História Lembranças de um adolescente - Dia mais tedioso não existiria

—E então, vai me deixar entrar?

E essa foi a interrupção daquele curto momento de análise. Mas ele ainda intrigava Brad de uma certa maneira.

—Oh, desculpa, eu não queria... Pode entrar, claro.

—E você é...—disse o garoto, colocando sua bolsa no meio do pequeno monte de roupas de Brad em cima da cama que não o pertencia.

—Brad, prazer.—falava ele tentando falar sem gaguejar. Estranho. Nunca havia se sentido nervoso perto de alguém. Talvez fosse devido à pequena invasão que estava ocorrendo naquele momento em seu pequeno território/quarto. Mas logo se recompôs. Era uma das suas habilidades de ator amador, por assim dizer.

—Então—falou Sharman—esse é o nosso quarto...—falando num certo constrangimento.

—Ah, desculpa, pela bagunça. Eu, ah, não costumo receber muita gente aqui. Na verdade, eu não recebo ninguém. De jeito nenhum.—falava B enquanto tentava arrumar suas roupas espalhadas pelo quarto.

—Okay, será que eu poderia perguntar o motivo?

—Na verdade, não, prefiro deixar assim. Mas se sinta a vontade. Eu já estava de saída para a aula. E você, está em que ano?

—No segundo. Mas eu não vou agora para a sala. Tenho que passar na sala do diretor antes.

—Ok então. Então a gente se vê mais tarde.

—Ok, vou arrumar minhas coisas aqui por enquanto.

—Ok. Tchau.

E foi nisso que basicamente se resumiu a primeira conversa. Bem interessante. Mas entendam a ironia. Todos nós agimos como idiotas sempre em qualquer primeiro contato com alguém. A não ser que você seja uma pessoa superconfiante. Se voce for uma dessas pessoas, parabéns. Você acaba de ganhar o prêmio do "nada".

Voltando a nossa pequena e meio chata história, Brad se dirigiu a suas aulas enquanto Sharman arrumava suas coisas. O que Brad não sabia era que Sharman não estava apenas arrumando suas coisas. Estava também analisando suas "não coisas". Prêmios de natação que Brad já tinha ganhado(esporte que ele também praticava), sua cama bagunçada, seu armário desorganizado, como se tudo aquilo fosse a formação de sua identidade. E Sharman estava fazendo aquilo apenas para tentar conhecer Brad. Estava pressentindo que seria algo interessante de se fazer.

Como havia ainda um período antes de se encontrar com o diretor, aproveitou para tomar um banho. Nada de surpreendente naquele primeiro dia. A não ser Brad.

O dia passou como qualquer outro, tedioso. Brad em suas aulas, Sharman acompanhando o diretor em sua pequena excursão pelo campus.

Ambos chegaram praticamente ao mesmo tempo no dormitório. E mais um pequeno momento de análise se passou entre eles, seguido logo de uma ida ao banheiro por um e uma ida à cama por outro. Encabulado, os dois estavam. Conversa, não houve mais naquele dia. E a madrugada passou assim, entrecortada por leves suspiros de sono dos dois. O que um não sabia era que o outro, mesmo dormindo, não parava de pensar na pessoa logo ali ao seu lado.