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História Lethobenthos - Capítulo 7


Escrita por: sugaphobic

Notas do Autor


GOGOGO o/

Capítulo 8 - Capítulo 7


Meu coração batia tão rápido contra as minhas costelas que chegava a doer. Um desespero real de quem sabia que havia feito merda e tinha absoluta certeza de que estava fodido. A ansiedade e a paranóia me faziam criar diversos cenários – um pior do que o outro – na minha cabeça conturbada pelo medo.

Não que ter ficado com o NamJoon, praticamente, o dia inteiro fosse algo ruim – longe disso, assim que tivesse a oportunidade, faria outra vez –, porém eu havia cabulado aula, sendo um dos melhores alunos da escola, e a culpa me consumia por inteiro.

NamJoon estacionou o carro em frente ao jardim de casa e, com um suspiro pesado – de quem caminhava para a morte iminente –, retirei o cinto de segurança. Percebendo minha tensão, NamJoon impediu-me de sair do veículo, tocando meu pulso levemente.

- Tem certeza de que precisa ir? – ele questionou em voz baixa, preocupado.

- Se ele me chamou, você sabe que sim – respondi tristemente, segurando seus dedos entre os meus.

NamJoon me observou por alguns segundos antes de se inclinar em minha direção, juntando nossos lábios em um de seus beijos doces e calmos, que me transmitiam o afeto em seu peito, do tipo que fazia você sentir estática por toda a sua pele, aproveitando todas as sensações que sua língua proporcionava em contato com a minha, enquanto meus lábios sugavam o seu levemente, arrancando suspiros profundos e sorrisos bobos só de relembrá-los.

- Me mande uma mensagem se acontecer algo, está bem? – pediu ele, enquanto eu respirava fundo, sentindo seu cheiro almiscarado – Eu te ligo mais tarde.

Afirmei, usando toda a minha força de vontade para sair do carro e me afastar de seus braços. Em contraste com o ar condicionado do veículo e o calor de NamJoon, a brisa gelada do lado de fora me pegou de surpresa, intensificando o sentimento de que eu estava sozinho, indo em direção ao pior lugar que eu poderia pensar para se estar no momento. Eu caminhei pesadamente até a porta, tomando alguns segundos para respirar fundo e enfrentar o magnífico e perfeito Senhor Kim. Minha casa estava assustadoramente em silêncio quando entrei. Atentei-me por qualquer sinal de vida lá dentro enquanto retirava meus sapatos no hall. Nem mesmo o costumeiro som do programa de variedades da minha mãe estava sintonizado na televisão da sala.

- Mãe? – chamei por ela enquanto adentrava o recinto, porém ela não estava lá e, Deus, como eu queria que fosse a sua imagem triste e sem vida me encarando do outro lado do cômodo. Ao invés disso, a figura que ali estava era escura e severa, segurando um jornal sob a luz amarelada do abajur de chão – Ah, boa noite, pai, não havia visto o senhor aí. – curvei-me em sinal de cumprimento, todos os meus nervos gritando para sair de perto daquele homem.

Lentamente ele fechou o papel em sua mão lançando-me um olhar severo por cima de seus óculos quadrados e de aro invisível. Eu podia sentir seu olhar depositando toneladas de culpa em cima de meus ombros, fazendo-me, aos poucos, encolher, aguardando o que quer fosse ocorrer.

Meu instinto dizia que era algo horrível.

- Onde esteve até essa hora, SeokJin? – ele perguntou, seu tom não evidenciando nenhum humor, deixando-me ainda mais nervoso. Meu coração batia tão forte que eu começava a me questionar se ele não ouvia ou sentia o cheiro do meu medo, como aqueles predadores atrás de suas vítimas, prestes a devorá-las.

- Eu estava jantando com NamJoon, pai, perdoe-me o atraso. – respondi.

- Seu telefone está com algum problema, SeokJin?

- O qu...? Ah, não, não senhor.

- Então por qual motivo não entrou em contato? – ele, com certeza, podia sentir a culpa me consumindo, o receio de olhar em seus olhos ou a falta de convicção ao respondê-lo, ele deveria estar saboreando meu medo – Você sabe que...

- ...Os jantares em família são importantes – completei, decidido a pelo menos manter um pouco da minha dignidade diante daquele homem que pensava que todos deveriam se curvar a sua existência. Como eu poderia ser tão diferente dele?

Meu pai sempre fora um cara exibicionista. Gostava de pintar para todos que tínhamos a família perfeita, a casa perfeita, os filhos perfeitos, custasse o que custar. Se não vivíamos sob suas ordens, punições severas eram aplicadas, castigos que realmente faziamos-nos arrepender por ter ido contra sua palavra.

Hoje em dia, com minha mãe debilitada pela perda do filho mais novo, ele parara de querer nos exibir por aí, evitando ter de nos mostrar, como um machucado feio e enorme. Mas as coisas em casa ainda tinham de soar perfeitas para quem via de fora, isso incluia nada que chamasse atenção negativa, como por exemplo seu único filho prodígio perfeito chegando em casa fora do horário socialmente aceitável para um adolescente correto.

- Não me interrompa! – sua voz veio alta e severa, fazendo-me encolher minimamente, pego de surpresa.

- Desculpe – respondi –, não irá se repetir.

- Mas é claro que não irá – sua voz veio colorida de raiva e desgosto e, mais uma vez, meus nervos gritavam para sair dali o mais rápido possível –, a partir de hoje, quero você em casa direto da escola.

- O quê?! – perguntei incrédulo.

- Você me ouviu, SeokJin.

- Mas isso é injusto! Foi a primeira vez que me atrasei para o jantar, já disse que não vai se repetir! – vir para casa direto da escola era tipo antecipar minha ida à infelicidade. Eu acordava todas as manhãs sonhando com os momentos que passaria com NamJoon no final do dia, os beijos que daríamos livremente enquanto estávamos juntos, os carinhos que trocaríamos. Isso me limitaria a vê-lo apenas aos fins de semana, tendo de esperar cinco longos dias até poder tê-lo novamente comigo.

- Não me importa – ele disse, simplesmente, ficando de pé e andando até ficar a minha frente, do outro lado da sala, apenas para encarar minha angústia. Eu não iria ficar lá, suportando seu deboche disfarçado no olhar em minha direção. Quando me virei para subir as escadas, sua voz veio novamente, falando tudo que eu menos queria ouvir no momento, gelando cada terminação nervosa existente em meu corpo:

- Recebi um telefonema da diretora da escola. – ele anunciou, a voz controlada em um tom frio, que fazia minhas mãos tremerem – Onde é que você esteve?

- Eu...

- E não ouse mentir! – vociferou, um lapso em sua postura controlada e perfeccionista.

- Com NamJoon.

- Onde?

- No parque da cidade...

- Não o quero mais com esse garoto. Ele é má influência, e se eu ficar sabendo, e você sabe que eu fico, que você andou perto dele outra vez...

- O quê? Ele não é uma má influência! – defendi-o, sentindo meu rosto queimar de raiva – O senhor nem o conhece, nunca nem se importou em conhecer qualquer um dos meus amigos! Você impor essas regras ridículas só irá piorar as coisas, isso sequer se você realmente se importa com a felicidade do seu filho.

- Desde que você não desmanche a imagem da família... – ele não chegou a completar a frase que murmurara mais para si mesmo do que como uma resposta para mim. Quando seu rosto se elevou, o olhar encontrando o meu, pude presenciar mais uma vez o meu pai descontrolado de raiva pelas coisas a sua volta não irem de acordo com seus desejos – Quem decide os níveis de punições nessa casa sou eu, SeokJin, e exijo respeito! Não o quero mais com este garoto e estou avisando isso a você pois, se ousar me desobedecer, terei de lidar com ele e, se você tem qualquer consideração por esse... Rapaz... Não permitirá que eu tenha que fazer isso.

- Isso é uma ameaça?

Nunca cheguei a saber uma resposta para minha pergunta pois meu celular tocou no mesmo instante, quebrando qualquer clima pesado entre nós, deixando apenas uma nuvem de energia negativa no ar. No automático, levei minha mão ao bolso, pescando o aparelho e olhando-o por milésimos de segundos antes de meu pai o puxar de meus dedos. E foi ali que eu constatei minha morte, pois na tela do celular brilhava o nome do meu namorado e logo abaixo do seu número de telefone, havia uma foto maravilhosa que havíamos tirado no nosso primeiro mês, onde nos beijavamos de frente para o mar em um pôr-do-sol que, no dia, me parecera lindo, porém agora era apenas uma lembrança distante.

- O que é isso? – ele questionou, a voz tremendo em sincronia com a mão que apontava para a imagem.

Meu coração havia parado, eu senti que já havia perdido minha vida. Nada nunca irá te preparar para o dia que enfrentará seu maior medo, e o meu chegou sem nenhum aviso prévio, acabando com qualquer estrutura que eu tivesse em meu corpo para ter que lidar com ele. O dia que Kim ShiSeok descobriu que seu filho mais novo era gay, durante uma briga descontrolada no final do segundo melhor dia da vida de Kim SeokJin.

Que, coincidentemente, acabara de se tornar o pior.

- Me desculpe... – murmurei, sem saber ao certo a quem ou pelo que tentava me redimir.

***

Existe um tipo de maldição chamada paranóia que faz você criar os piores pensamentos nas piores situações simplesmente porque você não está no controle dela, você não sabe o que está acontecendo e seu psicológico faz questão de dizer "você está absolutamente fodido e não pode fazer nada contra isso. Toma aqui uma imagem do seu namorado jogado no canto do quarto, com seu pai sobre ele fazendo as piores coisas imagináveis num momento desses. Só pra passar o tempo..."

A ansiedade me consumia sem nem mesmo eu saber o motivo do pai de Jin tê-lo chamado. O fato é, em todos esses anos que conheço SeokJin, eu também conhecia seu pai. Sabia que ele conseguia ser um homem desprezível quando queria, que era amargo pelo tempo e mal amado pela esposa. Kim ShiSeok nada mais era do que um ditador dentro de casa, alguém que apenas vivia para diminuir os filhos e pressioná-los até o último. Se aquele homem ligara para seu filho, era porque algo havia acontecido e a expressão no rosto de Jin me indicara que seu tom durante a chamada não era o dos melhores.

Dei-me conta do bater insistente de meus próprios dedos no braço do sofá, tirando-me da nuvem em minha mente ao encarar o celular sem fazer nada em particular. Minha última ligação a Jin – a qual ele não atendeu – havia sido feita a mais de meia hora e eu cogitava ir até sua casa e enfrentar qualquer questionamento de seu pai sobre a minha presença tão tarde da noite, porém um barulho na tranca da porta me fez pular do sofá de imediato.

- Jin? – questionei, assistindo a porta se abrir até sua figura ficar visível. E eu suspirei, deixando um ar que eu nem sabia que havia segurado, sair.

Sua expressão era sombria, o maxilar firmemente trincado no que eu conhecia ser sua expressão "estou a beira de um colapso". Ele não precisou me dizer nada, apenas me olhar com aqueles orbes brilhantes e tristes e eu corri em sua direção no mesmo instante, envolvendo seus ombros em um abraço reconfortante e firme, o qual ele retribuiu no mesmo instante, um muxoxo pesado escapando de seus lábios.

Jin tremia, como eu nunca o havia visto tremer, mas sem lágrima alguma correndo por seu belo rosto. Apenas a expressão vazia, de quem ainda tentava assimilar o que acontecera.

Ele me contara tudo em voz baixa enquanto sua mochila jazia no canto da nossa casa.

Seu pai havia descoberto tudo, havia pego seu celular e visto nossas fotos, nossas mensagens, nosso relacionamento. Ele estava bravo, furioso, como ele nunca vira antes. Houve ameaças, gritos descontrolados, ele chorou em desapontamento. Seu pai chorara de tristeza pois seu filho encontrara a felicidade do lado de outro homem.

O mundo era absurdo.

Após descobrir tudo, ele jogou o celular de SeokJin longe, quebrou-o em pedaços, por isso não conseguira mais entrar em contato com ele. Houve discussões, tão altas que até a senhora Kim desceu para ver, seu rosto pequeno e triste assistindo aos dois. Jin falou que aquele fora o pior momento, o olhar de sua mãe...

Então por fim, quando não havia mais nenhuma dignidade a ser arrancada de dentro de SeokJin, seu pai o expulsou. Disse palavras horríveis, que não só ofenderam a imagem dele como toda a sua personalidade, todo seu caráter.

Foi chamado de sujo, impuro, de bicha e de aberração. Pelo próprio pai, o qual nunca dissera sequer uma palavra de amor, porém não hesitou em lhe chamar das piores coisas possíveis, na frente de sua preciosa mãe, gritando para toda a vizinhança saber que sua família era errada e podre, nada como aparentava ser.

- Engraçado, não? – ele murmurou, um sorriso sem humor algum surgindo minimamente em seus lábios – Ele sempre se importara em mostrar-nos como perfeitos e, no primeiro problema que aparece, gritar para todos que eu era a tristeza da sua existência.

- Você não é um problema – respondi – muito menos uma tristeza, SeokJin. Você é o ser humano mais perfeito do mundo. Do meu mundo... Seu pai que é uma aberração, que tipo de pessoa faz isso com o próprio filho?

- Ele falou que não sou mais seu filho. – ele disse, simplesmente, como se cada sílaba não o machucasse profundamente. – Eu não queria que as coisas acabassem assim, eu lhe disse...

- Vai ficar tudo bem. – eu respondi, aproximando seu corpo do meu com mais um abraço.

Dessa vez as lágrimas de Jin vieram, silenciosas, mas em abundância, fazendo soluços baixos tremerem seu corpo em espasmos de dor. Não algo físico, era um machucado emocional, que o quebraria por inteiro e o consumiria como fogo. Só eu sei o quanto a rejeição de seus pais destruiria SeokJin e apenas eu faria de tudo para vê-lo feliz novamente, comigo.

- NamJoon, você sabe como ele é – murmurou Jin, a voz abafada contra meu coração.

- Eu não me importo – respondi.

- Mas eu sim, e você também deveria – ele disse, afastando seu rosto e me encarando de perto. – Suas ameaças tem fundamento, ele vai vir atrás de nós...

- Eu não tenho medo.

- Mas eu sim, Joonie, mais por você do que por mim.

- Jin, seu pai não é nenhum ganster mafioso.

- Mas ele tem seus contatos! – seus olhos brilhavam de puro desespero, fazendo meu coração pesar de tristeza. Eu não queria que ele se sentisse inseguro longe se mim. – NamJoon, por favor, me escute! Eu não vou ficar aqui, eu vou achar outro lugar e...

- Nem pensar que você vai ficar longe, SeokJin. – falei convicto.

- Eu estou falando sério! Seria mais seguro para você se eu ficar longe.

- Se dizer isso, quem vai atrás de você sou eu. Já lhe disse, eu não tenho medo dele, tenho medo de você me deixar, e enquanto eu puder impedir isso, vou fazer de tudo para fazê-lo ficar.

- Eu não quero ter que te deixar.

- Então não o faça. Eu estou com você, e isso é tudo que importa no momento. – eu dei a conversa por encerrada, mesmo vendo seus lábios se abrirem para argumentar – Agora vamos, temos de arranjar um espaço no armário para você.

- NamJoon...

- Acho que terei de comprar essas canecas de café de casal, o que acha? - interrompi-o mudando de assunto e levantando do sofá, puxando-o comigo em direção ao quarto.

Aquela foi a primeira noite que dormimos juntos, na mesma cama, na minha cama. Mesmo que o momento no geral fosse de tristeza e preocupação, eu não pude evitar me sentir eufórico ao ter sua cabeça apoiada em meu ombro, os braços firmemente envoltos em meu corpo. Jin demorou muito tempo para dormir, ele não me dizia porém eu sabia que a inconstância em sua mente e a melancolia em seu coração o seguravam até o último de suas forças. Quando finalmente dormiu, soltou vários suspiros, fazendo-me sorrir pequeno por ser quem estava ao seu lado e por ser eu quem ficaria até o fim. Eu o amava tanto, só queria vê-lo feliz novamente, dando seus sorrisos sempre que eu o beijava de surpresa ou quando comia algo delicioso e ficava suspirando apaixonado.

Ele parecia minúsculo e ao mesmo tempo gigante ao meu lado, eu o segurava contra mim com medo de que, a qualquer segundo o levassem para longe. Horas depois de admirá-lo em seu descanso, aparentando nada além de paz, eu o segui, finalmente entregando-me ao sono, a esse sentimento puro e apaixonado que apenas Kim SeokJin despertara em mim.


Notas Finais


Eu demorei demais pra escrever esse capítulo, sério. Eu tinha ele meio que idealizado mas acabou que eu não gostei então reescrevi... de novo e de novo, várias vezes até o resultado final. Eu dei uma revisadinha porém pode escapar algo, né, me perdoem qualquer erro.

Pois bem, espero que tenham gostado :)

meu twitter @sugaphobic

mil beijos, até o próximo :3


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