História Let it burn - Jogo e Convite

Quando Todoroki propôs que fizessem aquilo, ele não tinha realmente um objetivo específico em mente. Mas, uma rápida consideração sobre as próprias ações o fez mudar de ideia rapidamente. 

Quando ele e Midoriya chegaram ao parque, ele observou a expressão do menor se transformar em uma abatida, e quando questionado sobre isso, tinha dito que era por causa de velhas lembranças que possuía ali, junto ao seu amigo de infância “Kacchan”. Todoroki não entendia por que Midoriya ainda se referia ao outro assim quando o loiro era tão cruel com o mesmo, mas ver aquela expressão o incomodara. Então, quando levantou e desafiou o outro a tentar acertá-lo, mais do que uma espécie de treino, ele queria criar uma nova memória para Midoriya, naquele local. Uma que não o deixasse triste quando pisasse ali.

E quando Todoroki viu a expressão de determinação que Midoriya exibia do outro lado do parque, percebeu que talvez pudesse conquistar aquele objetivo.

- Certo, Todoroki-kun. Aqui vou eu. 

Todoroki balançou a cabeça de maneira afirmativa, se preparando. Assim que Midoriya fez a menor menção de movimento, Todoroki firmou o pé direito no chão, fazendo surgir uma parede de gelo que avançou na direção do colega. 

O menor, entretanto, foi rápido o bastante para desviar, jogando o corpo para o lado e logo se reposicionando, pronto para avançar na direção do meio a meio, mas Todoroki não pretendia deixar as coisas correrem tão facilmente. No mesmo instante em que o garoto de cabelos verdes se impulsionou para frente, Todoroki abaixou sobre um dos joelhos e passou a mão pelo chão num movimento semicircular rápido na frente do próprio corpo. Uma ação semelhante a que ele tinha executado durante a primeira fase do festival escolar para imobilizar um dos robôs de combate, mas em uma escala bem menor, apenas o suficiente para criar uma barreira entre ele e Midoriya.

- Ah! – Todoroki pode ouvir uma expressão de surpresa vinda de Midoriya, que teve que se esforçar para frear o próprio movimento e não atingir a parede de gelo recém-formada. 

Por um instante, Todoroki achou que o menor iria cair, mas o mesmo apenas tropeçou por alguns metros e usou as mãos para dar suporte ao próprio corpo, evitando a queda e se reestabilizando no chão. 

Midoriya parecia bastante determinado, pois logo que conseguiu ficar de pé, avançou novamente, mas não diretamente na direção de Todoroki. Ele parecia querer se afastar pela direita, e mesmo não sabendo quais eram os planos do outro, Todoroki achou que seria melhor bloquear seu caminho. 

Redirecionando o ângulo em que estava, Todoroki mandou mais uma investida de gelo, um pouco mais à direita do que Midoriya realmente estava, numa tentativa de acertar o timing para prendê-lo ali. Entretanto, aparentemente era exatamente isso que Midoriya esperava que ele fosse fazer, pois o esverdeado deteve seus movimentos e mudou sua direção numa velocidade surpreendente, deixando o gelo tomar o espaço vazio enquanto o garoto voltava a vir na direção de Todoroki, que perdeu um segundo precioso de reação ao ter feito aquela parede inútil. 

Tentando usar a mesma técnica de antes, Todoroki recuou e fez o seu melhor para erguer uma barreira entre ele e Midoriya rápido o suficiente, franzindo as sobrancelhas. E conseguiu.

Mas, infelizmente, Midoriya não ia ser parado pelo mesmo truque duas vezes. Dessa vez, ele não hesitou nem tentou mudar seu curso ao ver o obstáculo. Em vez disso, o garoto saltou por sobre o gelo, e Todoroki teve certeza que o menor fortificara suas pernas, observando a altura que ele pulara. 

Ao ver que Midoriya, além de evitar a parede, também se impulsionara em sua direção esticando o braço pronto para tocar no meio a meio e garantir sua vitória, Todoroki sentiu as chamas tomarem seu antebraço esquerdo em reflexo. Mas, assim que viu os olhos do colega se arregalarem, percebeu a própria ação e forçou as chamas a desaparecerem. Entretanto, a ação assustara Midoriya, que provavelmente pensara que se queimaria quando tentasse atingir o outro e tentara parar sua queda – o que era impossível-, saindo da posição perfeita em que estava antes.

Então, em vez de vir em trajetória limpa, na qual aterrissaria sem problemas, Todoroki percebeu que Midoriya estava caindo, no sentido literal da palavra. 

- Midoriya! – Foi tudo que conseguiu falar enquanto abria os braços para tentar segurar o colega, que gritava. 

No fundo de sua mente, Todoroki registrou como aquele momento parecia ter sido tão longo quando na verdade tudo tinha ocorrido em, no máximo, dois segundos. E então ele sentiu o peso de Midoriya o atingir, e ambos caíram com o impacto. 

As costas de Todoroki atingiram o chão pesadamente, mas mesmo assim ele conseguiu envolver os dois braços ao redor do menor, que caiu em cima dele. Todoroki perdeu o ar, mas esperava que aquilo tivesse absorvido o impacto que Midoriya teria sofrido. 

Abrindo os olhos, os quais ele tinha fechado com força ao sentir sua cabeça atingir o chão, ele ergueu a cabeça levemente e registrou um Midoriya confuso sobre si. Quando teve certeza de que o esverdeado estava bem, deixou a cabeça cair de volta pra trás e fechou os olhos novamente, soltando apenas um dos braços que estava ao redor do menor e o deixando largado ao lado do corpo, respirando fundo. 

- Ai. – Declarou, por fim. 

- Todoroki-kun! – Midoriya tinha se erguido parcialmente sobre um dos antebraços depois de ser liberado do abraço que o impedira de cair no chão. Mesmo assim, uma das mãos de Todoroki ainda estava posicionada no fim de suas costas, mas nenhum dos dois parecia ter reparado. – Eu sinto muito! Você está bem?! 

- Sim... – Midoriya soava levemente desesperado, e Todoroki achou aquilo um pouco engraçado, além de muito fofo. – Não se preocupe, você nem é tão pesado assim. 

- Mas... 

- Além disso, é culpa minha. – Continuou, sem abrir os olhos. – Deixei as chamas surgirem ser perceber. Você ia me acertar... –E então acrescentou. - Na verdade, ainda me acertou. Desculpe, de qualquer forma. – E, quando ele finalmente reabriu os olhos, a visão que teve não era algo para o que ele estivesse preparado.

O rosto de Midoriya estava surpreendentemente próximo do seu, as sobrancelhas do menor franzidas em preocupação. Mas essa não era a pior (ou melhor, ele não conseguia decidir.) parte. Tentando amenizar o peso sobre Todoroki, Midoriya apoiara os joelhos aos lados do corpo do meio a meio, e ainda sustentava o peso do próprio corpo no antebraço, que estava apoiado no peito do outro garoto, cujo qual estava com uma das pernas parcialmente encolhidas enquanto a outra continuava esticada no chão. 

Ora, se aquela não era uma cena interessante.

- Eu realmente sinto muito... – Midoriya voltou a falar, e Todoroki engoliu em seco, se forçando a desviar o olhar antes que pudesse fazer alguma besteira. 

- Já disse que não tem problema. – Com o rosto levemente virado para o lado, Todoroki respondeu, se concentrando em forçar a respiração a seguir um ritmo normal. Infelizmente, não conseguia fazer o mesmo com seu coração, que martelava suas costelas numa velocidade desconfortável. Todoroki esperava que Midoriya não percebesse isso pelo antebraço que estava apoiado em seu peito.

- Mas você bateu a cabeça, não foi? – Quando disse isso, Midoriya aproximou um pouco mais o rosto, se inclinando levemente para tentar ver se havia algum sinal de lesão no mais alto, e foi quando Todoroki simplesmente parou de respirar, prendendo o fôlego em seu peito sem perceber. 

- Midoriya... – Agora, uma espécie de pânico começava a tomar conta do rapaz, e um pouco desse sentimento transparecera em sua voz. Mas Todoroki não sabia se seria uma boa escolha pedir para o outro sair de cima de si. Não queria soar rude e acabar fazendo Midoriya pensar que ele estava com raiva outra vez. 

-Eh? – Midoriya então franziu as sobrancelhas, se afastando à distância que estava antes e olhando para trás, parecendo perceber alguma coisa. Todoroki foi capaz de respirar outra vez, mas – Wah! Todoroki-kun! 

Acompanhando o olhar assustado de Midoriya, Todoroki percebeu o motivo da surpresa do outro. Acidentalmente ele tinha deixado sua individualidade fugir do controle, e uma fina camada de gelo tinha sido formada na área em que sua mão estava apoiada nas costas do menor. 

- Ah, droga, sinto muito. – Ele foi rápido em se desculpar, tirando a mão dali e a substituindo pela mão esquerda, a aquecendo levemente ao mesmo tempo em que erguia o tronco sem pensar, se apoiando em um dos cotovelos. 

Mas aquela ação acabou apenas piorando as coisas, pois Midoriya perdeu o apoio que tinha no próprio antebraço, que escorregou com o movimento repentino e o fez cair em direção ao peito do outro, o fazendo pronunciar um “Uhgh” abafado. 

- Desculpe. – Todoroki estava se desculpando outra vez, tentando ajudar o outro a arrumar a posição. – Espera, deixa eu... 

Midoriya apoiara as mãos nos braços de Todoroki e tentara se empurrar pra trás, mas a perna dobrada do mais alto o impediu de fazer isso, e ele acabou sentado em cima do outro rapaz. 

Por um momento, Todoroki ficou com medo de que Midoriya fosse entrar em combustão, considerando o quão vermelho o rosto dele estava. Então, numa segunda reflexão, ele imaginou que seu rosto não deveria estar muito diferente, pois ele podia sentir o calor tomar conta da própria face.

Midoriya pronunciava algumas palavras desconexas em meio à sua vergonha, e, por fim, fechou os olhos e abaixou a cabeça, falando algo que fez sentido. 

- Eu sinto muito, de verdade!  

Todoroki podia sentir as mãos de Midoriya apertando seus braços com força, e ele se esforçou para pensar em algo que pudesse falar sem deixar a situação ainda mais constrangedora. 

- A culpa é minha, não devia ter levantado do nada. – Ele balançou a cabeça e, querendo tranquilizar o outro de alguma forma,  achou melhor mudar de assunto. – Você está bem? Se machucou na queda? 

Quando Midoriya não respondeu, ele achou que tinha sido uma tentativa idiota, mas logo o menor suavizou o aperto em seus braços, entreabrindo os olhos e balançando a cabeça negativamente de maneira suave. Todoroki sentiu uma pequena parcela do enorme nervosismo que sentia desaparecer.

- Ótimo. – Seu alívio era genuíno. 

Depois de mais um segundo de silêncio, Todoroki não foi capaz de conter uma pequena risada, o que chamou a atenção de Midoriya. 

Vendo o par de olhos verdes que o encaravam, confusos, Todoroki abaixou o olhar, dando de ombros. 

- Desculpe.

- O que foi? 

- Nada... Só... Isso tudo. – Não tinha jeito melhor de definir, e Midoriya parecia ter entendido o que ele queria dizer.

Como podiam ter acabado naquela situação? Ambos estavam no chão e numa posição nada convencional, uniformes escolares sujos de terra depois da queda, o de Todoroki principalmente. Ao seu redor, algumas paredes de gelo começavam a refletir a iluminação dos postes de luz, que tinham acendido agora que estava escuro. Todoroki podia sentir a camisa de Midoriya molhada onde ele estava encostando, agora que o gelo tinha derretido. 

- Midoriya. – Ao ser chamado, o garoto inclinou levemente a cabeça. Suas bochechas ainda estavam vermelhas, e um semblante receoso tomava seu rosto. Todoroki queria que aquele momento pudesse durar um pouco mais. – Alguém já disse que fica adorável quando está com vergonha? 

Todoroki estava sério quando falou aquilo, pois se tratava de uma consideração sincera que ele deixara escapar antes que fosse capaz de deter a própria língua, mas Midoriya pareceu entrar em curto circuito depois das palavras. Sua expressão se tornou lívida enquanto seus olhos focavam em um ponto fixo. Quase era possível ver fumaça saindo do topo de sua cabeça, e o meio a meio pensou por um instante que talvez tivesse tocado fogo na camisa do outro, mas não era o caso.

Todoroki voltou a se preocupar. 

- Midoriya? – O rapaz acenou a mão na frente do rosto do outro algumas vezes, e o menor pareceu voltar a si, instantaneamente começando a despejar palavras sem sentido, completamente nervoso. Todoroki suspirou. – Certo, você definitivamente está bem. – E, mesmo que não fosse o que ele realmente queria: - Podemos levantar agora?  

- Ah, claro! Sinto muito! – Midoriya praticamente saltou, saindo de cima de Todoroki e ficando em pé ao lado dele antes de estender a mão, ajudando o mais alto a se levantar também. – Tem certeza de que não está machucado? – Perguntou, ainda parecendo receoso. 

- Sim, não se preocupe com isso. Já tive quedas piores. – Reafirmou, batendo nas próprias calças enquanto tentava se livrar da poeira. – De qualquer forma, está ficando tarde, tenho que ir pra casa.

Midoriya ergueu o olhar para o céu, onde algumas estrelas já estavam visíveis, e concordou. Eles então seguiram em silêncio até a mesa de piquenique, guardando suas folhas de relatório preenchidas quase completamente. O único espaço restante agora era onde deveriam especificar as técnicas de combate. Cada um então pegou a própria mochila e paletó. Todoroki jogou o seu por cima de um dos ombros e Midoriya decidiu carregar o seu em um dos braços.

Já na saída do parque, onde seguiriam por caminhos diferentes, foi Todoroki o primeiro a quebrar o silêncio.

- Peço desculpas por tudo isso, mais uma vez. Foi uma ideia ruim, afinal. 

- Não foi culpa sua. - Midoriya balançou as mãos e deu um pequeno sorriso, o que ajudou Todoroki a se sentir um pouco menos nervoso. – Bem, vejo você amanhã na escola, então. 

Todoroki concordou com um maneio de cabeça e acenou, se despedindo. Cada um seguiu por um lado, e quando estavam a vários passos de distância, o meio a meio se deteve e falou alto o suficiente para que o outro ouvisse.

- Midoriya. – Quando o menor parou e se voltou para ele, Todoroki continuou. – Não fique se achando por ter conseguido chegar a mim. Isso só aconteceu porque eu estava pegando leve.  – Concluiu, arqueando as sobrancelhas. Era óbvio que estava provocando o outro, apenas para terminar aquele encontro da maneira menos tensa possível. 

- Claro. Se é o que precisa dizer a si mesmo pra conseguir dormir hoje, Todoroki-kun. – Midoriya estava sorrindo, claramente devolvendo a provocação, e então ambos se viraram e voltaram a andar.

...

Quando Todoroki chegou em casa, foi recebido por sua irmã, que despejou perguntas sobre o mesmo logo que viu seu estado. Ela pensava que ele tinha sido atacado no caminho, mas depois do mesmo explicar que estava fazendo um trabalho com um amigo ela deixou o assunto morrer, mesmo que relutante.

- Depois do banho, vá jantar. Eu deixei sua comida na mesa. – Avisou a garota enquanto Todoroki confirmava com a cabeça e ia até o quarto deixar suas coisas.

Quando retirou a camisa da escola, franziu as sobrancelhas ao ver a situação em que a mesma estava. Sua cabeça doía levemente onde tinha se chocado contra o chão, mas aquilo não o incomodava. 

E então Todoroki lembrou de quando Midoriya caíra nele, e nos momentos estranhos que seguiram esse acontecimento. O meio a meio sentiu o rosto esquentar. Não podia acreditar que aquilo tinha acontecido de verdade. E, pra piorar, não conseguia parar de pensar em todas as expressões adoráveis que pudera registrar de Midoriya ao longo daquele dia.

Todoroki largou a camisa e pegou seu travesseiro, expressão vazia. Quando alcançou o objeto, o ergueu e pressionou contra o próprio rosto com força, ficando assim por alguns segundos ates de deixar escapar uma espécie de grunhido alto, quase um grito, vitorioso. 

Ele não podia ver, mas sua irmã, que passava pelo outro lado da porta fechada, tinha acabado de pular de susto.

...

- Nossa, sua cara tá horrível. 

- Muito gentil da sua parte, Kaminari. – Jirou cortou o colega, franzindo as sobrancelhas. 

- Mas é verdade. – Defendeu-se o rapaz. 

- Eu não dormi muito bem ontem à noite. – Esclareceu Todoroki, dando de ombros. 

- Não se preocupe, Todoroki, definitivamente não está tão ruim quanto a do Kaminari. – A garota sorriu, apontando para o rapaz loiro com o polegar. 

- Mas eu dormi muito bem ontem. 

- Sua cara é horrível naturalmente. – Ela falou como se estivesse constatando algo óbvio, e Kaminari voltou a reclamar. 

- Você tem sempre que ser maldosa assim? 

- Não. Mas é um hobby. 

- Eu não devia ter aceitado formar dupla com você.

- Espera, - Todoroki interrompeu, franzindo as sobrancelhas. – vocês são uma dupla? 

- Acredite, eu preferia fazer com outra pessoa, mas do nada ela simplesmente me agarrou e disse que ia fazer comigo. – Contou Kaminari, dando ênfase na palavra “agarrou”.

- Primeiramente, eu não “agarrei” você. E já disse que só fiz isso pra o Mineta sair do meu pé. Aquele garoto é muito persistente. 

- Eu não sou uma rota de fuga, ok? 

- Tanto faz. 

- Acho que já ouvi essa história antes. – Todoroki falou com uma risada contida. 

- Como assim? – Kaminari. 

Todoroki então indicou a garota que sentava ao lado dele com um maneio de cabeça, e ela instantaneamente ficou vermelha, abaixando o rosto e apertando a própria cadeira.

- E-Eu não fiz dupla com o Iida-kun só pra me livrar do Mineta! E-Ele é um estudante muito inteligente e sua individualidade é muito interessante! – Era óbvio que Yaoyorozu estava tentando dar desculpas.

Jirou e Kaminari riram da reação exagerada da colega, e Todoroki estava voltando a atenção para o caderno que estava aberto em sua mesa quando Kaminari chamou sua atenção outra vez, quando tinha terminado de rir. 

- E você, Todoroki? Com quem fez dupla? 

- Midoriya. 

- Sério? – Todoroki confirmou com a cabeça. - Podia jurar que ele ia fazer com a Uraraka ou o Iida.  

- Também achava isso, mas ele me convidou ontem e eu aceitei. 

- A Uraraka fez dupla com a Tsuyu-chan. – Esclareceu Jirou. – Ela me falou algo sobre Iida ter mencionado que era uma boa oportunidade de aprender sobre individualidades que não fossem tão familiares. 

- É verdade. – Todoroki podia confirmar, afinal, estava lá quando Iida dissera aquilo. 

- Ah, isso me lembra, vamos fazer o trabalho hoje, certo? – Kaminari perguntou, e Jirou confirmou com a cabeça. 

- Quanto mais rápido acabarmos com isso, melhor. 

- Isso é um péssimo espírito de equipe. – Observou Yaoyorozu. 

- Você e o Iida já fizeram o de vocês? – Perguntou a garota de cabelo curto, ignorando o comentário. 

- Não, vamos fazer hoje também. 

- E você e o Midoriya, Todoroki-kun? 

- Fizemos ontem, depois da escola. 

- Que rápido. Como foi? – Quis saber Kaminari. 

Todoroki ficou em silêncio por um momento, pensando na melhor forma de responder àquilo, e então deu de ombros, dizendo simplesmente:

- Foi uma experiência interessante. 

- Imagino. – Todoroki arqueou as sobrancelhas, divertido. “Você não faz ideia.” Pensou. - Até hoje não entendo muito bem como funciona a individualidade daquele cara. Ele explicou pra você? É algo de reforço, certo? 

- Sim. 

Os outros pareciam dispostos a ouvir mais, mas Todoroki não sentia vontade de explicar a individualidade de Midoriya para eles. De qualquer forma, não precisou, pois Aizawa entrou na sala e todos voltaram aos seus lugares, ficando em silêncio. 

Enquanto o professor lembrava a turma que deveriam fazer o trabalho o mais rápido possível, para que não perdessem o prazo de entrega, Todoroki pensou no que Kaminari falara sobre seu rosto. Ele realmente estava com algumas olheiras. Vira isso no espelho naquela manhã, mas não havia nada que pudesse fazer. Fora incapaz de pegar no sono na noite anterior, o ocorrido do parque sendo rebobinado em sua mente de novo e de novo durante todo o tempo. 

- A propósito, estou fazendo passar um formulário que vocês devem trazer assinado por seus pais na semana que vem. Nele consta uma autorização pra uma viagem de acampamento que será realizada. 

Por toda a turma pode-se ouvir cochichos de empolgação, mas um olhar de Aizawa fez todos se calarem outra vez. Exceto por Kirishima, que comentou em voz alta. 

- Pra onde vamos, Aizawa-sensei? 

- Uma área de floresta fora dos limites da escola. A localização exata está no formulário que vai ser entregue aos seus pais. E quero acrescentar que isso é ideia do professor All Mighty, e eu estarei apenas acompanhando vocês, mas não serei considerado responsável. 

Então, mais alguns cochichos, dessa vez inseguros. 

- Certo, chega de papo. Hora da aula. 

Aizawa então começou a falar sobre as características básicas de um herói, e todos prestaram atenção. Foi quando um dos formulários chegou em suas mãos, e Todoroki encarou o papel. Parecia algo interessante, mas algo deteve sua atenção e o garoto suspirou, murmurando pra si mesmo.

- “Assinatura do responsável”, hm? 

Guardando o papel na bolsa, decidiu que se preocuparia com isso depois e focou no que o professor estava falando.

... 

Na hora do intervalo, Todoroki acabara sentado em uma mesa junto à Kaminari e Jirou, mas eles ficaram falando sobre o trabalho que ainda tinham que realizar, então o garoto preferiu permanecer quieto, apenas observando os dois. Foi quando uma bandeja foi colocada em frente a sua, e Todoroki arqueou as sobrancelhas ao erguer a cabeça e constatar que era Midoriya que estava ali, exibindo um sorriso deslocado antes de falar. 

- Tudo bem se eu sentar aqui hoje? 

- Vá em frente. – Respondeu o mais alto, indicando que o outro se sentasse. 

Midoriya fez o que foi pedido e então começou a falar, explicando o motivo de estar ali mesmo sem ter sido questionado. 

- A Uraraka-san e a Asui-san não vieram pro refeitório, devem estar em algum lugar fazendo o trabalho. Eu ainda sentei junto com o Iida-san, mas a Yaoyorozu-san também se juntou a nós e a conversa começou a ficar um pouco confusa demais pra eu acompanhar... Sinto muito se estiver incomodando vocês.

- Ah, Midoriya, e aí? – Kaminari só então pareceu notar a presença do menor, que cumprimentou os outros dois. Jirou apenas acenou brevemente com um pequeno sorriso, e ela e Kaminari voltaram a discutir sobre o trabalho. 

- Esses dois também estão falando do trabalho, então acho que estamos no mesmo barco. 

- Entendi... Ah, a propósito, Uraraka-san falou sobre um parque de diversões que a Hagakure-san descobriu e decidiu que devíamos ir lá. Ela também achou uma boa ideia que eu chamasse você, Todoroki-kun. – Midoriya estava sorrindo, parecendo um pouco embaraçado em fazer o convite. Todoroki sentia que nunca se cansaria de ver as diferentes expressões do outro. 

- Porque não? – Respondeu por fim, dando de ombros e dando seu melhor para manter a expressão séria. – Quando querem ir? 

- Nesse domingo. Jirou-san, Kaminari-san, por favor, também sintam-se convidados. 

- Hm? Pra quê? 

Midoriya repetiu o que tinha falado há pouco, e os colegas pareceram se animar com a ideia. 

- Parque de diversões? Parece legal. 

- Que parque? – Outra bandeja foi colocada na mesa pouco antes do dono da mesma sentar pesadamente ao lado de Kaminari, entrando na conversa. 

- Kirishima, bastardado, não saia correndo na frente! – Era a voz de Bakugo, que chegou pouco depois do colega de cabelo vermelho, sentando no lado contrário ao mesmo, ao lado de Jirou. 

- Ah, Midoriya estava falando sobre um parque de diversões que a Hagakure descobriu, e estão planejando ir nesse domingo. 

Todoroki percebeu que Bakugo franzira as sobrancelhas ao ouvir o nome de Midoriya, lançando ao mesmo um olhar hostil, mas o menor pareceu apenas ignorar o gesto. As sobrancelhas de Todoroki se franziram levemente em incômodo. 

- Parece ótimo. Tudo bem se formos também? – Kirishima perguntou, animado, e Jirou riu. 

- Está se convidando, Kirishima? 

- E que história é essa de “formos”, huh, Cabelo Esquisito? – Bakugo esbravejou, alteando a voz. – Espero que não esteja me incluindo nessa merda! 

- Ah, foi mal, Midoriya, não estou querendo me meter. – Kirishima ignorou a reação de Bakugo, que não pareceu gostar daquilo. 

- Ah, de maneira alguma, Kirishima-san! Vai ser ótimo se você for também! – Midoriya falou rápido, sorrindo e balançando a cabeça enquanto afirmava que seria bom que todos fossem, e então sua voz diminuiu um pouco, sua expressão mudando para uma mais insegura enquanto ele abaixava o olhar. – V-Você também pode ir se quiser, K-Kacchan.

- Como se eu fosse querer ir pra algum lugar com você, Deku. – Rosnou o loiro, e Todoroki sentiu a mão esquerda esquentar, ao mesmo tempo em que fechava a mesma em um punho sobre a mesa. 

- Qual é, Bakugo! Parece que vai ser bem legal, não precisa dessa atitude. – Era Kaminari.

Bakugo começou a gritar mais alguns xingamentos, dessa vez na direção de Kaminari. Jirou então se voltou para Midoriya, falando:

- De qualquer forma, Midoriya-kun, agradecemos o convite. – Ela tinha as sobrancelhas levemente arqueadas, e continuou. – Francamente, esse tipo de programa não faz muito o meu estilo, mas acho que vou dar uma chance. Parece que vai ser interessante. 

- É bom saber disso. – Midoriya sorriu para a garota, que se voltou para a própria comida, fazendo um ótimo trabalho em permanecer inalterada pelo loiro que ainda reclamava e esbravejava ao seu lado. 

- À que horas pretendem estar no parque? – Todoroki voltou a se fazer audível, direcionando a pergunta apenas para Midoriya, que parou de comer para responder.

- Ainda não decidimos bem os detalhes, como o horário e se vamos encontrar no parque ou antes, para irmos todos juntos. Uraraka disse que ia avisar quando ela e a Hagakure-san decidissem, já que a ideia foi delas. Posso mandar uma mensagem pra você quando ficar sabendo. – E então ele acrescentou, parecendo um pouco embaraçado. – Q-Quer dizer, se estiver tudo bem por você eu avisar por mensagem.

Todoroki balançou a cabeça antes de responder. Bakugo tinha se calado, mas ninguém parecia reparar no diálogo dos dois. 

- Sem problemas. Faça isso.

- Tudo bem então.

Ninguém parecia reparar no diálogo dos dois, mas, sem que Todoroki notasse, Bakugo reparara.