História Learn - Diversão em primeiro lugar

Taeyeon tinha o dia atarefado e cheio de problemas para resolver, como tinha todos os dias, mas não foi isso, o pesado fardo do cargo que exercia que a deixou com o humor fechado e irritadiço.

Claro que não descontava suas frustrações em ninguém, raramente perdia a cabeça e se deixava alterar... A não ser nas planilhas. Perdeu até mesmo a conta de quantas vezes precisou refazer o trabalho por ter se desconcentrado e colocado algumas informações erradas. Entretanto, não importando o quanto pudesse esconder seus desalentos, isso não queria dizer que era uma boa companhia naquele momento. Tanto que estava se esquivando propositalmente, de Tiffany para não estressa-la e muito menos envolvê-la em mais dores de cabeça.

Suspirou alto e concertou a postura ao se sentar corretamente na poltrona, tentando diminuir a tensão dos ombros, observando o silencio que dominava a sala. Automaticamente seus olhos caíram sobre um ponto na parede, oposta a sua mesa, conseguindo imaginar a agente Hwang sentada exatamente na sala ao lado. Suas mesas ficavam inversamente viradas às paredes que dividiam seus escritórios e por isso não era difícil pensar na sua figura. Entretanto, sua raiva parecia aumentar ao pensar que ela não estava lá e sim dentro da repartição jurídica na companhia do desagradável Nichkhun. E ainda que evitasse ruminar o assunto espinhoso, não conseguia se controlar ao ponto de não querer que sua amiga desistisse da loucura, que era aceitar os flertes daquele homem.

Desde que haviam sido apresentados, percebia o olhar predador que tinha sobre as mulheres. Além de que Taeyeon sempre foi “sensitiva” sobre as pessoas e quando sentia que algo ruim vinha delas, não fazia a menor questão de ter sua companhia, muito menos forçar amizade. Não era uma pessoa antipática e nada antissocial, apenas preferia ter a companhia de pessoas que geravam confiança e um sentimento agradável de que era bem-vinda. Certamente “fechada” combinava mais com seu estilo.

Sendo assim, com tantos regramentos, logo de cara não gostou daquele cara que era responsável, o intermediário entre a justiça e a Lucius, de cuidar de tais assuntos sobre regularização e permissão legal. Se ele não fosse tão competente em suas avaliações jurídicas, tendo um amplo conhecimento sobre a área, sem dúvidas não o teria contratado.

Agravando mais a situação, que em si não era muito boa, quando soube que ele tinha se aproximado da amiga com outras intensões, não conseguiu ficar quieta e deixar de lado, como normalmente fazia. Não era algo da sua incumbência... Contudo, no momento em que tudo versava sobre Tiffany, as coisas sempre iam para o lado pessoal. Era instintivo desejar protege-la. Aparentemente uma mania que tinha adquirido desde jovem, e simplesmente não desapareceu depois de adulta. E, justamente por tais motivos, que se encontrava daquela maneira, presa numa situação que havia se colocado sem encontrar uma saída satisfatória. Não podia chegar e privá-la de ter uma vida, apenas porque não a agradava. Nada girava ao seu redor.

Tomando suas razões, acabou suspirando derrotada e decidiu que não poderia se desviar do que importava. O trabalho precisava ser feito e somente tinha ela para concluí-lo, sendo assim afastou tais pensamentos que a distraiam com facilidade e voltou a pegar as folhas em cima da mesa.

Aquele era o dia que precisava organizar alguns arquivos e dar baixar em outros, digitaliza-los em seu computador, garantir que tudo estava em seus conformes. Foi assim, enquanto conferia uma lista feita por ela, como um método preventivo para não acumular coisas inúteis e muito menos perder ofícios importantes, que acabou percebendo algo errado. Uma leve discrepância havia sido detectada. Suas sobrancelhas franziram ao passar o olhar pela lista em mão e depois desvia-lo para o monitor, tentando encontrar a motivação para tanta estranheza. Então, daquela maneira mais minuciosa, que finalmente descobriu a fonte de sua repentina inquietação.

Existiam arquivos e pastas que constavam em sua lista, datadas e prontamente anotadas, mas que não apareciam na memória do computador. Intrigada com isso parou um momento para analisar o contexto da questão que apareceu a sua frente, daquele pequeno desafio. Os documentos que estavam em falta eram justamente sobre o maior problema que tinham na empresa, o que basicamente consumia maior parte da verba que recebiam do governo. Alguém, indevidamente, tinha se apossado do material informativo das investigações sobre a guerrilha. Em sua base eram relatórios fiscais, balanços financeiros e fichas de contrato dos agentes que tinham sido avaliados para alcançar a vaga, que nesse instante era ocupada por Yuri.

Quem poderia... – Taeyeon começou a se questionar, entretanto decidiu respirar fundo e pensar melhor com mais profundidade, buscando todas as possibilidades possíveis.

Não tinha como entrar na sala sem ser percebido, principalmente por trancar a porta quando estava fora. Quase não desgrudava a bunda da cadeira, ainda mais quando em horário de trabalho. Havia momentos em que se ausentava para ir ao banheiro e beber água, para executar as necessidades do corpo, que precisava de descanso. Mas num todo, eram momentos tão rápidos, que praticamente não dava chance para alguém entrar sem ser visto. Eunjung teria lhe avisado caso algo diferente acontecesse em sua ausência.

Contudo, por mais que quisesse evitar pensar aquilo, não poderia deixar de levantar a suspeita de que um de seus funcionários havia entrado na sua sala, quebrado a codificação de seu computador, invadido sua segurança e roubado os arquivos, acreditando que não perceberia. O que por muito pouco aconteceu.

Seu corpo estremeceu dos pés a cabeça, só de pensar que sua privacidade tinha sido violada e passou a se sentir insegura dentro do próprio escritório, como se estivesse sendo observada por olhos invisíveis. As paredes repentinamente pareceram criar ouvidos.

Então, tratando de pensar com mais calma, começou a agir.

Sua primeira atitude, antes de qualquer coisa, foi a de avaliar seu sistema a procura de falhas. Se houvesse algum vírus espião ou até mesmo indícios de que fora hackeada de fora, o programa acusaria. Por mais que fizesse anos que não trabalhasse no departamento de inteligência, se utilizou da experiência que tinha com as máquinas, abrindo uma nova codificação que rapidamente escaneou o computador. Graças aquele esforço, recebeu a recompensa ao saber que, embora ninguém tivesse duplicado seu sistema, haviam entrado em sua sala e retirado às informações de maneira manual. Pode até mesmo ver a data do roubo. Praticamente há uma semana aquelas sigilosas informações estavam na posse de uma pessoa desconhecida.

Sentindo-se desafiada pelo desconhecido, que derrotou suas armadilhas de segurança, a loura saiu da sala com pressa e seguiu para o primeiro andar. A secretária do andar lhe dirigiu um olhar gentil, cumprimentando-a com um sorriso, estando acostumada por vê-la ali e não estranhou quando a viu seguir na direção do corredor.

Taeyeon entrou na sala de vigilância com o coração batendo forte, ansiosa demais, e encontrou o segurança do setor, que tomava preguiçosamente sua dose diária de café, tendo o corpo esparramado na cadeira que rangia sob seu corpo pesado.

- Senhorita Kim! – Ao ver que era a baixinha entrava na sala, seu chefe, o homem prontamente largou o café sobre o console, meio estabanado e nervoso com sua presença, por pouco não derramando o café sobre a farda e mesa. Por sorte não provocou um caos do qual teria que limpar.

- Bom dia, Sr. Song... – O cumprimentou com um sorriso maquiado, tentando não transmitir a tensão que a cobria, fingindo fazer uma visita de rotina. – Pode fazer um favor para mim?

- O que desejar Srta. Kim! Estou a sua disposição.

Ele falou solicito e respeitoso, limpando a garganta ao ver que sua voz tinha vacilado, aguardando ansiosamente suas ordens.

- Preciso ver os arquivos de vigilância. – Pediu firme e concisa com o que queria se aproximando do console, os olhos grudados nos monitores, garantindo que as câmeras estavam em perfeitas condições. – Quero ver tudo o que tiver guardado desde o dia três ao quatro desse mês... As quarenta e oito horas completas, se possível.

- S-sim...

O homem estranhou aquele tipo de ordem, pedido certamente incomum, mas ao menos se esforçou para executar o que foi pedido, sem se questionar sobre suas motivações. Se ela estava mandando então deveria obedecer. Sendo assim, abriu o arquivo dos dias exatos e colocou-o para rodar na tela. Escutou-a pedir que focasse o vigésimo andar e foi o que fez, transmitindo tudo desde a madrugada até o período em que novamente se desligavam as luzes e trancavam as portas.

Durante um momento específico da madrugada, das duas às três horas da manhã do dia quatro, um vulto apareceu na imagem após da ultima ronda da segurança, entrando cautelosamente no corredor que dava para os escritórios. Taeyeon estreitou os olhos para aquilo e tentou encontrar detalhes naquela figura estranha, buscando feições e formas que o identificassem, mas não passava de um borrão. E, para surpreendê-la, a hora pulou, desaparecendo com a sombra. Eles retrocederam e procuraram indícios daquela hora perdida, entretanto o arquivo havia praticamente sumido. Por muito pouco, se estivesse desatenta, não teria notado aquele mínimo detalhe, que fez o couro cabeludo pinicar e o estômago gelar. Realmente suas suspeitas estavam corretas.

Um espião havia entrado na Lucius.

- Perdão senhorita, eu não sei como isso aconteceu... – O guarda começou a se desculpar, sentindo suar frio, gaguejando miseravelmente, temendo por seu emprego, por mais que não soubesse o que realmente estava acontecendo.

- Tudo bem, Sr. Song. Deve ter sido um problema na câmera... – Ela abriu um sorriso forçado que foi convincente o suficiente para diminuir o desespero, que cobria as feições do segurança. – Vou mandar um dos rapazes do DIT resolver isso para mim. Muito obrigado pela ajuda.

- Disponha, Srta. Kim. – Ele a saudou nervosamente, respirando mais aliviado por não vê-la irritada e muito menos por tê-lo demitido.

 

*

 

Definitivamente, aquela gravação serviu de prova para que Taeyeon subisse até o ultimo andar. Precisava falar com Jessica sobre o ocorrido, mas não poderia agir de maneira precipitada e acabar alarmando as pessoas erradas. Deveria ser discreta. Acenou com tranquilidade para a secretária da presidente, sorrindo com um misto de simpatia e timidez, como sempre fazia, pedindo que a avisasse de sua chegada.

Quando finalmente pode entrar no escritório presidencial, recebendo o olhar aturdido e curioso da Jung sobre si, apenas se permitiu a fazer um gesto de mão para que ela não falasse nada. Erguendo o indicador na altura dos lábios. Sua atitude a fez franzir as sobrancelhas, enquanto a acompanhava se aproximar.

- Quer almoçar comigo hoje, Sica? – Fez o inesperado convite, girando o olhar ansiosamente pela sala inteira, como se estivesse a procura de algo.

Jessica ficou sem reação perante o estranho pedido e estava prestes a questioná-la sobre a motivação de estar agindo tão diferente do habitual, mas preferiu torcer os lábios e se recostar na poltrona, analisando-a com o olhar. O normal seria ela sair para comer com Tiffany e não aparecer repentinamente em sua sala, com o rosto pálido e ansioso. Parecia que precisava falar algo, porém não o fazia. Entretanto, por mais que desejasse fazer perguntas, apenas balançou positivamente à cabeça.

- Tiffany não pode sair hoje? – Essa ao menos tinha que perguntar e quem sabe descobrir alguma coisa de valor em suas motivações.

- Ela parece que vai sair para almoçar com Nichkhun... – Mesmo que a situação não fosse das melhores para isso, principalmente para falar sobre aquele assunto, o rosto de Taeyeon se contorceu em desagrado pelo que teve de falar. No final das contas aquela era a realidade.

Compreendendo mesmo que pouca coisa da situação, a presidente soltou um murmuro satisfeito e se levantou da poltrona, pronta para sair com a loura.

Sem dar mais explicações, parecendo preferir manter tudo em segredo, Taeyeon esperou que ela pegasse tudo que precisasse para assim poder guia-la com pressa ao elevador. Sentindo-se mais aliviada quando estavam dentro do elevador, pode respirar tranquilamente, sabendo que tinha agido de maneira muito súbita e isso foi perigoso.

- Tem alguma coisa errada? – Jessica questionou ao notar o estresse carregado nas feições suaves da loura.

- Eu vou explicar tudo quando estivermos fora daqui... – Ela deu uma mínima explicação, olhando-a firmemente. – Apenas me deixa respirar um pouco e melhorar minha cara. Estou dando muita mancada.

Resmungou para si, como se repreendesse em voz alta, fazendo a com que Jessica estranhasse sua atitude. Era tão estranho vê-la daquela maneira, que começou a ficar nervosa contra sua vontade. Mesmo sentindo-se assim, permitiu que ela tomasse seu tempo, como havia pedido e aguardou o momento em que estivesse capaz de explicar qualquer coisa. Ao poucos viu que seu semblante mudava e se tonava mais calmo, menos tempestuoso. As bochechas chegaram a tomar mais cor, embora os lábios permanecessem numa linha tensa e firme, levemente pálidos.

- Melhor agora? – Tocou em seu ombro para chamar a atenção, tentando não ficar ansiosa com tanto mistério.

- Sim, obrigada.

Sorrira para outra camaradamente, embora a loura estivesse visivelmente agradecida por ela ter respeitado seu pedido. Só então, depois de colocar os pensamentos em rodem, conseguiu perceber que o elevador começava a diminuir de velocidade. Seu olhar imediatamente voou para o visor e viu que estavam parando no décimo andar. Seu estômago revirou ao saber que estavam dando uma pausa na repartição jurídica.

Antes que pudesse ter tempo de se recompor, as portas se abriram. Para infelicidade de ambas, claro que de maneira diferente, se depararam com um trio que conversava animadamente.

- Oh! – Yuri ofegou em surpresa por encontrar duas figuras que, praticamente, não esbarrava nos corredores da empresa. – Srta. Presidente... Taeyeon... - Cumprimentou as duas com um breve sorriso, enquanto entrava no elevador, olhando pelo ombro o casal que a seguia.

Tiffany franziu o cenho quando escutou aqueles nomes, virando-se imediatamente par olhá-las, curiosa demais para permanecer atenta ao que seu acompanhante falava. Sentiu o sangue instantaneamente entrar em combustão, os olhos queimando em raiva, ao ver que a colega de apartamento estava na companhia da amiga, que tinha uma mão posicionada em seu ombro. Não era o tipo de interação que esperava ter encontrado, sentindo-se desgostosa por isso.

Percebendo para onde estava direcionado aquele olhar, Jessica retraiu a mão, sabendo que mais tarde seria questionada pela agente e procurou ignorar o arrepio que subiu a espinha por se encontrar no mesmo ambiente que a assassina.

Diferente dela, Taeyeon não conseguiu evitar revirar os olhos, sentindo-se incomodada ao ver que Nichkhun acompanhava as duas mulheres e seria obrigada a dividir espaço com ele. Um sabor amargo dominou a boca e por pouco não contorceu a cara. Pelo menos agiria como uma adulta e guardaria seus desagrados para si. Mais tarde teria tempo de expressar seu descontento no trabalho. Havia outro problema para resolver, que era um pouco mais importante que isso. Dessa forma, se afastou para mais ao fundo saindo do caminho dos três, encostando-se à parede e tentou parecer invisível pelo resto do caminho, enquanto o elevador descia para o saguão.

Jessica instintivamente acompanhou os passos da loura e abriu um sorriso forçado para o casal a sua frente, que a cumprimentou sorridente. Não tinha nada contra os dois estarem se envolvendo, porém não conseguia se sentir verdadeiramente alegre. Estava sendo afetada pelo ambiente e finalmente percebia que era altamente influenciável por ele. A única que parecia se divertir com tudo, tendo que conter as risadas que estremeciam seu peito, era Yuri. Ela simplesmente se postou num canto não muito perto da presidente, para então poder observar aquela interação de um bom ângulo.

- Indo almoçar com a Jess? – Tiffany questionou Taeyeon, não contendo a curiosidade por muito tempo.

Tinha notado o tom estressado e ansioso, percebendo que seus lábios rosados estavam fortemente prensados, mas acreditou que isso fosse mais um de seus ataques possessivos por aparecer na companhia de Nichkhun.

- Sim, pedi com que Sica me acompanhasse hoje... – Respondeu da maneira mais amigável que pode, evitando desviar o olhar sobre a figura de Nichkhun, que sabia estar as observando. – Não queria comer sozinha.

Comentou duramente como uma crítica ácida disfarçada, moldando os lábios tensos num sorriso carregado de ironia, que fez o semblante da Hwang estremecer acabando por franzir minimamente o nariz.

- Ótimo. – Cuspiu irritada, retrucando-a.

Depois disso não quis mais continuar a conversa, deixando Taeyeon indignada, e se dirigiu ao o rapaz alto e bonito, que simplesmente não se importava ou nem mesmo percebia em como a situação estava tomando proporções alarmantes. Sabendo que a colega de apartamento a observava, encontrando uma oportunidade para provoca-la, se inclinou mais na direção dele, como se tivesse segredando algo. O sangue subiu a cabeça da loura, fervendo em ira, mas preferiu voltar a crispar os lábios e desviar o olhar, mantendo-se quieta no canto como sempre fazia.

Para o alívio de Jessica, que simplesmente não suportava aquela situação exasperante, o elevador finalmente alcançou seu destino final, jogando-os para fora dele. Sem dizer muita coisa, limitando-se a se despedir delas, Tiffany seguiu para o lado de fora com Nichkhun, que ofereceu seu braço para guia-la, abusando de seu cavalheirismo.

- Não vai acompanha-los? – A presidente pela primeira vez se dirigiu a Yuri, pegando-a desprevenida pela maneira repentina em como se referiu.

 Vendo que seu semblante era de completo desagrado, se limitou a um dar de ombros em resposta. Se a curiosidade não tivesse a tomado naquele momento, provavelmente teria a ignorado, como sempre fazia.

- Está brincando? Eu que não quero ficar no meio daqueles dois... – Suspirou derrotada, apontando vagamente para o casal que alcançava a porta e se virou para a Kim, que elevou uma sobrancelha ao questioná-la em silencio. – Acho que lhe devo desculpas. A culpa foi minha. Eu praticamente a incentivei a se jogar nos braços daquele imbecil.

Desculpou-se sem jeito, passando as mãos pelo cabelo longo e escuro, jogando-o sobre o ombro de maneira nervosa. Parecia visivelmente arrependida da conversa que teve naquela manhã, onde entrou na sala da Hwang, incentivando-a a tentar se aproximar do rapaz.

- Você não gosta dele também? – Taeyeon ficou na dúvida, porém, ao perceber seu olhar desconfortável, soube que estava sendo sincera. O que a deixou confusa.

- Sim... – Concordou ao colocar as mãos atrás das costas, balançando-se inquietamente pelos calcanhares. – Tem alguma coisa nele que não cheira bem.

Ela não estava se referindo ao sentido literal, porque o rapaz tinha a figura perfeita. Usava bom perfume, se vestia a caráter, comportadamente com aquela camisa engomada e sapatos sociais, além de ter um sorriso polido no rosto. Contudo, quando Tiffany o apresentou naquele início de tarde, uma sensação inquietante a abordou e não soube do que se tratava. O rosto de Nichkhun lhe parecia ser conhecido... Porém, esse sentimento de reconhecimento foi tão breve, que imediatamente descartou aquele pensamento. Tinha boa memória e saberia reconhece-lo se tivessem se encontrado antes. Mas isso não quis dizer que se tornaria amiga dele ou permaneceria em sua presença se estivessem sozinhos. Seus instintos tinham sido alertados e eles diziam para se afastar.

Escutar sua admissão pegou a loura de surpresa, fazendo com que uma onda de alívio percorresse seu corpo, deixando-a menos tensa diante de Yuri. Ficava feliz por saber que não era a única pessoa dentro daquela empresa a se sentir receosa com a presença dele. Ao menos teve um vislumbre de sua sensatez, por mais que isso não valesse entregar sua confiança. Vendo que não tinha muito tempo para pensar, principalmente por sentir que Jessica estava perdendo a paciência, tomou uma decisão rápida.

- Você quer se juntar a mim e Sica? – Questionou a morena, que devolveu seu olhar com estranheza.

Contrariando seu tom amigável, Jessica lançou sobre a baixinha um olhar cortante, como se pudesse mata-la naquele momento. Não queria a companhia daquela mulher, ainda mais durante seu descanso, onde poderia ser ela mesma sem se preocupar com a postura de empresária bem sucedida.

- Acredito que não seja uma boa ideia. – Yuri imediatamente recusou a oferta, vendo o incomodo que causava na Jung, por mais que isso lhe agradasse. Se poderia importuná-la somente com a presença significava que poderia brincar. Entretanto, tinha que manter o emprego, então se segurou a tempo para não sorrir debochadamente por mais que quisesse fazê-lo.

- Na verdade Yul – Taeyeon não aceitou sua rejeição e agarrou seu braço, parecendo decidida a trazê-la consigo. – acredito que devo insistir que venha.

E com isso saiu arrastando-a para fora, tendo que parar no meio do caminho ao ver que Jessica se recusava a dar um passo a mais, congelando no saguão da própria empresa, como uma garotinha mimada contrariada.

Revirando os olhos com impaciência para tanta teimosia e relutância, a mais velha agarrou a mão da presidente e também a levou consigo.

 

*

 

O restaurante não estava muito cheio e combinava perfeitamente com o verdadeiro propósito de Taeyeon. Sentada numa mesa afastada dos outros clientes, mantendo a parcialidade e neutralidade daquele encontro, incentivou as suas acompanhantes que se sentassem a mesa, enquanto chamava um dos atendentes.

Resignada com tudo, desgostosa por estar fazendo algo na presença irritante da morena, Jessica pegou o cardápio que o garçom havia oferecido, escolhendo a primeira coisa que agradou o seu gosto.

Aproveitando que as outras duas ainda estavam estrangulando para escolher o que iriam comer, pegou o celular da bolsa e viu que Tiffany havia mandado mensagens. Pelo tom nada intenso que usava nas palavras, por mais que tentasse esconder a indignação, ela a questionava de suas verdadeiras motivações em ter aceitado um convite de Taeyeon para almoçar. Quando isso jamais foi de seu feitio. Revirou os olhos ao perceber que não gostava de ficar no meio das duas garotas e de suas brigas, mesmo que fosse amiga de ambas.

Sentindo uma leve pontada diabólica surgir em suas ideias, acreditou que não seria nada mal provocar um pouco da ira da egoísta Hwang, que monopolizava a Kim para seu bel prazer.

“Porque eu quis sair e ponto final. Não é da sua conta o que faço ou deixo de fazer... Taeyeon também é minha amiga!”

Mandou a mensagem com aquele tom de indignação e rispidez, para, quem sabe, sua amiga tomasse noção do quanto se tornava manipuladora quando se tratava das pessoas que amava. Não havia necessidade de sondá-la, principalmente quando estava em sua companhia. Segundos depois que enviou sua mensagem, a resposta chegou e não foi apenas uma, seu celular começou a vibrar loucamente em sua mão, mostrando que tinha se saído bem ao provocar a fera. Com certeza tinha mais do que irritado Tiffany.

A vontade de rir que cresceu em seu peito foi incontrolável, tanto que não impediu os seus lábios de se curvarem para cima. Definitivamente estava agindo como uma adolescente imatura, mas não estava ligando para isso. Sendo assim, satisfeita, ignorou o celular sem responder à amiga e agradeceu ao fato de que, enquanto estava distraída, o garçom tinha trazido água.

Pegou o copo e bebericou um pouco da água, percebendo que tinha sede, além de fome e ergueu o olhar. Encontrou-se totalmente travada, sem ações, quando seus olhos se chocaram com os de Yuri.

Como tinha sido pega desprevenida, acabou reagindo de maneira involuntária, piscando várias vezes, sentindo-se intimidada pela intensidade que cobria seus orbes negros. Por muito pouco, se não tivesse lembrado de respirar corretamente, teria engasgado e espirrado água por todos os lados. Contudo, o mais estranho daquilo foi notar um sentimento inusitado em seu olhar, do qual não fazia ideia do que poderia se tratar.

Apesar disso, Yuri sorriu minimamente para Jessica, não por achar sua reação engraçada, mas sim por encontrar-se surpreendida. Tinha visto seu sorriso. Um sorriso tão natural e bonito, que simplesmente não conseguiu desgrudar os olhos, como se tivesse procurando garantias de que realmente havia visto aquilo. Mesmo assim, por mais que tenha gostado de ver um lado diferente da gélida mulher, preferiu desviar o olhar, fingindo que nada havia acontecido. Passou a mão pelo cabelo como se tentando evitar pensar no assunto, afastando pensamentos desnecessários.

Por fora de tudo o que acontecia na mesa, enclausurada em suas próprias preocupações, Taeyeon, depois que garantiu de observar e garantir que nenhum rosto conhecido estava por perto se voltou para as duas acompanhantes e suspirou pesadamente. Isso chamou a atenção das duas.

- O que você queria falar antes, Taeyeon? – Jessica acordou de seu momento de vulnerabilidade e respirou mais tranquilamente, sabendo que se voltasse a vestir sua mascara da arrogância, poderia evitar mais situações como a de antes.

- Antes que eu conte... – A loura se inclinou na mesa, apoiando os braços sobre ela, dividindo o olhar para as duas mulheres. – Preciso que prometam para mim, de que tudo o que eu falar aqui... Vai morrer aqui.

Jessica franziu o cenho em dúvida, sendo provocada por suas palavras. Mas, de qualquer maneira, sem pensar duas vezes - confiava na amiga -, fez sua promessa e aguardou que Yuri fizesse o mesmo. Embora relutante, a morena concordou com o pedido, mostrando-se curiosa demais para se manter fora da conversa.

- Ótimo. – Taeyeon suspirou satisfeita e logo decidiu que iria direto ao assunto. Era uma pessoa pragmática. – Eu descobri algo muito importante essa manhã, justamente quando fazia o balanço de alguns arquivos em meu computador... – Observou o semblante da presidente, que permanecia franzido e duvidoso. – Descobri que havia algumas coisas fora de ordem. Em especial, pastas e arquivos que continham informações confidenciais sobre o caso da guerrilha.

- Como assim? – Jessica se pronunciou, não conseguindo segurar mais a curiosidade. Estava intrigada com o fato de que sua administradora parecia tensa e enérgica enquanto falava.

- Alguém entrou na minha sala sem permissão, durante a madrugada, e baixou esses arquivos sem que eu percebesse. – Voltou a se jogar contra a cadeira, cruzando os braços, deslizando o olhar pelo espaço grandioso da mesa. – Primeiro acreditei que fosse alguma falha do sistema, mas eu mesma criei um tipo de “código de resgate” para evitar problemas como a perca de arquivos. Só que não houve falha... O sistema está operando com perfeição. – Contou brevemente, resumindo suas dúvidas passadas, vendo que a novata parecia compreender do que falava. A morena acabou lembrando o caso passado em que ajudou Marshall com aquele tipo de backup automático de arquivos. – Então, antes que fosse até você, fui até a estação de monitoramento olhar as câmeras de segurança... E lá acabei confirmando minhas dúvidas.

- Você viu alguém entrar no seu escritório... – Yuri afirmou e recebeu a confirmação de Taeyeon, que balançou a cabeça positivamente.

- Tudo aconteceu durante a madrugada... Essa pessoa foi esperta o suficiente para apagar a memória e vestígios de sua passagem nas câmeras, mas não restam dúvidas. – Mexeu a mão pelo ar, enquanto contava o que havia presenciado.

- Então está me dizendo que alguém conseguiu invadir a segurança da minha empresa? – A Jung dessa vez pareceu furiosa. Se um desconhecido tinha conseguido penetrar a segurança da empresa, aquela que tanto presava, certamente merecia uma atenção especial e uma mudança drástica no setor defasado.

- Não um “alguém” qualquer, Sica. – A Kim não queria parecer uma desconfiada e muito menos descrente, mas precisou falar a realidade. – Nós temos um traidor entre nós... Um de nossos empregados, uma pessoa que tem as informações certas e precisas, decidiu nos trair.

- Você está se referindo a espionagem industrial? – A morena fez sua indagação assim que teve a chance.

- Não acredito que seja industrial... – Taeyeon discordou, começando a se sentir mais animada com a conversa, e voltou a se inclinar sobre a mesa. – Os arquivos roubados foram muitos específicos, que não é do conhecimento de todos. Somente um grupo muito seleto da Lucius e do governo sabem da operação. Consigo contar nos dedos quem são elas.

- Talvez alguém do governo queira essa informação e enviou uma pessoa para se infiltrar na empresa e roubar seus arquivos durante a madrugada... – Jessica tentou convencer as duas, não gostando do rumo em que a conversa estava enveredando.

Só de imaginar que uma pessoa... Um de seus empregados estava envolvido nesse problema... Seria um baque terrível ao seu orgulho e confiança. Sempre acreditou na credibilidade e na inocência deles. Por isso que receber uma notícia dessas era difícil de engolir.

- Concordo com você até certo ponto, Srta. Jessica. – Yuri deu seu palpite ao entrar na conversa, chamando o olhar da presidente, que a encarou com desconfiança, mas deixou que continuasse. – Pode ser que o governo esteja de olho na empresa, mas não acredito que eles tenham contratado uma pessoa para roubar documentos numa noite apenas. – A Jung contorceu minimamente os lábios, não sabia se por irritação ou deixando-se creditar por sua explicação. De qualquer maneira ela tomou sua atitude como um incentivo para continuar a falar. Sendo assim virou o olhar para a loura, que a observava em silencio, atenta em suas palavras. – Você tem razão, Taeyeon... Pela minha experiência com espionagem, sei perceber quando existe uma maquinação por trás de tudo. Alguém de dentro da empresa está fazendo isso ou pode muito bem estar financiando esse tipo de acesso fácil. – Coçou o queixo de maneira pensativa, desviando o olhar para mesa. – De qualquer maneira, qual é a sua ideia para reverter isso?

A pergunta de Yuri foi totalmente direcionada a Jessica, que simplesmente se manteve quieta em seu lugar, hirta como uma estátua. Não sabia o que pensar, muito menos que atitude tomar. Tudo o que mais queria era que jamais isso tivesse acontecido. Apenas de saber que um deles, dos seus empregados, pode ser um traidor, fazia com que uma onda elétrica percorresse a coluna. Sabia que quando chegasse à Lucius não se sentiria mais segura como antes e desconfiaria até mesmo dos cantos mais escuros nas paredes. Como se olhos a acompanhasse por todos os lugares.

- Jessica pode estar um pouco abalada sobre isso... Por isso eu tenho uma proposta. – Taeyeon disse ao perceber que a amiga não conseguia se expressar. Com certeza deveria estar chocada demais para raciocinar com calma. A morena apenas a olhou, aguardando que seguisse em frente. Vendo que Jessica concordou com isso, tomou fôlego para continuar. – O que proponho é: uma investigação em segredo. – Parou de falar quando o atendente chegou com seu almoço, do qual havia esquecido por estar focada demais em relatar sobre a preocupante situação. Assim que novamente estavam somente elas, decidiu retomar o assunto. – Eu posso ajudar com o sistema, criar armadilhas e mais segurança caso o espião volte a agir, mas o resto, o de conduzir uma investigação é algo que outra pessoa necessita fazer por mim. – Tomou um longo gole da sua coca, sentindo-a descer com mais facilidade, começando a sentir fome. Estava mais aliviada por contar tudo que a estrangulou durante esse tempo. Seus olhos caíram sobre Yuri que despreocupadamente começava sua refeição, enquanto mostrava-se atenta ao que falava. Definitivamente ela era uma pessoa experiente com esse tipo de problemática. – Tiffany poderia fazer essa parte para mim, mas...

- Ela se envolveu com aquele cara e você não quer arriscar nada. – A morena concluiu e parou um instante de comer, desviando o olhar até Jessica, que permanecia quieta em seu lugar. – Coma alguma coisa, Srta. Jessica... Não deixe isso te abalar agora.

Falou com um meio sorriso crescendo no rosto tranquilo, empurrando o prato ela havia pedido na sua direção, estimulando a reagir de uma maneira mais controlada. Conseguia reconhecer a preocupação e o medo em seus olhos amendoados, mesmo que tentasse camufla-los com indiferença.

Jessica tomou sua atitude como um gesto de impertinência, fazendo-a crispar os lábios em desagrado. Portanto, preferindo demonstrar-se superior e nem um pouco afetada com isso. Tocou nos talheres e começou a cutucar a comida em seu prato, sentindo o estômago revirar revoltado. Não tinha mais apetite para nada. Mesmo assim, tentando mostrar que conseguia ser forte, se obrigou a comer, por mais que a comida descesse como um bolo grudento e inchado. Nem sabor tinha.

- Taeyeon, - Yuri chamou a loura que subiu o olhar do prato para si, erguendo uma de suas sobrancelhas. – sei que não sou uma pessoa confiável... Na verdade, devo estar na lista de suspeitos... Mas, se me permite, posso guiar as investigações.

Ofereceu-se sem muita resistência, pegando-a desprevenida com tamanha sinceridade em suas palavras. Jessica, que escutava tudo com muita atenção, parou instantaneamente de comer para olhá-la. Encarou-a de uma maneira estranha, como se estivesse diante de um alienígena. Entretanto, ignorando tanta esquisitice, a morena abriu mais um de seus sorrisos confiantes e arrogantes.

- Não precisa me olhar assim, prometo que vou me comportar e reportar qualquer coisa a vocês, não importando se é uma idiotice ou algo de valor. – Tentou convencê-las, abusando de suas qualidades profissionais e do papo charmoso. – Se aceitarem minha sugestão, tenho certeza de que podemos resolver esse problema o mais rápido possível.

- E por que você quer participar disso tudo? – Jessica indagou quando viu que Taeyeon não o faria.

- Porque se isso continuar... Se não encontrarem o espião... Vocês terão que cancelar a missão da qual fui contratada e no final de tudo não terei minha recompensa milionária. – Seu sorriso cresceu ainda mais ao ver a cara de indignação que ela fez, parecendo profundamente irritada com o que havia dito.

De qualquer maneira manteve o olhar, apoiando o queixo nas mãos e o braço sobre a mesa, aguardando sua resposta.

- Você é uma mercenária filha da puta mesmo! – A Jung finalmente explodiu, quase perdendo a compostura, os olhos terminando por ficar inflamados. Não conseguiu deixar de fita-la por um segundo sequer, lendo aqueles orbes negros que pareciam se divertir. O sorriso que havia aberto em seu rosto apenas piorava a situação, acrescentando mais lenha na fogueira. – Como pode somente pensar em dinheiro diante de uma situação dessas? Sua aproveitadora do caralho!

- Jessica! Já chega! – Taeyeon interviu antes que a visse perder o controle. Quando a presidente começava a xingar, significava que havia chegado ao seu limite e qualquer coisa, até mesmo o vento, poderia provocar uma reação nervosa incontrolável. – Apenas não peca o foco, está bem?

Alertou-a dos perigos em continuar a se exaltar, principalmente em público. Para sorte delas o restaurante era barulhento o suficiente, cobrindo suas vozes, permitindo que tudo continuasse privado.

Inconsolada com o que havia escutado, do desrespeito da assassina, Jessica mordeu os lábios com força e respirou fundo, retraindo todo o ardor provocado pelo sorriso da morena e se recostou na cadeira, jogando a responsabilidade sobre sua administradora. Ela não conseguia acreditar que havia cogitado, por um momento, que Yuri poderia realmente ser uma mulher de bom caráter e que estaria disposta a tomar aquele problema em suas mãos por compaixão. Por se compadecer com suas preocupações e receios. Ah. Como estava enganada.

Mantendo-se inexpressiva diante de seu momento de fúria, Yuri permaneceu calada em seu canto e desencostou da mesa, sabendo que ainda tinha o olhar furioso da Jung sobre si. Por mais que fosse perigoso continuar a irritá-la daquela maneira, tomando uma decisão bastante descuidada e preocupante, acabando por fazer aquilo. Sim, ela poderia ter razão de chama-la de uma mercenária, até porque era sua profissão. Mas, no final das contas, não era tão aproveitadora quanto pensava. Sabia que se a provocasse, usando de seu trabalho e das comodidades proporcionadas, conseguiria tirá-la daquela letargia. Uma Jessica irritada era mais produtiva que uma amedrontada. Havia percebido isso no primeiro encontro, no dia em que assinou o contrato. Se ela perdia o controle da situação, deixava-se entregar ao medo, o que em sua profissão era algo que não poderia acontecer. Por isso, pensando daquela maneira, decidiu fazer tal jogada. Era bom saber que havia dado certo, tanto que a observava devorar o prato de comida, deixando-a menos tensa. Odiava ver o desperdício de comida...

- Yul – a voz tranquila e adocicada de Taeyeon chegou a seus ouvidos, acordando-a de seus devaneios. Desviou o olhar da presidente, focando-se na figura delicada e agitada da loura, que lhe sorriu minimamente. – preciso saber o que você tem em mente. Quais são suas ideias para podermos pegar esse espião e nos proteger de qualquer problema? – Pediu com o semblante gradativamente tornando-se mais sério. – Não tenho nem mesmo confiança de falar sobre alguma coisa dentro do meu escritório. Essa pessoa pode estar nos grampeando e recebendo informações até agora.

 Frustrada soltou o ar dos pulmões, suspirando pesadamente com o fato de não ter conseguido uma solução, apenas aumentado os problemas. Contudo, parecia disposta a escutar a opinião de uma profissional.

- Hum, sobre isso, acredito que ele possa ter realmente colocado uma escuta ou até mesmo duplicado seu computador... – Yuri voltou a comer e maquinou as possibilidades que poderia alcançar para solucionar o problema. Aos poucos sua cabeça começava a clarear e as ideias começaram a surgir, tanto que sorriu satisfeita. – Se eu estiver dentro do esquema, posso, assim que estivermos de volta, dar uma olhada no seu escritório, da Srta. Jessica e da Tiffany, só por precaução. – Palpitou e direcionou o olhar até a mais velha, que esperou sua conclusão. – Você tem o mesmo código de proteção nos computadores delas?

- Sim.

- Então você deve verificar se alguém entrou nos computadores, enquanto eu verifico as salas... – Desviou o olhar para Jessica, que tinha voltado a se concentrar na conversa. O prato dessa vez estava vazio, totalmente limpo, o que a fez sorrir mais ainda. – Se estivermos de acordo, a Srta. Jessica poderia distrair Tiffany enquanto nós fazemos a varredura no escritório dela.

- Por que esconder tudo da Fany? Ela não vai gostar nada disso, principalmente se acabar descobrindo. – Jessica tomou partido da conversa, desagradada com a ideia de esconder aquela operação, mantendo-a pelas costas da amiga.

- Porque ela é quem conduzirá a investigação oficial. – Yuri concluiu seus pensamentos.

A Jung franziu a sobrancelha confusa com o que havia escutado e justamente quando pensou em questioná-la, se viu impedida pela risada de Taeyeon. Ela parecia animada, excitada com algo e teve como companhia o sorriso arrogante da morena.

- Você é mesmo uma filha da puta! – A loura soltou mais uma gargalhada, antes de retornar a conversa. Seus olhos castanhos estavam cintilando. – Eu não teria como pensar numa coisa dessas... Certamente isso vai confundir o desgraçado!

- Vocês, por favor, podem compartilhar o que eu perdi? – Jessica disse exasperada, cada vez mais confusa. Não tinha compreendido nada. No entanto, logo tudo se clareou com a explicação de Taeyeon, que não perdia o sorriso no rosto.

- É bem simples, Sica. A ideia da Yul é de confundir o espião... – Ergueu dois dedos no ar e voltou às explicações. – Haverá uma investigação oficial, que será comandada por Tiffany e outra por debaixo dos panos, que ficará a encargo da Yul. – Disse tranquilamente, começando a visualizar os pontos em que poderiam criar situações para provocar o espião, fazendo-o cair numa cilada. – Vou dizer a Tiffany que tem alguém roubando nossos arquivos e esse alguém será de fora. Ela certamente vai aumentar a segurança e começar a encurralar o espião... Então é aí que entra o papel da Yul. O espião vai tentar apagar seus rastros, antes que percebam que é alguém de dentro da Lucius. E será nesse momento que ela irá pegá-lo e descobrir sua identidade. – Bufou satisfeita. – Bem simples, não?

Jessica olhou para Yuri e parou um instante para pensar se deveria ou não entregar aquela responsabilidade a ela. Mas, ver que em tão pouco tempo de conversa tinham progredido, chegando de fato a alcançar uma solução, sentia-se levemente inclinada a aceitar de imediato sua ideia. Entretanto, por causa daquele momento de antes, da raiva que ainda queimava em seu corpo, decidiu dar de ombros e manter uma expressão mais fria.

- Se você diz. – Resmungou pouco a vontade e encostando-se as costas da cadeira.

Naquele momento tinha entregado a decisão para Taeyeon. Se quisesse apostar na ideia da morena, iniciar aquela operação maluca, que ficasse ao seu critério.