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História Les Marcheé - No centro


Escrita por: Marurishi

Capítulo 5 - No centro


 

No centro da cidade de Boandis, o exuberante palácio de Linmor se destacava por sua arquitetura no estilo gótico. Era a residência da família Protheroi, tinha quatro andares, aquecimento central e elevadores.

Donos de um antiquário e uma casa de leilão que funcionavam nos andares térreos do palácio, também tinham terras na região sudoeste de Boandis, com grandes plantações de beterraba para produção de açúcar, que era um dos alimentos mais caros do reino.

Além de muitos servos, também tinham várias veilanas, uma classe especial de empregadas, que frequentavam uma faculdade específica na área e eram treinadas por muitos anos para cuidar de tudo o que se referia ao lar, com fidelidade e exclusividade para a família pela qual eram contratadas. Tinham, inclusive, um pequeno conhecimento de magia que utilizavam para seu trabalho. Seus salários eram diferenciados e sua profissão vista com nobreza. Para todas as mulheres que não nasciam nobres, ser veilana era o maior sonho, pois assim tornavam-se independentes, financeiramente estável, respeitáveis e com a oportunidade única de dominar a magia, mesmo que restritamente.

Os pais dos gêmeos estavam ocupados trabalhando. Os jovens tiveram que esperar até a hora do jantar para contar a novidade. Estavam felizes, e para passar o tempo, Codhe brincava com sua magia recém descoberta fazendo alguns truques para Khei, como acender a lareira, as velas, incendiar alguns papéis e até criar pequenos pássaros de fogo que voavam da palma da sua mão, sumiam no ar deixando apenas fagulhas brilhantes.

Era impressionante a rapidez com que ele dominou a mágica, como se ela fizesse parte dele e estivesse ali o tempo todo. Era tão natural e estupidamente fácil.

Khei estava deslumbrada e divertia-se igual uma criança. Recusou-se até de ir tomar banho, tamanha era sua empolgação com a magia do irmão. Quando a veilana Minea foi ao quarto chamá-los para o jantar, jamais pensou que encontraria os gêmeos cercados por magia.

— Olha, Minea! Olha! — Khei abraçou o irmão incentivando-o a mostrar seu poder para a veilana. — Mostre à ela os pássaros de fogo!

Codhe riu, e num movimento divertido, fez voar um belo passarinho flamejante para junto de Minea, que com um grito de susto, levou as mãos à cabeça se abaixando e exclamando.

— Menino! Pelas Musas! Esconda isso! Seus pais ficarão furiosos se souberem que vocês estão praticando magia escondidos!

— Mas não estamos praticando escondidos. — Codhe logo se defendeu. — Aconteceu hoje e pretendemos contar durante o jantar!

— Não, crianças, não podem contar para seus pais! — Correu até a porta, espiando para ver se ninguém os ouvia e a fechou bruscamente. — Não podem contar para ninguém sobre isso! Apenas parem e escondam seus poderes até a maioridade, quando poderão sair de casa e enfrentar o julgamento de todos!

— Do que você está falando, Minea! — Khei riu. — Magia nunca foi vista como algo ruim. Todos os nobres têm e todo império é mágico... Até você faz mágica! Nossa família que é a diferente e nunca se importou com isso, mas tem aqueles rumores de que, na verdade, somos descendentes dos nobres do passado, muito poderosos, inclusive — dizia como se gabando. — Por que toda essa cena?

— Por isso mesmo, menina! Por causa dos seus ancestrais! É uma vergonha para a família, vocês não devem seguir por esse caminho!

— Minea, pare de drama! — Codhe estava se irritando. — Que história é essa agora de vergonha! Nunca houve isso. O que você sabe que não sabemos?

Minea já era idosa, estava servindo a família fielmente desde quando a mãe dos gêmeos era criança. Ela sabia de muitas coisas que todos queriam apagar de suas memórias.

— Melhor seguirem meus conselhos, não insistam porque não será bom. Acreditem em mim, sua família vive tão bem aqui sem magia, não destruam a felicidade que todos desfrutam atualmente. — Mostrou nitidamente sua preocupação e seus olhos estavam nublados pelas lágrimas.

Os gêmeos notaram a comoção e preferiram concordar momentaneamente. Quando Minea se retirou, ambos se olharam intrigados. Havia segredos na família que eles nunca imaginaram? Então, será verdade sobre o parentesco com aqueles Protherois do passado? Mas já não estavam todos mortos? O que teriam feito que pudesse ainda ser vergonhoso depois de séculos? E qual a relação com a questão de não usar magia?

Eram tantas perguntas que, com certeza, Codhe e Khei não iriam se contentar até encontrarem respostas. Iriam buscar a verdade sobre os fatos do passado.

Todavia, a verdade sobre os fatos do passado não era de conhecimento geral. Havia segredos mantidos no escuro para evitar que o mal interferisse na harmonia dos reinos. Ainda que existissem livros sobre esses fatos, o acesso a eles era restrito. Eram poucas cópias e a única conhecida nos dias atuais estava na Biblioteca Imperial, esquecida em um cofre. As histórias do passado não eram mais consideradas ameaças, ainda assim, muitos preferiam fingir não conhecê-las.

Um livro específico narrava o início da Segunda Era dos dias antigos. Há mil e sete anos, durante as festividades anuais da primavera, um inimigo surgiu do sul vindo pelo mar, uma grande e poderosa sombra de magia negra, ódio e destruição que cobriu todas as cidades de trevas e medo.

O terror se espalhou rapidamente, porque naqueles tempos, a magia estava restrita e não era algo comum entre o povo. Por isso, bravos homens que, mesmo sem ter fé ou boas armas, defenderam suas vilas até suas forças se esgotarem e suas esperanças morrerem.

Mesmo que tentassem o seu melhor, não eram páreos para a magia do inimigo, que trazia a morte, a destruição e a profunda agonia em desolação. A derrota era iminente e a vitória das sombras parecia certa e rápida, pois já havia dominado grande parte dos reinos, se aproximando do norte onde se formava a última resistência.

Então, aconteceu uma intervenção que fez o inimigo parar e temer. Os portões do Castelo de Bellephorte foram abertos por magia e, pela primeira vez, o povo sentiu aquele tipo de mágica.

Em defesa vieram homens, mulheres e até crianças, todos nobres detentores de armas mágicas até então desconhecidas. Juntaram-se àquela última resistência e o inimigo recuou. Foi revelado, finalmente, que o poder de Les Marcheé estava na magia dos nobres de Bellephorte. Ao derrotarem o inimigo, destruindo as sombras e o medo, devolveram a esperança para todos os seres do império.

Porém, o mal ao ser vencido, antes de ser totalmente absorvido para não mais existir, deixou como semente uma magia de fúria e desespero, escondida entre o tempo, a vida e a morte. Vagando secretamente entre a mente e os corações das pessoas, se misturando em seus pensamentos e sentimentos negativos, se alimentando da magia já existente. Essa semente foi ganhando tamanho e força.

Com o passar do tempo, era um tipo de magia que quase tinha forma física e podia ser sentida e, inclusive, vista pelos nobres que possuíam um alto nível de poder.

Dos nobres mais poderosos era a linhagem Imperial da família Protheroi, que após a vitória contra as sombras era ainda mais reverenciada. E foram eles os primeiros a perceberam essas sementes do mal germinando entre o povo através da inveja, da ganância e das mentiras, se tornando mais forte e independente a cada dia.

Não restavam dúvidas, era obrigação dos Imperadores Protherois acabarem de uma vez por todas com essa magia sombria de fúria que causava o desespero.

Para a Batalha das Sombras, as Musas fizeram pessoalmente sua intervenção. Elas eram divindades detentoras de toda a magia que fluía em Les Marcheé. Eram em número de seis: Leonora, Daopra, Esteh, Kursora, Ventura e Bellepo. Eram feitas de magia e não tinham corpo físico, mas naqueles dias, por mágica, assumiram uma forma para concentrar seu poder e assegurar a vitória.

Seus poderes eram imensos, por isso precisavam compartilhar. Podiam estar em toda parte, tornando a magia acessível a todos, mas chegar até elas necessitava certo domínio mágico. Isso era algo que os nobres sempre souberam e não compartilhavam com todos, pois certos poderes precisavam ser mantidos sob controle, nem todos saberiam usar com sabedoria uma magia tão cheia de poder.

Aqueles que sabiam usar e tinham a graça das Musas, se tornavam poderosos para fazer feitos extraordinários. Um desses feitos memoráveis aconteceu quando os Imperadores reuniram, em uma única forma de fogo e fúria, toda a magia que havia sido plantada pelas sombras. Essa magia assumiu a forma de um enorme dragão, feito de fogo, vermelho e brilhante, de angústia e desespero; queimava e consumia toda magia menor ao seu redor.

Era poder demais para permanecer sem controle, por isso mais uma vez, algumas Musas assumiram a forma física, concentraram o seu poder e aprisionaram aquele dragão com um selo, que jamais deveria ser aberto novamente até que pudesse ser controlado ou destruído.

Este selo permaneceu em segredo nas mãos dos Imperadores, mas o coração do filho mais jovem do Imperador não estava tranquilo. Havia sussurros em sua mente, dizendo que ele poderia se tornar tão poderoso ao ponto de dominar aquele selo. Começou a dedicar sua vida aos estudos para aumentar sua sabedoria em magia. Assim, rapidamente superou seus pais, conquistando a admiração de todos, sendo glorificado e aclamado como o Sucessor do Império.

Porém, ao ser coroado, seu desejo de dominar o selo e tomar para si o dragão de fogo lhe roubou a mente por completo. Sua obsessão superou a razão e nada pôde evitar que ele abrisse aquele poder selado. O poder não era demasiado para si e ele foi capaz de dominá-lo, pois há muito sua magia havia crescido em um nível incomparável. Mas o desejo por algo maior lhe corrompeu o caráter e ao sentir-se o mais poderoso de Les Marcheé, equiparando-se as Musas, tentou forçá-las a se materializar para torná-las suas escravas.

No início dos tempos houve a opressão que fora vencida a duras penas, proporcionando paz e liberdade. Havia um juramento de que, em Les Marcheé, ninguém jamais seria obrigado a nenhum tipo de escravidão ou opressão. Mesmo depois da Guerra das Sombras, quando os nobres demonstraram sua força e eram venerados pelo povo, a cooperação era amigável e espontânea.

O que o Imperador estava fazendo ali era construir uma nova Era baseada em senhores e escravos, oprimindo através do seu poder, como ocorrera no início dos tempos, na Primeira Era dos dias antigos, Claramente era a influência direta daquele mesmo poder maligno.

O povo se revoltou, uma parte dos nobres concordaram, pois achavam interessante a ideia de dominação; outra parte não. Os reinos se dividiram e cresceram sentimentos negativos de várias formas. Aquele poder, antes aprisionado, agora estava com o novo Imperador, começando novamente a se alimentar da magia existente e, principalmente, dessas forças negativas de ódio, rancor, indignação, revolta e contrariedade.

Assim, quando as Musas novamente se materializaram, Leonora, a mais antiga entre elas, com suas próprias mãos tirou a vida do Imperador, mostrando a todos os reinos que jamais, em tempo algum, seria aceito qualquer tipo de força contrária que ameaçasse a paz e harmonia. Em seu discurso deixou claro seu descontentamento, jurando abandonar o império para sempre caso voltasse a acontecer tamanho absurdo como aquele.

O império inteiro tremeu de medo. Aqueles que haviam apoiado o Imperador sentiram tamanha vergonha que preferiram a morte. Os Protherois que não haviam concordado com aquelas ideias e ações sentiram-se aliviados pela intervenção das Musas, mas nenhum deles queria assumir o trono, pois os atos de seus parentes causaram grandes desonras.

As próprias Musas escolheram um sucessor, e por muitas décadas permaneceram em sua forma física, auxiliando e ensinando sobre novas magias, criando novos selos para conter ou doar novos poderes que estavam nascendo devido às mudanças.

Muitas coisas surgiram naqueles dias, todas para a manutenção do bem e superação do mal. Assim, iniciou-se uma nova Era, na qual os atos impensados do passado serviriam de exemplo para nunca mais serem repetidos.

Com o passar do tempo, cada Musa foi abandonando sua forma física e voltando a ser magia onipresente. A cada geração que passava, mais os Protherois sentiam vergonha pelos atos do passado e começaram a negar sua descendência, rompendo quaisquer ligações com seus ancestrais.

Nessa linha de tempo, muitas coisas foram perdidas e esquecidas. Os Imperadores, juntamente com os mais poderosos da corte, decidiram que a magia deveria ser restrita e muitas coisas foram apagadas da história para evitar que o desejo obscuro pelo poder voltasse a dominar o coração.

Nos dias atuais, a maioria dos Protherois não sabia sobre os fatos do passado e, os que sabiam escondiam muito bem evitando a magia a qualquer custo.


 


Notas Finais


Obrigada a todos os envolvidos! ♥


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