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História Lembranças dos Meus Anos - Aos 17


Escrita por: Milynha_Sh

Notas do Autor


Tenho um quilo para falar, mas nenhum tempo para isso!
Mais tarde responderei os comentarios do capitulo anterior, e um aviso, o proximo provavelmente será o ultimo capitulo.
Bjos e boa leitura!

Capítulo 5 - Aos 17


Fanfic / Fanfiction Lembranças dos Meus Anos - Aos 17

Nunca antes o tic tac do antigo relógio de parede pareceu tão irritante e até mesmo o canto das cigarras tinham o poder de me tirar a paciência, definitivamente hoje não era meu dia. Além de já acordar mal humorado, as cargas exaustivas de trabalho estavam me tirando do sério, cada vez ficava mais sobrecarregado e se não fosse pelas mãos de Sebastian, certamente seria o estresse a me matar.

Já passavam das quatro da tarde e logo Elizabeth chegaria à mansão, não a vejo faz algum tempo, quase um ano para ser exato e sendo sincero não me sinto confortável com o reencontro. Muitas coisas aconteceram no tempo em que ficamos afastados, coisas vergonhosas e nem um pouco justas com minha ‘noiva’, não que eu realmente a considere assim, mas em todo caso, é irrefutável que logo ela se tornará minha esposa e o que ando fazendo com o mordomo é uma ofensa ao laço que nos uni desde criança.

Aliás, agora pensando, depois de tornar-me seu senhor já não precisarei dos serviços especiais de Sebastian, pensar nisso não me agradou, causando até um estranho mal-estar. Arisco-me a dizer que sentirei falta de tudo fazemos as escondidas, da cumplicidade nos momentos íntimos na segurança do meu quarto e dos segredos sujos que apenas nós confidenciamos. Com o matrimonio não haverá mais motivos para isso, afinal, como ele mesmo sempre explicitou, essa era apenas mais uma de suas tarefas e com uma esposa não existirá mais a necessidade de requerê-la, em todo caso, talvez seja melhor assim.

Suspiro apertando o nó da gravata, a imagem refletida no espelho esbanjando juventude, tornei-me o reflexo de meu pai, até mesmo para mim não há como negar. Sou satisfeito com essa aparência, pelo menos o meu exterior é bonito, coisa que não me atrevo a dizer em relação ao interno, mas não me sinto mal com isso, sinceramente não me importo e certas vezes até gosto. Cruel e feio por dentro, dissimulado e bonito por fora, parece-me o arranjo perfeito entre o atrativo e o perverso e eu gosto de ser assim. Parabéns Sebastian, você conseguiu me corromper por completo.

As batidas na porta alertam que a visita chegou, respiro fundo, escrúpulo nunca foi uma das minhas maiores virtudes e não será agora que darei uma de pessoa integra, até porque diante do meu histórico esse papel não me convém e por mais que seja desconfortável, recebei Lizzy como se em minha consciência não houve peso algum.

“Entre”.

Como sempre Sebastian entrou em seu andar calmo, porém mais uma vez com a cara amarrada, pergunto-me o que diabos acontece com esse demônio, ao contrário de antes, em que clamava por paciência para aguentar os ataques de fofura de Elizabeth, agora clamo para aguentar as luas do mordomo. Francamente, era só o que me faltava!

“A marquesa Francis e lady Elizabeth chegaram, bocchan. Elas o esperam no jardim para o chá da tarde” Informou pacato, quase que automático, mas por trás de toda essa serenidade eu sabia que algo o incomodava.

Com os anos comecei a decifrar suas atitudes, as poucas emoções que ele tinha para esconder atrás de seu olhar ferino e apesar dele continuar um mistério, como se sua verdadeira essência estivesse guardada dentro de um casulo impenetrável, ainda assim havia ocasiões em que podia ter um pequeno vislumbre de seu verdadeiro eu.

“Posso saber o porquê dessa cara?” Pergunto como quem não quer nada, borrifando atrás da orelha um pouco do perfume francês.

Ele dá seu costumeiro sorriso falso, não sendo menos que o esperado, como sempre não desencarnava do seu papel de mordomo perfeito “Apenas alguns imprevisto com a criadagem” Veio até mim segurando meu queixo e deu-me um selo, hábito que se tornou rotineiro quando estávamos a sós.

Fingi engolir a desculpa esfarrapada, se ele não quer falar também não irei insistir, não é como se eu me importasse o que acontece com ele. Caminhei para o jardim, a visita de Lizzy eu já esperava, mas a de tia Francis me pegou de surpresa e até prevejo o chilique com minha aparência e do demônio as minhas costas. Logo que as avisto a carranca da marquesa é nítida, lá vamos nós para mais um show de tortura.

“Quantas vezes eu terei que dizer que essa aparência não é digna de um homem decente? Já não basta não está à porta para nos receber, ainda aparece nessas condições!” Começou com a implicância.

Titia entoou seu sermão e veio até nós deixando claro sua intenção, tirou um pequeno pente da bolsinha à tira colo e penteou com certa brusquidão meus cabelos para trás, arranhando meu couro cabeludo e deixando com a aparência de que uma vaca havia lambido meu cabelo. Depois de me deixar em perfeitas condições se dirigiu a Sebastian, fazendo o mesmo processo feito em mim e de alguma forma vê-los tão próximos me incomodou, o fato dele ser bem mais alto fazia com que ela tivesse que ficar na ponta dos pés e se inclinar um pouco em sua direção. Isso acariciou ainda mais meu mau humor, principalmente por não está sendo brusca com ele como foi comigo.

“Admiro-me de você, Sebastian, essa aparência desleixada é inadmissível para um mordomo, e esse seu rosto...” Segurou-lhe a face analisando minuciosamente e enquanto Lizzy ria achando aquilo engraçado, minha vontade era de tirar suas mãos do rosto dele, como se pudesse toca-lo tão facilmente. Falava com tanta moral sobre a aparência dos outros e não percebia que sua própria conduta era inadequada para uma mulher casada “Bem, quanto a isso não há muito a se fazer” Soltou-o.

O bastardo do demônio apenas deu um sorriso amarelo, inventando qualquer pedido de desculpa. Era incrível como era preocupado em repelir qualquer pessoa que pudesse me tocar, mas não fazia o mesmo quando se tratava dele próprio, francamente. Recompus-me interiormente, pois por fora não demonstrei nada. Minha testa deveria lustrar como as pratarias da casa e apesar da aparência de um velho me desagradar, o que restava era esperar as duas irem embora e desfazer esse penteado ridículo.

A tarde por graça divina passou rápida e milagrosamente a conversa foi agradável, tirando os momentos em que Sebastian aparecia esbanjando sua beleza na frente da marquesa que estranhamente estava mais social, não tive o que reclamar de suas companhias, até porque logo elas se foram. Depois voltei para o escritório e terminei as obrigações do dia, notando que o silêncio reinava na mansão, o que em si já era algo suspeito, mas a julgar pelo horário os criados estariam jogando conversa fora no jardim, aproveitando o por do sol, luxo ao qual me pergunto se um dia terei o prazer de desfrutar.

Depois das Midford irem embora não falei mais com o demônio e nem ele veio perturbar-me a paciência, o que era estranho já que esse era seu passatempo preferido. Sai do escritório indo em direção à cozinha, veria o que ele aprontava e quem sabe com um pouco de sorte surrupiasse uma fatia de bolo de chocolate, era quase certo que não conseguisse, mas pelo menos eu tentaria barganhar. De longe ouvir uma voz estridente, não sendo difícil de imaginar a quem pertencia, ninguém mais além daquele shinigami atirado conseguia ter a voz tão irritante.

Aproximei-me a passos miúdos, na pontinha do pé, era inusitada a presença de Grell aqui e não nego me corroer de curiosidade para saber sobre o que conversavam, os berros do ruivo começaram a ficar afoitos e a conversa passou a ser inteligível, escondi-me atrás da parede para ouvir.

“Ah meu Sebas-chan, quando você irá fazer comigo o que fez com aquela freira... Kyahhh... Sinto-me molhadinho só de pensar”

Sinceramente, que homem mais desequilibrado, que comportamento mais estúpido e indecoroso. É obvio que Sebastian só se deitaria com alguém que eu permitisse e ao contrário da freira onde realmente foi necessário, eu não o deixaria ir para a cama com esse desmiolado.

“Pare com isso Grell, não vê que eu tenho trabalho a fazer, por falar nisso você não tem almas para ceifar?”

“Não faz mal me atrasar só um pouquinho. Ahh e ainda teve aquela ridícula do circo, como era mesmo o nome dela... eu não consigo lembrar...”

“Beast!”

“Isso, Beast! Quando eu a ceifei no dia do incêndio vi tudinho o que vocês fizeram debaixo daquela tenda. TU-DI-NHO! Aliás, Sebas-chan, devo dizer que você está muito bem armado...”

Que diabos de conversa é essa? Quando esses dois criaram tanta intimidade? E Beast? Beast??? Desde quando esse maldito demônio faz algo sem o meu consentimento?

“Quando você estiver livre desse contrato e já não ter mais que obedecer esse pirralho arrogante, eu terei alguma chance? Seja sincero, na minha frente você não precisa fingir, eu conheço a sua natureza, esse seu disfarce de mordomo perfeito é a mais pura ilusão, você é um ser luxurioso, traiçoeiro, sem princípios e o fato de sermos inimigos naturais não é nenhum empecilho, pelo menos não para mim. E então, o que me diz?”  

A resposta é tão obvia que um sorriso brotou em meus lábios, Sebastian odeia esse shinigami, é mais do que claro que o dispensará.

“Talvez sim... Talvez não... Como diz o ditado: nunca cuspa para o alto que não venha ao rosto, nós somos eternos, nesse meio tempo muitas coisas podem acontecer”

“Então isso quer dizer que eu tenho uma chance, por menor que seja?”

“Entenda como quiser, agora me deixe trabalhar em paz...”

Eu estava estupefato, com certeza essa não era a resposta que esperava ouvir, na verdade tinha a convicção que ele o rejeitaria de primeira e que no mínimo o bateria como sempre fazia. O que estava acontecendo? O que mais me perturbou foi vê o quanto fiquei afetado, a raiva borbulhou em minhas veias e não vou me iludir nem me negar a verdade, eu estava mortificado de ciúmes, de fúria, de ódio... Raiva principalmente de mim mesmo, isso não era nada menos que o esperado de um demônio, um ser traiçoeiro, mentiroso, traidor, então porque me surpreender?

“Grell... A que devo sua ilustre presença?” Entrei na cozinha sorrindo cínico e soando o mais irônico que pude, obviamente disfarçando qualquer vestígio da minha consternação interior.

Sebastian me sorriu faceiro, debochado e o shinigami pulou em seu braço, quase se enrolando a ele, olhando-me pervertido, pensando bem, acho que esse dois se merecem “Vim fazer uma visitinha para o meu Sebas-chan” Seus olhos brilharam e tive ânsias de vômito.

“Seu Sebas-chan?” Sorri pérfido “Ora, ora, o meu mordomo como sempre arrasando corações. Na menos que o esperado do mordomo dos Phantomhive, não é mesmo?”.

Sebastian franziu o cenho, ficando sério e eu apenas o olhei escarnecedor, era isso mesmo que eu queria, que ele tirasse o maldito sorriso da cara. Esse ser imundo, nojento, não merece que eu sinta o sentimento ridículo que estou sentindo. Demônio asqueroso, que infelizmente não serve nem para morrer.

“Deseja alguma coisa bocchan?” E mais uma vez começou com a falsidade, a voz mansa, suave, contribuindo apenas para aumentar a minha cólera e quanto mais furioso ficava, mais eu disfarçava com meu melhor sorriso.

“Apenas uma fatia de bolo” Respondi desinteressado, ele que não se atrevesse a me negar o pedido.

“Você sabe que não pode com...”

“Eu não estou pedindo, estou mandando. Sirva-me uma fatia de bolo” Interrompi-o no mesmo instante, frio e mordaz, eu só que queria um pé para castigá-lo. Ele se calou, com a cara fechada pegou um pequeno pires e uma faca para me servir “Sirva Grell também, é inadequado não servir nada as visitas, francamente que recepção é essa? Assim você mancha a imagem dos Phantomhive. Perdeu a prática demônio?”.

“Perdoe a minha negligencia bocchan, isso não tornará a acontecer” Fez uma mesura enquanto falava o pedido de desculpas.

“Não se preocupe comigo conde, já está na minha hora” O shinigami colocou a serra elétrica no ombro, pronto para sair, provavelmente notou que sua presença era mais que dispensável “Até mais Sebastian, não esqueça o que lhe falei” Fez mistério, olhando de canto de olho para mim de uma forma deslambida e depois se foi. Shinigami maldito.

“E então sobre o que conversavam?” Sentei no bando de madeira já envernizado pelo uso, o pires com bolo foi colocando a minha frente, peguei o garfo tirando um pedaço generoso, estava delicioso.

“Apenas me avisou que em breve retornará a mansão... Profissionalmente” Pôs-se de pé ao meu lado, como sempre faz quando estou à mesa, não era preciso elucidar a informação, era bem claro, em breve alguém da mansão morreria, obviamente que um dos criados, como minha alma já não me pertencia não há porque constar nos registros dos ceifadores.

“Hum... Ele falou quem será?” Pergunto frio, a voz carregada de acidez, apesar da informação ser importante não era exatamente ela que eu queria ouvir.

“Não, ele não falou” Ele continuou passivo e sereno, as palavras calculadas, poderia até não mentir, mas certamente ocultava várias coisas do meu conhecimento.

“E o que mais vocês conversaram?” Insisti e espero que dessa vez ele desembuche o que quero saber, esse caso com Beast ainda está entalado na garganta. Já o autorizei algumas vezes a recorrer a esses artifícios para conseguir informações durante as missões, mas apenas quando estritamente necessário e sempre com o meu consentimento, ter descoberto o fato da boca de outra pessoa me deixou injuriado, traído. Quantas vezes ele fez isso sem eu saber? “O que foi? O gato comeu sua língua?”

“Seja claro bocchan, o que exatamente você quer saber?” Foi direto, acabando com o meu rodeio, mas em hipótese alguma me denunciaria ouvir a conversa escondido, alem de ser um comportamento infantil era coisa de gente fofoqueira e eu não me rebaixaria a tirar satisfação quanto isso, muito pelo contrário, ele que deveria fazê-lo por iniciativa própria. Uma coisa era sentir ciúmes, outra bem diferente era demonstrar e isso é algo ao qual eu não me submeterei.

“Nada!” Respondi apático levantando da mesa, não era preciso muitas explicações, ele havia se deitado com garota do circo, era simples. Caminhei para a porta, não me abateria por pouca coisa, essa coisa não merece o meu abalo “Não é como se você escondesse algo de mim não, é mesmo?” Dei um belo sorriso e sai, deixando ele com a pulga atrás da orelha.

S&C

Terminei de me banhar e me vesti o mais rápido que pude, por mais que eu tivesse tentado esquecer a conversa de mais cedo confesso que não consegui, meu peito dói, meu sangue ferve e o ciúme me ensandece ao imaginar Sebastian com Beast, ao imaginar ele com Grell, ao imaginar ele com qualquer outra pessoa que não seja eu. O mais inadmissível é saber que eu não deveria me sentir assim, não deveria ser possessivo em relação a outro homem, eu possuo uma noiva que me ama, uma mulher linda e de porte fino, então porque sentir-me assim? Porque não sinto por ela o que sinto por ele?

Sento na cama para secar meus cabelos e a julgar pelo horário logo ele baterá na porta, meus pensamentos voam tentando desvendar meus reais sentimentos e no fundo sei que só quero alternativas para me enganar, buscar hipóteses mais aceitáveis para a pergunta que eu já sei a resposta. É mais do que claro e tão transparente como a água, nesse jogo eu já perdi, fui tão confiante que baixei a guarda e aos poucos tornei-me cativo desse demônio. Alma. Mente. Coração. Tudo pertence a ele, admitir isso faz-me sentir baixo, deplorável, mesquinho... Com tantas pessoas para me apaixonar...

Como soa estranho e ridículo: eu estou apaixonado!

As três batidinhas foram dadas na porta e dei permissão para que entrasse “Bocchan... Perdoe-me a demora, eu vim lhe banhar...” A voz de Sebastian foi silenciando ao passo que notava que eu estava pronto para dormir.

“Eu já estou banhado e vestido e como pode vê eu não preciso mais de seus serviços por hoje, por isso saia, você está dispensado” Puxei o cobertor e me deitei, virando de costas para ele.

“Por acaso o jovem mestre quer mostrar que está grandinho?” Seu peso afundou o meu lado na cama, um de seus braços passaram por cima do meu corpo, apoiando a mão em frente ao meu rosto “Eu fiz algo que não foi do seu agrado?” Sussurrou baixinho em meu ouvido, a ponta de seu nariz resvalando minha bochecha.

“Eu só estou cansado, o dia hoje foi cansativo. Agora saia, eu não quero ter que ordenar outra vez” Fui gélido e o senti bufar contra minha costa, pouco me importei, minha vontade era que ele voltasse para o quinto dos infernos de onde saiu.

As chamas do candelabro apagaram, o quarto mergulhou na penumbra e seus lábios selaram meus cabelos, imediatamente saiu, deixando-me sozinho e com o calor de seu beijo ainda esquentando o topo da minha cabeça.

S&C

Completava um mês desde a visita de Lizzy, era inicio do outono e a rotina maçante perpetuava, papeis e mais papeis, meus dias se resumiam a isso e aos casos da rainha, a única novidade que quebrava toda essa mecanicidade era o meu afastamento do mordomo. Apesar de patético ainda estava ressentido, magoado e eu próprio me estranhava, perguntava-me quando havia ficado tão sentimental a ponto de guardar mágoas tão tolas. Isso me fazia sentir ainda mais raiva de Sebastian e quanto mais eu me torturava por sentir-me assim, mais eu o torturava também, destratava-o, evitava-o, repelia-o e o mantinha bem longe de mim. Claro que fazia isso sem nunca perder a pose.

Não havia mais qualquer contato físico e mesmo quando ele vinha dócil e tentava me beijar, eu virava o rosto. O que esse demônio tem na cabeça? Tentar me beijar sem motivos, sem permissão, como se tivesse esse direito. Não vou negar que não sinto falta, mas a bola de neve em que me meti estava tão grande que me impossibilitava de dar o braço a torcer e agora não sabia como voltar a nossa rotina habitual sem passar por cima do meu orgulho.

A porta do escritório foi aberta e Sebastian entrou sem bater, uma bandeja com chá e biscoitos jazia em sua mão e foi colocada em cima da mesa. Ele não falou nada, absolutamente nenhuma palavra enquanto me servia, a face fria e severa, como se um bicho o tivesse mordido. Com a xícara e o pires em cima dos papeis que antes eu analisava, pegou uma das cadeiras e colocou a minha frente, sentando com as pernas cruzadas e me olhando sério, como se quisesse me intimidar.

“E então, irá me falar o que está acontecendo?” A voz mansa me arrepiou, conhecia bem esse seu timbre, ele estava irritado.

“Sobre o que você está falando?” Dei um gole no chá e mordi um biscoito, olhando-o austero e fingindo-me de sonso.

"Não se faça de fingido na minha frente bocchan. Diga-me porque está me evitando?" Sibilou as últimas palavras, como um adulto induzindo uma criança a confessar uma traquinagem.

"Eu realmente não sei do que está falando, demônio" Continuei convicto, jamais admitiria que tudo isso se dava a ciúmes e como se não bastasse a vergonha em si, era ciúmes de uma morta e de um travesti pervertido, a que nível lastimável eu desci.

Ele se levantou ficando igual a uma muralha em minha frente, apoiou as mãos na mesa e olhou-me de cima com superioridade, com aqueles olhos álgidos "Eu vou perguntar pela última vez. Por que você está me evitando?"

Levantei-me também ficando na mesma posição, frente a frente, olho no olho, confrontando-o, eu não tenho medo de você, Sebastian! "E pela última vez eu repito que não sei do que está falando, demônio atrevido. Como ousa falar assim com seu mestre?".

A tensão era palpável entre nós, enquanto ele exalava irritação eu tentava manter-me sério e não rir. Rir da situação ridícula em que me meti, como fui chegar a esse ponto? Ou melhor, como permiti que nosso contrato chegasse a esse ponto? Tudo era mais fácil quando éramos apenas mestre e mordomo, demônio e contratante, nada mais nada menos, agora parecemos até um casal de amantes discutindo a relação.

"Se você não sabe do que estou falando eu irei refrescar a sua memória: você não me deixa mais banhá-lo, vesti-lo, tocá-lo, aliás, eu mal posso entrar em seu quarto e quando fala comigo é apenas o necessário. É a isso que me refiro. E então, porque me evita jovem mestre?"

Agora que ele fez questão de explicitar o assunto do qual eu fugia senti-me encurralado e sem saber que desculpa inventar para sair dessa enrascada, nada me vinha à mente e minha cabeça estava em branco.

"Não é nada com que deva se preocupar, eu apenas ando estressado ultimamente, sobrecarregado com tanto trabalho. É apenas isso" Baixei a guarda e acariciei seu rosto, fazendo um terno carinho, em parte porque queria e em outra para encenar até a morte que essa era a única verdade a ser dita. Amansaria-o com gestos doces, descobri que ele ficava mais maleável quando tocado, quando recebia carinho, um verdadeiro demônio carente, pelo menos comigo era assim, se era apenas fingimento nunca saberei, afinal esse maldito tem duas caras.

"Se era só isso porque me afastou? Porque passou a me evitar? Não teria sido mais fácil me falar o que lhe atormentava? Eu poderia tê-lo ajudado" Insistiu, não se dando por satisfeito e era isso o que me irritava nele, toda essa insistência, não saber deixar quieto o que não quer ser incomodado, era irritante.

"Eu evitei porque quis, não estava com paciência para aturá-lo, queria um tempo só para mim, para colocar meus pensamentos em ordem e refletir sobre o rumo que estou levando minha vida. Satisfeito agora? Era essa a verdade que queria ouvir?" Desembuchei colocando para fora uma pequena fração do que estava entalado em mim.

Ele se desinclinou ficando com coluna reta, um sorriso de olhos fechado cobria sua face "Sim, estou satisfeito. Agora me responda uma última pergunta: porque não estava com paciência para me 'aturar'? O que eu fiz de errado?"

"Por acaso você não sabe quando se dar por vencido? Você está me estressando ainda mais, Sebastian" Sentei novamente, retornando a atenção ao chá e aos biscoitos, minha barriga roncava de fome já que nem para isso eu o chamava "Se você não quer que eu fique sem falar com você por um bom tempo é melhor que pare com as perguntas por aqui".

Ele rodeou a escrivaninha ficando atrás de mim, suas mãos repousaram em meus ombros, apertando levemente numa massagem delicada "Está bem, eu não irei mais insistir, porém espero que tudo volte a ser como antes".

Um pequeno sorriso surgiu em meus lábios, no final não foi preciso eu ser o primeiro a ceder "Até que ponto você se refere à 'espero que tudo a volte a ser como antes'" Provoquei-o, queria vê-lo implorando por mim, que demonstrasse a mesma saudade que eu sentia.

"Até no ponto em que..." Cochichou em minha orelha, me deixando totalmente ruborizado com suas palavras e mordeu de leve o meu lóbulo "Eu sinto a sua falta bocchan".

Um sorriso enviesado surgiu mostrando minimamente meus dentes, particularmente eu gostava quando ele falava obscenidades em meu ouvido, eram raros os momentos em que ele perdia a compostura "Não acha que está muito confiante? Que liberdade é essa de falar-me assim? Isso não é algo que um mordomo fale ao seu mestre".

"Ohh.. Perdoe-me a atitude inadequada" Fingiu-se de arrependido, com um sorriso cínico brincando no rosto e em outros tempos completaria com 'não irá mais acontecer', mas nós dois sabemos que é só questão de tempo para isso se repetir.

S&C

Sebastian estava no banheiro preparando meu banho e do quarto dava para sentir o cheiro floral dos sais, um frio brincava em meu estômago e eu tentava ao máximo disfarçar a ansiedade, parecia fazer uma eternidade desde a ultima vez que me banhou, por isso um leve nervosismo se fazia presente. Ele saiu do banheiro indicando que o acompanhasse, segui-o e em pé ao lado da louça desamarrei o laço do meu roupão e ele fez questão de deslizá-lo por meus ombros. A peça caiu no chão ao passo que minha pele arrepiou, o calor de sua mão quente pela água descarregou uma corrente elétrica percorrendo todo meu corpo que estava sensível.

"Seja rápido, não quero me demorar no banho" Ordenei com o meu jeito mandão, não queria entregar os pontos logo de primeira, assim tão facilmente.

"Se assim desejar..." Suspirou desgostoso, deixando claro seu desagrado com a ordem.

Controlei-me para não ter uma ereção enquanto me lavava, pensando em coisas desagradáveis, imaginando tudo o que ele fez com a freira, a garota do circo e todas as outras mulheres com quem já se deitou, tudo o que fez com elas e não fez comigo. Apesar da intimidade nunca fizemos nada com penetração e nesse sentido sentia inveja dessas mulheres, vergonhosamente eu queria ser possuído, talvez ainda fosse o ciúme mexendo comigo, o caso era que minha ganância não me permitia ter menos do que outras já tiveram. Pensar nisso corroeu-me de raiva e ajudou a não me excitar com seus toques, a ideia funcionou e o banho terminou sem por menores.

Enquanto ele pegava meu pijama aproveitei para me secar, adiantando assim minha ida para a cama. Ele depositou o par de roupas ao meu lado e ajoelhou-se em minha frente tirando a toalha da minha mão, suas mãos vieram acariciar minhas coxas e deslizaram para a parte de trás do joelho, puxando-me num movimento rápido contra seu corpo e ficando entre minhas pernas.

"Eu falei que estava com saudade..." Apertou possessivamente minha cintura, depositando vários selares no meu ombro e usou a língua quando chegou no pescoço, sugando com vontade, de forma famigerada.

"Recomponha-se Sebastian, eu não o autorizei a me tocar" Tentei afastá-lo, travando uma batalha interna entre ceder ou não "Sebastian! Parece com isso!".

"Eu sei que o jovem mestre também sente a minha falta" Acariciou meu rosto, encostando sua testa na minha "Eu posso ouvir claramente as batidas do seu coração toda vez que me aproximo, que o toco, não fuja mais de mim bocchan" E me beijou. Beijou com desejo, com volúpia, aprisionando-me em seus braços e me deixando como única alternativa corresponder, na mesma intensidade, com o mesmo fervor. Se ele cedia, eu podia - ao menos um pouco - ceder também.

Minhas mãos foram para os botões de seu fraque, descasando rapidamente um por um, livrando-me de cada peça que cobria seu corpo e me impedia de sentir sua pele fria na minha. Arrastei-me para o meio cama trazendo-o junto comigo, minhas pernas rodearam seu quadril e nossas ereções se tocaram, me fazendo gemer, baixo, tímido, mas desejoso.

"Sebastian..." Afastei-o o suficiente para olhar em seu rosto, seus olhos me fitavam ternos e cobiçosos, numa mistura de malícia com carinho "Apenas por essa noite... Faça o que quiser comigo".

Ele sorriu com ternura e me beijou como nunca antes, fazendo-me amolecer em seus braços "Yes, my lord!".

Apesar das palavras arriscadas, não me arrependi da ordem...

A dor e o prazer se misturaram...

Para finalmente nos tornamos apenas um...

Nossos corpos se fundiram e minha mente enevoou... Tendo apenas ele em meus pensamentos...

O êxtase... O calor... Os gemidos... As carícias... O suor... Tudo se misturando... Entrando em perfeita sincronia...

E no final... Eu quase morri de prazer.

S&C

"Hora de acordar jovem mestre" A voz de Sebastian seguida da repentina claridade me acordaram, o dia havia raiado num piscar de olhos e apesar de morto de sono eu me sentei.

Um pequeno sorriso queria aparecer em meus lábios, mas tratei de disfarçá-lo, não mostraria meu bom humor tão cedo da manhã "Os compromissos de hoje são importantes? Eu ainda estou com sono".

"Se não fossem importantes não se chamariam compromissos" Ele sorriu para mim enquanto colocava o chá na xícara, dissimulado como sempre, como se nada tivesse acontecido "Para o desjejum temos chá de Assan e torta de limão com raspas de chocolates, espero que esteja do seu agrado".

Colocou a bandeja em meu colo, indo para o guarda-roupa pegar meus trajes do dia, pelo jeito ele não me daria alguns minutos a mais de descanso, será que não percebe que ao contrário dele a minha energia é limitada?

"Como você se sente?" Retornou com um terno azul marinho e uma calça social.

"Sinto-me bem" Respondi vago, sei bem ao quê se refere, há sim um certo desconforto lá em baixo, mas nada que mereça atenção "Responda-me demônio, isso estava planejado desde o início, não é mesmo?".

"'Isso' o que bocchan?" Me olhou de canto, desconfiado, com um sorriso matreiro dançando em seus lábios.

"Você sabe muito bem sobre o que estou falando, 'ainda há muitas coisas que quero lhe mostrar...' lembra? Estava tudo planejado, não estava?"

"Não vou negar que esteja certo" Respondeu faceiro, confirmando minhas suspeitas "Está bravo por isso?" Sentou ao meu lado, tirando uma pequena mecha da frente dos meus olhos.

"Na verdade não estou" Terminei a refeição, depois que ele saiu do quarto na madrugada eu tive bastante tempo para pensar e cheguei à uma conclusão "A partir de hoje e apenas quando estivermos a sós ou até segunda ordem, você tem total liberdade para fazer comigo o que quiser".

 

Conde Ciel Phantomhive

Outubro de 1893

Lembranças dos meus 17 anos


Notas Finais


Desculpa os erros, mais tarde eu corrijo, nos vemos no proximo fim de semana em CFOAE.
Bjos de chocolate!


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