- Aqui não é seguro - Nico sussurrou nos agarrando e nos transportando pela sombra.
Aparecemos em um quarto qualquer do hotel, Nico deu uma cambaleada e caiu no chão.
- Ei ei ei garoto fantasma - Clarisse andou até ele.
Eu corri até a janela do quarto e olhei para baixo, havia uma parte do hotel que obviamente ninguém conhecia, estava vazia, exceto pelos dois caras de agora a pouco. Hera sua porca imunda, eu te mataria se não corresse o risco de ser morto por um raio de Zeus.
- Porque Nero iria querer Harley? O problema dele não é com Apolo? - Caly lançou um olhar rápido para Will.
- E o que importa? Nero pegou Harley, agora temos que o pegar de volta - Clarisse ralhou.
Tirei algumas peças do meu cinto mágico.
- Preciso de tempo - falei.
Me sentei numa cadeira no canto do quarto e comecei a construir, em questão de minutos eu tinha na minha frente um pequeno radar. Liguei e não funcionou. Tirei fios e coloquei fios, mexi em alguns botões e liguei novamente.
- O que está fazendo? - Nico se aproximou.
- Um radar.
A telinha do radar começou a piscar, rezei para meu pai que Harley estivesse com o radar dele no bolso, levei mais meia hora e consegui me conectar com ele.
Mostrei para Nico e ele rapidamente sumiu na sombra, voltou uma hora depois com alguns cortes no braço, desabou na cama e começou a falar. Nero não estava aqui, o que era perfeito.
- E não posso carregar vocês pelas sombras novamente - Nico abriu os olhos aos poucos. - E se precisarmos lutar eu não vou conseguir invocar ninguém.
O grupinho me encarou, encolhi um milímetro, sempre esqueço que eu sou o líder da porra toda. Okay, bolei um plano rápido e saímos daquele quarto, felizmente não avistamos ninguém nos corredores, a caminhada durou dez minutos descendo e subindo escadas já que estávamos do lado oposto de onde Harley estava. Quando chegamos nas grandes portas eu estiquei a mão para a maçaneta, pude sentir as engrenagens por dentro da porta, era uma armadilha sem fim.
Pedi pra que eles se afastassem e tirei as ferramentas do cinto, com cuidado, tirei a maçaneta e cortei os fios que estavam ali. Tudo certo, ninguém morreu.
O corredor estava um gelo, caminhamos pelas portas trancadas e não arriscamos abrir uma se quer com medo de ir tudo pelos ares.
Paramos, chequei novamente o radar e tentei a sorte girando a chave, a porta se abriu e nenhum alarme soou, está tudo fácil de mais. O quarto estava escuro e aparentava ser enorme.
- Harley - chamei baixinho.
Ouvi um ruído baixo vindo do fundo do quarto, eu ascenderia a luz, mas seria suspeito, então ascendi uma pequena chama com a palma da mão. E lá estava ele, amarrado numa cadeira, mordaçado e com um leve quê de vitória no olhar.
Clarisse montou guarda na porta e Caly tratou de desamarrar meu irmão, depois de solto Harley começou a falar sem parar.
- ...E eles me pegaram, disseram que se eu colaborasse sairia vivo... Tem muitas plantas de lugares estranhos que eles querem fuçar... Os guardas são dois bananas... Foi a melhor corrida da morte... Eles queriam me assar na churrasqueira aí peguei a ideia pra usar na próxima corrida... Aliás, alguém morreu? - Ele parou de falar depois de vinte minutos.
- Jack quebrou a perna - Nico deu de ombros.
Harley bufou.
- Qual é a graça de criar uma corrida da morte, se ninguém morre?
Preferi não falar que era chato uma corrida cujo objetivo era morrer.
- Vamos Harley, temos que ir - fui em direção a porta.
- Hã.. Leo - ele me chamou. - Papai falou comigo.
Parei de andar, me virei pra ele.
- O que ele falou?
- Parece que alguém roubou a forja dele, e ela está aqui.
- É o que? Pelos deuses, papai é o deus das forjas, ele tem outra forja num estalar de dedos! - Se eu estou chateado que meu pai está fazendo a gente fazer isso? Mas é claro que sim!
Harley me encarou com aquele olhar de "eu sei seu grande gostosão", ou seria palermão?
- Amor - Caly me encarou. - A profecia, lembra? Ajudar todos os deuses e essas coisas.
- Certo - rolei os olhos. - Sabe onde a forja está Harley?
- Claro, eles iriam me assar lá - deu pulinhos.
Voltamos a nos aventurar pelos corredores. Nico e Will andavam mais afastados, pelo visto estavam discutindo o que eu não consegui entender muito bem já que estávamos mais tranquilos essa noite.
Caminhamos pelo que pareceu dez minutos e então reparei que todos do grupo estavam discutindo, estaquei. Me virei para eles a ponto de ver Nico puxar a espada para Clarisse e Harley tirar (sabe-se lá de onde) uma chave inglesa pra Caly
- Ou, ou, ou, ou o que está acontecendo aqui?
- Nicolas está me dizendo que meu pai é um péssimo deus - Clarisse disse.
- Meu nome não é Nicolas, javali fêmea - opa Nico, vai com calma. - E eu só falei que foi injusto ele ter pego o perfume de você e fugido.
- Você o roubou de mim - Harley falou/gritou pra Caly.
- Eu não roubei ninguém de ninguém!
- Roubou sim! Pela primeira vez tenho um irmão que solta fogo e não posso armar jogos com ele porque ele está o tempo todo com você!
Olhei para Will que com certeza era o espelho da minha expressão.
- Mas que porra.. - então eu vi.
No meio do corredor olhando para nós estava uma mulher vestida com uma túnica preta e tinha um olhar assassino, era perceptível um mínimo sorriso no olhar, porém sua boca continuava sem expressão alguma. Senti uma súbita vontade de começar a discutir também.
Clarisse estava quase batendo no Nico quando a mulher se aproximou por completo.
- Olá heróis.
Perfeito, era tudo o que eu precisava, mais um deus, mais uma missão!
- Você é? - Will falou já que eu estava concentrado em não discutir com ela.
- Éris - ela mediou o menino da cabeça aos pés. - E você uma cria de Apolo.
Caly pareceu despertar de um transe, se virou para a deusa.
- Você é Éris? Bom, isso explica muita coisa.
- Ora, ora, ora, ora, ultima vez que te vi você estava a caminho de Ogígia - Éris encarou Caly.
- Quem é a figura? - Clarisse perguntou ainda de olho no Nico.
- Éris, a deusa da discórdia, trabalho ao lado de seu pai nas guerras mais importantes. O que já era pra você saber.
- Ela faltou na última aula de história - Nico soltou debochado. - Estava ocupada numa missãozinha para o papai.
Nico seu rebelde.
- Eu amo as reações de vocês perto de mim - Éris encarou Harley que ainda estava com a chave inglesa na mão. - Mas não vim falar disso, sequestraram uma coisa muito importante pra mim.
- Que coisa? - Caly perguntou.
- Vocês irão descobrir na hora que chegar onde ela está.
- Ah, que ótimo - minha morena murmurou.
Éris deu as costas.
- Ou, rainha assassina - recuperei a voz. - Trabalhamos com lugar.
- Miami, mais precisamente no Club Space e te dou uma semana para estar no Central Park.
E então Éris sumiu, junto com ela toda a tensão do grupo, até a marrentinha deu um soquinho amigável no garoto fantasma.
- Quando isso tudo acabar eu vou procurar um lugar onde eu possa ter uma vida normal longe daquela bovina - bufei retornado a andar.
Harley nos guiou pelos corredores, achamos a forja depois de quinze minutos. Entramos na sala e veio a surpresa, vinte homens com espadas na mão, e como líder estava o filho do rei Midas, algo como Lat, Lut, Lot, não me lembro direito.
- Nos encontramos novamente filho de Hefesto - ele sorriu para mim.
- Hã, claro, er.....
- Litierses - ele rolou os olhos.
- Sim! Lit amigão, como você está? Aliás, como te descobriram?
- Seu amigo não teve a ideia mais brilhante que quando me enfrentaram - Lit deu de ombros. - Mas o que importa é que você está aqui, agora podemos resolver aquele assunto de antes.
Claro, assunto de antes, olhei ao redor e reparei que aquele grupo havia nos cercado, Harley ao meu lado estava quieto, pelo visto sua animação acabava quando ele chegava perto de mais de seus sequestradores.
- Primeiro duas perguntas, porque Harley e como eu vou levar essa forja embora?
Lit coçou o queixo. Não ousei olhar para trás, mas senti meus amigos pensarem como eu estava pensando, obviamente já tinha um plano armado.
- Primeiro, Nero não sabe que vocês estão aqui, agora que voltei ao poder queria te procurar e esse menino aí foi a chance perfeita. Segundo, a forja fica.
- A parte de vingança sobre o Leo eu até entendo - Nico se pronunciou. - Agora, pra que vocês querem a forja?
- Para forjar - não me diga!
- Certo - Clarisse passou a mão pela espada. - Poque você não fica com o Valdez aqui e nos entrega a forja? Seria uma troca justa.
Preciso rever com quem ando.
- Vocês também não vão a lugar algum semideuses. Tenho uma surpresinha para vocês. Meus guardas andaram aprendendo um estilo de luta diferente e estão loucos para por em prática, espero que vocês ao menos saibam entreter eles - os vinte homens começaram a vir até nós, conjurei o fogo. - Aliás, Equidna fez umas melhoras antes de ser morta por você.
Bufei, era uma cobra mesmo depois de morta. Certo, Nico também não teria tanta sorte, e ele estava fraco, não iria conseguir conjurar nem o esqueleto de um passarinho.
Encarei Harley e tentei me comunicar apenas com um olhar, não sei se deu certo, a única coisa que posso dizer é que eu comecei a confusão, ataquei Litierses.
E ele continuava com movimentos rápidos desde que eu me lembro. Nossas espadas tiravam faíscas uma da outra, felizmente Lit não era tão imune a fogo assim (ou eu esperava que não fosse), então aqueci minha lâmina, e ataquei seu braço. Golpe desviado com sucesso, Lit revidou e cortou minha perna. Enquanto me apoiava pra levantar vi Harley se aproximando da forja, normalmente aquele seria meu trabalho.
Minha perna estava doendo, e no primeiro passo quase fui pro chão, Lit riu pelo nariz e eu avancei novamente, precisava ganhar tempo.
- O que Nero diria quando vier você todo machucado?
Ele não me respondeu, grunhiu novamente e me atacou. Desviei e ele acertou a mochila da Pipes. Espera um pouco. A mochila! Já sei como levar a forja.
Clarisse estava dando cobertura para Haley, ele passou pela forja e foi parar em um painel de controle logo atrás. Ataquei Lit pra desviar sua atenção e meu irmão começou a cortar fios. Lit me cortou mais duas vezes na costela, dessa vez gritei.
Halrey se virou e fez sinal com a mão, cinco minutos. Joguei minha mochila pra ele antes de ser derrubado no chão. Ouvi Nico gritar "Abra a mochila e aponte para a forja", invoquei chamas novamente e dessa vez eu cortei o grandalhão, com um esforço da porra saí de baixo dele.
Caly tinha acabado de derrubar o último homem com uma facada nas costas.
- Uma última pergunta Lit, para onde vão os homens-bomba depois da morte?
Peguei a mochila da mão do pequeno e agarrei a mão da morena. Harley arremessou a chave inglesa acertando em cheio na cabeça dele, uma boa distração, começamos a correr. A bombinha não destruiria o prédio, mas faria uma boa bagunça naquele corredor. Nem voltamos para o quarto, corremos para a porta do cassino (desviando de várias mulheres com bandeja que nos perseguia, e arrastando o Harley pra longe de todos os brinquedos ali) e saímos. Lit vinha correndo atrás todo sujo da poeira e com alguns pedacinhos de parede no cabelo. Entramos no primeiro táxi que surgiu e pedimos pro cara meter o pé pra qualquer lugar, quando Nico achou que estávamos longe o suficiente nós paramos, Harley pagou a corrida (não sei onde achou o dinheiro).
Paramos em galpão, me joguei no chão e observei meus amigos, Will tinha um corte fundo na bochecha e no braço esquerdo, Nico tinha um corte bem aberto na barriga, Caly e Clarisse tinham cortes nos braços e pés. Harley era o mais intacto do grupo, mas mesmo assim tinha um corte na coxa esquerda. Agora observando bem, como raios o motorista do táxi não estranhou seis adolescentes todos retalhados?
- Leo, sei que está fraco, mas pode fazer uma pequena fogueira? Vou cuidar dos nossos ferimentos - Will abriu o que eu imaginei ser a bolsa de primeiros socorros.
Bem lá do fundo convoquei um fogo fraco, Caly me entregou um pedaço de madeira onde deixei o fogo queimando.
Will levou uma hora e meia pra cuidar da gente, gastando quarenta minutos desse tempo discutindo com Nico enquanto fechava o ferimento do mesmo.
- E agora? - Clarisse se jogou no chão.
- Agora a gente descansa - falei. - Amanhã Nico e Will vão acompanhar Harley de volta ao acampamento, e nós vamos para Miami - Ela concordou. Caly arrumou uma caixa de papelão de jornais velhos num canto do galpão e improvisou uma cama para o pequeno. - Harley, leve a forja para o acampamento, com certeza o pai vai buscar lá. A primeira vigia é minha.
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