usar, passando a ignorar alguns resmungos da morena. Sem impedimentos analisou a extensão do ferimento, tocando a pele ao redor, examinando o corpo. Era um talho bem feio, bastante profundo, que estava começando a infeccionar e acumular pus. Pegou um algodão dentro da maleta e o embebeu com álcool, daria início a limpeza.

— Vai precisar de ponto? – Jessica questionou o motorista, procurando desviar o olhar da ferida que voltava a sangrar, sentindo-se mal com o forte cheio de sal e ferrugem misturado ao álcool, que pairava no ar.

— Sim... Mas não temos o equipamento necessário... – Ele respondeu num resmungo consciente, limpando o suor que descia pela lateral do rosto com a manga da camisa. Virou a atenção para Kate e logo fez seu pedido. – A senhora não teria linha e agulha?

— Acredito que sim... – Ela respondeu meio aérea.

— Você não está pensando em fazer isso, está? – A presidente não conseguiu conter o tom de choque em suas palavras, sentindo que verdadeiramente iria vomitar se suas suspeitas se confirmassem. O motorista apenas pôde dar de ombros e esperou Kate sair da sala para ir em busca do que tinha pedido. – Oh, céus! Isso é loucura!

— Se não fizermos vai ser pior para ela. – Ele tentou usar a razão, mas Jessica se resignou a escutar e partiu para o lado de fora, tentando fugir daquele ar poluído da sala, que repentinamente pareceu girar aos seus olhos.

Respirou o ar fresco buscando reunir a frieza e tranquilidade de empresária. Quando estava conseguindo acalmar os nervos, praticamente esquecendo o que poderia estar acontecendo na sala, concentrando-se no cheiro de grama molhada e nos mugidos do gado. Um grito estrangulado correu porta a fora, assustando-a. Sem pensar terminou votando para a sala, onde encontrou o motorista se esforçando para segurar Yuri, que se remexeu inquieta no sofá.

— Srta. Jessica – Siwon gritou para que escutasse, pois os gritos de Yuri estavam sobrepondo sua voz. – Nos ajude a segurá-la!

O olhar agitado do motorista parecia lhe implorar por ajuda, então, não tendo muita chance para pensar, acabou seguindo até eles e descobriu o motivo da agitação da morena. Havia uma agulha de costura atravessando a carne da ferida, com uma linha tentando ligá-la de uma ponta a outra. Um calafrio percorreu a espinha ao ver aquela imagem grosseira e forte, contudo sua atenção foi desviada ao escutar outro choramingo de dor. Agarrando suas mãos trêmulas, Siwon a guiou para que segurasse o rosto suado de sua paciente – não deu chance para que escapasse −. Kate havia entrado na empreitada e mantinha as pernas da assassina paradas, enquanto o filho restringia os braços e ombros.

Vendo que poderia seguir em frente, o motorista se voltou para a ferida e logo recomeçou a sutura. Jessica bruscamente desviou o olhar, sentindo naquele momento a mandíbula da morena tencionando com a dor. Ao baixar seus olhos encontrou os orbes escuros e opacos da morena. Lágrimas escorriam, nublando-os, o rosto estava vermelho e suado, seus lábios grossos empalidecido e selados com força para esconder os gritos. Aquilo deveria estar sendo insuportável, mas se admirava por vê-la aguentar com tanta firmeza.

Jessica não soube por quanto tempo Yuri aguentou a dor, até que, durante um momento, ela desmaiou. Siwon tentou fazer algo mais breve e decente, principalmente pelo motivo de não ter dado nada para aliviar a dor da assassina durante a ligadura. Apenas fez o necessário para que não morresse perdendo sangue, manchando o chão da sala.

— Podemos leva-la ao hospital? – Kate verbalizou o pensamento que Jessica tinha em mente e na ponta da língua, direcionando a questão para o motorista, que se ergueu após terminado o serviço.

— Hoje não... Ela está apagada e a linha de costura é muito fina. Se a retirarmos daí agora pode ser que tenhamos de fazer o mesmo trabalho. – Ele respondeu ao suspirar pesadamente, enquanto limpava as mãos numa das vasilhas de água. – Temos que esperá-la ficar mais consciente.

Literalmente o motorista estava lavando as mãos para o problema, depois de ter dado meio que uma solução “tampão” para ela.

— Então isso quer dizer que vão precisar ficar... Ela não parece que irá acordar tão cedo. – Kate comentou ao descruzar os braços e encarar o filho que ainda segurava a morena. – Irei buscar alguns cobertores para ela. A noite aqui é bem fria durante a madrugada.

Falando isso chamou o filho, que estava com o rosto pálido, mas tranquilo demais para ser considerado natural, levando-o para dentro de um quarto. Jessica trocou um rápido olhar com seu motorista, que somente deu de ombros e afirmou que eles não pareciam nenhuma ameaça. Porém, para evitar conflitos ou emboscadas, decidiu se sentar numa cadeira perto do sofá, ficando a postos para qualquer problema.

Poucos minutos depois de ter entrado no quarto, Kate apareceu com as cobertas limpas, colocando-as sobre a morena adormecida em seu sofá.

— Querem jantar? – Ela questionou aos visitantes, virando-se para eles. – Prometo que nenhum de vocês corre perigo aqui... Não queremos mais encrencas.

— Encrencas? – Jessica não se conteve em perguntar.

Para pessoas que moram num rancho afastado da cidade, mesmo acostumados a se deparar com bichos violentos e perigosos, certamente um cadáver na margem do rio deveria ser aterrorizante. Ela própria estava aterrorizada.

Kate não falou imediatamente, a analisando da cabeça aos pés, como se avaliando se deveria mesmo continuar a falar. No final preferiu ser verdadeira.

— Com a milícia. Não é raro encontrar corpos na margem do nosso rio... – Comentou querendo transparecer frieza, porém estremeceu visivelmente, mostrando que as lembranças que assaltavam sua mente eram terríveis. – Eu tento evitar que meu filho veja esse tipo de coisa, mas desde que eles se instalaram na região, não temos mais paz em nossa casa.

— A base deles fica aqui perto? – O motorista perguntou, aproveitando-se do silêncio de sua patroa.

— Não tenho muita certeza, mas há rumores nas propriedades vizinhas de tê-los vistos instalados ao lado sul da floresta, na cobertura mais densa das árvores. – Respondeu a pergunta como pôde. – Ela se encrencou com eles?

Apontou para Yuri, interrogando Jessica que engoliu em seco.

— É complicado, mas podemos dizer que sim... – Disse sem querer comprometer o disfarce da assassina, sendo evasiva.

Kate a encarou com leve desconfiança, mas rapidamente mudou de abordagem, acreditando que quanto menos sabia mais protegidos estavam todos.

— Licença, vou preparar alguma coisa para vocês comer... Creio que estejam famintos.

Jessica pensou rapidamente em negar seu esforço, não querendo ser um incômodo – mais do que estava sendo –, principalmente por não sentir fome, mas se refreou ao ver que ela não queria permanecer mais ali dentro. Buscava uma saída, para quem sabe, pensar melhor no que estava acontecendo. Poderia até estar acostumada com as atrocidades que encontrava no quintal de casa, mas isso não queria dizer que não se importava.

Estando sozinhos, a presidente quebrou a postura pétrea e se aproximou do sofá, observando Yuri, imaginando que tipos de situações ela possa ter enfrentado para chegar ao rancho. Em seu rosto havia muitos cortes e ferimentos, mas o que mais a preocupava era o da barriga, que naquele instante não estava com a melhor das visões.

— Amanhã a levaremos para um hospital... Ela precisa de tratamento médico. – O motorista se ergueu da cadeira depois de recuperar as energias, tinha gastado toda ela para conter Yul enquanto a costurava. – Por enquanto acredito que a senhorita deva se sentar.

Cedeu seu lugar para a patroa, apontando a cadeira. Jessica não relutou porque sentia as pernas bambas, não tinha confiança nesse momento. Aquele dia tinha se tornado em algo completamente inesperado e sem fim. Sentou-se ao agradecer a gentileza do funcionário, mas quase teve uma crise de pânico ao vê-lo se afastar, entrando na cozinha.

— Aonde você vai? – Tentou ir atrás dele, porém seu olhar tranquilizador acabou por colocá-la de volta a cadeira.

— Vou apenas lavar as mãos. Não se preocupe, voltarei em breve.

Disse antes de desaparecer dentro da cozinha, deixando-a sozinha com Yuri, que estava nocauteada. Sendo assim, não tendo outra opção, restou aguardar sua volta. O que aconteceu quase uma hora depois. O motorista apareceu na sala juntamente com a dona da casa, que a convidou para jantar. Sabendo que seria rude negar a hospitalidade, seguiu para a cozinha onde teve um silencioso jantar com a família do rancho.

Assim que as louças estavam lavadas, Kate ofereceu roupas limpas para ela e o motorista, buscando ofertar-lhes conforto. Também disse que poderia usar o quarto de hóspedes caso estivesse cansada, mas Jessica preferiu entregá-lo a Yuri, que ainda estava desmaiada sobre o sofá estreito da sala. Então, com cuidado, Siwon carregou a morena em seus braços para dentro do quarto.

Vendo que tudo estava nos conformes, acreditando que realmente precisava de um banho, Jessica apanhou as roupas oferecidas por Kate e entrou no banheiro.

Tomou um banho rápido, trocou as roupas executivas por uma camisa de flanela quadriculada e calça jeans. As roupas eram de um número um pouco maior que o seu, mas serviriam para o propósito. Não tinha sapatos confortáveis, além de seu salto agulha, o filho de Kate calçava o mesmo número que o seu, então foi oferecido uma bota velha. Olhou-se no espelho e quase não se reconheceu usando as roupas simples, de marcas populares e baratas, o rosto limpo e sem maquiagem.

Seguiu para o quarto e se certificou de cobrir bem a assassina, saiu do quarto a procura de seu motorista e o viu parado na varanda conversando com a dona do rancho. Enquanto se aproximava capturou fragmentos da conversa. Ele fazia perguntas sobre os problemas da região e em como o isolamento os prejudicava. Kate comentou que o cerco da polícia e do exército nas estradas, nos postos policiais, dificultava um pouco a ida para a cidade em busca de suprimentos, levar o filho na escola ou vender sua mercadoria. Mas que, num todo, dava para contornar e tinham tecnicamente uma vida tranquila, desde que não encontrassem corpos boiando no rio.

Jessica estremeceu ao escutar aquilo, pois era uma realidade completamente diferente da sua. Não sabia que a população fora da segurança de Seoul tinham tantos problemas. Era como se estivessem os hostilizando, tratando-os como potenciais criminosos. Aquilo deveria ser terrível. Certamente educar um filho em meio a tudo isso, não deveria ser um trabalho muito fácil.

Quando Siwon a viu se aproximar, logo parou os questionamentos e alertou que iria na cidade mais próxima comprar roupas, medicamentos e coisas do tipo. Teve que pedir emprestada a camionete de Kate emprestada, para manter as aparências, querendo causar menos distúrbio com as autoridades, embora trabalhasse do lado deles. Não encontrando motivos para impedi-lo, a presidente deu sua permissão e o observou se afastar vestido em roupas civis. Sabia que as roupas que ele usava eram do falecido marido de Kate, um ex-fuzileiro naval, que teve de se aposentar da carreira militar ao descobrir uma disritmia cardíaca. De acordo com o que a viúva dissera, ele morrera jovem, deixando-a sozinha com um rancho e um filho de nove anos para cuidar.

— Obrigada por nos hospedar, Sra. Kate. – Jessica agradeceu encabulada por fazê-lo, não estava acostumada a receber tanta gentileza e generosidade.

Kate deu de ombros e abriu um sorriso como quem dizia que aquilo não era nada. Se sentou na cadeira de balanço que rangia a cada balançar, entregando-lhe uma caneca com chocolate quente.

— É para animar o espírito e afugentar o frio da noite... – Falou sorrindo, parecendo brincar com a hesitação da jovem, que um pouco envergonhada aceitou a caneca e tomou um gole da bebida. – Está bom?

— Maravilhoso! – Ela respondeu mais animada, sendo sinceramente agradecida por aquele mimo. O chocolate estava cremoso e aquecia seu corpo que estava ameaçando esfriar por causa do vento. Depois de quase beber todo o conteúdo da caneca, parou para observar a paisagem, contemplando os contornos pálidos revelados pela lua. De longe escutava os barulhos dos animais, das folhas das árvores se movendo ao vento, o chiar dos grilos e a cantoria dos sapos que estavam escondidos na grama. Era um mundo diferente do que estava acostumada, certamente puro, e por muito pouco esqueceu-se do real motivo de estar ali, compartilhando de um momento reflexivo com uma estranha. – Por que você não foi para a cidade depois que seu marido faleceu?

Não conteve a curiosidade. Seus olhos caíram sobre Kate, notando-a refletir durante alguns segundos a pergunta.

— E por que eu trocaria? – Devolveu a questão ao encará-la firmemente. – Aqui é tranquilo, onde criei memórias com meu marido. Por mais que exista a saudade e o choro, sinto que pertenço a esse lugar. – Suspirou audivelmente e deslizou o olhar para frente, voltando a se enclausurar nas reflexões da mente, deixando Jessica cada vez mais interessada com seu depoimento. – Se meu filho quiser sair daqui e ir morar na cidade, não irei impedi-lo, é a vontade dele. Mas para mim, lá – apontou na direção em que acreditava ser da cidade. – não é minha casa. Entende?

— Sim, entendo. – Mentiu para evitar parecer ingênua ou ignorante demais, procurando compreender que tipo de sentimento era esse que a prendia ao rancho. – Você sempre viveu aqui no rancho?

— Oh, não. Na verdade nasci e fui criada na cidade... Foi lá que conheci meu marido. – Outro sorriso pipocou em seu rosto, grande suficiente para enrugar as linhas dos olhos. A memória parecia agradar-lhe. – Eu era filha de donos de uma mercearia do centro... Meus pais queriam que eu me tornasse secretária do dentista da cidade, mas por sorte conheci meu esposo. Ele sempre quis ter um lugar próprio... Um rancho para criar vacas e se sustentar com o cultivo de legumes e da venda do leite. Era um retrógrado na época, mas acabei me apaixonando por ele. – Riu meio sem graça, deu um rápido gole na sua bebida que estava a esfriar e voltou a falar. – No início relutei em vir morar na zona rural, viver entre mosquitos e tirar bosta de vaca do celeiro... Mas ele me ensinou o quanto essa vida era melhor e eu realmente aprendi a amar este lugar como meu.

Amor, então era isso que a mantinha neste lugar com as memórias do passado que teve ao lado do falecido marido. Para Jessica isso não fazia sentido, não se encaixava no seu contexto, mas ao encontrar aquele brilho nos olhos de Kate, pode ver que não precisava entender.

Não era um sentimento racional, tratado com lógica, era algo que deveria ser sentido e não entendido.

 


Notas Finais


Momento propaganda da nova fic: https://spiritfanfics.com/historia/deuses-entre-nos-9718501

Comentários? Até a próxima! ^^


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