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História Leis de Newton - Entropia


Escrita por: adolf0 e @3tangfei

Capítulo 9 - Entropia


A ideia veio como um relâmpago e num instante a verdade foi revelada.

Nikola Tesla

 

Os primeiros raios da manhã entravam pela janela e incomodavam os olhos de um ruivo que permanecia deitado desconfortavelmente no sofá, abraçando-se em um corpo pequeno e magro. Ichigo olhou para o corpo seminu de Rukia sobre o seu e desta vez decidiu não a atirar para o outro lado da sala.

            Virou a cabeça para o lado, a fim de tentar encontrar uma posição mais confortável, quando seus olhos caíram sobre a figura canina de Newton que o encarava sentado majestosamente sobre a poltrona. O pit bull o olhava com uma expressão interrogativa como perguntasse “O que você fez com minha mamãe?” e não parecia feliz com as possíveis conclusões para suas indagações caninas.

            — Vira a cara pra lá! — Falou sussurrando enquanto alcançava uma almofada no chão e jogava em direção ao cachorro. Newton não se moveu, apenas inclinou mais sua cabeça para o lado.

            — Cala a boca, Ichigo. — A voz de Rukia soou em um sussurro, ainda mais dormindo que acordada. Ela aninhou-se melhor por entre as pernas do ruivo e agarrou-se a sua cintura, recostando a cabeça em seu tórax em uma posição mais confortável. Ele sentiu aquele cheiro característico de camomila, perguntando-se quando um odor tão simples começou a mexer tanto com seus sentidos.

            Um berro alto então pôde ser escutado pelo apartamento da Kuchiki, indicando que o pequeno Isshin finalmente acordara.

            — Ai putaquepariu! — Rukia levantou-se em um susto, levando a mão ao peito desnudo e sentindo o pulso acelerado. Parecia que sempre que dormia perto do ruivo as chances de acordar assustada eram altas.

            Como que por instinto a morena saiu correndo e cambaleando pela sala, sem nem olhar para o professor que ainda encarava seu animal de estimação. Ainda com os olhos castanhos sem desviar-se dos do cão, Ichigo alcançou sua calça no chão da sala e a vestiu, deixando, porém, os botões do cós abertos.

            — Olha quem acordou! — Rukia reapareceu na sala, segurando um Isshin choroso no colo. O Kurosaki deu uma boa olhada em sua aluna antes de ir até ela e pegar seu filho. A morena vestia apenas uma calcinha que tinha umas estampas infantis que pareciam coelhos, ou ela sentia zero vergonha de sua presença ou nem se dera conta de seu estado.

            — Bom dia, filho — O professor deu um beijo na bochecha gorda de Isshin e olhou Rukia de cima à baixo pigarreando.

            — Quê?

            Ele apontou para ela mesma, que seguiu seu indicador e deu-se conta da falta de roupas. Rukia deu um meio sorriso, colocando as mãos nos quadris e olhando com a expressão travessa.

            — Tem algum problema com eu estar pelada na minha própria casa, Ichigo?

            — Tenho! Isso é... isso é... — Ele foi recuando uns passos, sentindo o rosto avermelhar, enquanto a morena se aproximava perigosamente. — Imoral!

            — Imoral? — Ela ergueu uma sobrancelha e rolou os olhos. Imaginou que imoral fosse um professor transando com sua aluna, mas achou melhor não comentar o caso antes que ele desse por si e resolvesse nunca mais repetir a dose.

            — Quer dizer... — Ele pigarreou, tentando não olhar para seus seios. — Têm dois homens na sua casa.

            — Um que ontem não estava reclamando de eu estar sem roupas e outro que só enxerga peito como fonte de alimento — Ela riu. Antes, porém, que o ruivo pudesse falar qualquer coisa ela decidiu deixar a sala. Avisou que estava indo tomar banho e que quando voltasse queria o café pronto.

            — Baixinha babaca essa, hein filho — O Kurosaki olhou para o ruivinho em seus braços, que fazia caretas engraçadas e falava qualquer coisa que não conseguia decifrar.

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            — Esse café tá amargo igual sua cara. — A Kuchiki fazia uma careta enquanto colocava sua caneca em cima do balcão de mármore que dividia a cozinha da sala de jantar. Ela foi atrás do pote de açúcar, colocando logo cinco colheres cheias dentro de seu café.

            — Quer melhor? Faz. — Ele virou o rosto para o lado, quase enfiando a colher com banana amassada no nariz de seu filho. Isshin ria da constante discussão de seu pai e sua titia cabeçuda, sem entender o que realmente estava acontecendo.

            Eles continuaram a tomar o café da manhã em silêncio, trocando vez ou outra um olhar de desgosto. Apesar daquilo, sentiam-se à vontade, havia algo em Rukia que fazia Ichigo sentir-se em casa.

            — Oe, Rukia.

            — Fala.

            — Tô pensando em ir hoje lá na Luna. — Ele falou sem desviar os olhos do rosto sujo do filho, que comia aquela mistura de banana com Neston como se fosse a coisa mais gostosa do mundo. — Faz tempo que ela não vê o Isshin. Vamos?

            — Vamos! Eu comprei um presente pro nosso afilhado, aliás. — Comentou, enquanto jogava o resultado nojento da mistura de quilos de açúcar com o café amargo no ralo da pia. — Esqueci de te mostrar.

            Rukia saiu correndo rumo ao próprio quarto para buscar o tal presente que comprara na segunda-feira ao sair da escola. Passava por uma loja de brinquedos quando vira algo que a fez lembrar imediatamente do afilhado, ou afilhada, que estava por vir.

            A morena retornou à cozinha com uma sacola em mãos. Entregou-a Ichigo que, colocando a colher de banana amassada de lado, pegou o conteúdo. Olhou uma duas vezes para ter certeza do que via. Um coelho marrom com um bigode branco, língua de fora, cabelos brancos arrepiados e um jaleco também branco.

            — É o Chappy Einstein! — Rukia sorriu orgulhosa de si mesma pelo achado. Aquela edição limitada de seu coelho favorito estava, até onde sabia, esgotada. Então ter encontrado perdido na vitrine de uma loja fora realmente sorte. — Achei legal se a gente desse ele juntos.

            Ichigo balançou a cabeça, tentando não rir. De fato aquele presente faria o afilhado lembrar-se dos padrinhos, porque tinha um pouco de Ichigo e Rukia ali mesmo.

            — É um presente interessante... — Comentou, colocando o bicho de volta na sacola antes que Isshin conseguisse o agarrar com as mãos sujas.

            — Interessante é a nova palavra para genial? — Perguntou sorrindo e cruzando os braços. Chappy em si já era um personagem deveras maravilhoso, quando vinha em suas versões limitadas era realmente fora de série. Tinha uma prateleira em seu quarto cheio deles.

            Ichigo rolou os olhos, certas coisas era melhor não entrar em discussão com Rukia. E o Chappy era uma delas.

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            — Tem uma cadeirinha permanente no carro? — Rukia apontava para o assento onde ele amarrava Isshin, atrás do banco carona de seu carro. O menino parecia não colaborar para ficar preso e com muito custo Ichigo conseguira deixá-lo seguro.

            — Coisas da paternidade — Comentou, terminando de verificar se o cinto estava firme. — Não sou irresponsável como o Renji que deixa uma criança de dois anos andar naquela lata velha dele.

            — Eu gosto do carro do Renji. — Falou se referindo a chevette vermelho-desbotado e caindo aos pedaços.  Aquele carro era quase o símbolo oficial do amigo, não tinha como olhar uma chevette velha e não se lembrar do Abarai. — Pode ser velha, mas tem história. Muitas, inclusive.

            — Eu sei — Ichigo riu, lembrando-se das próprias. Renji possuía aquele carro desde a época da faculdade e não foram poucas as vezes que eles, Luna e Akihime viveram momentos envolvendo o carro. Provavelmente era um dos motivos, além da pão-durice do ruivo escarlate, que o impedia de se desfazer de “Julieta”, nome que dera a chevette quando a adquiriu.

            Ambos entraram no carro e seguiram caminho em direção à mansão Kuchiki. Ichigo logo ligou o som, que tinha um pendrive embutido com uma seleção feita exclusivamente por Renji.

            Quem nasceu periga, nunca vai ser diva. Quem nasceu periga, nunca vai ser diva. Já nasci no salto quinze sambando nas inimigas.

            — Ahhh!!! — Rukia riu levantando os braços e balançando de um lado para o outro. Tinha um pendrive igual aquele e já sabia mais da metade das músicas de cor. — Já nasci no salto quinze sambando nas inimigas!

            O caminho até a casa do irmão de Rukia fora rápido e agradável, diferente da primeira vez em que ambos sentaram no mesmo carro. Ichigo lembrava-se com clareza do silêncio constrangedor que ficara entre os dois e de como acabaram o dia falando de física. As coisas estavam evoluindo bastante rápido entre ele e a Kuchiki, era até difícil achar alguma explicação. Independente do que estava realmente acontecendo, ele se sentia bem ao lado de Rukia e aquilo era inegável. Por mais babaca que às vezes aquela nanica pudesse ser.

            Logo os três esperavam em frente à porta da casa dos Kuchikis, após tocarem a campainha. Luna abriu a porta e sorriu ao ver as visitas na entrada de sua casa.

            — Ai, você trouxe o Isshin! — Ela agarrou o ruivinho antes mesmo de cumprimentar os outros. Deu espaço para que Ichigo e Rukia entrassem em sua casa e logo gritou, ainda no hall de entrada. — Byaku, olha só quem veio visitar a titia!

            Byakuya, que lia um jornal sentado no sofá de sua sala, desviou os olhos para a esposa que chegava ao cômodo com Isshin no colo e sendo acompanhado por sua irmã e o moleque imundo do Kurosaki. Ultimamente eles sempre apareciam juntos e isso começava a tirá-lo do sério.

            — Oi, Nii-sama!

            — Yo, Byakuya.

            Ele apenas fez um aceno de cabeça, voltando a encarar o jornal em suas mãos. Luna sentou-se ao seu lado e logo o filho de Ichigo se jogava para seu colo, amassando todo o papel com as notícias daquele dia. Ele suspirou pesado, parecia que sempre que tentava ler o jornal alguém fazia questão de interrompê-lo.

            — Olha, ele ainda lembra do titio Byaku! — A loira ria, colocando o pequeno Isshin sobre o colo de seu marido. — Vai treinando que logo você vai ter o próprio filho pra cuidar.

            — Ah, e já descobriram o sexo do bebê, Luna? — Rukia perguntou, sentando-se na poltrona de frente para o sofá. Ichigo aconchegou-se no braço da poltrona, segurando a sacola com o Chappy Einstein em mãos.

            — Não! — Ela sorriu enquanto apertava as bochechas do filho do amigo, que tentava escalar o tórax de Byakuya. — Mas provavelmente no próximo ultrassom descobriremos.

            — E já tem alguma ideia do que possa ser? — Ichigo perguntou, balançando a sacola de um lado para o outro.

            — Nem ideia, mas deixa que ele resolve isso quando crescer.

            Byakuya revirou os olhos. Às vezes Luna conseguia superar-se nas loucuras que falava. Como alguém sensato como ele acabou casando com uma pessoa tão fora da casinha era um mistério.

            — Ah, trouxemos um presente pro nosso afilhado! — Rukia agarrou a sacola na mão de Ichigo e levou até a cunhada, que olhava do ruivo para a morena com um sorriso sugestivo no rosto.

            Luna abriu o presente, sorrindo diante do Chappy Einstein que estava em suas mãos. Ela mostrou o urso para Byakuya, que não esboçou reação diante de um bicho tão feio.

            — Um coelho físico? É a cara de vocês dois — A loira riu ainda analisando o boneco. Com certeza fora coisa de Rukia, daquilo não tinha dúvidas. Mas sendo ela mesma formada em física, adorara demais o presente.

            — É o Chappy Einstein. — Rukia explicou animada.

            — É um coelho como a madrinha e um físico como o padrinho. Vou chamá-lo de IchiRuki. — Luna falava consigo mesma e sorria, imaginando seu filho dormindo agarrado no coelho.

            — IchiRuki? — Ichigo franziu o cenho. — Que nome ridículo.

            — Ridícula é essa tua cara — A morena deu um tapa na nuca do ruivo, fazendo-o curvar-se de dor.

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            A tarde passava agradável, Luna e Ichigo relembravam coisas da faculdade enquanto Byakuya desistia de ler seu jornal, uma vez que Isshin não parava de se jogar em seu colo. O moleque era tão abusado quanto o pai, pensava.

            Rukia se encontrava em frente a uma estante cheia de enfeites e porta retratos, observando as fotos da família que a acolhera. Havia uma dela com a cunhada que Akihime tirara sem que ambas percebessem. Luna e Rukia conversavam sobre qualquer coisa e uma risada entre elas fora eternizada naquela fotografia. A morena sorriu olhando para o porta-retratos, nos últimos três anos a loira se esforçava para fazê-la sentir-se realmente parte daquela família. Seus olhos passaram sobre um retrato do casamento de Luna e Byakuya e então caíram em uma moça muito parecida com ela mesma.

            — Mas o que que é isso? — A Kuchiki mais jovem apontou para o porta-retratos que estava quase escondido atrás de tantos outros. Os outros três na sala olharam em sua direção e Luna finalmente respondeu.

            — Ah... É uma foto de sua irmã, Hisana.

            — Isso eu sei — Ela olhou em direção ao seu irmão mais velho com uma expressão pouco amigável. — E eu não me lembro de ter tido uma irmã. Só queria saber como o Nii-sama tem coragem de colocar a foto de sua ex-mulher bem na sala de estar de vocês para todo mundo ver, Luna.

            Byakuya franziu o cenho enquanto sua esposa prendia a respiração. Ele contara o máximo que conseguira sobre a história de Hisana e de como ela se arrependera de abandoná-la e passara a vida inteira a procurando, mas Rukia parecia irredutível. Ela não queria saber sobre alguém que a deixara para a sorte quando não tinha tamanho o suficiente nem para se proteger sozinha. Estaria provavelmente morta se não fosse pela piedade dos outros.

            — Rukia — O Kuchiki abria a boca para falar qualquer coisa que sua irmã adotiva não estava realmente disposta a ouvir. Rukia idolatrava seu Nii-sama e o agradeceria até o fim de seus dias por ser o melhor que poderia ser para ela. Mas a morena acreditava que quando algumas coisas estavam erradas, elas simplesmente estavam erradas. Ponto.

            — Você deveria se importar mais com a sua mulher que tá aí pronta pra te dar um filho. — Rukia o cortou antes que começasse a ladainha sobre Hisana de Calcutá. — Não com alguém que te deixou um estorvo que era responsabilidade dela. Isso, definitivamente, não está certo.

            E saiu sala à fora, deixando todos sem saber o que falar. Ichigo não pensou duas vezes e foi atrás da Kuchiki, até porque não queria encarar o climão que ficaria entre Luna e Byakuya.

            O Kuchiki suspirou, voltando-se para sua mulher que encarava a própria barriga de quase sete meses de gestação. A loira sempre fora compreensiva sobre o fato de ele já ter sido casado uma vez e entendia que ele jamais apagaria o passado que tivera com Hisana. Ela nunca abriria a boca para reclamar por causa de uma foto, não era de seu feitio.

            — Luna?

            — Não é comigo que você tem que conversar agora, Byakuya. — Ela pegou Isshin que estava sentado entre os dois, sem entender a comoção que acontecia. — E não se atreva a se aborrecer com Rukia.

            Ele fez um aceno de cabeça e saiu da sala, indo atrás de sua irmã.

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            — Oe, Rukia! — A morena parou de andar ao ouvir o professor a chamando no jardim da mansão Kuchiki. Ela direcionou-se lentamente para um banco de dois lugares de madeira que ficava perto de uma roseira de rosas amarelas, sendo seguida por Ichigo.

            — Se veio pra tentar defender meu irmão, nem tenta. — Ela cruzou os braços e o encarou com a expressão fechada. O ruivo deu de ombros, nem em um milhão de anos defenderia Byakuya daquilo, pois concordava plenamente com Rukia.

            — Eu sempre disse para Luna que ela era meio trouxa quando o assunto é o Byakuya. — Comentou, sentando-se ao lado da morena. Aquilo na verdade o irritava profundamente, porque era algo que poderia magoar sua melhor amiga. A loira era deboísta demais e tentava não ver problema nas coisas, mas às vezes aquilo a fazia pagar um papel de trouxa dos grandes. — E concordo com você. Nem a pau que eu coloco uma foto da Inoue na minha casa, me casando de novo ou não.

            — O Nii-sama tenta me fazer engolir essa imagem de santa que ele tem da Hisana, isso me irrita. — Ela continuou com a expressão fechada, olhando para frente e observando o jardineiro cuidar de um bocado de margaridas. — A Luna e ele foram meus irmãos muito mais que ela. Querer se fazer de arrependida depois de largar uma criança à própria sorte é bem fácil.

            — Eu te entendo. — Ele suspirou, não querendo imaginar o tipo de vida que Rukia passara se sentindo abandonada, mesmo tendo pessoas cuidando dela. — Mas, seilá, talvez sua irmã teve uma entropia reversa na cabeça.

            — Entro o que? — A Kuchiki virou-se para o professor. Ele era expert no quesito usar palavras difíceis nos piores momentos.

            — Entropia. Em termodinâmica é a medida da desordem das partículas em um sistema físico. — Explicou rapidamente. Rukia rolou os olhos, por que Ichigo tinha sempre que meter física no meio das conversas? — Comparando com o cotidiano, a gente pode pensar que, uma pessoa ao iniciar uma atividade tem seus objetivos organizados. À medida que ela vai os utilizando e desenvolvendo suas atividades, esses objetivos tendem a ficar cada vez mais desorganizados.

            — E...?

            — Acho que o objetivo inicial da sua irmã era tão desorganizado que ela foi fazendo as coisas sem se ligar nas consequências que isso te traria, achando que era o melhor para você. — Continuou com sua analogia. Ele também era irmão mais velho, então tentava entender da melhor forma possível o que Hisana tentara fazer com Rukia, embora não conseguisse. — Provavelmente com o tempo passando as coisas foram se organizando melhor na cabeça dela e ela viu a burrada que fez. Segundo a Luna, ela se arrependeu até o último fio de cabelo e morreu se lamentando.

            — As lamentações dela não mudam minha vida.

            — Imagino que não.

            Ichigo levantou-se ao ver Byakuya se aproximando. Antes de sair ele passou a mão no topo da cabeça de Rukia, fazendo um afago e desalinhando seus fios. Preferiu passar pelo Kuchiki desviando o olhar, às vezes tinha uma grande vontade de socá-lo a cara, e olhar para sua expressão esnobe naquele dia não ajudaria em seu processo de autocontrole.

            — Rukia — O Kuchiki sentou ao lado de sua irmã caçula, recebendo seu silêncio como resposta. Ele não era o maior falador entre aquela turma grande, era difícil iniciar uma conversa. — Desculpe se aquilo te causou desconforto.

            — Não é com o meu desconforto que você deveria se preocupar, Nii-sama. — Ela cruzou os braços, virando-se para seu irmão para encará-lo. Era engraçado como eram parecidos em tantos aspectos, provavelmente se fossem irmãos de sangue não o seriam. — Deixa a Hisana morrer em paz e segue sua vida direito.

            Byakuya suspirou, Rukia estava errada de tantas formas, mas não queria discutir aquilo com ela. Quando sua primeira esposa morreu, pensara que a vida não teria mais nada para ele. Mas tinha. Luna, seu filho que estava por vir e sua irmã. Rukia pode não ter chegado em sua família de maneira comum, mas era sua irmã, independente da ligação que tinha com Hisana. Eles possuíam uma afinidade estranha, ao mesmo tempo em que viviam um pouco afastados, eram também unidos. Ele era seu modelo e ela era seu orgulho. Era quase insano sentir-se assim sobre uma irmã que não vira crescer, mas era como se sentia.

            — Não quero que guarde rancor de Hisana. — Foi direto. — Ela assumiu que errou e não teve um dia que não tenha se arrependido.

            — Ok, mas isso não muda muita coisa. — Suspirou pesadamente, tentando conter o turbilhão de lembranças que se passavam pela mente. — Não muda que eu me senti rejeitada a vida inteira, que quando eu precisei de uma figura materna eu não tive. Nem que no final das contas eu fiquei sozinha.

            — Você não está sozinha. — Ele passou o braço por trás da irmã, apoiando-o no encosto do banco. — Tem uma família.

            Ela voltou a encarar o irmão. Tinha ele, Luna, até mesmo Renji, Akihime, Bazz e Ichigo. Era estranho ainda para ela se sentir parte de algo. Sentiu-se sendo injusta com seus amigos por falar que estava sozinha, uma vez que eles estiveram sempre por perto quando precisou.

            Talvez família fosse muito além de um laço consanguíneo. Era sentir-se amada pelas pessoas que amava e acolhida em todos os momentos. E isso ela sentia, não poderia negar.

            Rukia abraçou timidamente Byakuya que, surpreso, retribuiu. Desde que visitaram a mãe de Bazz a morena não conseguia desviar muito sua cabeça daquele tipo de dilema familiar. Era difícil, provavelmente seria ainda por um bom tempo.

            Mas não tinha do que ter medo. Encontrara sua família e não tinha motivos para achar que ficaria mais uma vez só.

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            — Acho que se acertaram... — Ichigo colocou a cortina da grande janela da sala que dava para o jardim no lugar, voltando a se sentar na poltrona de frente para o sofá.

            — Não é a primeira vez que discutem por isso — Luna observou. No início era um pouco pior, Rukia era um pouco revoltada com toda a história que envolvia sua irmã. — No final sempre fica tudo bem. Coisa de irmãos.

            — Mas você sabe que ela tá certa. — Falou se referindo ao caso do porta-retratos.

            — Tem tanta coisa errada no universo, não vou me estressar por causa de uma fotografia — Falou com sinceridade. Importava-se muito pouco com aquele tipo de coisa. Tinha plena segurança em seu casamento, não ia ficar criando caso por causa da falecida.

            — Você até soa adulta falando desse jeito — Luna agarrou IchiRuki, que estava ao seu lado, e jogou direto na cabeça do professor de física. — Porra, qual o problema de vocês? Querem só me bater!

            — Aliás... — Ela cruzou então os braços, os apoiando na barriga, e sorriu sugestivamente na direção de seu amigo. — O que tá rolando entre você e a Rukia?

            — É estritamente profissional! — Ele levantou os braços, roxo de vergonha. Não precisava de Luna se metendo naquilo, ele sempre entrava em furada escutando os conselhos da loira.

            — Olha só, eu realmente ficaria feliz se vocês tivesse alguma coisa... — Ela se levantou, inclinando-se de leve para ficar em uma altura onde pudesse olhar nos olhos do Kurosaki e ler suas expressões. — Vocês tão fazendo muito mais que aulas, não?

            — Não! Para com isso, Luna! — Ele desviou o olhar, sentindo o rosto esquentar gradualmente. A loira riu, era tão óbvio que aplaudia o esforço de Ichigo de tentar manter aquilo em segredo.

            — Não se preocupe que eu não vou falar nada pro Byakuya. — Falou, dando um tapinha na testa do futuro cunhado. — Mas nem ouse fazer algo de ruim pra Rukia. Não vai ser do meu marido que você vai ter que correr não.

            — Porra, você tá tirando as próprias conclusões. — Cruzou os braços, ainda evitando olhar para a amiga. — Pense o que quiser, então!

            — Jesus amado, vocês tão se pegando mesmo!

            — Eu não disse isso!

            — A Rukia é mesmo uma graça. — Ela voltou a se sentar, ao lado de Isshin que escutava a conversa e brincava com o próprio pé, ignorando os protestos do ruivo. — Até que tava demorando...

            Ichigo rolou os olhos. Com Luna às vezes era melhor ignorar, ela ia ficar delirando nas próprias ideias até cansar e não escutaria nada do que falasse. Só esperava, do fundo do coração, que ela não comentasse nada com Byakuya. Senão era seu pescoço que estava em jogo.

            Na cabeça da loira parecia que a entropia rolava inversa também, pois ela começara a falar em algo casual e já falava como Rukia ficaria linda em um vestido de noiva.

            Começou a concordar com a parte em que sua aluna falava que físico era tudo doido mesmo.


Notas Finais


Demorei de novo, né? É que fiquei doente outra vez e_e tá complicado kkk.
Espero que gostem, mais um dia na Golden Week de Ichigo e Rukia :O
Eu sempre me perguntei o que Rukia ~realmente~ achava de toda essa situação envolvendo Hisana. Eu sinceramente não gosto dela e acho que ela foi bem covardona em abandonar uma criança sozinha e incapaz de se proteger em um lugar como Inuzuri '-'. Não adianta pagar de arrependida depois pros outros, isso nunca vai mudar o que ela fez. Sempre quis explorar isso em uma fic e resolvi fazer isso em Leis.

o/ vejo vocês no próximo!
Beijão!


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