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História Leis de Newton - Termometria


Escrita por: adolf0 e @3tangfei

Capítulo 7 - Termometria


Nenhuma grande descoberta foi feita jamais sem um palpite ousado.

Isaac Newton

 

 

 

I

A manhã daquele domingo na cidade de Karakura já avançava quente, abafada e regada de dores de cabeça. Um professor de física esforçava-se bravamente para conseguir abrir os olhos, sentindo cada neurônio em seu cérebro gritando por analgésicos.

Ichigo olhou em volta, precisando de uma fração de segundo para reconhecer o chão em que permanecia deitado. Estava na casa de Rukia. De repente algumas lembranças perdidas da noite anterior invadiram sua mente. Las Noches, Jurupinga, Bonde do Tigrão, Rukia. Rukia.

            — Ai, porra... — O ruivo levou uma das mãos ao rosto, sentindo o peso de suas lembranças pairando sobre seus ombros. Sua cabeça latejava fortemente e seu estômago se revirava.

            Levantou-se cambaleante, tentando descobrir como fazer para chegar em sua casa. Tateou os bolsos e lembrou-se de que havia perdido suas chaves e Rukia mandara mensagem para Renji deixar ali as extras que tinha em casa.

            — Rukia? — Chamou pela aluna, não obtendo respostas.

            Notou então uma garrafa de café em cima do balcão da cozinha com um bilhete colado. Andou, sentindo o mundo girar fortemente ao seu redor, e apertando os olhos logo conseguiu ler o conteúdo da mensagem.

            “Fui levar o Newton para passear. Sua chave está ai. O café é de ontem à tarde, te vira. Rukia”.

            Ele franziu o cenho ao ver um rabisco ridículo de dois coelhos, um pelo tamanho da cabeça era Rukia e o outro era uma tentativa frustrada de ser Newton. Estava em época dos alunos do terceiro ano escolherem o que fariam na faculdade e ele torceu para que a morena não se decidisse por algo relacionado a artes.

            O professor então pegou suas chaves e se apressou para ir para casa. Não queria estar ali quando Rukia voltasse, pois seria constrangedor além da conta olhá-la depois de ter se agarrado com ela no sofá. Mesmo que ela tivesse começado tudo, ele foi quem deu continuidade e isso era inaceitável. Ao menos era isso que precisava se forçar a pensar.

-

-

            Rukia aproveitava a tarde de domingo assistindo televisão ao lado de seu novo fiel companheiro, Newton. O cachorro roncava alto enquanto recebia de sua dona um afago na cabeça, sentindo-se o cão mais feliz da face da terra. A morena conseguia se relacionar com aquilo, três anos atrás ela mesma era praticamente uma garota de rua e fora levada para um lar e uma família por seu irmão e cunhada. A sensação era realmente boa.

            Seu celular apitou ao seu lado, avisando sobre uma nova mensagem.

 

            [17:09] Renji: Oe, Rukia. Desce aí que temos presentes para te dar!

            [17:09] Renji: A Luna e o Byakuya tão aqui também :D

            [17:10] Rukia: Tá, to indo o/

           

            Ela largou o celular em cima do balcão da cozinha, seguindo direto para a saída de sua casa. Ao abrir a porta seus olhos caíram sobre uma cabeleira ruiva, que trancava o próprio apartamento. A morena prendeu a respiração por um segundo, não pretendia encontrar-se com Ichigo tão cedo. Mas não tinha o que fazer, na sorte ele se esquecera de tudo o que aconteceu na noite anterior.

            — Indo no Renji? — Ela perguntou, diante a cara de tacho do professor, que também a olhava sem saber o que falar.

            — Sim. Ele te chamou também? — Pergunta em meio a um pigarro, enquanto coçava a cabeça.

            — É...

           Eles continuavam a se encarar, incertos de como continuar. Aquilo começava a incomodar Rukia, que não gostava de enrolação nem de se sentir acanhada. Ela cruzou os braços em frente ao corpo, cerrando os olhos em direção ao professor, que parecia querer falar algo. Ichigo pigarreou novamente, desalinhando ainda mais os cabelos revoltos com as mãos.

            — Rukia... Sobre ontem...

            — Ichigo, relaxa. — O cortou, com o tom firme. — Foi nada demais, foi só um beijo. Pronto, acabou.

            O ruivo sentiu o corpo todo esquentar diante as palavras da aluna. Ela parecia bem decidida a esquecer da noite anterior e isso o aliviava, de certa forma. Mas aquilo com certeza ferira seu orgulho de macho alfa, que no fundo acreditava que sua aluna estava aos seus pés tendo sonhos estudantis eróticos. Mas era Rukia, ela não era muito normal.

            — Hm, tá.

            — Agora vamos.

            Em dois minutos eles batiam na porta da casa de Renji, que os atendeu prontamente. Seus olhos foram direto para a camiseta que o ruivo escarlate usava, que possuía inscrições que nunca viram antes. De certo aquele “Fora Temer” era alguma expressão brasileira.

            — Oe! Entra ai, gente! — Renji deu espaço para que passassem.

            Eles logo viram Akihime, Luna e Byakuya acomodados na sala conjugada, cercados por duas malas gigantes cheias de bugigangas vindas direto da terra tupiniquim.

            — Hey, Rukia! Ichigo! — A loira abanava para os recém-chegados, que responderam apenas com um aceno de cabeça. Logo eles sentavam-se no chão da sala dos amigos, ao lado de Akihime que permanecia remexendo nas malas em busca dos presentes que trouxeram pra todos.

            — Nossa, vocês devem ter sustentado a economia do Brasil pros próximos anos, hein. — Ichigo comentou, apontando para as malas cheias. Akihime e Renji, no geral, eram bem econômicos. Do tipo que espremiam a pasta de dente até não sair nem mais ar. Aparentemente a viagem ao país da copa realizou significantes mudanças no comportamento do casal do milênio.

            — A gente juntou dinheiro por anos para isso, a ideia era voltar sem um tostão no bolso mesmo! — Akihime sorria, levantando os braços como se estivesse saudando o sol.

            — Quê isso no pulso de vocês? — Luna apontou para umas poucas fitinhas no pulso da prima de Byakuya e de seu marido. Eram bem coloridas e possuía algo escrito, que ninguém conseguia ler de longe.

            — Fitinhas do Senhor do Bonfim — Renji explicou, deixando as pulseirinhas azul e vermelha a mostra. — Você dá um nó e faz um desejo, quando a pulseira arrebentar o desejo se realiza.

            — E você pediu o quê, Renji? — Rukia perguntou curiosa. Ela não acreditava muito naquele tipo de coisa, mas achava curioso como a fé movia as pessoas.

            — Eu pedi pra Akihime aceitar a ideia de termos um filho — O professor de biologia cruzou os braços e fez um bico em direção à esposa. Tentava convencê-la da ideia, mas ela estava irredutível.

            — Essa fita nunca vai arrebentar então. — Akihime comentou, olhando feio para o outro. — Essa sociedade patriarcal e machista que insiste que nós mulheres temos a obrigação de desejar a maternidade! E isso ainda é manipulado por esses burgueses capitalistas que lucram horrores com o comércio de fraldas descartáveis.

            Byakuya, em seu canto, rolou os olhos. Era quase irônico que sua prima filósofa fizesse esse tipo de analogia, uma vez que vinha de uma família de burgueses capitalistas. Akihime saiu bem diferente da encomenda, ainda na adolescência organizava protestos de todos os tipos na escola e vivia inventando desculpas para comprar brigas com qualquer pessoa que estivesse em uma posição privilegiada. Aos dezessete anos, quando se decidiu pela faculdade de filosofia, ela terminou de liberar sua alma de humanas e de adoradores do sol.

            Deveria ser algum defeito genético, o empresário pensava. Até Rukia parecia mais Kuchiki que Akihime. Mas ele não tinha o que falar da prima, ela realmente abrira mão da fortuna da família para viver uma vida modesta ao lado de Renji. Eles se conheceram na faculdade, durante um protesto em prol da comunidade LGBT no campus e foi, basicamente, amor à primeira vista. Dali para frente eles passaram a desconstruir e problematizar juntos e eram extremamente felizes com isso.

            — E você, Aki? O que desejou? — O sotaque forte de Luna soou na sala, tirando seu marido que estava perdido em pensamentos e julgamentos.

            — A paz para os povos.

            — Acho que é a sua que nunca vai arrebentar... — Ichigo comentou em meio a uma risada. Já estava acostumado com o jeito humanas da amiga, mas era sempre bom tirar uma com a cara dela.

            Akihime respondeu apenas com um olhar, que sugeria que se o ruivo continuasse com piadinhas do tipo, logo seria expulso de sua casa e templo do amor.

            — Bom, vamos aos presentes! — Renji interrompeu antes que o outro ruivo soltasse mais alguma besteira. A única loira da sala pareceu animar-se, enquanto os outros permaneciam como estavam.

            — Pra não ter briga entre as crianças, os presentes do Isshin, Hiroshi e o ainda-sem-nome são iguais. — O biólogo explicou, enquanto revirava uma das malas em busca da lembrancinha da próxima geração de amigos. Ele tirou então do meio da bagunça três vaquinhas de pelúcias e três pacotes de roupas. Procurou o tamanho no pacote, jogando na cara de Ichigo a roupa de número maior e a menor no colo de Byakuya. — Óh, um ursinho da vaca de Rondônia e um uniforme da seleção pra cada um.

            O Kurosaki abriu o pacote e estendeu a camisetinha com o número 10 e o nome “Marta” nas costas. Ele riu, realmente depois do show que foram as olimpíadas a camiseta da seleção feminina estava valendo mais.

            — Valeu, Renji! Akihime! — Agradeceu, ficando orgulhoso ao imaginar o pequeno Isshin vestido de jogador de futebol.

            — Luna, desculpa, mas no tamanho de recém-nascido só tinha a do Neymar mesmo... — A morena avisou, sentindo-se chateada por não poder dar ao priminho em segundo grau a roupinha da seleção feminina também.

            — Não tem problema, gostamos mesmo assim! — A loira sorriu, também olhando o tip-top verde e amarelo do (a) filho (a). Seu marido a mostrava a roupa, exibindo um sorriso bobo nos lábios.

           — Ichigo, seu presente é uma raridade agora! — Renji riu, entregando um DVD para o outro ruivo. — A gente foi em um dos últimos shows dessa banda e ainda ganhamos autógrafo!

            — Ahn... — O professor de física olhou para capa onde tinha uma loira e um cara estranho com uma franjinha descolorida. Logo no topo dava para ler “Banda Calypso – 25 anos Ao Vivo”. Ele não fazia ideia do que aquilo significava, mas imaginou ser o nome da banda. — Valeu, Renji!

            — Essa não é aquela banda que o guitarrista traiu a vocalista? — Luna perguntou apontando para o DVD nas mãos do ruivo, pois se lembrara de Akihime lhe contando sobre ter ido a um show em um dia e uma semana depois a banda ter se separado.

            — Essa mesmo — Renji respondeu.

            — Nossa, Ichigo, parece que essa vocalista e você têm bastante em comum. — A loira riu.

            — Ha, há, há, nossa Luna tô morrendo de rir, muito engraçada você. — Ele olhou torto para a amiga, que ria descaradamente de suas desgraças.

            — Os presentes são quase todos musicais. A cena da música brasileira é realmente interessante. — Akihime comentou, revirando também uma das malas em busca do presente de seu primo. Encontrou um CD com a foto de um cara usando um corte de cabelo top knot e com a inscrição “Wesley Safadão – Em Casa”. — Uésuli, esse cara é um gênio!

            — Obrigado. — O Kuchiki mais velho agradeceu, sem muita expressão.

            — Rukia, a gente procurou CD na Inês Brasil, mas descobrimos que ela não tem mídia física lançada ainda... — Renji explicou, pois tinha prometido procurar para a morena algo de sua ídola internacional. — Então, te trouxemos isso aqui! — E jogou um urso de pelúcia na cara dela.

            — Isso é um boneco da Ku Klux Klan? — Indagou com o cenho franzido, olhando para a cabeça pontuda e branca do boneco sorridente, que também usava uma camiseta listrada em vermelho e preto.

            — Não, porra! É o Zé Gotinha!

            — Quem? — Rukia, Ichigo e Luna perguntaram em uníssono.

            — Lá no Burajiru eles fazem campanha de vacinação infantil e esse boneco é o mascote. — Akihime comentou, apontando para a pelúcia na mão da outra Kuchiki. — Esse aí é edição especial com a camiseta do Flamengo, um time de futebol muito famoso.

            — A gente te trouxe ele como um amuleto, pra ver se você cresce mais. — Renji riu, não resistindo em fazer graça. Poucos segundos depois um Zé Gotinha flamenguista voava na cabeça do ruivo.

           

II

 

            Era início de semana e a turma do terceiro ano do colégio Karakura parecia agitada, enquanto esperavam o início das aulas. Rukia, por sua vez, rabiscava seus coelhos no caderno de física, que estava aberto na página onde havia a inscrição da terceira lei de Newton seguida por vários pontos de interrogação. Aquela folha lhe trazia lembranças que preferia esquecer.

            — E aí, Rukilda? — Levantou então a cabeça ao escutar a voz de Bazz B soar ao seu lado. O ruivo se colocou ligeiramente atrás de sua cadeira, tocando em seu ombro.

            — Oi, Bazz.

            — Tá com uma cara, hein. — Comentou, arqueando as sobrancelhas. Ele conhecia Rukia há tempo o suficiente para falar quando havia algo a incomodando.

            — Minha cara de sempre — Respondeu estreitando os olhos em direção ao colega de classe.

            Bazz ergueu as duas mãos, em sinal de desistência. Sabia que se algo a incomodasse e ela sentisse a necessidade de conversar com alguém, ela o faria. E provavelmente nem seria com ele.

            — Viu, o que você tá planejando pra Golden Week? — Perguntou, apoiando-se na ponta da carteira de Rukia.

Ela o olhou, enquanto mordia a borrachinha de um lápis. Havia esquecido completamente que a partir do dia seguinte era a gloriosa semana de feriados seguidos, onde o Japão inteiro parava por quatro lindos dias. Provavelmente ficaria em casa fazendo maratona de Dance Moms, coçando e dormindo.

— Não pensei ainda...

— Eu e o Renji estamos querendo ir em Rukongai. — O de moicano comentou, cruzando os braços em frente ao corpo. De vez em quando eles costumavam visitar o antigo bairro para rever os amigos e alguns parentes e, sempre que possível, iam juntos. — Você não quer ir?

— Claro! — Seu rosto se iluminou. Andara tão ocupada nas últimas semanas que se esquecera completamente que estava devendo uma visita ao pessoal. — Quando vão?

— Amanhã ou depois.

Antes que Rukia pudesse responder, a porta da sala de aula fora aberta pelo professor de física, que parecia menos rabugento que o normal. Bazz então se desencostou da mesa da morena e seguiu para a sua própria, avisando-a que outra hora mandaria mensagem para combinar o dia e a hora em que iriam para Rukongai.

— Preparados para o feriado? — A voz de Ichigo soou na frente da sala em pura animação. Era provavelmente a primeira vez que Rukia via o ruivo aparentar algo menos que uma cara de limão azedo desde que começara a estudar naquela escola.

            O professor ficou mais alguns minutos conversando com os alunos, para a surpresa de todos, e logo fazia seu ritual de início de aula. Arregaçou as mangas de camisa social, pegou o marcador de quadro, ajeitou os óculos sobre o nariz e escreveu a data no canto do quadro branco.

            — Vamos começar hoje o estudo sobre Termometria. — Deu então início a aula, escrevendo o título no centro do quadro. — Se tratando de física, o conceito dado a “quente” e “frio” é um pouco diferente do cotidiano.

            “Esses caras não têm mais o que fazer? Querem ter uma ideia diferentona até de quente e frio? Caceta, gente desocupada”.

            — Podemos definir como quente um corpo que tem suas moléculas agitando-se muito, ou seja...?

            Rukia rolou os olhos. Odiava quando os professores paravam a frase no meio do caminho em uma pergunta, como se os alunos tivessem a obrigação de saber como completá-la. Escutou então em sua frente Ishida falando baixinho:

            — Com alta energia cinética... — O nerd da sala sussurrou.

            — Com alta energia cinética. — O professor completou diante o silêncio dos alunos, um pouco brabo com a falta de compromisso deles em estudar em casa.

            Rukia sorriu diante a resposta de Ishida. O menino era meio antissocial, chegava a dar pena às vezes. Ele geralmente respondia tudo corretamente, mas andava evitando abrir a boca no meio das aulas, pois outros alunos começaram a pegar em seu pé por ser estudioso demais.

            A morena então deu um tapinha de leve em seu ombro, levantando-se ligeiramente e falando baixo perto de seu ouvido um “muito bem”. Ela não viu, mas seu colega da carteira da frente sentiu todas as células de seu corpo aumentar consideravelmente a energia cinética. A única coisa que pôde escutar foi um “obrigado” todo tremido saindo baixinho do moreno.

            — No caso do corpo frio, a agitação de suas moléculas é baixa, então...

            — BAIXA ENERGIA CINÉTICA! — Rukia praticamente gritou, levantando-se de sua cadeira totalmente animada por finalmente em sua vida conseguir dar uma resposta no meio da aula. Uma resposta óbvia e meio que copiada do colega, mas uma resposta certeira.

            Os quase vinte alunos do terceiro ano viraram para encarar a Kuchiki animada. Ela não se importou com a atenção repentina e voltou a se sentar, com um sorriso extenso estampando seu rosto. Ichigo não pôde deixar de rir. A nanica era interessante de vez em quando.

            — Isso aí, Rukia.

            Ela então estendeu o polegar em direção ao professor, no joinha mais feliz de toda sua existência acadêmica. Viu quando Ishida virou para trás, com um sorriso curto no rosto e as bochechas avermelhadas.

            — Muito bem Kuchiki-san — Falou esforçando-se para não gaguejar. Rukia o presenteou com um sorriso e um “obrigada”.

            — Cahan. — O Kurosaki então pigarreou, querendo a atenção dos alunos de volta para si. — Ainda sobre temperatura, quando tiramos uns biscoitos nojentos em formato de coelho de dentro do forno, após algum tempo eles tendem a chegar à temperatura ambiente. Ou seja, o biscoito “esfria”. Isso acontece porque ele tenta alcançar a temperatura ambiente, e esse fenômeno chamamos de equilíbrio térmico.

            A aula continuou como de costume, o professor falando e os alunos fingindo que escutavam. Para uma pintora de rodapé, porém, aquela aula parecia a mais legal que tivera em meses. Finalmente conseguia entender algo e se sentia entusiasmada com aquilo.

 

III

 

            Rukia largava a mochila num canto de sua sala, jurando para si mesma que não a abriria até a próxima segunda-feira. Tinha plena consciência que esse não era o correto a se fazer, porém não perderia um segundo de sua formosa Golden Week.

            Newton apareceu vindo de seu quarto. Ele corria rebolando em direção a sua dona, já pronto para pular e lamber sua cara inteira. Rukia notou que seu cachorro em pé era quase do seu tamanho.

            — Tava com saudades, Newton? — Ela abraçou seu novo companheiro, coçando sua cabeça. Ouviu a campainha de sua casa tocar e imaginou que seu professor de física já estava pronto para lhe encher o saco, provavelmente querendo lembrar de que teriam aula ainda naquele dia.

            Ela correu até a porta, pronta para começar a jogar uma carrada de desaforos na cara do ruivo abusado. Ele poderia deixá-la descansar ao menos no feriado.

            — Olha aqui, Ichigo, vai se fod--

            Seus olhos violetas caíram então numa figurinha muito diferente da que esperava.

            — Shuuhei?

            — Oe, Rukia! — Um homem alto, de cabelos revoltos e negros abanou sorrindo em sua direção. A Kuchiki precisou de alguns segundos para conseguir fechar a boca e se recompor.

            — O que faz aqui? — Inquiriu com o cenho franzido.

            — Resolvi voltar para a cidade no feriado. Visitar o pessoal, sabe? — Respondeu com um sorriso amarelo, passando a mão pelo pescoço e indo aos cabelos.

            Hisagi Shuuhei era uns poucos anos mais velho que a morena e se criara em Rukongai com ela, Renji e Bazz B. O menino era um gênio e passou sem esforço no processo seletivo para a universidade de Tokyo, a principal do Japão, onde cursava Engenharia Mecânica.

            Ele também era ex-namorado de Rukia.

            — Não tô perguntando o que você tá fazendo na cidade, mas na porta da minha casa.

            — Vim te ver, ué

            Ela rolou os olhos. Shuuhei além de lindo e inteligente também era cara de pau. Eles ainda namoravam quando ele entrou para a universidade e então decidiu terminar o namoro, porque queria aproveitar sua vida acadêmica de todas as formas possíveis.

            — Bom, você já me viu. Pode ir embora agora. — Fez menção de fechar a porta na cara do moreno, porém foi impedida pela mão dele.

            — Credo, Rukia. Eu só tava com saudades.

            — Sério, o que você quer? — Perguntou bufando. A última coisa que queria para aquele início de feriado era ficar batendo-papo com sua primeira desilusão amorosa. Nunca em sua vida imaginou que preferia estar estudando física em algum momento.

            — Conversar, só. — Respondeu com a melhor cara de cachorro sem dono que conseguiu. Cara essa de dar inveja até Newton, que era um pit bull abandonado três dias atrás.

            — Seja rápido — Ela afastou-se, abrindo mais a porta e dando passagem para que entrasse. Shuuhei respirou aliviado e entrou, já com muitas coisas em mente.

 

-

-

            Um ruivo bocejava preguiçosamente enquanto subia as escadas de seu prédio rumo ao lar. O feriadão chegara e seus planos eram fazer nada, passar um dia com seu filho e fazer nada novamente. Lembrou-se então que naquele dia tinha ainda aula com Rukia e bufou.

            — Menina irritante... — Balbuciou consigo mesmo.

            — Sério, o que você quer? — Ichigo levantou a cabeça ao escutar a voz de sua aluna. Achou que estava falando com ele, mas quando estava prestes a responder um “hã?” uma voz masculina e desconhecida soou.

            — Conversar, só.

           O ruivo, na ponta da escada, olhou atentamente para o cara em frente à porta de sua vizinha. Alto, cabelos negros, calça jeans, regata e uma tatuagem bastante sugestiva no canto do rosto. Com que tipo de gente Rukia andava se relacionando?

            — Seja rápido. — Então o dito cujo sumiu porta à dentro.

            Ichigo bufou, algo de errado estava acontecendo. Alcançou o celular no bolso traseiro de sua calça e, enquanto abria a porta de seu apartamento, destravou a tela e foi direto no contato de seu vizinho do andar de baixo.

            [12:56] K. Ichigo: Oe, Renji? ✓✓

            Entrou em casa e jogou sua pasta sobre o balcão da cozinha, sem desgrudar os olhos do celular. Logo a resposta veio.

            [12:58] Macaco: Quê? ✓✓

            [12:58] K. Ichigo: Um cara muito estranho acabou de entrar no apartamento da Rukia. ✓✓

            [12:58] K. Ichigo: Achei que você ia querer saber, já que vive falando que ela é tipo sua irmãzinha, blábláblá. ✓✓

            [12:58] Macaco: Quê? Quem? ò.ó✓✓

            [12:59] K. Ichigo: Sei lá quem é. É um cara estranho, cabelo preto, alto e com uma tatuagem idiota na cara. Tinha jeito de traficante de cocaína. ✓✓

            [12:59]: Macaco: Ahhh... O Shuuhei... lol✓✓

            [12:59] K. Ichigo: Nossa, elucidou-me. ¬¬✓✓

            [12:59] Macaco: É o ex da Rukia 8D✓✓

            [13:00] K. Ichigo: Hmm... Então tá. ✓✓

            [13:00] Macaco: Incomodado? 8D✓✓

            [13:00] K. Ichigo: Vai se foder _|_✓✓

            [13:00] Macaco: Se for lá atrapalhar o lance deles, fala pro Shuuhei passar aqui em casa que to com saudades dele 8D✓✓

            [13:01] K. Ichigo: Já mandei tu se foder? ✓✓

            [13:01] K. Ichigo: Porque se eu não mandei: Vai se foder. ✓✓

            O ruivo jogou o celular sobre o sofá, com as últimas palavras de Renji ecoando em sua cabeça. Incomodado? Só com o fato da possibilidade de estar acontecendo um tráfico de drogas em frente ao seu apartamento. Apenas aquilo e nada mais.

            -

            -

            Um silêncio incômodo pairava na sala da casa de Rukia, que nem Newton aguentou a situação e saiu de perto. A dona da casa e seu “convidado” se encaravam com cara de nada, sentados um ao lado do outro, enquanto rolava um debate silencioso sobre quem começaria a falar.

            — Fala logo o que você quer, porra. — Rukia, sempre lady, resolveu quebrar o silêncio.

            — Nossa, você sempre carinhosa. — Ele não pôde deixar de rir. Certamente aquele traço forte na personalidade da outra era o que mais lhe atraia. — Enfim, eu vim aqui porque eu tô meio arrepend--

            — Nem termina de falar se for o que eu acho que é — Ela cruzou os braços, o encarando com o os olhos estreitos. — Você tem zero direito de vir falar de arrependimentos.

            — Mas eu tô arrependido, Rukia. De verdade.

            — Agora que provavelmente já passou o rodo na faculdade? — Ela ergueu uma sobrancelha, não acreditando no discurso de remorso do outro. A Kuchiki não era tansa em todos os aspectos de sua vida e tinha plena certeza dos motivos que levaram Shuuhei a terminar o namoro logo que entrou para a Toudai. Ele queria farrear e estando comprometido era difícil. — Não, obrigada.

            O moreno aproximou-se mais uns centímetros e segurou o rosto de Rukia com as duas mãos, fazendo-a olhar diretamente em seus olhos. Ele tinha um par de ônix intenso, que sempre a fazia enfraquecer as pernas. Ela desviou o olhar, com medo de fraquejar.

            — Você não sente minha falta também? — Ele perguntou antes de roçar os lábios na bochecha da morena.

            — Não.

            — Então fala isso olhando pra mim, Rukia. — Continuou, falando com o tom baixo. Ele conhecia todos os pontos fracos da Kuchiki e usaria aquilo contra ela com certeza. Arrastou a boca por seu queixo, aproximando-se lentamente de seus lábios.

            Uma dúvida surgiu então no fundo da mente de Rukia. Um questionamento de cabelos ruivos. Lembrou-se de ter aprendido em uma aula de química, com o sem noção do Mayuri-sensei, que a resposta para a incerteza estava sempre no experimento.

            Ela então capturou os lábios de Shuuhei com os próprios, pedindo já passagem com a língua para aprofundar o contato. O moreno estranhou, mas não reclamaria da sorte repentina.

Suas línguas percorriam o interior de cada um, envolvendo-se intensamente com a proximidade. As mãos de Shuuhei decorriam pelas costas da morena, apertando-a para mais juntos de si. A Kuchiki deu-se conta que suas moléculas estavam com a energia cinética baixa e obteve sua resposta.

Antes que pudesse se separar daquele contato frio, seu celular vibrou. Ela empurrou Shuuhei, que fechou a cara com sua atitude, e foi em busca de seu aparelho em cima do balcão da cozinha.

[13:08] Trevas-sensei: Viu, se você tiver muito ocupada a gente pode desmarcar a aula de hoje. ✓✓

[13:08] Rukia: Quê? o.õ✓✓

[13:08] Trevas-sensei: Não quero atrapalhar ai com minhas aulas chatas, etc. ✓✓

Rukia rolou os olhos. Na certa Ichigo vira Shuuhei entrando em sua casa. Era só o que faltava o professor tendo crise de pelanca porque aparentemente se agarrar com pessoas era mais interessante que estudar física. Não era nem duas da tarde e ela já sentia toda sua paciência desaparecendo.

Ela virou-se então para o ex-namorado, cruzando os braços em frente ao corpo sem largar o celular.

— Shuuhei, vai embora, pode ser?

Ele franziu o cenho, descrente. Até segundo atrás ela estava o beijando e no momento o mandava embora. Rukia era meio imprevisível, mas se superara.

— Ué, pensei que--

— Pensou errado — Bufou. Se ele demorasse muito ela ia acabar jogando o Zé Gotinha, que estava em cima da mesa de jantar, na cara dele. — Agora vai que eu tô ocupada hoje.

— Hm... — Levantou-se do sofá, indo na direção da outra. Quando Rukia batia pé era melhor recuar. — Eu vou passar o feriado em Rukongai, sabe onde me encontrar. — Beijou então seu rosto para despedir-se.

— Tá, tá. — Correu para a porta, abrindo para que ele passasse. Abanou então a mão, aliviada de vê-lo ir em direção as escadas. — Tchau, vai pela sombra.

Rukia nem ao menos fechou a porta de sua casa e seguiu direto para a do vizinho, abrindo-a sem bater. Ichigo estava encostado no balcão da cozinha, olhando para a tela de seu celular com cara de poucos amigos. Ele levantou a cabeça ao sentir uma presença minúscula entrando em seu apartamento sem convite.

— Rukia?

— “Não quero te atrapalhar com minhas aulas chatas”, mimimi — Ela repetiu a última frase que seu professor enviara, tentando imitar uma vozinha afetada.

Ele não retrucou, apenas ficou a encarando com a cara amarrada. Rukia foi até ele, ficando de frente e cruzando os braços.

— Que merda foi essa?

Ele virou a cara.

— Nada, só pensei que ia querer tempo de sobra com o namor--

— Hoje tá todo mundo pensando por mim, não? — Ela segurou-se bravamente para não sair chutando as canelas do ruivo. Aquele povo acordou sedento por irritá-la naquela segunda-feira.

Ele voltou a encará-la, com aquele olhar intenso que aparentemente só Ichigo sabia dar. Deveria ser algo naquele emaranhado de castanho de seus olhos, ou o cenho franzido, Rukia não saberia dizer. Mas conseguiu outro resultado para sua experiência, pois no momento suas moléculas pareciam remexer-se o suficiente para fazer todo seu corpo esquentar.

— Tô cancelando a aula de hoje mesmo. — Falou então diante o silêncio do professor, que amarrou ainda mais a expressão. — Mas porque vou ver Dance Moms até cansar.

Antes que Ichigo pudesse pensar em abrir a boca para falar algo, Rukia aproximou-se ficando na ponta dos pés. Ela precisou dar um impulso para conseguir alcançar os lábios do ruivo, roubando-lhe um beijo rápido.

— Tchau. — E saiu batendo pé, não dando tempo para que ele pudesse reagir.

Para trás ficou um professor de física confuso, com suas moléculas também em alta energia cinética.

 

 

 


Notas Finais


Nossa gente, foi mal a demora u_u'
Mas como deu pra ver, os capítulos de Leis são enoormes, dá mor trabalho escrever kkk (nesse eu levei três dias LOL).
Anyways, espero que curtam! :3
Um beishon!


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