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História Lembranças De Um Verão - Capítulo 32 - Aliado


Escrita por: sarahcolins

Capítulo 33 - Capítulo 32 - Aliado


Durante todo o trajeto até a Casa Grande eu fiquei me perguntando o que Quíron poderia estar querendo falar conosco. Será que tinha algo a ver com a história de Connor e do espírito enviado por Afrodite? Era provável, afinal eu mesma ainda não tinha entendido aquela confusão toda direito. Por outro lado tinha a profecia do Oráculo que Quíron também estava sabendo. Será que ele tinha descoberto alguma coisa referente a ela? Eu me desliguei tanto do ‘mundo real’ nos últimos dias que nem me preocupei em pensar nisso. A verdade era que eu não queria pensar em nada daquilo, queria só aproveitar os ‘lindos momentos de amor’ que eu e Percy estávamos descobrindo juntos.

Infelizmente tinham essas coisas que insistiam em nos fazer voltar à realidade. Apesar de eu adorar aquele centauro, as conversas com ele sempre me lembravam de assuntos não tão agradáveis assim. Sua expressão séria piorava a situação. Normalmente ele mantinha a descontração mesmo nas situações mais graves. Ou seja, se ele estava daquele jeito, era porque algo muito ruim estava acontecendo. Mesmo assim achei melhor eu parar de tentar adivinhar o que estava por vir. Manter o pensamento positivo ajudava de vez em quando.

Quíron parou a cerca de um metro da escada que levava até a varanda da casa. Ele fez a cadeira de rodas girar para ficar de frente para nós. Nos encarou em silêncio por um momento e depois passou a fitar as próprias mãos que estavam repousadas em seu colo. Parecia que ele estava buscando a melhor forma de introduzir o assunto, que não deveria ser nada simples.

- Chamei vocês dois aqui porque recebi uma “denúncia” de que ambos passaram a última noite fora de seus chalés – ele uniu a ponta dos dedos e manteve o tom de voz calmo enquanto nos olhava esperando nossa reação.

Olhei para Percy que no mesmo instante também virou o rosto para me olhar. Sua expressão era de pavor misturado com vergonha. Minha cara não deveria estar muito melhor do que isso. Esperei para ver se ele ia falar alguma coisa. Ficamos os dois quietos. Nenhum teve coragem de abrir a boca para dizer nada. Afinal tínhamos desrespeitado as regras e tínhamos sido pegos. Não havia nada que poderíamos dizer em nossa defesa.

- Imagino que não queiram me contar onde passaram a noite – continuou ele normalmente como se já não esperasse ouvir nenhuma confirmação de nossa parte – O que podemos presumir é que estavam juntos, estou certo?

- Sim – dissemos os dois ao mesmo tempo e com o mesmo tom de constrangimento de alguém que admite a culpa de algo muito errado.

- Pois bem. Não é minha intensão me meter na vida de vocês, garotos. Não são os primeiros e nem serão os últimos semideuses a escaparem de seus chalés para passar a noite juntos... Em outro lugar – ele parecia escolher bem as palavras para se fazer entender e ao mesmo tempo não deixar nada explícito – Mas quero que compreendam que esse tipo de coisa acaba incomodando os outros campistas. Principalmente os que gostam de cumprir as regras. Eles não admitem que alguém que descumpra o regulamento saia impune. Por isso, mesmo que eu entenda os motivos de vocês, tenho que repreendê-los e castiga-los.

- Mas Quíron, não estávamos fazendo nada de mais – disse Percy na defensiva. Eu não queria que começássemos a falar do que eu e Percy fomos fazer fora do nosso chalé na noite anterior, então resolvi interferir.

- Percy, Quíron está certo. Não importa que não estivéssemos fazendo nada de mais. Se desobedecemos as regras então temos que pagar por isso – eu falava sinceramente mesmo que a ideia de um castigo não fosse tão legal. Se fomos tão descuidados a ponto de alguém ter ido nos denunciar, então merecíamos arcar com as consequências.

- Meus jovens, não precisam se exaltar. Como eu disse, esse tipo de coisa acontece. Vocês sabem que existem outros tantos casais de semideuses nesse acampamento. E acreditem, já tivemos problemas muito piores que esse. Quero ajudar vocês a ficar em paz com os outros campistas e ao mesmo tempo não ter que perder sua privacidade.

Era impressão minha ou Quíron sabia exatamente o que tinha acontecido entre eu e Percy? Ele dava voltas no assunto para não ter que dizer as coisas diretamente, mas eu estava começando a entender. Ele tinha alguns milhares de anos de experiência com jovens heróis. Deve ter passado por aquela mesma situação diversas vezes. Seria pretensão de nossa parte achar que iriamos conseguir engana-lo. Por um lado isso era bom, pois ele mostrava que nos compreendia e ainda tinha intensão de nos ajudar. Eu sabia que aquele diálogo de palavras medidas ia ser difícil, mas estava disposta a colaborar.

- E como podemos fazer isso? Quer dizer, ficar bem com os outros meio-sangues e continuar com os momentos de privacidade? – tentei usar a mesma linguagem e as mesmas palavras dele para que nos entendêssemos.

- É ai que entra o castigo de vocês. Digamos que ele será falso. Farei com que pensem que vocês estão fazendo trabalhos para mim, quando na verdade estou lhes dando uma desculpa para se ausentarem de seus chalés. Claro que isso não poderá ser tão frequente se não ninguém vai acreditar. Mas alguns dias durante a semana será suficiente.

Na mesma hora eu pensei que não, não seria suficiente. Não do jeito que as coisas andavam indo entre eu e Percy. Mas não tínhamos outra escolha a não ser concordar. Quíron poderia muito bem ter acabado com a nossa alegria e ter nos feito trabalhar de verdade. Mas não, ele estava ali nos oferecendo uma chance de continuar aproveitando com moderação. Percy nos olhava com uma expressão de dúvida quando falou:

- Será que vocês podem ser mais claros, não estou entendo nada. Que raios de castigo é esse? O que nós vamos fingir que vamos fazer e o que de fato faremos? – ele provavelmente não estava entendendo nada da nossa conversa. Mas não ia poder explicar-lhe tudo, pelo menos não naquele momento.

- Percy, não se preocupe. Quíron está nos ajudando e vai ficar tudo bem – sorri para ele que continuava parecendo confuso.

- Bom, amanha de manhã irei procurar os dois na hora do café para lhes falar melhor do “castigo” – ele virou-se e começou a subir uma rampa lateral que havia para a varanda.

- Quíron, espere! – chamei-o e ele deu meia volta para voltar-se em nossa direção de novo – Será que você pode nos dizer quem nos denunciou?

- Sinto muito Annabeth, não posso dizer. Mas não se preocupem com isso, ninguém estava querendo o mal de vocês ao vir me contar – ele sorriu e voltou a se virar para entrar na Casa Grande.

Fiquei pensando naquilo que Quíron tinha dito durante todo o trajeto de volta aos chalés. Eu segurava a mão de Percy que ia guiando enquanto eu estava absorta nas minhas reflexões. Por mais que eu quisesse acreditar no que ele disse, eu não conseguia. Como que alguém poderia fazer aquilo sem querer nosso mal? Nos entregar assim desse jeito, sabendo que podíamos ser castigados. Eu não imaginava quem pudesse ter sido, mas tinha certeza de que essa pessoa não era nossa amiga de forma alguma.

Percy parou de andar quando chegamos a frente do meu chalé. Ele não fez menção de se despedir ou nada do tipo. Eu já estava desconfiando que ele ia tentar propor uma nova escapada por isso já fui logo cortando qualquer possibilidade.

- Bom, eu fico aqui. Boa noite Percy – disse e fui me aproximando para abraça-lo. Ele retribuiu e ficou me segurando quando eu tentei me afastar.

- A gente precisa mesmo se separar agora? Por nós não...

- Esquece Percy – interrompi antes que ele terminasse – Não vamos abusar da sorte, ok? Essa noite ficaremos cada um em seu chalé. Já conseguimos incomodar alguém a ponto de irem nos entregar a Quíron, que por sorte foi muito legal nos dando uma força.

- Falando nisso, será que agora dá pra me explicar o que ele estava querendo dizer com aquela história de falso castigo? – ele se soltou de mim e passou a me olhar segurando em minhas mãos. Percy realmente ainda não tinha entendido a lógica da coisa.

- Quíron quer que os outros campistas não se sintam prejudicados ao verem que estamos burlando as regras. E ao mesmo tempo ele não quer nos tirar o direito que ficarmos a sós quando quisermos. Então ele vai inventar um castigo para que nós possamos usar de desculpa para as nossas escapadas. Entendeu agora?

- Agora sim. Caramba, nem pude agradecê-lo por ser tão legal com a gente.

- Terá bastante tempo para isso amanha. Não se esqueça de que ficamos de encontra-lo no refeitório na hora do café. Não vá se atrasar hein?!

- Não, senhora! – disse ele batendo continência para zombar da minha cara. O olhei rindo quando ele veio para me beijar.

- Boa noite, meu herói. Nos vemos amanha.

- Boa noite, minha heroína. Eu mal posso esperar por isso.

Nos despedimos com mais alguns beijos e por fim pude entrar em meu chalé enquanto Percy se encaminhava para o dele. Coloquei um pijama e me deitei na cama rapidamente. Demorei a pegar no sono. Fiquei pensando em tudo o que tinha acontecido. E como eu havia amadurecido tanto em poucos dias. Como aquele simples fato de tornar-me mulher havia mudado tantas coisas em mim. Quando por fim peguei no sono sonhei que estava novamente em um lugar branco cheio de luz, suspensa no ar, mas dessa vez vestindo o meu pijama que havia acabado de colocar para dormir.

Cheguei a pensar que aquele sonho seria uma repetição do último que eu tive, mas não era. Desse vez minha mãe não estava ali. A figura que eu via surgindo ao longe era outra deusa. Uma que também não queria reencontrar tão cedo. Afrodite se aproximava fitando-me nos olhos. Eu fiquei calada apenas observando. Ela sorriu e me mediu dos pés a cabeça quando já se encontrava a poucos metros de mim.

- Minha queria Annabeth – disse ela enfim, com seu tom de voz sempre tão harmonioso e acolhedor – Vejo que as coisas entre você e Percy estão indo muito bem.

- Sim, estão ótimas! – respondi seca.

- Vocês estão em uma fase de descobrimentos muito bonita. É como se estivessem conhecendo um ao outro novamente. É com certeza uma das partes mais interessantes do amor. Eu poderia passar horas só observando e analisado como se comportam...

- Será que dá para cortar o “blá-blá-blá” e ir direto ao ponto? Por que está aqui? Por acaso tem algum outro importante “aviso” para me dar? Ou quem sabe você queira me alertar que está preparando outros dos seus “testes” para nós?

- Sinto que tenha tanto ressentimento de mim. Sei que nossos últimos encontros não foram os melhores, mas eu não apareço somente nas horas ruins – ela mexia nos longos cabelos dourados ao falar – Hoje mesmo você andou pensando que precisava de uma nova amiga. Alguém com quem pudesse compartilhar suas recentes experiências amorosas. Pois bem, não há ninguém melhor do que eu para falar deste assunto. Nada do que disser me surpreenderá e sou uma fonte inesgotável para suas dúvidas sobre amor e sexo.

- Está falando sério? – eu não conseguia acreditar que a deusa do amor tinha vindo até mim apenas para me oferecer conselhos amorosos e sexuais. Tinha que ter alguma pegadinha naquela história.

- Não há pegadinha alguma – disse ela evidentemente lendo meus pensamentos – Existem algumas coisas sobre mim que poucos sabem. Não posso deixar qualquer pessoa desamparada quando o assunto é o amor. Oferecerei ajuda sempre, quando e como precisarem.

- Está bem. Eu aprecio muito a sua bondade – falei num tom bem irônico – Mas não me sinto a vontade compartilhando minhas experiências com uma deusa que eu mal conheço.

- Eu a conheço melhor do que imagina, Annabeth. E a quem mais você poderia recorrer? Sei que não tem muitas amigas. E pedir esse tido de conselho a sua mãe seria a mesma coisa do que pedir a uma freira.

- Já chega! Não sou obrigada a ficar ouvindo-a zombar de minha mãe – a defendi sem nem saber por que – Eu dispenso a sua ajuda, muito obrigada! Agora se puder se retirar de meus sonhos e me deixar dormir em paz, eu agradeceria.

- Não sabe a chance que está desperdiçando, heroína. Irá se arrepender de ter rejeitado minha oferta – disse ela, e logo em seguida desapareceu junto com todo o sonho.

Acordei assustada e percebi que ainda era de noite. Voltei a me deitar e tentei me acalmar para conseguir pegar no sono de novo. Continuei a dormir sem que mais nenhum deus viesse me visitar o resto da noite.


 



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