1. Spirit Fanfics >
  2. Les Marcheé >
  3. A família Vell

História Les Marcheé - A família Vell


Escrita por: Marurishi

Capítulo 10 - A família Vell


 

Lorde Meyne Vell era jovem, tinha vinte e dois anos, foi esposo e pai muito cedo. A família Vell sempre teve favores especiais dos Imperadores desde as Eras passadas, tudo devido à característica rara e considerada divina: o albinismo.

Muitos membros da família nasciam com as características albinas. Em Les Marcheé não havia uma explicação para isso e por serem tão diferentes, eram considerados quase como divindades. Essa beleza exótica fazia com que todos fossem agraciados com títulos de maior nobreza. Era comum na família casamentos entre parentes, justamente para não perderem a genética e permanecerem em posição favorável no império.

Com o passar do tempo, o número de albinos estava diminuindo na família e isso era preocupante. Havia naqueles dias apenas três pessoas com essa característica: Meyne Vell, sua irmã gêmea Laurel Vell, que nunca foi vista publicamente; e sua prima Hestea Velece. Por isso, quando Meyne completou quinze anos, a idade mínima para contrair matrimônio, foi obrigado a casar-se com sua prima Hestea e dar início a uma possível nova geração de albinos.

Não era com ela que Meyne queria se casar algum dia. Seu sonho era se casar com sua primeira paixão, um amor impossível desde sua infância, que logo se tornou proibido, por isso, ele o guardava em segredo e muito bem escondido.

Há muito tempo ouvia sobre suas responsabilidades, uma vez sendo o único homem até o momento com a herança tão preciosa da família. Ele não ficou triste com a notícia de seu casamento arranjado; até gostava da prima. Achava ela bonita e esperta, pensou que seria fácil ter uma família feliz.

Idealizou toda uma vida a dois, seria um bom esposo, um bom pai, protegeria, amaria e faria de tudo por sua família. Trataria sua esposa e filhos com muito amor, respeito e dedicação; seriam uma família feliz e unida, ele se empenharia para que nada faltasse, para que sempre tivessem o melhor. Manteria os títulos e conquistaria novos, pois era excelente em magia e progredia constantemente, se tornaria poderoso e importante, ocuparia alto cargo e para sempre teriam orgulho dele.

Mas no primeiro ano de casamento, parte dos seus sonhos foram destruídos. Hestea não o amava, não simpatizava nem um pouco, na verdade, ela o detestava e estava decidida a fazer todos os que a obrigaram a se casar arrependerem-se profundamente.

Ela era mimada, egoísta, traiçoeira e vingativa. Apenas um ano mais velha que Meyne, sua mente era voltada para o mal como a de uma bruxa velha em maldades. Evidentemente, nem ela, nem a família queriam perder os títulos e favores que suas características albinas proporcionavam. Bem aconselhada, usava isso com destreza a seu favor.

Aceitou o casamento fingindo bom grado. Quando engravidou, orou as Musas para que a criança nascesse albina e pudesse ganhar mais títulos e riquezas por ter dado à luz a mais um ser iluminado, como todos costumavam chamá-los. Seus sonhos eram altos, acreditava que conseguiria acumular tanto poder e glória que um dia se tornaria Imperatriz, mudando muitas coisas nos reinos; faria um Império ao seu gosto, onde todos a louvariam como se fosse uma das Musas.

Mesmo com seu coração maldoso, conseguiu a graça de conceber uma criança albina. Por algum motivo específico, as Musas lhe atenderam.

Quando deu à luz foi grande a euforia na casa. Era uma menina e recebeu o nome de Ahiel, mas Hestea era jovem demais para saber como cuidar de um bebê, sem paciência, sem compreensão e, principalmente, sem amor. Duas veilanas cuidavam de Ahiel, também a irmã de Hestea, Reiea Velece, que tinha quatorze anos e adorava crianças; quando a sobrinha nasceu, ela passou a dedicar sua vida ao bebê.

Reiea passou a morar junto com o jovem casal no intuito de cuidar da pequena Ahiel e presenciou as situações mais adversas na casa, que apesar dos seus quatorze anos e ideias infantis, sabia que as coisas ali estavam muito erradas e que sua irmã era sim, uma pessoa muito ruim; não só pela forma com que tratava os outros, mas as coisas que fazia propositalmente, principalmente para o esposo.

Hestea não suportava o choro de Ahiel e passava vários dias sem sequer ver a filha. Passava seus dias estudando artes, música, pintura e atividades que sua mãe a obrigava a fazer, por achar importante para o status na corte. Gastava dinheiro em coisas supérfluas e caras. Era vaidosa, gostava de se maquiar e tingir os cabelos em tons pastel, cada semana de uma cor diferente, todos os seus vestidos, jóias e acessórios tinham que combinar com a cor dos seus cabelos. Por isso, as despesas eram enormes por conta dos seus caprichos. Não gostava de repetir roupas e dizia que morreria de depressão se não comprasse um sapato novo a cada final de semana.

Também gastava uma boa quantia pagando as veilanas de Bellephorte para lhe contar sobre as roupas e acessórios da Imperatriz. Tentava imitá-la em tudo, fosse nos penteados, nos gestos e até nas vestimentas. No entanto, havia algo terminantemente proibido para qualquer um que não fosse da família imperial ou que não tivesse algum vínculo muito próximo: o uso da cor roxa.

A cor roxa era a favorita da Imperatriz e foi adotada como um de seus símbolos. Por isso, Hestea desejava muito ter itens dessa cor, mesmo que não pudesse usá-los publicamente. Tudo que era roxo era muito caro, porque era destinado somente a família imperial e algumas pessoas muito próximas, mas Hestea não se importava em pagar, apenas para se vestir da cabeça ao pés e se admirar no espelho, fingindo ser a própria Imperatriz.

Reiea sempre a repreendia por essa péssima conduta e isso gerou certo ódio entre as irmãs. Hestea fazia coisas desagradáveis o tempo todo, fosse uma fofoca, uma mentira, uma provocação. Não media palavras de insultos a todos que eram inferiores a ela e até mesmo sua filha, ainda um bebê, sofria com seus acessos de fúria e birra.

Hestea perdia a paciência por qualquer motivo e batia no bebê com qualquer coisa que estivesse ao seu alcance, por isso Reiea fazia questão de nunca deixar Ahiel sozinha com a mãe.

Quando Meyne questionava sobre os hematomas da filha, Hestea descaradamente mentia, até chorava se dizendo culpada, porque sem querer se descuidou e quando viu, Ahiel havia dado um passo em falso e caído, ou havia resvalado na banheira e batido na borda, ou fora culpa da veilana irresponsável que tinha deixado sua linda e amada bebezinha se machucar. Reiea, quando ouvia essas coisas, sentia nojo, tinha tanta pena de Meyne; porque ele acreditava.

Meyne era tão bom, tão inocente que tudo o que lhe falavam ele dava créditos. Não conseguia ver maldade em nada nem ninguém, nunca se irritava, não tinha inimigos e não odiava ninguém. Detestava discussões e sempre era o primeiro a pedir desculpas caso acontecesse alguma ofensa. Ele era bom demais e isso o fazia ser daquelas pessoas que sempre são enganadas e, consequentemente, sofrem.

— Meyne, meu cunhado! Quando vais perceber que minha irmã te faz de tolo e é ela quem maltrata a própria filha? — Reiea o alertava em particular quando tinha oportunidade.

— Por favor, ela é sua irmã! Vocês têm o mesmo sangue, com certeza, ela jamais seria capaz de fazer algo assim.

— Olha como está cego! Ela coloca sonífero todas as noites pra te fazer dormir!

— Eu durmo porque sempre estou muito cansado devido aos estudos e tantas responsabilidades! Todos sabem que se eu pudesse, dormiria para sempre!

— Quantas vezes ela preparou-lhe uma refeição de gosto ácido e horrível somente para rir pelas suas costas!

— Ela apenas não é boa cozinheira, mas não faz de propósito. Até porque cozinhar não é uma responsabilidade dela.

— Os cofres da família estão se esvaziando com os caprichos dela.

— Quem se importa com dinheiro? Amor e alegria são mais importantes. Reiea, pare de ser fofoqueira!

— Meu querido cunhado, o que você tem de bonito, tem de burro! Boboca!

E essas eram basicamente as conversas que tinham. Reiea sempre terminava com uma pequena briga ou ofensa que Meyne nunca retrucava. Ele podia ser apenas um adolescente e sua mente ainda ser quase infantil para a maioria das coisas, mas sabia o que acontecia ao seu redor, apenas tentava fazer de tudo para que seu casamento ficasse estável, pois dependia dessa união o futuro da família.

E tinha aquele segredo no coração, aquele outro amor impossível que o fazia chorar em silêncio, que o motivava a seguir em frente e se tornar cada vez melhor e maior. Nunca teria aquele amor, mas seria alguém importante para, no mínimo, ganhar notoriedade da sua verdadeira amada. Por isso, se esforçava cada dia mais para ganhar seu valor e reconhecimento.

Quando completou dezoito anos e recebeu sua cadeira no Coirlem, foi o mais jovem da história daquela Era em Les Marcheé a alcançar um alto nível de magia e dominar um selo Tione, uma magia antiga, poderosa e perigosa, que quando invocada assumia a forma de um dragão.

Recebeu o título de Lorde Mago do Gelo. Sua arma bélica mágica era um orbe, Cristaliah, e o dragão que seu selo Tione invocava era feito de luz gélida, Tez, uma criatura enorme que brilhava prateado como a lua cheia, sua aura era fria e congelante, seu poder era proveniente diretamente das Musas e sua existência tão antiga quanto o início das eras. Era lindo e assustador, por isso, Lorde Meyne não via motivos para invocá-lo, afinal quem precisava nos dias atuais de tamanho poder?

Esse era o terceiro selo Tione que havia sido dominado — chamado Cintilante — com a graça das Musas nessa Era. Assim, Lorde Meyne teve a honra de completar a Tríade Imperial, na qual conheceu as outras duas importantes personalidade que haviam dominado outros Tiones antes dele, cujos nomes só ouvira falar: Lorde Guy Protheroi, Mago da Noite e Lady Crissânea Laetícia, Maga do Sol. Meyne estava tendo um momento muito feliz em sua vida. Seus sonhos começavam a se realizar.

Essa novidade muito agradou a Lady Hestea, e o trato com seu esposo sofreu uma mudança como da água para o vinho. Esforçava-se muito em carinho e simpatia, treinava o dia todo sorrisos e palavras delicadas, cheias de doçura e amor. Tudo para que fosse considerada uma esposa perfeita, bondosa e respeitável. Sua intenção era ganhar a confiança da própria Imperatriz, tornar-se sua amiga mais íntima, descobrir os segredos e, quem sabe, poder ter a Imperatriz em suas mãos a ponto de usurpar o seu lugar?

Era um pensamento sujo, maligno e até certo ponto infantil, mas seus ideais a moviam em todos os atos. Esforçou-se para fazer parte do Coirlem, sendo esposa de Lorde Meyne, teve privilégios e conseguiu muitas amizades através de sua postura falsa e dissimulada. Enganava a muitos, recebia muitos elogios e inclusive presentes caros. De fato, era linda e chamava atenção por onde passava e disso ela sempre tirava vantagens. Aproveitou-se da bonança do momento e engravidou novamente, pedindo a benção para ter outra criança albina para usar como trunfo.

Contudo, a Imperatriz, inteligente e muito cautelosa, tinha no sangue a sabedoria, uma linhagem imperial de longa data. Ela não se deixaria enganar tão facilmente, não tinha nenhum vínculo de amizade íntima com a família Velece, mas conhecia todos os seus membros, principalmente a esposa de Lorde Meyne.

A Imperatriz passou a observar atentamente Lady Hestea e seu comportamento na corte. Quando esta foi até sua presença pedir mais títulos, mais soberania, mais posses e mais regalias pelo fato de ser mãe de uma criança iluminada e, supostamente, estar esperando por outra, a Imperatriz fez questão de negar, alegando que o fato de gerar uma criança albina não era motivo para nenhum tipo de benefício.

Fez ainda mais, criou uma lei na qual tornava os títulos pessoais e independentes, ou seja, se os títulos eram dados ao esposo, a esposa não tinha direito algum de se valer deles, teria que conquistar seus próprios títulos por herança ou méritos.

Essa mudança na lei fez a ira de Lady Hestea ser a maior de toda a sua vida. Sentiu que a Imperatriz havia feito por gosto, somente para humilhá-la e torná-la uma qualquer, já que ela não possuía título algum a não ser por herança de sua família. Toda sua pompa e poder se dava aos títulos de Meyne. Agora, nem mesmo ter dado à luz a um filho albino lhe valia alguma coisa. Aquelas crianças nem precisavam existir.

Se ela não poderia ser poderosa, nenhum outro de sua família seria. Secretamente, maquinou seu plano e esperou ansiosa a oportunidade para pôr em prática sua maldade. Era mais que uma questão de orgulho, era pessoal, queria derrubar a Imperatriz e traçou seus objetivos com esse ponto fixo.

Lembrou-se que, no passado, houve um poder maior de todos que necessitou da ajuda direta das Musas para ser controlado, sabia que nos dias atuais, ainda havia descendentes daquela família. Essa seria sua arma contra a Imperatriz Beriune de Les Marcheé. Lady Hestea a faria cair mesmo que tivesse que despertar novamente um mal há muito tempo esquecido.

Contudo, em sua mente pequena conjurada pela maldade, parecia ter esquecido que ao lado da Imperatriz, havia um Imperador. Também se esquecera de que era casada e que seu esposo agora pertencia a Tríade, braço direito do Império.

 


Notas Finais


Obrigada por chegarem até aqui!
Bjss no core e até o próximo!!!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...