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História Les Marcheé - Quando o sol surgiu


Escrita por: Marurishi

Capítulo 14 - Quando o sol surgiu


 

Quando o sol surgiu no horizonte de Imperah, muitos já haviam acordado e alguns nem haviam dormido. Codhe contou a Khei o que soubera. Passaram a noite conversando e decidiram que deveriam ir a Boandis oferecer auxílio.

Para isso, necessitavam da permissão do Coirlem, pois iriam interromper seus estudos justo em um momento importante. Não poderiam evitar de seguir seus corações, apreensivos e tristes, e seria ainda maior a dor quanto soubessem que seu governador, Lorde Levi, havia falecido.

Por outro lado, Shaido Levi, sendo um lorde e pertencendo ao Coirlem, estava a par da situação e pretendia comunicar sua ida à Boandis o quanto antes, pois era certo que muito precisava ser feito no litoral, fosse por questões de governo, de defesa ou de amparo à população pelo horrendo ocorrido. Assim, planejou a noite toda, organizando tudo o que precisava para a sua viagem.

Quando chegou a hora do início das atividades no Coirlem, no palácio Ímpar, Lorde Shaido aguardava para comunicar ao Conselho sua necessidade de ausentar-se por um tempo indeterminado. Devido às circunstâncias, o pedido foi aceito e honrado, e naquela mesma tarde estava programada sua viagem.

Já Codhe, mais para o fim da manhã, após assistir às suas aulas rotineiras, encontrou-se com Khei e ambos dirigiram-se ao palácio Ímpar com os documentos necessários para requisitar sua ausência. Quando estavam entrando, reconheceram Shaido, que estava de saída.

Foi a primeira vez que reencontraram o amigo de infância em Imperah, e realmente Shaido estava diferente, não apenas fisicamente, mais alto, mais robusto, mais elegante em seus trajes de lorde; mas também lhes pareceu mais prepotente e arrogante. Não tardou para que Khei quisesse cumprimentá-lo e, empolgada como sempre, teve que ser contida pelo irmão que a segurou pelo pulso.

— Mas Codhe, é o Shaido! Vamos lá cumprimenta-lo! — dizia em um tom um pouco alto chamando atenção desnecessária.

— Agora ele é Lorde Shaido, e pode ser que ele nem se lembre de nós. — Codhe lembrava nitidamente da forma que rompera a amizade e sentia-se inseguro agora diante de Shaido. — Além de que, ele está saindo e deve estar ocupado.

— Ele também é de Boandis, ele também deve estar preocupado com o que aconteceu! Devemos pedir ajuda pra ele, oras! Ele tem responsabilidades com sua terra natal.

— Por favor, Khei, fique quieta ou vamos ser expulsos! — Codhe deu um sorriso simpático e uma breve reverência aos outros lordes que olhavam a dupla com reprovação, e logo voltou a olhar sério e carrancudo para Khei. Observou Lorde Shaido vir em sua direção.

Khei estava muito animada em rever o amigo, queria abraçá-lo e dizer que sentia saudades, convidar para tomar um café, conversar sobre os velhos tempo, contar como estava indo a vida em Imperah, saber tudo o que Shaido esteve a fazer durante todos esses anos, como foram seus estudos, o título de lorde, como era a vida como membro do Coirlem. Queria saber se ele já tinha visto a Imperatriz, como ela era e se o amigo estava namorando...

Queria saber e falar tantas coisas que por um momento esqueceu-se o real motivo pelo qual estavam ali. Lorde Shaido aproximou-se, fez uma breve reverência para os dois, cruzou a porta e foi embora.

Nesse momento ela se deu conta que tudo havia mudado. Todos estavam diferentes, teria que parar de acreditar que ainda eram crianças, encarar o mundo real como ele estava atualmente, no qual Shaido não era mais seu amigo, e sim, Lorde Shaido, membro do Coirlem, um total estranho.

Khei percebeu que Codhe já havia soltado seu pulso e havia retribuído o cumprimento educadamente, enquanto ela havia petrificado, com a boca semi aberta, imersa em seus pensamentos de um tempo que não voltaria mais. Sentiu-se uma completa idiota e teve vontade de chorar, não por ser tratada como uma estranha qualquer pelo seu amigo de infância, mas por saber que aquela amizade jamais voltaria a ser como antes, havia se perdido no tempo em algum momento que ela não sabia dizer onde. Sentiu-se magoada no momento que se deu conta disso.

Até ali, Khei acreditava que quando encontrasse Shaido, iriam se abraçar, rir e conversar sobre sua infância e adolescência que tiveram juntos, lembrariam dos tempos de escola, do coral, das brincadeiras e de tantas outras coisas que Khei achava tão importante e tinha ótimas memórias. Mas ali se deu conta que nada daquilo parecia agora importar para Shaido. Sentiu-se novamente idiota por guardar lembranças e esperanças inúteis.

— Vamos Khei, é a nossa vez. — Codhe a chamou lhe tirando dos pensamentos, enquanto Khei limpava uma lágrima que teimou em cair.

Apresentaram formalmente o pedido para partirem a Boandis, os lordes se reuniram em uma sala separada e depois de algum tempo, voltaram com o pedido negado.

— Mas por quê? — Khei questionou um pouco audaciosa, recebendo apenas um olhar altivo do lorde a sua frente.

— Khei, comporte-se. — Codhe lhe sussurrou e voltando-se para o lorde, fez uma reverência e agradeceu. — Obrigado por gastar seu tempo conosco, entendemos  e aceitamos vossas decisões.

Codhe puxou Khei novamente pelo pulso e saíram da sala quase correndo, sem antes reverenciar mais uma vez. Se ficasse mais alguns segundos naquela sala, Codhe poderia queimar todos os lordes ali presente, tamanha era sua ira por ter seu pedido recusado. Já não bastava a frieza com que o encontro com Shaido foi, agora mais essa negação?

Assim que cruzaram a porta, Khei falou em voz alta.

— Entendo e aceito coisa nenhuma!!!! Qual teu problema, Codhe, sua magia queimou o sangue nas tuas veias?

— Khei! Acalme-se, aqui não é lugar pra ter surtos! — Codhe tentava falar ponderadamente disfarçando sua raiva, mas sua fala saia entre os dentes e Khei sabia que o sangue lhe fervia nas veias tanto quanto nas veias dela. — Os lordes são autoridades máximas e não se pode simplesmente contestá-los! Voltaremos aqui novamente amanhã e faremos o pedido novamente.

— Volto amanhã, nada! Vou voltar lá dentro e dar na cara daquele lorde até ele assinar isso aqui! — Tomou os papéis das mãos de Codhe e os balançou furiosamente fazendo menção de retornar à sala.

— Você não é louca, faça isso e eu me recuso a ser teu irmão, por que não vou admitir uma vergonha dessas! Controle-se! — sua fala saiu em um tom mais áspero e alto do que o esperado, chamando a atenção de alguns que transitavam pelo corredor.

Dessa vez ele não fez questão de disfarçar com sorriso e reverência de desculpa, olhou torto com os olhos estreitos fazendo com que os curiosos desviassem a atenção deles imediatamente.

— Codhe! Precisamos ir a Boandis! Não é possível que nos neguem um pedido assim, temos responsabilidades com nossa terra natal, nossa família está lá.

— E bla bla bla, eu sei, Khei, agora para de cena e vamos embora antes que o Palácio se incendeie! — falou ameaçadoramente. — Amanhã voltaremos.

Uma moça ria assistindo a cena e aproximou-se dos dois.

— São os gêmeos Protherois! Logo vi pelo temperamento, os Protherois sempre tiveram o sangue mais quente — olhou para ambos com um sorriso simpático, mas se abriu ainda mais para Codhe.  

Khei achou o sorriso dela malicioso, estava furiosa e aquela estranha sorrindo abertamente para seu irmão encheu-a de ciúmes. Notou o uniforme imperial que parecia estar dois tamanhos menores do que o correto, pois a moça tinha curvas e proporções muito maiores do que o natural e os peitos pareciam querer saltar para fora do exagerado decote. Achou aquilo vulgar, estreitou os olhos demonstrando seu desgosto.

— Ei, não me olhe assim! Eu gosto muito de vocês!  — A moça notou o olhar de Khei e logo tratou de mudar a situação. — Oh, me desculpe, eu não me apresentei, sou Faeda Gin, sou ministra no Coirlem e também nasci em Boandis, mas estou em Imperah já faz alguns anos.

— Muito prazer em conhecê-la, Lady Faeda Gin, eu sou Codhe Protheroi e esta é minha irmã Khei — fez uma breve reverência e retribuiu o sorriso, parecia ter se acalmado e agiu tão naturalmente que fez Khei o encarar indignada.

— Pode me chamar apenas de Lady Fae, e o prazer é todo meu em conhecer conterrâneos, ainda mais da nobre família Protheroi. Ouvi o que ocorreu e me preocupei, quero dar meu total apoio — falou com um sorriso sedutor que denotava segundas intenções.

Codhe tentou não pensar que a ministra estava ali apenas para se exibir, preferiu acreditar que a preocupação dela era genuína. Ouviu sua irmã fazer algumas perguntas em tom irritado e iniciaram uma conversa onde Codhe não se encaixava.

Se Khei havia desgostado de Faeda à primeira vista, logo mudou de atitude, talvez por deboche ou porque viu que, sendo uma lady ministra, poderia obter alguma ajuda dela. Codhe decidiu deixá-las ali naquela conversa.

— Vou voltar para meus estudos, estarei na biblioteca.

— Ah, espere! Posso falar com os lordes sobre seu pedido, talvez eu possa ajudá-los. — Lady Faeda demonstrou-se solícita. — Estou preocupada com o que ocorreu lá e desejaria que alguém pudesse dar apoio ao povo do litoral, além do Lorde Shaido. Nada contra, mas tenho a sensação que ele é um pouco ditador. Então, talvez, vocês fizessem algo melhor que ele para acalmar o povo.

— Então nosso amigo de infância agora é visto como um ditador? — Khei riu alto em espanto.

— Amigo de infância! — Lady Fae se surpreendeu. — Oh, me desculpem pelas palavras grosseiras, não imaginava, se bem que deveria ter suposto, já que são todos de Boandis! Claro, minha língua grande, me desculpe se ofendi...

— Não, tudo bem. — Khei logo tranquilizou. — Ele foi nosso amigo na infância, mas hoje vimos que não temos mais a mesma amizade e concordo com você, ele parece ter se tornado bem arrogante.

Enquanto as duas começaram uma conversa sobre o que achavam de Lorde Shaido, Codhe se ateve na informação dada.

— Lady Faeda, você disse que Lorde Shaido irá para Boandis?

— Sim, ele  sugeriu ao Coirlem e recebeu apoio, parece que partirá nesta tarde mesmo.

Codhe tratou logo de se despedir das duas e voltar aos seus estudos. Uma forma de dispersar os pensamentos que surgiam em sua mente. Lorde Shaido voltaria para Boandis e com certeza reencontraria Loren.

Não sabia se ela ainda era apaixonada por ele como antes, não teve mais notícias sobre ela, apenas de que havia acordado daquele sono e estava bem, apenas isso e nenhuma notícia a mais por todos esses anos. Era como se Loren tivesse desaparecido de Boandis. Até era compreensível, já que não tendo magia e não sendo nobre, Loren era apenas mais uma cidadã comum, que não faziam muita diferença na história; pelo que podia supor pelo pouco que sabia.

Mas para Codhe, Loren fazia toda a diferença. Mais uma vez seus pensamentos se voltaram para ela, todo o esforço que estava fazendo para se tornar poderoso e voltar para Boandis, era para mostrar a ela o que se tornou por amor. Sentiu seu coração apertar.

Enquanto caminhava pelas ruas largas em direção a biblioteca, sem prestar atenção em nada nem ninguém, a única imagem que lhe vinha na mente era Loren, sua amada. E logo pensava em Shaido e no que poderia acontecer caso eles se reencontrassem. Mesmo que Shaido nunca tenha demonstrado interesse por ela, ainda assim, havia se passado muitos anos e as coisas poderiam ter mudado! Ficou preocupado, como se estivesse com seu futuro ameaçado e pensava unicamente em ir até Boandis.

Se recriminou por nunca ter escrito a Loren, ou buscado mais notícias sobre ela. Certamente ela pensava que ele a havia esquecido, e agora Shaido retornaria a Boandis antes dele. Uma crise de ciúmes e raiva teve início em seu íntimo ao pensar nas muitas possibilidades, no entanto, não havia possibilidade alguma de ir a Boandis, já que teve seu pedido negado. Era óbvio que não lhe deixariam partir antes de concluir os estudos, era o último ano daquele nível e ele era o primeiro da turma, sempre muito elogiado.

Precisava fazer algo a respeito. Precisava fazer pelo seu futuro ao lado de Loren.

 


Notas Finais


Queridos leitores, imensamente grata por chegarem até aqui!
Bjsss no coração!


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