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História Lembranças De Um Verão - Capítulo 42 - Sorte


Escrita por: sarahcolins

Capítulo 43 - Capítulo 42 - Sorte


Dormi uma noite tranquila e sem sonhos. O que para um semideus já era considerado muita sorte. Acordei me sentindo muito bem disposta. Se isso tinha a ver com a poção que tinha tomado na noite anterior eu não sabia. Só sabia que a minha vontade era de sair dali. Tentar fazer todas as coisas que um dia eu pensei que não fosse capaz. Queria me arriscar sem ter medo algum. Queria tornar o impossível, possível. Me arrumei o mais rápido que eu pude e aprontei uma mochila com roupa e alguns suprimentos. Peguei meu boné dos Yankees e deixei o chalé de Atena.

Segundos depois eu estava à frente do chalé de Poseidon batendo na porta para chamar Percy. Se eu iria “conquistar o mundo” é claro que ele teria que estar do meu lado. A sua demora em vir abrir a porta me deixou impaciente. Eu não podia perder mais nenhum segundo. Não queria que aquela sensação de poder tão agradável passasse sem que eu houvesse aproveitado. Quando a porta abriu eu vi que Percy ainda se encontrava de pijama e sua cara estava bem amassada, entregando que ele havia acabado de acordar. Eu cruzei os braços na frente do corpo e balancei a cabeça negativamente enquanto olhava para ele.

- Percy você ainda não está pronto? Nós temos que ir... – eu falava freneticamente enquanto movia minhas mãos não conseguindo me conter de ansiedade.

- Mas ainda falta muito tempo para começar o treinamento – resmungou ele que ainda parecia sonolento – Me deixa dormir mais um pouco vai?

- Mas nós não vamos participar do treino hoje! – eu dizia aquilo como se aquela ideia fosse parecer tão animadora para ele quanto era para mim.

- Não? – perguntou ele confuso.

- Não. Nós vamos sair daqui! – eu mal conseguia conter o meu entusiasmo – Vamos pegar um ônibus e ir até São Francisco!

- O que? – ele esfregava os olhos com as mãos como se quisesse confirmar que ainda não estava dormindo e aquilo fosse um sonho – Por que você quer ir a São Francisco?

- Por que preciso fazer uma coisa lá, uma coisa muito importante! – eu não queria ter que dizer exatamente o que era. Talvez Percy não concordasse em me acompanhar se soubesse.

- E tem que ser hoje? Tem que ser agora? – ele não parecia nenhum pouco animado com a ideia e estava empenhado em me fazer desistir.

- Percy, é que você não entende. Eu nunca vou ter outra chance dessas na vida. Hoje é o único dia em que eu posso fazer qualquer coisa com a certeza de que tudo dará certo. Não posso perder essa oportunidade! – meu tom deveria ter sido o mais convincente possível, porque na mesma hora Percy mudou sua expressão.

- Está bem. Se é assim tão importante para você nós iremos a São Francisco – concordou ele. E eu fiquei imaginando se aquilo tinha a ver com o efeito da poção ou não. Lembrei-me daquela coisa de interferir no livre-arbítrio, mas acho que Percy me acompanharia de qualquer forma – Se quiser entrar enquanto me arrumo.

Eu entrei e me sentei na cama dele enquanto esperava. Não pude evitar ficar batendo os pés no chão enquanto isso. Simplesmente não conseguia controlar a minha euforia. Percy pareceu incomodado com aquilo, mas tentou se preparar o mais rápido que pode. No final eu ajudei a colocar as coisas em sua mochila. Em poucos minutos estávamos a caminho da saída do acampamento. De longe avistávamos Argos que estava parado bem abaixo do portal com o letreiro do acampamento meio-sangue. Vi que Percy hesitou um pouco quando estávamos chegando bem próximo ao segurança.

- Será que não teremos problemas em querer sair assim, do nada? – disse ele com um pouco de nervosismo em sua voz.

- Sinto que não teremos problemas com nada hoje, Percy - respondi confiante enquanto continuava avançando ao encontro da criatura de múltiplos olhos que já havia notado nossa presença ali mesmo estando de costas.

- Olá garotos, o que fazem por aqui? – perguntou Argos ao se virar em nossa direção.

- Olá Argos, tudo bem? – não sabia por que eu estava sendo tão simpática e agradável daquele jeito, mas continuei – Nós estamos de saída, Quíron já nos deu autorização.

O que normalmente aconteceria agora era recebermos uma resposta negativa da criatura que nem ao menos se daria ao trabalho de verificar com Quíron se havia mesmo uma autorização. Quando alguém iria entrar ou sair do acampamento Argos era sempre o primeiro a ser informado. Logo ele saberia que eu estava mentindo. Entretanto, ele não contava com a minha pequena ajuda. Aquele líquido mágico que estava fazendo com que todas as minhas tentativas tivessem êxito. Aquela essência produzida por Medeia que me tornava capaz de conseguir tudo que eu queria.

- Oh, está bem! – respondeu ele mudando de expressão assim como Percy fizera há pouco – Podem passar. Boa jornada a vocês!

- Obrigada Argos. Até a volta – disse lançando um sorriso de vitória.

Percy e eu seguimos sem falar nada até que estivéssemos longe o suficiente para que o segurança e motorista do acampamento não pudesse nos ouvir.

- Estou ficando com medo do que essa poção fez com você – disse ele que ainda parecia espantado com o fato de termos conseguido sair do acampamento com tanta facilidade.

- Medo, por que? – perguntei soltando um leve riso debochado – Não se preocupe que eu não irei te pedir para fazer nada que você não fosse aceitar de livre e espontânea vontade.

- Eu sei, mas... – ele ainda falava com um tom cauteloso e inseguro – é estranho que tudo esteja dando certo. É tão diferente do que normalmente acontecia nas últimas vezes em que deixamos esse lugar para nos aventurar em nossas missões. Era tudo tão arriscado. Só o que tínhamos era a certeza de provavelmente tudo daria errado.

- É verdade! – concordei me lembrando desses momentos que parecia haver acontecido há centenas de anos atrás – Quem dera pudéssemos dispor dessas poções nas vezes em que mais precisávamos de sorte.

Caminhamos pela mata que cercava os limites do acampamento por uns dez minutos até chegarmos a uma estrada. Em qualquer dia normal ficaríamos ali no mínimo uma meia hora a espera de um ônibus. Mas como aquele estava longe de ser um dia comum, em menos de um minuto avistamos um ônibus se aproximar. Embarcamos nele e seguimos rumo ao centro de Nova York. Sentamos um do lado do outro e ficamos abraçados olhando pela janela. Conversamos sobre os últimos acontecimentos no acampamento e também sobre nossas vidas fora dele. Chegamos até a mencionar nossos planos para nossa vida depois da escola. Eu normalmente evitava aquele assunto. Mas hoje ele não me parecia tão assustador. Por mais que fosse difícil imaginar como eu iriamos conseguir levar uma vida normal sendo semideuses.

Ele me falou da sua vontade de ao menos tentar viver uma vida tranquila. Que não pensava em deixar de frequentar o acampamento meio-sangue. Mesmo que fosse só para passar lá de vez em quando e rever os velhos amigos. O melhor daquela conversa foi perceber que não importava o que Percy falasse sobre o futuro ele sempre conjugava todos os verbos na primeira pessoa do plural. Ele me incluía em todos e cada um de seus sonhos, metas e objetivos. Aquilo me fez sentir melhor do que qualquer poção poderia conseguir. Eu também jamais poderia imaginar um futuro pra mim que não o incluísse. Na verdade, não importava o que eu fosse fazer. Se as coisas dariam certo ou não. Se eu tivesse Percy ao meu lado tudo estaria bem. Eu teria forças para enfrentar qualquer coisa.

Enfim chegamos a estação rodoviária central de Nova York tendo que interromper nosso momento de reflexão. Desembarcamos e fomos procurar a plataforma do onde saiam os ônibus para São Francisco. Eu não sabia se era pelo grande volume de humanos presentes ou se era por efeito da poção, mas ainda não havíamos notado a aproximação de nenhum monstro até o momento. Compramos nossos bilhetes e aproveitamos para ir comer alguma coisa numa das lanchonetes que haviam por lá, já que nosso ônibus só sairia dali a uma hora. Percy foi pedir uns salgados no balcão enquanto eu me sentei em uma mesa redonda próxima a porta. Queria ficar de olho na plataforma para não correr o risco de perdermos a hora.

- Preocupada com os monstros? – perguntou Percy ao voltar com nossa comida – Essa viagem está tranquila demais pro meu gosto...

- Na verdade estou preocupada só com o horário do trem – disse depois de dar uma mordida na minha esfiha e um gole na lata de Coca-Cola que dividíamos – Acho que provavelmente não teremos problemas com monstros, pelo menos por hoje.

- Será que teremos essa sorte toda em São Francisco também? – perguntou ele ainda não tão confiante já que nosso destino era apenas o lugar com a maior concentração de monstros por metro quadrado do país.

- Não sei. Mas algo me diz que mesmo que cruzemos com um monstro ou dois, não teremos dificuldades ao enfrenta-los – sorri para ele mostrando que a ideia de me deparar com um perigo real e ter que lutar não me parecia nenhum pouco ruim.

Aproveitamos o tempo disponível para checarmos nossa bagagem. Eu havia trazido néctar e ambrósia de sobra. O dinheiro que tínhamos dava para a viagem de ida e de volta e ainda sobrava. De quebra Percy ainda havia se lembrado de trazer alguns dracmas de ouro. Compramos comida extra e água na lanchonete para poder levar no ônibus já que tínhamos um longo caminho pela frente. Por último fomos usar o banheiro e em seguida embarcamos. Fomos os primeiros a entrar no ônibus então escolhemos os últimos acentos que eram sempre os mais cobiçados. Nos acomodamos lá e esperamos que o motorista começasse a nos conduzir até nosso destino.

Dessa vez quase não falamos nada durante todo o tempo em que estivemos na estrada. Basicamente fiquei encostada sobre o peito de Percy sentindo o movimento de sua respiração e ouvindo as batidas de seu coração. Ele acariciava meus cabelos lentamente o que me deixou sonolenta. Havíamos acordado muito cedo então ambos caímos no sono. Só despertamos quando o ônibus parou na rodoviária principal de São Francisco. Pegamos nossas mochilas e desembarcamos. Segurei a mão de Percy e nos conduzi até um ponto de taxi que ficava ali perto. Caminhamos até o primeiro da fila onde havia um homem dentro. Ao me inclinar até a janela para falar com ele percebi que ele estava dormindo.

- Ei moço! – chamei num tom de voz um pouco alto fazendo-o despertar sobressaltado – Esse taxi está disponível?

- É... Sim, claro! Podem entrar – respondeu o motorista após se recuperar do susto por ter sido acordado tão bruscamente.

Me dirigi até a porta traseira do veículo para subirmos a bordo. Porém antes que minha mão alcançasse a maçaneta algo ou alguém voou para cima de mim e Percy e nos derrubou no chão. Ficamos atordoados e não tivemos tempo de identificar a criatura que nos atacara, pois instantes depois ela já havia se debandado dali. Nos colocamos de pé e ficamos em alerta caso a “coisa” resolvesse voltar. Percy levou a mão ao bolso deixando contracorrente a postos e eu tirei minha faca de dentro da mochila o mais rápido que pude. O fato de eu estar apreensiva com aquele ataque inesperado estava me causando uma sensação que há muito não experimentava. Eu estava enfrentando um perigo real e aquilo me fazia sentir viva. Eu estava ansiosa para usufruir de meus reflexos privilegiados em campo de batalha e por em prática todas as habilidades que treinei esse verão.

Percy e eu ficamos um de costas para o outro enquanto nossos olhares percorriam o perímetro a procura de nosso agressor. Resolvemos nos afastar dali para um lugar menos movimentado. No caso de um novo ataque diminuiríamos a possibilidade de inocentes serem feridos. Continuamos pela calçada onde estávamos até chegar a entrada de um estacionamento. Entramos lá e continuamos atentos a qualquer movimentação suspeita. Menos de dois segundos depois eles apareceram. Eram com certeza mais de dez e estavam fechando o cerco a nossa volta. Apesar de pequenos eu sabia o quanto aqueles Dracaenaes, com suas duas caudas de serpentes no lugar das pernas, poderiam ser letais, principalmente em ataques grupais como esse. Desembainhei minha adaga e logo depois ouvi o barulho da espata de Percy assumindo sua forma real.

Três deles vieram em minha direção de uma vez. Deferi um golpe certeiro que transformou dois deles em pó. O outro grudou em meu braço, mas rapidamente consegui cravar a faca em suas entranhas que se dissolveram imediatamente. Nem me preocupei em olhar como Percy estava se saindo. Ele não havia bebido a poção que estava me proporcionando sucesso, mas ele tinha algo muito melhor a seu favor. Era um herói do Estige e nada poderia tocá-lo. Acabamos com os Dracaenaes em menos tempo do que eu imaginava ser possível. Depois demos uma conferida nos arredores para nos certificar de que não havia mais nenhum monstro a nossa espreita

Voltamos até o taxista que permanecia em seu veículo, alheio a tudo o que havia acontecido. Ele parecia que estava prestes a voltar a cochilar quando eu voltei a assustá-lo ao abrir a porta traseira e entrar seguida de Percy. Ditei o endereço da casa de meu pai para o homem que pôs o carro em movimento logo em seguida. Percebi que Percy não ficou surpreso quando eu revelei para onde estávamos indo. Acho que logo que mencionei São Francisco ele já sacou onde exatamente terminaria nossa jornada. Entretanto ele ainda devia estar se perguntando o que eu queria fazer lá. Que coisa tão importante seria essa que eu nunca tivera coragem suficiente para tentar? O que seria tão arriscado a ponto de eu precisar ter a ajuda de uma poção mágica para garantir meu êxito? O que tinha feito com que eu atravessasse o país só pela certeza de que daria certo? Eu ainda não estava pronta para lhe responder. Então me mantive em silêncio e Percy respeitou isso não me perguntando coisa alguma durante todo o trajeto.


 


 



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