1. Spirit Fanfics >
  2. Let me see you smile >
  3. Lembranças tristes apenas parecem ser mais fortes

História Let me see you smile - Lembranças tristes apenas parecem ser mais fortes


Escrita por: BaekYodaChan

Notas do Autor


OOIII UNICÓRNIOS <3 <3

Passei tanto tempo sem aparecer por aqui que nem sei mais como fazer isso.....

Nem sei se vocês notaram, mas eu mudei meu user para "BaekYodaChan" porque estava cansada do antigo ><

E eu to muito muito feliz porque tirei 920 na redação do ENEM :3
Me deu até animo para voltar a escrever mais!

Enfim, vamos ao que interessa...
Último capítulo (é o último sim ;-;) é bem difícil pra mim, não sei direito como terminar coisas

Mas acho que eu tenho que agradecer algumas pessoas, na verdade todo mundo, porque cada fav e comentário é importante pra mim (que cliche)
Então muito muito obrigada

Agora go go ler
Mas leiam com carinho, ok?

Capítulo 34 - Lembranças tristes apenas parecem ser mais fortes


Fanfic / Fanfiction Let me see you smile - Lembranças tristes apenas parecem ser mais fortes


Capítulo 34
Lembranças tristes apenas parecem ser mais fortes

 

Acordei cedo nesta manhã de domingo. Amanhã é o dia da cirurgia de Sehun e graças a mim será o dia do transplante do Luhan também. No hospital, todos já sabiam do meu genioso plano, fiz questão de eu mesma informar a todas as enfermeiras que estarão presentes, para que não ocorram maus entendidos.

Durante a semana que se passou meu irmão comportou-se de forma muito estranha, eu até diria que estava repensando a briga com Sehun se ele não fosse orgulhoso demais para isso. Teve um dia que eu o escutei chorando, mas não era como antes, choro de ódio, parecia mais com um choro de culpa, de saudades. Neste dia eu estava aproveitando minhas pernas que milagrosamente deixaram um pouco da preguiça e fraqueza de lado e me deixaram dar alguns passos durante a semana. Eu passeava com o telefone pela casa, falando com um Baekhyun eufórico que fazia planos para seu casamento.

“— Chany e eu pensamos em usar cores diferentes de terno, sabe? Eu queria um tom meio rosa, mas minha mãe acha que vou ficar viado demais... — ele suspirou indignado — como se já não estivesse na cara que eu sou!”

— Compre o terno então. Não é como se a opinião da sua mãe fosse mudar a sua.

“— Mas é ela quem vai pagar.”

— Uhm... Isso é um problema.

“— É, mas eu estou quase conseguindo convencer...”

Parei de escuta-lo ao passar na frente da porta do quarto do Lunnie, que continuava trancada desde a noite anterior. Coloquei meu ouvido contra a madeira e escutei o fungar bem baixinho, talvez abafado por um travesseiro.

“— Yumi?” — voltei a prestar atenção no telefone.

— Ah? Sim, vai ficar ótimo.

“— Eu perguntei como você ‘tá, sonsa! Sabia que não estava me escutando!”

— Desculpa, Bacon. Muita coisa na cabeça.

“— Literalmente?” — nós constantemente brincávamos com nossa doença, a dele agora quase inexistente.

— Também, mas...

“— O que aconteceu? Quem foi? Eu mando o Chany bater na pessoa se você quiser.”

— Deixa seu namorado em paz, não preciso que bata em ninguém.

“— Noivo.” — revirei os olhos. Odeio quando me corrigem.

De repente me voltou à cabeça uma ideia de alguns dias atrás.

— Baekkie! — corri até meu quarto para evitar que Luhan escutasse.

“— Fala, criatura.”

— ‘Tá a fim de ir à praia?

“— Minhas malas já estão prontas, quando vamos?”

— Domingo. Tem compromisso?

“— Se tiver eu cancelo.” — gosto de amigo assim!

— Consegue avisar para os outros? Quero ir com todos vocês, como um último momento especial.

“— Me deixa triste te ouvir falando assim.”

— Eu sei, mas...

“— Eu aviso todo mundo sim.”

— Então... Casa do Suho no domingo?

“— Pode contar comigo lá.”

Foi assim que eu me condenei a acordar cedo hoje. O carro veio me buscar às sete da manhã. Charlotte se despediu de mim com muitas lágrimas, contudo, ela ao mesmo tempo sorria, eu podia sentir. Nossa relação melhorara muito desde aquele abraço, ela até mesmo disse ter parado com aquela bobagem de “palavras proibidas”. Mas continuava reclamando quando falávamos alguma.
Luhan finalmente saiu de seu quarto só para me dar tchau. Ele lamentou não poder ir, disse que queria muito passar esse momento comigo, cuidar de mim. Eu disse que ficaria bem, mas não quis prometer que nos veríamos outra vez, e ele também não me fez prometer.

— Eu realmente queria poder ir. — ele chorava tanto que era difícil entender o que dizia.

— Mas não pode. — apertei o abraço — Eu vou ficar bem. E você também vai.

— Eu te amo, minha Hiuni. Sabe disso, não é?

— Sempre soube. Também te amo, meu Lunnie.

 — De verdade, amo mesmo, muito, muito! — sorri.

— Eu sei.

— Yumi... — ele falava baixo, entre os soluços que se acalmavam aos poucos — Se você... quando você... como eu vou...? — era visível que ele não conseguia terminar aquela frase, talvez nem quisesse.

— Vai continuar vivendo e vai ser muito feliz! — coloquei minha mão por entre os fios curtos de cabelo e aproximei mais sua cabeça do meu pescoço.

— Como? — ele se aconchegou no nosso abraço — Não sei se consigo.

— Vai sim. — ele negou.

— Como? Se foi você quem me ensinou a sorrir? — senti a dor no meu peito apertar.

Eu estava chorando, não por mim, mas por ele. Por meu irmão de alma, doença e loucura, não de sangue, mas de coração. Éramos irmãos até mesmo antes de termos a mesma mãe, antes mesmo de levarmos em nossos registros o mesmo sobrenome, este que nunca usaríamos, porque nunca seria necessário. Eu disse para Luhan uma vez: o que nos define irmãos não deve ser nosso nome, nem nosso sangue. O amor que temos um pelo outro deve sempre ser muito maior que isso.

— Eu te ensinei mesmo, não foi? Então me deixe te ensinar mais uma coisa. Não importa o motivo, não deve nunca deixar uma lembrança feliz sumir, entendeu? Mesmo que uma triste pareça mais forte, ela nunca é.

Findamos o abraço com mais algumas lágrimas, era uma despedida, sabíamos disso.

Yuri me deu na mão a coleira de Peludinho e ele me guiou até o carro.
 

[...]

Antes de viajarmos decidi também passar no hospital. Sehun já estava ali, preparando-se para sua cirurgia. Eu abri a porta do seu quarto com o máximo de cautela, coloquei metade do corpo para dentro do quarto, com medo que ele me expulsasse de lá.

— Sennie? — ele demorou um pouco para responder.

— Oi, Ymie. Entra aí.

— Ainda está bravo comigo? — me aproximei, Peludinho me ajudando a não esbarrar em nada.

— Eu nunca estive. Desculpa se fui grosso com você naquele dia, eu estava com raiva.

— Você desligou na minha cara!

Muita raiva. — ele riu do bico que formei com os lábios — Vem aqui.

— Sennie, seu idiota! — deixei que me abraçasse — Nunca mais grita comigo!

— Sim, mestre!

Depois de um tempo muito confortável naquele abraço, eu me afastei.

— Tenho que ir. Eu e os outros vamos passar uns dias na praia.

— E não me chamaram?

— ‘Tá louco, Sehun? Eu nem gosto de você, por que te chamaria? — ele riu. Meu santo unicórnio, ele riu! — Isso é algo que não se vê todo dia.

— Isso o que?

— Oh Sehun rindo.

— É, mas eu me acostumei a isso depois que encontrei você e Luhan.

Sua voz, quando falou do meu irmão, não tinha nem um pingo de raiva. Ele parecia de certa forma estar agradecendo.

— Vai continuar rindo, né? — ele soltou um riso soprado — Promete que vai!

— Não.

— Promete sim!

— Isso não dá pra prometer.

— Promete! Promete! Promete!

— Aish! Você é muito chata...

— Prome...

— ‘Tá bom, Yumi! Prometo, olha! — pegou minha mão e cruzou nossos mindinhos — Feliz?

— Sempre estou. E você vai estar também. Promessa é promessa, não pode quebrar! — abracei-o outra vez — Vou sentir saudades!

Apertei os olhos, sentindo uma lágrima descer pelo rosto. Ela não era triste, não era feliz, talvez fosse uma lágrima de saudades. Ele passou os polegares por baixo dos meus olhos para enxugar as pequenas gotas. Decidi fazer o mesmo em seu rosto, mas sem esperar realmente que houvesse lágrimas ali. Surpreendentemente meus dedos ficaram molhados. 

— Você precisa ir. — ele ditou firme.

— É — me afastei — Até depois.

— Até...

[...]

A viagem foi bem mais tranquila que a do ano passado quando viemos com Tao e Kris. Até que fizemos bastante silencio, Yixing dormiu o tempo todo (esse unicórnio fofinho!), Chanyeol ficou dando umas risadas baixinhas de alguma coisa, Suho também ficou em silencio quase o tempo todo, eu só sabia que não estava dormindo porque o escutava algumas vezes rir junto ao orelhudo. Chen, Xiumin, Kyungsoo e Kai estavam no outro carro, então não dá para saber o que estão fazendo — se for uma festa eu quero ir, mas conhecendo bem o Do, como eu conheço, eles devem estar no mais absoluto silencio, talvez não por escolha própria.

E antes que você pergunte, eu e Bacon estamos bem quietinhos sim, okay? Não duvide da nossa capacidade em parecer com criaturas civilizadas. Eu estava com a cabeça apoiada em seu ombro e recebia um carinho gostoso no meu cabelo. Que mãos incríveis esse baixinho tem — só um pensamento... deixa no ar.

Um pouco antes de chegarmos Chanyeol começou a reclamar que estava enjoado.

— Aguenta ai, Yoda. — mandei.

— Mas não dá! — ele fazia uns barulhos bem escrotos com a garganta.

Certo... talvez seja sério.

— Só mais um pouco, Chany. — Baek tentou conforta-lo. Senti meu amigo se afastar de mim, indo mais para perto do grandão. Não reclamei, afinal, os dois precisam desse tempo.

Há poucos dias, Chanyeol começou uma nova rotina de tratamentos, foi difícil convencer o hospital e principalmente seus pais de deixa-lo vir na viagem. Ele anda bem abatido por não ter uma mudança em seu estado ha muito tempo, mas sempre tenta não deixar isso transparecer. E eu sei que ele faz isso por uma certa criaturinha baixinha e irritante que o ama muito. Conversei com ele por telefone quando me ligou para confirmar que poderia ir à praia conosco. Chanyeol me disse que seu Bacon estava tão feliz por ter melhorado que ele não tem coragem de “incomoda-lo” com seu estado deprimente — não foram essas as palavras, mas foi isso ai —, por isso decidiu casar-se com ele tão jovem: “Para não perder o tempo que já pode ser pouco”.

Mal sabe ele que contei tudo isso para o Baek.

Que foi?

Melhores amigos não escondem nada!

Olhe só! Fiquei pensando tanto no casalzinho aqui do lado que nem percebi que o carro já parou.

Luhan

Eu só conseguia pensar em Yumi. Estou mais nervoso para saber se ela está bem que preocupado com minha cirurgia. Também não consigo tirar da cabeça, desde que ela entrou naquele carro, as últimas palavras que me disse enquanto me abraçava. “Não importa o motivo, não deve nunca deixar uma lembrança feliz sumir. Mesmo que uma triste pareça mais forte, ela nunca é.”

Yumi é uma pessoa tão sensível, com uma capacidade de se colocar no lugar do outro impressionante. Sempre sabe o que dizer. Sempre diz a coisa certa. Desde que nos conhecemos, quando eu tinha um problema, ela nunca tentava me entender, ela me entendia de verdade. E isso vale para todas as outras pessoas que pediram sua ajuda em algum momento da vida. Yumi sempre soube exatamente como ajudar.

Queria poder ter retribuído isso de alguma forma.

Pois mesmo tendo dado a ela todo amor que eu poderia dar, ainda sinto que não foi o suficiente para agradecê-la.

A verdade é que nunca ninguém conseguirá retribuir a ela na mesma intensidade os sorrisos que ela conseguia colocar em nossos rostos. Mesmo parecendo que para ela esses sorrisos já eram suficientes.

Sem saber quando ao certo comecei a chorar, levo minhas mãos ao rosto, esfregando os olhos. Com a visão embaçada pelas lágrimas infinitas que minha tristeza derramava, e minhas mãos tentavam secar incansavelmente, vejo em cima do sofá, no canto do quarto, a touca cinzenta com orelhinhas de lobo que ganhei de presente de Sehun na primeira vez que saímos. A touca que ficou sobre minha cabeça por semanas sem que eu quisesse tirar. Aquela que ficou coberta por flores amarelas quando eu e Sehun nos deitamos juntos em seu jardim, quando eu tive certeza de que estava apaixonado por ele.

As lembranças afastaram, sem que eu percebesse, as lágrimas de meus olhos. Antes que elas voltassem a cair, eu já tinha a touca abraçada por meus braços, os fios cinzentos acariciavam meu rosto enquanto eu sentia ali o cheiro da saudade.

“Não importa o motivo, não deve nunca deixar uma lembrança feliz sumir.” Eu não deixaria que essas palavras fossem em vão.

— Não vou deixar, Hiuni — sussurrei para mim mesmo — Não se preocupe.  
 

Yumi
 

Já era fim da tarde de Segunda. Eu estava sentada na areia, escutando os estalos da madeira queimando na fogueira que montamos para compensar o frio que a brisa marinha trazia, quando senti uma mão sobre a minha, era quente e macia. Aquele toque me fez sentir algo bom, era uma tranquilidade boa. Yixing entrelaçou nossos dedos e eu sorri. Não sei que tipo de amor sentimos um pelo outro, mas sei que é bom.

Ele não falou nada e eu agradeci em silêncio, pois sabíamos que se fosse para falar aquilo iria parecer uma despedida, porque de fato era, e não queríamos isso. Não queríamos abrir nossas bocas e ter de escutar o adeus um do outro.

Ele se aproximou mais de mim, ainda mantendo unidas nossas mãos. Senti sua cabeça se encostar-se a meu ombro e ficar por ali, apoiada em mim, com os fios curtos roçando meu pescoço, provocando cócegas bem tensas. Eu tinha vontade de rir, mas me controlei para não cortar o clima confortável que tínhamos ali.

Passei meu braço por seus ombros e o segurei bem perto de mim, deixando minha cabeça cair sobre a sua. A paz que parecia sempre acompanhar Yixing aonde que ele fosse, eu a sentia no meu coração, suas batidas estavam mais lentas, assim como minha respiração. Eu não sabia se isso era algum efeito colateral de se estar morrendo, mas gosto de pensar que é apenas meu corpo se acalmando, sentindo a tranquilidade daquela mão junto à minha, daquele vento frio e do calor da fogueira aos meus pés.

Yixing, com toda a calma do universo, ergueu a cabeça de seu apoio no meu ombro. E eu sabia que ele estava olhando para mim, então me virei e abri os olhos para que ele pudesse vê-los. E ele colocou minhas mãos em seu rosto para que eu pudesse vê-lo também. E meus dedos em sua boca viram um sorriso.

E um beijo calmo me deu a sensação de uma paz infinita antes que ele voltasse a pousar a cabeça em meu ombro. E eu sabia que não nos amávamos daquele jeito: como Charlotte ama Yuri, ou Baekhyun ama Chanyeol, ou Luhan ama Sehun. Mas ainda era amor suficiente para que o silêncio após um beijo não fosse desconfortável. 

Porém, quando a vida te dá amigos como os meus, nenhum momento de paz e tranquilidade dura realmente por muito tempo. E se não fossemos todos magros e fracos por conta de anos de tratamentos agressivos, alguém poderia ter se machucado quando todos pularam uns sobre os outros, formando um amontoado de risadas e tosses — porque alguns engoliram um pouco de areia.

Sehun

“Vou sentir saudades”, foi o que ela disse, foi sua despedida. E a única coisa que eu fiz foi dizer “Você precisa ir”.

É obvio que eu nunca fui bom com despedidas. Apenas passo pela porta da frente, sem realmente dizer adeus antes. Foi o que fiz com Yumi, figurativamente. Foi o que fiz com Luhan, literalmente. E é o que faço com todos, de uma forma ou de outra.

O que é engraçado de se pensar é que das outras vezes em que passei em silêncio pela porta não senti nada. Contudo, nessas duas últimas vezes um sentimento ruim me acompanhou. Uma tristeza inexplicável e uma culpa insuportável.

A cena da briga com Luhan se repetia na minha cabeça, e eu escutava aquela porta batendo no silêncio. Porém, por outro lado, se eu não disse adeus talvez não quisesse realmente que aquilo fosse uma despedida. E se Luhan também não disse, talvez ele também não quisesse. Então me lembrei daquele dia no orfanato e de como Luhan parecia feliz e de como eu estava feliz também por vê-lo daquele jeito. E de como foi bom, mesmo que por pouco tempo, fazer planos para um futuro ao lado dele.

Agora minha raiva já não existia. Eu sentia saudades. E isso me fez lembrar do meu último encontro com Yumi e de como eu odiei nossa pseudo despedida. 

Quando Yumi me disse aquelas palavras, quando me fez prometer que eu continuaria sorrindo, eu sabia que o “continuar” significava não parar depois que ela morrer. E, nesse caso, o que me incomoda tanto na nossa despedida incompleta é que não fui eu quem passou pela porta. 

“Vou sentir saudades”, ela disse.

“—Sehun?” — ela atendeu o telefone com voz de surpresa.

— Também vou sentir saudades. — eu respondi.

 

Autora

As ondas batendo nas pedras, as risadas que vinham da praia, aquela paisagem, com o sol que ao fundo descia, era um clichê de paz.

Qualquer outro ali talvez desejasse que os dias seguintes se repetissem como aquele, que o novo sol imitasse o que agora se punha, que os risos da praia e as ondas do mar batessem em seu ouvido com o mesmo tom de calmaria. Qualquer um talvez desejasse viver para sempre, em uma eternidade de dias como aquele. Qualquer um, talvez, porém nem todos, com certeza.

Yumi não pensava como qualquer um. Toda aquela calmaria lhe fazia bem, certamente. Enquanto escutava e sentia aquela praia de águas, pedras e risos, ela pensava que nunca se sentira tão tranquila há muito tempo. Porém, nem essa sensação era capaz de transforma-la naquela pessoa que escolheria viver ali para sempre. Em vez de uma eternidade de dias como aquele, Yumi preferiria que aquele fosse seu último dia.

Ela pensava na morte com curiosidade e ansiedade. A mesma ansiedade que Luhan sentia no caminho para sua cirurgia. A respiração acelerada se acalmava ao que a anestesia fazia efeito. A simpática senhora que aparecera em sua vida debaixo de um guarda-chuva preto em um dia chuvoso segurava firme em sua mão e repetia que tudo vai ficar bem.

A sala branca era fria, como o mar que por fora e visto de longe parece revolto, completamente sem vida. Mas basta mergulhar, olhar atentamente, pra ver que onde parece não haver nada se escondem milhares de cores, até mesmo dentro de uma parede branca.

Luhan sentiu-se por horas mergulhado nesse mar. E aos poucos, ao que passava o efeito da anestesia, voltava à superfície, torcendo para que as cores que foram vistas não se apagassem ao acordar. Havia o verde que acalmava, o vermelho que o revoltava, o amarelo que o fazia sorrir e o azul que lhe dava uma tremenda vontade de viver e sentir todas as outras cores. Cores que Yumi não conseguia ver, mas podia imaginar — e nisso ela finalmente viu uma vantagem.

Qualquer um que olhasse aquele por do sol, mesmo um artista acostumado a ver infinitas possibilidades de cores, o veria amarelo, laranja, vermelho, refletindo um verde claro nas águas azuis. Yumi ficou feliz, não que ela já não fosse — mas ser feliz e estar feliz são duas coisas diferentes — por conseguir, exatamente por não ver, colocar naquele céu alguns tons de roxos, verdes, azuis e imprimir no mar vermelhos vivos que não lhe pertenciam. Ela via tons que qualquer outro que possa ver de verdade nunca veria. Yumi poderia, em um segundo, transformar aquela paisagem em uma pintura cubista, ou em um quadro renomado do impressionismo. 

E toda a raiva que ela pudesse sentir do mundo, porque este era injusto e cruel, desapareceu por completo naquele segundo. E ela lembrou-se das cores vibrantes em sua caixa de lápis de cor, dos tons pastéis nas suas roupas e das sombras escuras que o preto e o cinza deixam por onde passam. O branco daquele quarto de hospital, o branco de suas lembranças que um dia tiveram todas aquelas cores, já não a incomodava mais.

Foi também o branco a cor que Luhan viu quando seus olhos se abriram. O teto do quarto onde ele descansava após seu mergulho possuía todas as cores que vira, e não mostrava nenhuma. O cansaço pesava-lhe as pálpebras, mas ele forçou-se a manter-se acordado. Não deixaria que seus olhos se fechassem outra vez sem ver ao menos uma daquelas cores que o teto escondia. Então ele a encontrou, ao mover a cabeça para o lado. Era laranja a cor que ele viu, não no pôr do sol refletido na parede, mas em um olhar.

Os olhos negros de Sehun refletiam o laranja acolhedor daquela luz tranquila que tocava todo o quarto e aquecia os corações dos garotos que se olhavam. 

Porque o Pôr do sol e um olhar apaixonado têm em comum o brilho e o calor que nos aquece por dentro e ilumina por fora. E ao mesmo tempo carregam a incerteza, que provoca medo, do que virá depois que escurecer.

Yumi tinha a incerteza, porém ela aos poucos se esvaia, e o medo não era nada se não uma sombra passada, que diminuía ao que o sol finalmente descia. E ela, agora certa de que estava pronta, carregando em seu rosto o sorriso de sempre, esperou apenas que o dia terminasse logo, para que, exausta, pudesse acompanhar o sol.

Desceria ao incerto, à escuridão que não lhe amedronta. E mesmo que há tempos não pudesse mais enxergar, deitou-se naquela rocha, que úmida refletia a luz rarefeita, e fechou os olhos, apenas para morrer imaginando aquele céu que já se escurecia. Imaginando que seu irmão e todos os outros com quem compartilhara sua vida estão agora vendo esse mesmo céu.

E quando a noite caiu, e os jovens daquele velho grupo de apoio olharam para as estrelas, puderam jurar que viam ali um sorriso de menina. E mesmo em um quarto branco, Luhan e Sehun sorriam. E um sorriso apaixonado tornava a noite quente e calma. E todos os que olharam para o céu naquela noite sorriram também.
 


Notas Finais


Bem, eu não queria escrever "fim" porque não gosto da sensação de ler essa palavra, mas esse é sim, de certa forma, o final.

Desculpa se fiz alguém chorar
Finais são sempre tristes, de qualquer maneira...

Um abracinho e um beijo em todos que leram até aqui ^^

Logo eu volto com outras histórias e talvez algum capítulo bônus para esta :3

Até qualquer dia
Kissus açucarados,
Julia ^^.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...