História Let Me Know - Número da Sorte

- Ahm... oi – Yugyeom disse, visivelmente tímido. Agora que eu havia parado para pensar, ele realmente era tímido na escola também, no geral. Claro, ele tinha seus amigos e era mais solto com eles, mas era uma exceção.

- Olá – disse, igualmente tímida. Eu não era exatamente boa em puxar assunto, mesmo assim me esforcei – você tem alguma música em mente que queira dançar?

- Na verdade, não – ele riu. – E você? – E dessa vez ambos rimos, após eu balançar minha cabeça em negativa.

Por fim, eu sugeri uma maneira boa pra decidir: pegaríamos o celular de um dos dois e colocaríamos em uma música aleatória. Mas, isso não bastava. Cada um escolheria um número, e pularíamos o número de músicas que tiraríamos. A música que cairia, seria nosso destino: nossa nota dependia totalmente da boa vontade do celular de um dos dois, agora.

Escolhemos o celular de Yugyeom, por ter trinta e sete músicas a mais que o meu, e ambos mostramos o número com os dedos na mesma hora. Ele havia escolhido 2, e eu 5. Logo, ele colocou em qualquer música, e colocou na função “aleatório” do celular. Pulou uma, duas, três... até que ele pulou pela sétima e última vez. Ambos sorrimos quando a música começou a tocar. Super Junior – Sorry, Sorry.

- É a minha música favorita deles! – eu exclamei, enquanto batia palminhas.

- A minha também – Yug concordou. Depois disso, trocamos nossos celulares e começamos a investigar a playlist de cada um: a playlist dele era bem cheia de músicas do Chris Brown, mas também tinha várias outras músicas, e a maioria eu também amava. Então, quando trocamos de volta nossos celulares, Yugyeom apenas sorriu e disse:

- Fala sério! Somos gêmeos musicais, nem acredito. E, também não acredito que você não escuta Chris Brown, mas vamos dar um passo de cada vez né...

- Ei, mesmo gêmeos tem algumas diferenças, certo? – Em seguida, ele ergueu a mão para um high-five, e desde então só andávamos mais e mais juntos, mesmo na escola – o que, admito, deixou várias pessoas confusas.

- Desde quando você fala com ele? Vocês, literalmente, ficaram amigos da noite pro dia, e isso não é normal – Eunmi me perguntava isso a cada dez minutos no primeiro dia que ela soube.

Eunmi era minha amiga, já que nossas avós se conheciam de alguma forma. Mesmo quando eu ficava em silêncio, por não saber direito como puxar assunto, ela falava comigo, enquanto eu escutava. Mesmo quando não havia nada a ser dito (o que era raro, mas acontecia), não era estranho o silêncio que ficava entre nós. É como se pudéssemos nos comunicar até mesmo sem sabermos que estávamos o fazendo.

Logo, ela sabia basicamente tudo o que havia para saber sobre minha vida... não que fosse muito, mas ela sabia, assim como eu sabia sobre a vida dela. Mas, eu não havia contado para ela que iria começar a ter aulas de dança, porque eu mesma estava nervosa o suficiente com essa história. Depois de ela descobrir, me encheu de perguntas, claro:

- Certo. Primeira pergunta, nível fácil: desde quando você tem aulas de dança? – Eunmi estava sentada de frente para mim nesse dia, enquanto eu estava de costas para a porta da sala.

- Faz três semanas, agora. Próxima. - Eu estava de braços cruzados, apenas olhando Eunmi, preparada para responder às suas questões. Era algo que ela fazia com frequência: diversas perguntas com "níveis" diferentes. Os níveis significavam em qual pergunta ela poderia ter uma reação negativa, ou qual pergunta seria difícil para mim responder.

- Ok. Porque você não me contou sobre isso? – Eunmi levantou uma sobrancelha.

- Isso se encaixa no nível intermediário ou difícil? – Coloquei uma mão no queixo, como se estivesse pensativa.

- Depende da sua resposta, claro.

- Na verdade, eu não queria fazer aulas de dança. Eu danço tão bem quanto uma couve-flor. Mas minha mãe queria que eu fizesse exercícios, e deixasse de ser “tão tímida”. – Fiz um movimento como se escrevesse aspas no ar, revirando os olhos.

- Mas para isso não se faz teatro? Em relação à timidez, digo.

- Eu não sei o que minha mãe pensa, mas acho que ela achou que seria prático. “Assim matamos dois coelhos com uma cajadada só”, foi o que ela me disse.

- Eu odeio esse ditado – Eunmi fez uma careta, provavelmente pensando no sentido literal do ditado popular. – Mas, certo. Eu tenho uma última pergunta.

- Sobre...? – Nessa hora, ela deu um sorriso maquiavélico.

- Na verdade são várias perguntas, mas elas basicamente são uma só porque é sobre o mesmo assunto... Um: desde quando você e Yugyeom são tão amigos?; Dois: Vocês andam sempre juntos, mesmo lá? E três: vocês andam sempre juntos? – E, dito isso, ela deu uma risadinha abafada, adorando a situação.

- Bem, eu esperava uma pergunta difícil, mas essa é bem fácil: Nós acabamos formando uma dupla – ao ver a cara risonha de Eunmi, enfatizei – escolhida pelo professor, uma dupla para um trabalho, apresentação de dança. E, basicamente sim, andamos a maior parte do tempo juntos. Pelo menos, no estúdio. Aqui eu ainda ando com você, se não reparou...

- Aish, você é sem graça mesmo... E, mesmo vocês não andando juntos o tempo todo, ele não para de olhar pra cá.

- Duvido. Até porque, ele está lá embaixo, comprando o lanche dele. - Quando disse isso, Eunmi arregalou os olhos e jogou as mãos para o alto.

- Como você sabe até isso? Você está de costas para a porta! 

- Hm... sabendo – eu ri da cara de Eunmi, que parecia estar brava com isso, mas ao mesmo tempo se divertindo horrores.

Depois disso, tanto ela quanto eu começamos a nos acostumar com as vindas relativamente frequentes de Yugyeom à minha mesa para pedir algo emprestado na hora do intervalo, às vezes até lanchávamos juntos, os três. Afinal, ambos eram meus amigos, e eu não dispensaria um para ficar com o outro. Mesmo que no começo eles estranhassem, acabaram se tornando amigos. Não tanto quanto eu e Eunmi, ou eu e Yugyeom, mas conversavam às vezes, e isso já era o suficiente para mim.

Depois disso, eu e Yugyeom íamos para o estúdio juntos, na maioria das vezes. Afinal, não era tão longe assim da escola, e íamos conversando enquanto caminhávamos. De vez em quando, andávamos pelo caminho mais longo, ao redor de uma praça, quanto tínhamos que resolver algo sobre alguma apresentação, ou quando só queríamos conversar também. Afinal, mesmo dando essa volta, sempre chegávamos alguns minutos mais cedo que o resto do pessoal: éramos os únicos que eram da mesma escola, e algumas escolas tinham uma aula a mais que nós, o que resultava em chegarmos cedo e conversarmos ou dançarmos até o resto do pessoal chegar. Era extremamente divertido, e útil, já que Yugyeom com frequência me ajudava a aprender alguns passos de dança que eram complicados para mim antes da aula. Além do mais, era bom ficar com ele, de um jeito que mesmo quando havíamos tido um dia ruim na escola ou algo do tipo, tudo passava. Parecia até que um tinha o dom de restaurar as energias do outro, e às vezes era só isso que precisávamos.