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História Lembranças - Kramer vs. Kramer.


Escrita por: ameliat_

Capítulo 19 - Kramer vs. Kramer.


 

Os olhos de Piper se abriam lentamente e a imagem do rosto de Alex à sua frente foi ficando cada vez mais nítida. Piscou algumas vezes para que pudesse enxergar melhor sua namorada e percebeu que ela parecia apreensiva. Não se lembrava de tê-la visto daquela forma desde que a conhecera. Seu rosto era uma estranha mistura de nervosismo, raiva e uma centelha de preocupação.  

Tentou tocar o rosto de Alex para conforta-la, dizendo-a que o que quer que tenha acontecido, estava tudo bem agora. E então percebeu que estava deitada no sofá da sala. Não se lembrava de como tinha acabado ali, sua última lembrança era de estar ouvindo Ariel dizer que era filha das duas e ter como tinha achado a pequena declaração bela.

Tentou se sentar, mas fez o movimento rápido demais e sua cabeça latejou. Instintivamente, colocou sua mão sobre sua testa, como se pudesse segurar a dor e praguejou baixinho.

Achou que Alex iria rir, ela sempre achava graça quando Piper praguejava, dizia que palavrões não combinavam com ela, sempre acabava ficando engraçada, mas ela não riu, permaneceu quieta com a mesma apreensão escrita em seus olhos. Estava prestes a perguntar o que houve quando algumas palavras atingiram sua cabeça de uma só vez. As mesmas palavras que a levaram até aquele sofá.

No fundo da sua cabeça, em alguma parte do seu cérebro, achava que aquilo tinha sido apenas um pesadelo. Às vezes, tinha aquele sonho. Nele, Brad sempre aparecia dentro de um carro preto, dizendo que levaria Ariel embora, ele gritava que era o verdadeiro pai e que Piper não merecia ter aquela filha. O sonho sempre terminava com ela perseguindo o carro, correndo, descalça pela rua, vendo o rostinho da filha no banco de traseiro ficando cada vez mais longe do seu alcance. Nas primeiras noites, acordava chorando, esmurrando seus travesseiros, temendo que um dia ele aparecesse e roubasse seu único bem realmente precioso, mas logo se confortou sabendo que uma pessoa sem sentimentos como ele, não se importaria com a vida de uma criança. Logo, os pesadelos perderam a força e não passavam de sonhos bobos que ela ignorava.

Todavia, não se tratava mais de um pesadelo, ela não acordaria e tudo sumiria. E com aquilo, ela começou a sentir o desespero tomar conta da sua garganta. Alex pareceu perceber seu pequeno desespero e apressou-se em oferecer um copo de água que estava esperando na mesinha.

 

— Não é um pesadelo, não é? – ela gemeu baixinho segurando o copo de água entre suas mãos com força, esperando talvez que Alex a enganasse dizendo que tudo não passou de uma brincadeira de gosto duvidoso.

— Sinto muito, Piper...

 

Sentia que estava prestes a chorar, mas engoliu o choro. Não se permitiria ser fraca naquele momento. Se não por ela, por Ariel.

Depois de tantos anos, Brad não podia ter despertado das trevas e querer tirar a única coisa boa que ele havia lhe dado. Lembrava exatamente do olhar dele na festa de noivado de Alex um mês antes, ele ficou surpreso assim que a viu, mas sua surpresa se desfez em uma expressão de vitória. Na hora, lembrava-se de como sua fisionomia a enojou e como sentiu mal, fraca, entretanto naquele momento, enquanto pensava que ele queria tirar dela a filha, pensava no por que ele não se sentia satisfeito apenas sabendo que a tinha vencido.

 

— O que eu vou fazer agora, Alex? Se ele tirar minha filha de mim... Eu... Eu... – sua voz soava fraca, quase falhando.

— Ele não vai tirar nada de você – Alex a garantiu, esfregando a palma de sua mão em seu joelho.

 

Segurando sua cabeça, Piper se sentou de uma vez.

Olhou para os lados, percebendo que a casa estava vazia. A cozinha que antes tão preenchida com planos, a risada de Ariel, a animação de Dakota e o amor de Alex, agora estava vazia.

Passou as mãos pelos braços, de repente, se sentindo um pouco frágil.

 

— Onde ela está?

— Dakota a levou para escola. Ela ficou um pouco nervosa quando te viu desmaiando, mas dissemos que provavelmente, você devia ter comido muitos doces, ela disse que viu no Discovery que doces em excesso podem ser prejudiciais mesmo e me fez prometer que ligaria para a escola assim que você acordasse e que eu não deixaria comer doces – os lábios de Alex se abriram em um sorriso triste com a lembrança – Eu liguei para minha mãe, ela já está a caminho, junto com Nicky. Tentei explicar por cima o que houve e como ela é advogada, talvez possa ser uma força a ser considerada...

— Eu não tenho ideia de como isso pode ter acontecido. Em um mês Ari completa sete anos e ele nunca, nunca, tentou nenhum contato. Por que faria isso agora? Sempre fiquei em dúvida se ele sabia ou não da existência dela, afinal meu pai nunca escondeu de ninguém que era avô, mas...

 

Bufou, frustrada.

As dúvidas ficavam martelando em sua cabeça e aquilo tudo só a atormentava ainda mais. Mesmo querendo saber o motivo de ele de repente ter começado a ter interesse na vida de uma filha que não o pertencia, aquilo não faria muita diferença naquele momento.

Havia mais questões envolvendo tudo aquilo. E uma delas era em como contaria a Ariel que todas as histórias que tinha inventado sobre seu suposto pai ser um homem de coragem que lutou bravamente defendendo o país eram mentira. Ariel podia ter só seis anos, mas sabia o que significava mentira. E sabia que ela não perdoaria aquela fácil.

Sentiu algo palpitar dentro da sua cabeça.

 

— Como vou dizer a Ari que o pai dela não é um herói de guerra? Ela vai me odiar para sempre.

 

O desespero antes instalado em sua garganta começou a derreter em raiva.

Sabia exatamente porque tinha tanto medo de entrar em uma batalha judicial com Brad.

Piper tinha nascido em uma família de posses, seu bisavô tinha sido dono de mais da metade dos hospitais da Califórnia e Carl herdara tudo aquilo e conseguiu não só administrar como multiplicar sua herança. Mas nenhuma fortuna se comparava a dos Green. Eles possuíam o maior conglomerado de indústrias bélicas do país em seu capital, forneciam armas e munições diretamente para o governo americano. Lembrava quando era criança e ouvir sua mãe comentando com as amigas que os Green não tinham apenas dinheiro, eles tinham algo que ninguém mais tinha naquela comunidade de ricos de Fresno: poder.

E mesmo que aquele não fosse mais o motivo de denunciar ele à polícia, tinha sido pelos primeiros anos. Ela sabia que lutar com Brad na justiça era uma guerra que já entrava perdendo. E saber daquilo só a enervava mais.

Parecia que estava no meio de um desastre iminente.

A loira se levantou e começou a andar de um lado para o outro. Sentia que acabaria formando um buraco no meio da sala, mas não conseguia se acalmar. Agitava as mãos, ansiosa.

 

— Consegue acreditar nisso? Ele quer me tirar minha filha agora, minha filha e apenas minha porque ele nem deve saber qual a data de nascimento dela ou qual a cor favorita dela – gritou, soltando uma risada sarcástica em seguida.

— Nós não podemos deixar que ele fique com Ariel, Piper. Faremos de tudo para impedir. Vamos lutar com todas as nossas armas. Estou aqui com você, vamos entrar nessa guerra juntas – Alex falou, tentando acalma-la

— Alex, eu não sei se lembra, mas ele é dono daquela indústria de armas, a Green’s Company. Não sei se lembra disso também, mas eles fornecem armas para o próprio governo americano. Como vou entrar nessa batalha de Kramer vs. Kramer não sendo ninguém? Eu sou só um peixinho prestes a ser colocado em um tanque de tubarões

 

Alex se levantou naquele momento e segurou Piper pelos ombros, impedindo-a de andar. Aquilo a obrigou a respirar fundo e perceber que precisava se acalmar. Não resolveria nada daquilo da forma nervosa que estava. Precisava ser racional.

 

— Vamos resolver isso, Pipes. Eu jamais deixaria que algo ruim acontecesse a Ari ou você.

 

Piper sentiu seus olhos começarem a ficar marejados e daquela vez, se entregou ao choro. Jogou-se nos braços da namorada, sentindo o pouco de conforto e proteção que ela podia oferecer. Seu choro começou a ficar alto, ela estava tremendo nos braços de Alex.

 

— Está tudo bem, vai ficar tudo bem... Estou aqui com você e não vou sair – Alex sibilava, acariciando seus cabelos.

— Alex, se eu ficar sem ela... Eu morro... – ela dizia entre soluços angustiados.

— Nenhum juiz em sã consciência deixaria que Ariel ficasse com um estuprador, nem que ele tivesse todo o governo ao seu lado.

 

A loira se afastou por um instante, ciente de o que falaria em seguida não receberia o apoio de Alex.

 

— Eu não vou dizer a ninguém que ele me estuprou.

— O quê? – ouviu a voz de Alex se alterar pela primeira vez, podia ver a raiva injetada nos olhos dela – Piper, sei que você não quis dizer na época de tudo que aconteceu, mas não agora, não com ele querendo roubar nossa filha de nós duas.

— Exatamente – Piper sussurrou.

 

Os olhos de Alex encontraram os dela parecendo confusos em meio à raiva. Respirou fundo, massageando suas têmporas, antes que pudesse explicar seu posicionamento.

 

— Por muito tempo, eu tenho observado algo... As pessoas tem um verdadeiro fascínio, um fascínio doentio em ver casos como o meu. Estão todos os dias com os noticiários ligados acompanhando cada detalhe novo, sempre com uma opinião na ponta da língua. Acompanham documentários baratos e programas de entrevistas com psicólogos de reputação duvidosa para comentar o caso. E se você perguntar a qualquer uma delas qualquer detalhe sobre o crime, elas irão te responder tão bem ou até melhor do que a própria vítima. Vão te dizer o nome completo do responsável pelo crime e se brincar, contar toda a história da vida dele – Piper tomou um pouco de ar antes de prosseguir: - mas se perguntar sobre o nome da vítima... A história muda. O fascínio, essa curiosidade mórbida, é pelos criminosos. “O que leva um homem como aquele a cometer um crime assim?”, elas se perguntam, mas não pelas vítimas. A vítima é sempre a coadjuvante da sua própria desgraça. Ficamos escondidas atrás dos holofotes, juntando nossos cacos, sozinhas. Não vão lembrar-se de mim, vão lembrar-se dele. E eu morreria se minha... A nossa filha – ela corrigiu rapidamente – fosse lembrada por ele. Ariel não ficará reconhecida como o fruto de um estupro, ela não merece pagar por isso

 

Por um segundo, fez-se silêncio na sala de Piper. Tudo que ouviam era o vento agitando as cortinas brancas.

 

— Tudo bem – Alex sussurrou por fim – vou respeitar sua escolha, mesmo não concordando com ela.

 

Piper se aproximou de Alex e passou seus braços pelos ombros da morena. Fitou aqueles olhos verdes por um instante e sentiu toda a força que precisaria ter. Tinha certeza que naqueles olhos estava todo o apoio que ela necessitaria. Mesmo que fosse apenas um peixinho prestes a ser jogada em um tanque de tubarões, ela tinha outro peixinho com ela.

 

— Obrigada por ficar comigo e Ari... – Piper suspirou, tentando relaxar a tensão em seus braços – Não digo que ela é nossa filha para te agradar, Al, ela é realmente nossa.

— Vocês duas são minhas desde que coloquei os olhos em vocês – a morena respondeu, beijando a ponta do nariz de Piper e fazendo-a sorrir pela primeira vez desde que recebeu a intimação.

 

Naquele exato momento, a campainha tocou anunciando a chegada de Diane e Nicky. Assim que Alex abriu a porta as duas correram para abraçar Piper e tentar dizer algo que a confortasse ou verificar se ela estava bem. O abraço que Nicky deu foi tão forte que Piper não conseguiu não rir e a agradeceu por aquilo.

As quatro se sentaram à mesa da cozinha e Alex se apressou em servir um pouco de chá para as visitas, em seguida se sentou ao lado de Piper. Diane analisava a intimação atentamente, como se quisesse decorar cada uma das palavras contidas no documento. Quando finalmente colocou o papel sobre a mesa, ela abriu uma pasta, tirou um bloquinho e uma caneta e olhou atentamente para Piper por cima dos seus óculos.

 

— Quero que me conte tudo – ela ordenou.

— Bom, Ari é filha dele – contou – Quero dizer, não a considero filha dele, mas isso não é muito relevante agora.

— Ele sabia?

— Não, nunca contei. Não achei que ele quisesse saber. Mas meu pai sempre disse a todos...

 

Diane fez uma careta e anotou a informação em seu bloquinho.

 

— Como ele agora quer, de repente, saber da filha? – Nicky perguntou – quero dizer, qual é, são sete anos, por que agora? Juro que se a Diane não tivesse me impedido eu tinha parado na frente daquela casa que ele divide com a esposa frígida dele, e dado uma surra tão grande... Tão grande... Que ele nem ia lembrar-se do seu nome ou de como a vida dele é asquerosa.

— Não te perdoaria se fizesse isso sem mim – Alex emendou.

— Já imaginou meu punho entrando na boca dele?

 

A advogada bateu a caneta na mesa, chamando atenção das duas. Não era hora para aquilo.

 

— Você contou a ele?

— Não, eu não tinha porque contar a ele. Sempre achei que ele pudesse saber por outras pessoas, não sei... Desculpe-me, isso é tudo tão confuso, sinto que estou enlouquecendo – Piper respondeu, apoiando os cotovelos na mesa de madeira.

 

Mais uma careta.

 

— É ruim? – Piper perguntou entre os dentes.

— Um pouco... A justiça americana costuma privilegiar a mãe, mas não estamos falando de um caso qualquer, você está lutando contra Bradley Green, e não podemos negar a influência do nome dele, não vamos ser ingênuas. Ele pode alegar que você todos esses anos o escondeu que tinha uma filha, que tem mais dinheiro para mantê-la... E tudo isso é levado em conta. Não há mais nada que você possa usar como argumento?

 

Piper olhou para Alex, mesmo contrariada, a morena concordou com a cabeça, apoiando em sua decisão.

 

— Não, não tenho.

 

Diane a olhou como se pedisse desculpas por algo. Naquele momento, Piper percebeu que as coisas estavam mesmo complicadas para ela. Sabia que sua sogra era uma excelente advogada, ela tinha uma fama que conseguiu conquistar sozinha e se mesmo ela estava fazendo aquela expressão era porque as coisas não seriam mesmo fáceis.

Percebendo que Piper começava a se atormentar, Diane pousou sua mão sobre o braço dela, dizendo com uma voz mansa.

 

— Pode ser que tudo esteja contra nós, querida... Mas vamos superar tudo isso, os malvados não vão vencer dessa vez.

 

Passaram a tarde tentando criar alguma defesa.

Piper contou tudo sobre sua vida nos últimos sete anos, não escondeu nenhum detalhe, mesmo as coisas que considerava bobas, ela contou, e Diane encontrou coisas que podiam ajuda-la na defesa.

Alex, Nicky e Diane já começavam a se sentir mais confiantes, até mesmo Dakota que apareceu um pouco depois e tentou ajudar contando o que tinha presenciado naqueles anos, estava mais confiante. Ela também tinha ligado para Carl e contado tudo que tinha acontecido naquela manhã, ele ficara furioso, mas se prontificou a ajudar no que fosse preciso. Estava em Los Angeles, mas avisou que voltaria naquela mesma noite, não ousaria ficar longe da filha naquele momento.

Mesmo com todas as pessoas que amava ao seu lado, no fundo, Piper ainda sentia que nada daquilo a ajudaria.

Tinha um pressentimento tão ruim azedando seu coração.

Apesar de toda aquela nova fase de confiança, ainda se sentia no meio de um furacão. Estava começando a se sentir sufocada novamente, mas não quis transparecer aquilo. Levantou-se de onde estava e andou até a cozinha, bebeu água para disfarçar. Não queria preocupar Alex.

De repente, um corpinho de cabelos loiros surgiu da porta e correu até seus braços.

 

— Mãe, mãe! Você está viva! – Ela gritou, enroscando as perninhas na cintura da mãe e beijando seu rosto sem parar.

 

Ela riu baixinho e beijou o rosto da filha.

 

— Acha que eu te largaria, meu amor?

— Não importa se largasse, eu iria atrás de você, nunca te deixaria em paz. Você é minha mãe e tem que ficar comigo para sempre, é uma promessa que as mães fazem sem saber, e isso não é um dever só seu não, a Alex e a vovó Diane, a Dakota e a tia Nicky também tem obrigação de me aguentar para sempre – a pequena a garantiu.

— Eu nunca vou te deixar, Ariel – Piper percebeu que falava em um tom sério queria, que Ariel soubesse daquilo.

 

Alex se aproximou, passando sua mão pelos ombros de Ariel.

 

— Ninguém vai te deixar – a morena garantiu a Ariel com um sorriso nos lábios.

— Isso é ótimo, espero que lembrem disso.

 

Piper colocou Ariel no chão e foi a vez de Diane receber seu abraço. Apesar de Ariel estar apenas ensaiando um nome carinhoso para chamar Alex, Diane já tinha o seu garantido. Em menos de uma semana já tinha virado a avó de Ariel e ela adorou aquilo. A tratava como uma verdadeira neta, inclusive nos mimos que oferecia à pequena.

 

— Parece que eu fui a renegada aqui na fila dos abraços – Nicky mostrou a palma das mãos, parecendo contrariada.

— Quer esperar a sua vez, por favor? Você gosta dos Rolling Stones, tem mesmo que ser a última, se dê por satisfeita por ainda ganhar um abraço – Ariel revirou os olhos, impaciente com aquela quem chamava carinhosamente de “tia”.

— Bem, vou lembrar-me disso quando você quiser aquela porção extra de batata frita depois do jantar escondido da sua mãe

 

Ariel se assustou e então fuzilou Nicky com os olhos por revelar o pequeno segredo das duas.

 

— Parece que alguém está muito, muito, encrencada agora – Alex pigarreou.

—Eu te disse que essa menina estava comendo besteiras demais, não disse? – Dakota disse da cozinha

 

Piper queria repreendê-la, mas não conseguiu, só conseguiu sorrir com a cena. Gostava quando estavam todas reunidas na sala. Aquela cena tinha acontecido algumas vezes naquele mês e sempre se pegava admirando aquelas coisas tão bobas, que passava despercebido na maioria das famílias, como as provocações de Nicky para Ariel.

Na maior parte da sua vida Piper teve uma visão torta sobre a família, achava que família era aquilo que sua mãe queria que fosse, uma família perfeita de fotografia. Depois de sair de casa, percebeu que família eram aqueles que não a abandonavam. No entanto, naquele mês, com Alex, ela percebeu que família era muito mais do que pessoas que estavam sempre ao seu lado. O significado da família estava naqueles momentos bobos.

 

— Você vai conseguir uma namorada quando, tia Nicky? Não acha que está um pouco velha? – Ariel provocou, sabendo o quanto aquele assunto irritava Nicky.

— Acho que sua tia Nicky não tem namorada porque ninguém aguenta seu humor de manhã – Alex cochichou para a menina.

— Ela podia namorar minha tia Lorna. É isso que os tios fazem, se casam.

 

Nicky balançou a cabeça.

 

— Piper, o que você tem ensinado a essa menina? Agora ela quer que eu vire uma pedófila.

— O que é uma pefodila? – Ariel se atrapalhou na palavra.

 

As mulheres da casa riram.

A noite acabou se tornando um pouco mais leve com as risadas.  Ficaram até tarde conversando sobre tudo, mas não tocaram mais no assunto de Brad ou do que aconteceria nos próximos dias, apenas apreciaram o centro de atenções daquela casa: Ariel.

Antes de ir, Diane chamou Piper no canto e avisou que ligaria assim que começasse a trabalhar no processo.

Quando Nicky e Diane se despediram, Dakota obrigou Piper a tomar um chá para que ela dormisse melhor. Segundo ela, tinha tido um dia muito longo e conhecendo-a como conhecia, sabia que ela viraria a noite em pensamentos. Tomou o chá fazendo caretas e subiu para o quarto, esperando Alex que tinha ido contar sua típica história para Ariel dormir.

Tinha vestido sua camisola branca e se escondido debaixo dos cobertores, deixando apenas seu rosto para fora.

De repente, viu Alex surgir na soleira da porta, com as sobrancelhas arqueadas, parecendo sugestiva. Ela estava usando o pijama que Piper mais gostava que ela usasse.

 

— Se não estiver parada pensando em como vai começar seu strip-tease, me conte logo o que houve – exigiu da cama.

 

A morena riu da sua impaciência e se jogou na cama. Ela se aconchegou nos braços de Piper, esfregando seus pés aos da mulher. 

 

— Hoje eu acordei sabendo que esse dia mudaria nossas vidas para sempre... – ela murmurou – só não sabia que seria da forma que aconteceu. Achei que seria algo mais... Mais... Acho que estou me atrapalhando, não acho que sou muito boa com esses assuntos – balançou as mãos e enfiou uma debaixo do travesseiro, quando voltou, trouxe uma pequena caixa de couro preta e colocou em cima da barriga de Piper – Eu sei que você sabe o que tem dentro dessa caixa e eu sei que agora não é o melhor momento. Eu tinha imaginado que nosso dia seria como qualquer outro e que subiríamos para nossa cama e eu te pediria em casamento. Era algo bonito na minha cabeça. Para variar, eu tinha um discurso pronto. Só que parece que nossas vidas não gostam muito de planejamento... Sempre que planejamos, tudo acaba errado. Enfim, fiquei pensando em deixar isso aqui debaixo do travesseiro e esperar o momento certo, mas percebi que nunca vai haver um momento ideal ou perfeito para nós duas, todos eles são, de alguma maneira. Então vou deixar aqui – ela apontou para a caixinha – e você me diz o que quer, quando sentir que tem uma resposta

 

Piper sentiu seu coração acelerar dentro do peito.

Com as mãos trêmulas, ela abriu a caixa e viu aparecer um anel com uma pequena pedra de diamante solitária em cima. Ele não era chamativo, era sutil, perfeito. Assim como o lugar que Alex tinha escolhido para fazer aquilo. Não havia nenhum lugar mais íntimo e tão delas como aquele quarto. Era onde acordavam, dormiam juntas, trocavam confidencias e faziam amor.

Sentia algo parecido com euforia percorrer as suas veias e ao mesmo tempo, sentia algo doce. Em toda sua vida, nunca se imaginou naquela posição, sempre achou meio exageradas as reações das mulheres que viam em filme quando recebiam um pedido de casamento, mas podia entendê-las.

Sentiu as lágrimas brotarem em seus olhos e se amaldiçoou mentalmente por estar sendo tão sensível.

 

— Sim – sussurrou.

 

Ela sorriu daquela vez e colocou o anel em seu dedo. Em seguida, passou as pernas pela cintura de Alex e começou a encher seu rosto de beijos e vários “sim” entre os beijos. Alex gargalhava daquilo, sentindo os beijos distribuídos pelo seu rosto e pescoço fazerem cócegas. Quando a pequena euforia passou, Piper fitou Alex por um instante. Não cansava de olhar seu rosto e de verificar o quanto ela era bonita. E sua.

 

— Por que achou que eu me negaria à oportunidade de viver minha vida ao seu lado? – indagou, percorrendo os traços que tanto quis decorar, com o dedo indicador.

— Não queria que achasse que estou sendo insensível com tudo isso – sua fala séria se desfez e Piper soube que ela faria uma piada em seguida: - E qual é, achou mesmo que eu te tiraria de casa sem uma aliança no dedo? Tenho que preservar sua honra.

 

Piper beijou os lábios de Alex, pedindo que aquele beijo durasse algo o mais próximo possível da realidade.

Não se lembrou de Brad ou de todos os problemas que tinha para resolver, apenas sabia que Alex havia preenchido, mais uma vez. E como se aquilo fosse possível, se sentia ainda mais apaixonada.

Eram dois peixinhos no meio do tanque de tubarões, mas dois peixinhos que tinham um ao outro.

Aqueles seus pensamentos calmos, no entanto, durariam pouco. 



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