História Trono de Sangue - O melhor amigo

Rosie nunca gostou daquele lugar, as tapeçarias caras não tornavam o grande salão aconchegante. E mesmo a cor - um bege estranhamente vivo - não ajudava a tornar o local acolhedor.

Algumas vezes quando mais jovem Rosie se pegou pensando que seria mais feliz se morasse em uma pequena casa, onde todos se amavam - ao contrário da corte, onde a traição reinava soberana -, onde não houvesse muito espaço, mas sobrasse calor humano, um lugar para chamar de lar. Onde no jantar fosse discutido o dia e não o destino de um país.

Ela queria ter nascido em uma família normal. Queria ter nascido plebéia, uma garota comum, que não tivesse aulas sobre política todo maldito dia; uma garota que não passasse os dias fazendo aulas dos mais diversos estilos de luta; uma garota que não conseguisse derrubar alguém com o triplo da sua altura. Rosie só queria ser normal. Queria que seu maior problema fosse o cabelo emaranhado pela manhã ou as unhas lascadas em um dia importante. Mas ela era uma princesa, sucessora de dois reis. Rosie talvez um dia viesse a governar duas grandes nações. Ela queria ser normal, mas não podia, e sabia disso.

Sempre haveria alguém para banhar-lhe, vestir-lhe e paparicá-lá. Sempre haveria guardas para garantir sua segurança, e ela sempre se sentiria vazia, mesmo tendo tudo, porque não era amada.

Rosie parou em frente ao salão principal, tomando fôlego para encarar a ira de sua prima novamente. O mordomo a viu, sorriu desejando-lhe boa noite e entrou no salão para anunciá-la.

- Princesa Rosalie - anunciou em alto e bom som, todos os olhos voltaram-se para ela.

Era impossível não olha-lá onde quer que fosse, a princesa era dona de uma beleza ímpar, quase magnética. Todos se encantavam com ela, homens, mulheres e crianças, todos a amavam. Até mesmo o rei era encantado com sua beleza.

Todos os homens queriam possuí-la e todas as mulheres queriam sê-la. Clichê? Talvez, mas nada definiria melhor sua situação. Todos queriam sê-la ou tê-la, exceto ela mesma.

Príncipe Daniel a encarou, ele tinha plena consciência de que Mary sabia dos dois, mesmo assim, lançou-lhe um olhar sugestivo. O estômago de Rosie se revirou, vendo pela primeira vez, o quão baixo Dan - para os íntimos - era. Ela precisou se controlar para não vomitar ali, respirou fundo e voltou-se para sua família:

- Boa noite mamãe e papai, é uma bela noite, não? - forçou-se a sorrir.

- Sim querida, uma bela noite - seu pai sorriu.

- O que houve com seu vestido? - a mãe perguntou.

- Eu hã - talvez uma meia verdade bastasse, pensou a garota -, caí nas flores, me desculpe, deveria ter ido me trocar.

- Não tem problema meu amor, só queria saber se estava bem.

- Eu estou ótima mamãe.

- Tem certeza? - a mulher franziu a sobrancelhas - O que houve com seu rosto?

- Devo ter me arranhado quando caí - a mulher sabia que ela estava mentindo, mas preferiu não tocar mais no assunto. Rosie sorriu ao ver seu melhor amigo - Diego, eu preciso falar com você.

Diego era seu primo, e melhor amigo desde sempre. A pessoa favorita de Rosalie em todo mundo. Ela contava tudo a ele e vice versa. Rosie era a única pessoa em que Diwa (n/a: pronúncia-se Diuá. Ps: personagem em homenagem ao meu querido amigo Diego, amo você viado💙) - como Rosie o chamava, uma mistura de seu nome e sobrenome - confiara seu maior segredo: a preferência por companhias masculinas. E Rosie o seu a ele: a virtude corrompida - um segredo nem tão secreto, mais ainda assim seu maior segredo.

Diego era um príncipe pouco mais velho que Rosie, dono de uma beleza singular, que passava seus dias ao lado da princesa e dos guardas do palácio.

O jantar segui em silêncio, sendo ouvido apenas o som dos talheres batendo na louça. Ao fim, Rosie apressou-se em ir aos seus aposentos ao lado de Diego.

- O que houve? - Diego perguntou se jogando na cama King Size com lençóis brancos.

- Eu transei com o Dan - disse de uma vez.

- Dan o guarda gostoso da ala leste?

- Não Diwa. Dan o noivo de Mary.

- Você o quê? - berrou Diwa.

- Eu transei com o Dan, noivo de Mary - repetiu, ela respirou fundo e continuou: - E ela sabe.

- Deus do céu. Você tem noção do quão insensato isso foi?

- Foi na festa de aniversário do meu pai há três meses. Eu estava completamente bêbada, e talvez um pouco drogada. Eu não estava raciocinando direito, eu mal me lembro da noite. Só me lembro de sorrir para ele, depois eu acordei nua em seus aposentos. Eu não te disse antes porque estava envergonhada de mais.

- Olha, foi algo irresponsável. Mas o Dan é um pedaço do inferno. Com aqueles olhos pretos e o sorriso… Eu queria ser você, sua puta. Ele é quente, tá na cara, e mal caráter, o que o deixa ainda mais gostoso. Ele é noivo de Mary, o que devo admitir, deixa tudo ainda mais excitante, mas isso pode lhe custar a cabeça Rosie.

- Eu sei, eu sei. Foi uma péssima decisão, mas enquanto não for rainha, Mary não poderá fazer nada - ela mordeu o lábio, ponderando se devia contar sobre Conde James - Diwa, eu falei com James hoje.

- E como você está?

- Eu estou bem. É só que ele disse algo…

- Ele te magoou novamente?

- Não, não é isso. Ele disse que se eu quisesse poderia pedir a coroa, só precisaria de um motivo aceitável.

- E você pensou na hipótese.

- É, seria impossível não pensar - Rosie estava apreensiva, pedir a coroa era um golpe, se Mary descobrisse pediria-lhe a cabeça.

- Estamos falando sobre um golpe de Estado. Quem mais sabe sobre isso?

- Ninguém, e eu sinto muito por te envolver nisso. Mary está irada, dessa vez ela não vai me perdoar, e a única forma de me proteger é garantir que ela não poderá pedir minha cabeça. Mary é instável quando magoada, se ela se tornar rainha me matará ao menor deslize.

- Mary é vingativa, mas vocês são como irmãs. Ela não pediria sua cabeça.

O príncipe achava que Rosie estava enlouquecendo, ele conhecia Mary, sabia que a futura rainha guardava rancor, mas pedir a cabeça de Rosie… Ele não podia acreditar que a garota com quem crescera era tão cruel. Rosie havia sido melhor que Mary em tudo, dança; canto; luta; política; história; química; física; artes; línguas; filosofia e todas as outras coisas. Sempre fora melhor que Mary, a única coisa que restara para Mary era a coroa e seu noivo, agora nem o noivo. Rosie não sabia se podia realmente pedir a coroa da prima, mas sabia que se não pedisse a prima pediria sua cabeça. Ela jamais deveria ter transado com Daniel.

- Fica comigo hoje? Eu preciso de companhia - ele sorriu.

- É claro que fico vadia.

- Ótimo - ela se jogou na cama ao lado do amigo - Vou pedir a uma de minha damas para trazer chocolates e uísque, será a nossa noite.

- Será uma bela noite - o príncipe sorriu afagando a cabeça da amiga.