História Letras Douradas - Capítulo Três

– Jungkook, se você não abrir essa porta, eu vou arrombar! – Yugyeom batia na porta com violência – Eu sei que você tá aí, eu to te ouvindo fungar... Eu só... Abre... – A porta é destrancada e um Jungkook descalço, com o cabelo todo embaraçado apontando para todos os lados e pijamas sujo de molho de pizza, aparece – Omo!

– O que você quer? – Sua voz sai arrastada e um pouco fanha, pelo cansaço e provavelmente pelo resfriado que adquiriu após esquecer-se de fechar a janela do quarto durante a noite.

– O que eu quero? O que aconteceu com você? O que aconteceu com sua casa? – Esbarra no ombro do moreno e adentra a sala. – Isso aqui tá parecendo o lixão, parece que toda a sujeira de Seul foi jogada aqui dentro. – O loiro pisca incrédulo. – E você! Está horrível, sujo e fedido! Parece que não toma banho à dias.

– Não tomo... – Jeon volta pro sofá e despenca novamente nele. – O que faz aqui?

– Mark me ligou, disse que faz quase dois meses que você não vai trabalhar... – Suspira enquanto tira da poltrona uma caixa de pizza e coloca no chão, se sentando em seguida.

– Aquele traidor. – Resmunga desligando a t.v

– Ele só está preocupado. Eu também estou.

Jeon morde os lábios e encara seu melhor amigo com os olhos marejados. Aquela expressão partiu o coração do maior, que logo se mudou para o sofá e puxou o moreno para seu colo.

– O que aconteceu? – Perguntou enquanto afagava –ou tentava– aquele ninho de cabelo oleoso e mal cheiroso.

– Ele... E–Ele... – As lágrimas transbordaram sem permissão, e logo Jungkook chorava compulsivamente no colo do amigo, chegando a engasgar algumas vezes. Yugyeom já tinha entendido que era sobre Jimin.

– Ele...?

– Está namorando... – Mais lágrimas vieram e Jeon se encolheu, molhando a calça do mais novo, onde estava deitado.

– Shh... – Fez leves carícias nas costas do amigo.

Tentava acalmar o moreno, mas o choro só aumentava. Então decidiu que, antes de qualquer coisa, Jungkook precisava de um banho, então com um pouco de dificuldade ele carregou o moreno até o banheiro do quarto do mesmo e o sentou na tampa do sanitário, voltando até o quarto e rapidamente trocando as roupas de cama, deixando a suja perto da porta, voltou até o banheiro e com um pouco de dificuldade tirou as roupas sujas de Jungkook, colocando no cesto. Lembrou dos velhos tempos, na época da escola, quando Jimin não dava bola para o moreno e esse chegava em sua casa de madrugada bêbado e chorando, perguntando o motivo do menor não o querer, sorriu com a lembrança enquanto ligava o registro da banheira e esperava ela encher até a metade, logo colocando o menor dentro dela, apanhando a esponja e o sabonete líquido. Com cuidado ele lavou o corpo magro do menor, sua pele pálida estava amarelada, com aspecto nada saudável, os ossos do quadril, clavícula e até algumas costelas, podiam ser vistos, devido a magreza do moreno. As bochechas, antes cheias, agora estavam fundas e os olhos, antes brilhantes, agora estavam opacos, sem vida e distantes.

– Eu preciso fazer alguma coisa... – Suspirou olhando seu melhor amigo definhar aos poucos. Pegou o shampoo e esfregou com cuidado a cabeça do mais novo, imaginando o quão dolorida devia estar, logo enxaguando e aplicando o condicionador e massageando o couro cabeludo do moreno, descendo pelos ombros e apertando com delicadeza a carne entre os dedos. Jungkook era seu irmão de coração, e doía vê-lo assim.

Com um pouco menos de dificuldade, tirou o moreno da banheira e o ajudou a se secar, logo indo até o quarto e pegando uma boxer e outro pijama mais quente, o auxiliando a se vestir e o aconchegando na cama limpa.

– Não durma, você precisa de remédios e algo quente pra comer, de preferência algo leve, como um caldo. Já volto.

O loiro pegou o cesto de roupa suja no banheiro junto aos lençóis perto da porta e desceu até a cozinha, que, aparentemente era o único lugar da casa que ainda estava relativamente limpo, ao que parecia Jungkook apenas pediu comida da rua, quando comia. Abriu a geladeira, mas essa estava completamente vazia, exceto por alguns potes de iogurte de cerejas, que deviam ser de Jimin. Não daria para fazer nada ali, suspirou e sacou o celular do bolso, logo discando o número de seu namorado sendo atendido por uma voz rouca, provavelmente estava dormindo.

– Yugie?

– São três da tarde, seu preguiçoso. – Sorriu, só de ouvir a voz do menor, seu coração se aquecia.

– Já? – Falou em tom manhoso, se revirando nos lençóis. Era sua folga e seus sogros tinham pegados as crianças na parte da manhã, para que ele pudesse descansar.

– Sim, preciso que me faça um favor, preciso que você passe em algum restaurante e peça Doenjang jjigae para viagem e depois passe na farmácia e compre algo pra resfriado, sabe? Que tire dor de cabeça, dores no corpo... – Entrou na lavanderia e colocou as roupas para lavar, logo saiu de lá com uma vassoura, uma pá de lixo e um saco preto de tamanho grande.

– Você esta doente? Quando você saiu parecia bem. – Murmurou se desvencilhando do emaranhado de lençóis e rumando ao banheiro.

– Não é pra mim, Kookie não está se sentindo bem. – Respondeu enquanto jogava dentro do saco as caixas de pizza e as latas de refrigerante, graças a Deus Jungkook não bebia mais, ou já teria feito uma loucura.

– Você quer que eu deixe na casa dele? – Indagou enquanto colocava creme dental na escova e colocava no viva-voz, iniciando a escovação.

– Isso, eu já estou aqui, Mark me liberou por hoje. – Amarrou o saco e recolocou as almofadas no sofá.

– Certo, você precisa de mais alguma coisa? – Pergunta se despindo, ligando o registro e entrando no box, deixando-o aberto, para que pudesse ouvir o loiro.

– Sim, uma foto sua tomando banho. – Sorriu e mordeu os lábios ao imaginar o outro tomando banho.

– Pervertido, sem chances. – Riu enquanto lavava com cuidado os fios platinados.

– Eu vou desligar, estou de dona de casa hoje. – Riu segurando a vassoura – Eu te amo.

– Eu te amo, chego o mais rápido que puder. – Dito isso, o loiro encerra a chamada e volta à faxina, ou quase.

 

 [...]

 

– Jimin, o Taeyeon ta aqui! – Taehyung grita da porta, ignorando a existência do mais velho.

– É Taemin – Diz ajeitando os fios, agora em um tom de roxo com as mãos.

– Eu realmente não me importo Taewon. – Diz indiferente enquanto analisa suas unhas bem cuidadas. 

– Por que não gosta de mim? – Pergunta encarando o ruivo.

– Não fui com a sua cara, pra mim você cheira à problema, mas Jimin é inocente de mais pra perceber isso.

– Eu te asseguro que minhas intenções com Jimin são as mais verdadeiras possíveis, eu gosto mesmo dele, Taehyung.

– Tudo bem por aqui? – Yoongi diz se aproximando da porta, abraçando o maior pela cintura.

– Tudo sim, o Taewoong ta esperando o Minie descer. – O ruivinho sorri para o namorado.

– Ele já vem, acabou se enrolando no trabalho, o que o atrasou um pouco na hora de se arrumar.

– Tudo bem, não estou com pressa, vamos apenas caminhar um pouco e depois jantar em um bom restaurante.

– Que clichê. – O ruivo bufa.

– Taehyung! – Yoongi chama atenção do maior.

– Aish, desculpa, mas é. – Faz um biquinho fofo que logo é mordido pelo loiro.

– Vocês fazem um casal bonito. – Taemin elogia.

– Não somos um casal. – O ruivinho diz, fazendo o outro ficar confuso.

– Não?

– Somos um trio, Hoseok hyung também é nosso namorado. – Diz com carinho ao se lembrar do moreno.

– Uh... Isso é... Interessante. – O de cabelos roxo coça a nuca.

– Tudo bem, as pessoas estranham no começo, mas logo se acostumam. – Yoongi sorri.

– Meninos, to pronto. – Jimin desce as escadas sorrindo fraco, um sorriso que passou despercebido por Taemin, mas não aos olhos atentos de Yoongi e Taehyung.

– Se divirta Minie, o que eu acho difícil, já que o Taewoo parece ser uma pessoa entediante. – O ruivo diz.

– Taehyung! – Jimin exclama, mas deixa escapar um sorriso – É Taemin.

– Taeyoung, Taehee, é tudo a mesma coisa. – Bufa e revira os olhos. 

– Bom passeio Minie. Vem garoto malcriado, merece umas palmadas. – Yoongi brinca, arrancando risos de Jimin e Taehyung.

– Aigoo, não no meu sofá! Nem na minha cama. – Jimin adverte. 

– Não prometo nada. – Taehyung vai fechando a porta. – Tchau Taeyang!

– Você não vale nada. – O loiro ri, carregando o ruivinho até o quarto que dividiam com Hoseok, quando vinham visitar Jimin. – Vou te ensinar uma lição.

 

[...]

 

Três meses depois...

 

 

 

— Você pirou? Só pode ser brincadeira, Jimin, diz que é brincadeira! Diz!

 

— Calma amor, deixa ele terminar de falar. — Yoongi segurava a cintura de Taehyung com força para impedir que o mesmo fizesse algo que se arrependeria mais tarde.

 

— Calma? Você escutou a mesma coisa que eu? Escutou que esse... Que ele acabou de falar que pediu o Jimin em casamento? Escutou que ele aceitou? Eles só se conhecem há três meses! Três meses!

 

— Ei, olha pra mim. — Hoseok entrou em seu campo de vista e segurou delicadamente seu rosto entre as mãos. — Se acalme, respire fundo, por favor. — Pede olhando nos olhos do mais novo.

 

Logo o ruivo para de se debater nos braços de Yoongi e o mesmo o solta, mas o moreno ainda tem suas suaves mãos afagando suas bochechas macias.

 

— Desculpa.

 

— Não tem problema. — Recebe um beijinho no nariz. — Jiminie tem idade o suficiente para tomar decisões que irão afetar a vida dele, pode ser cedo pra você, mas, se ele aceitou é por que sente que está na hora, e nós, como amigos, devemos apoiar e respeitar, certo? Por que é isso que amigos fazem.

 

Taehyung apenas suspira e acena levemente, então Hoseok o solta e faz um biquinho fofo, que logo é beijado pelo mais novo.

 

— Eu te amo, eu amo vocês. — O moreno estende a mão em direção à Yoongi e logo sente os dedos entrelaçarem aos seus. Após isso o clima fica menos tenso, e Jin o quebra de vez.

 

— Bem, eu trouxe alguns doces que eu fiz ontem, gostariam de provar?

 

Todos se levantam e vão em direção à cozinha, menos Taehyung, esse apenas diz que precisa usar o banheiro antes. Mas assim que se vê sozinho, tira seu celular do bolso. Jimin não iria se casar com esse babaca, não mesmo. Ele nunca seria feliz ao lado do outro, porque a felicidade de Jimin ficou em Seul e se chamava Jeon Jungkook.

 

— Alô? Namjoon hyung?

 

 

[...]

 

 

 

— Jimin, podemos conversar? — Jin segura a porta do quarto entre aberta enquanto coloca apenas a cabeça no vão.

 

— Claro hyung, entre, por favor. — Pede, deixando a caneta sobre a escrivaninha, estava fazendo a lista de convidados para o matrimônio.

 

— Obrigado. — Se senta sobre a cama, ficando de frente para o menor. — Bom, eu apenas quero conversar tranquilamente, quero te dar alguns conselhos de alguém já casado ha alguns anos. — Jimin o encara confuso, mas ele continua. — Jiminie, pra você, o que é o casamento?

 

— União entre duas pessoas que se amam e querem construir uma vida juntos, ter uma família.

 

— Isso. Agora analisando sua resposta, me diga, você realmente ama o Taemin? Quer passar a vida ao lado dele e formar uma família? Quer o sobrenome dele no seu nome? Morar com ele, dividir a mesma cama, dividir os problemas, dividir as tristezas, as alegrias, as dores. Minnie, o casamento não pode ser um tiro no escuro, entende? — Jin suspirou e chamou Jimin para se sentar ao seu lado, logo tomando suas pequenas mãos entre as suas maiores. — Quando eu disse à minha omma que gostaria de um dia poder me casar e ter uma família, ela me disse que primeiramente eu deveria ter certeza que amava a pessoa com quem me casaria, então, eu, com meus 15 anos, perguntei como eu poderia ter a certeza de que o amava, então ela me disse, "Seokjin, amar não é querer alguém construído, mas, sim, construir alguém querido."  — Aperta delicadamente as mãos de Jimin e sorri. —  Você não pode simplesmente esperar que dê certo, você deve fazer dar certo. O casamento é um projeto sério de vida a dois, no qual cada um está comprometido em fazer o outro crescer e ser melhor a cada dia, se isso não acontece, o casamento se torna um ato sem sentido e sem valor. Então pense bem, Minie, está disposto a aceitá-lo como ele é? Com todas as suas qualidades e defeitos? Ter paciência, carinho, respeito, amor, lealdade, cumplicidade?

 

— Hyung, eu...

 

— Não Minie, eu não quero uma resposta, eu quero que você reflita o que me disse, que reflita tudo o que eu te disse, e tome a decisão que achar melhor. Mas não se esqueça, o casamento é pensar também no parceiro, você não deve agir egoisticamente. Todas as suas decisões, por mínima que seja, atingirá seu companheiro também. Pois vocês deverão ser um só.

 

— Como você e Namjoon Hyung.

 

— Como Namjoon e eu. — Suavemente solta as mãos de Jimin e se levanta, caminhando até a porta. — Boa noite Minnie, pense em cada palavra com carinho, sim? Vocês estarão ligados no campo psicológico, emocional, espiritual e moral. — E assim deixa o quarto, com um Jimin com a cabeça cheia de pensamentos e um par de olhos negros, que há muito não vê.

 

 

[...]

 

 

 

Duas semanas depois.

 

 

 

— Olá! — BamBam atendeu a porta usando um avental azul com uma carinha feliz estampada — Entre, eu preciso ficar de olho nas panelas, então não posso te fazer companhia agora, mas fique à vontade, as crianças estão com minha mãe e Yugie ainda está no banho, mas logo desce. — Sorriu indicando o grande sofá na cor creme, logo voltando à cozinha.

 

Um pouco sem jeito, já que não costumava visitar a casa do amigo, Jungkook olha ao redor, um grande quadro sobre o sofá, porta retratos eram distribuídos pelo ambiente, na parede onde ficava o aparador, Jungkook finalmente notou um mural em formato de coração, as fotos, em sua maior parte, eram de Yugyeom e BamBam, mas também deles com a família, com amigos, e entre elas, uma chamou a atenção do moreno, era BamBam com Jimin, sentados na área da piscina de sua casa, Jimin tinha a franja presa por um delicado chapéu amarelo claro e usava uma regata na cor branca, e uma bermuda da mesma cor, os dois compartilhavam uma das espreguiçadeiras e seguravam um copo com alguma bebida colorida dentro. Jimin sorria tanto que seus olhos sumiram, ficando apenas dois risquinhos, de repente, Jungkook se pegou sorrindo também, levou as mãos até a foto e a tirou do mural, olhando atrás dela.

 

 

                                                                         BamBam e ChimChim ^-^  21/06/16 

 

 

— Esse dia foi tenso. — Jungkook se assusta e quase derruba a foto, e ao se virar dá de cara com Yugyeom com o cabelo molhado e roupas simples.

 

— O que aconteceu? — O menor pergunta curioso.

 

— Jimin tropeçou e caiu na piscina.

 

— Mas ele não sabe nadar! — Jungkook exaspera.

 

— Calma, Yoongi pegou ele antes que pudesse de fato se afogar, e logo ele já estava em roupas secas e sentado, tirando essa foto.

 

— Eu... Eu... — O moreno segura a foto contra o peito e morde o lábio.

 

— Claro, você pode ficar com ela, vamos jantar.

 

— Obrigado. — O mais velho coloca cuidadosamente a foto, junto do celular, sobre o sofá e acompanha o loiro até a sala de jantar, onde BamBam terminava de por a mesa.

 

A noite foi agradável, Jungkook pode sorrir um pouco, BamBam era muito divertido e Jeon pode observar o quanto ele fazia seu amigo feliz, quando estava ficando tarde e Jungkook já se despedia do casal, o platinado fez questão de que ele levasse um pouco da comida para se alimentar no outro dia. Assim que chegou em casa, depois de dirigir sob uma chuva torrencial, Jungkook tirou de um dos porta retratos uma foto dele e colocou a foto de Jimin e BamBam, deixando sobre a estante de livros. Tirou o casaco, os sapatos, e a calça, ficando só de camiseta e meias, quando ia subir para o quarto a campainha toca, um pouco à contra gosto, ele abre apenas uma brecha da porta e se surpreende ao ver quem estava do outro lado.

 

— Vai me deixar entrar ou não? — Namjoon estava parado em frente à porta de Jungkook, segurava em um braço uma sacola de papel de onde vinha um cheiro maravilhoso e conhecido por Jeon, e na outra um guarda chuva.

 

— Claro, me desculpa. — O moreno abre espaço, um pouco desconfortável, já que nem quando estava com Jimin, eles eram próximos.

 

— É Tteokbokki, Jin quem preparou. — Diz retirando o casaco e pendurando no armário atrás da porta, junto ao guarda chuva, logo rumando à cozinha, que conhecia bem, afinal, ele e o esposo frequentavam muito aquela casa, para que Jimin não ficasse frequentemente sozinho.

 

Sob os olhos atentos e cansados de Jungkook, o mais velho abre o armário e pega um prato despejando o alimento dentro, sujando um pouco a mesa. Jungkook ri e busca um pano de prato na gaveta da pia, limpando a mesa e deixando o pano sobre o balcão.

 

— Jin não quis preparar nada com caldo, por que... Imaginou que eu fosse derramar no caminho, então... Coma. — Entregou o par de hashis e se sentou na cadeira da frente.

 

— Ele te conhece bem. — O moreno suspirou e se sentou, começando a comer em silencio, mesmo já tendo jantado. Enquanto o moreno saboreava do prato, Namjoon se permitiu observá-lo discretamente. Pelo que se lembrava, Jungkook nunca fora lá um tipo muito corpulento, mas seu emagrecimento era visível, sua postura também parecia um pouco mais fragilizada -mais humana-, bastante diferente do executivo sisudo e impávido de sempre, como se a falta de Jimin tivesse o obrigado a resgatar de dentro de si mesmo a sua essência, o garoto por quem o mais velho se apaixonara uma vez. Kim arriscaria filosofar um pouco sobre o assunto também, imaginando se, em algum momento, passara por aquele pobre coração desolado o devaneio de se libertar de todas as partes inúteis do corpo e da alma nos quais habitava como se estas fossem um peso extra, e no fundo, Jungkook sentisse como se o peso de tudo que ele se tornara tivesse se tornado insuportável para Jimin, e por isso o mesmo o deixara. Lentamente, Jungkook parecia estar se despindo e se tornando leve o suficiente para flutuar de volta ao seu grande amor.

 

Pobre coitado...

 

— Olha, Jungkook, eu sei que mesmo nos conhecendo por longos cinco anos, nunca fomos de fato próximos, mas, assim como os meninos, eu me preocupo com você, então eu vim pra conversar. — Desliza os dedos entre os fios na cor rosa, ideia de Seokjin, claro. O que ele não faria pelo loiro?

 

— Seokjin te obrigou?

 

— Não exatamente, Taehyung deu a ideia, eu comentei com Jin e digamos que ele tem uma forma... Especial, de me convencer. — Sorri e deixa uma piscadinha em direção ao moreno. A verdade é que ele negaria o pedido de Taehyung, mas Jin o convenceu de que séria uma última tentativa, se não desse certo, não iam mais interferir na vida de Jimin e Jungkook.

 

— Uh, imagino. Então?

 

— É sobre o Jimin, mas, antes eu queria te contar minha história e do Jin, se me permite.

 

— Claro. — Jungkook estranha, mas não se opõe.

 

— Bom, como sabe, a família do Seokjin mora na França, e foi lá que nos conhecemos, enquanto estava à passeio, nas minhas férias. A princípio, Jin já era comprometido, estava noivo de outra pessoa, Jaehwan era o nome dele, ou como gostava de ser chamado, Ken. Saímos os três algumas vezes, e ele tratava Seokjin muito bem, o mimava, dava carinho e atenção. — Suspirou e buscou pelo celular no bolso da calça, desbloqueando a tela e respondendo uma mensagem, provavelmente de Jin, logo deixando sobre a mesa. — Mas, infelizmente pra ele e felizmente pra mim, eu me apaixonei pelo Jin, foi meio impossível não o fazer, ele era, e ainda é, encantador, doce, atencioso, entre outras qualidades. Bom, só tinha um problema, eu precisava voltar pra Seul no dia seguinte, minhas férias tinham acabado e, naquela época, eu ainda era só um funcionário. Então eu fiz a única coisa que poderia fazer naquele momento, me declarei, disse como me sentia sobre ele... E ganhei um belo tapa na cara. — Namjoon ri ao se lembrar daquele dia.

 

— Aigoo, Seokjin já bateu em alguém? — Jungkook pergunta incrédulo, mas ainda sim sorrindo.

 

— Não se engane, Jungkook, ele pode ser bem bravo as vezes, e na maioria dessas vezes, sobra pra mim.

 

— E então? O que aconteceu depois? — O mais novo pergunta realmente interessado.

 

— Depois ele me beijou, o melhor beijo da minha vida. E me bateu de novo, por ter demorado pra falar sobre meus sentimentos. Passamos a tarde juntos, mas isso ainda não anulava o fato de que ele tinha um noivo e eu uma vida em outro país. No outro dia ele me levou até o aeroporto, ele chorava muito, mas não mais do que eu. Então a primeira chamada do meu voo foi anunciada e eu nunca vi ele se desesperar daquela maneira, em parte porque teria uma grande chance de não nos vermos mais, foi ai que tive a ideia mais maluca da minha vida, eu poderia me arrepender muito no futuro, assim como ele, se aceitasse, mas no momento, segurando ele em meus braços, parecia a coisa mais certa a se fazer. Eu o fiz uma proposta: "Fuja comigo, venha para Seul e fique ao meu lado, podemos fazer dar certo, eu tenho um apartamento em um bom tamanho e um emprego, podemos nos virar por um tempo, até você se estabilizar". Eu vi o medo nos olhos dele, mas também tinha esperança, ele queria, só precisava de um empurrãozinho, que foi justamente a segunda chamada do voo, ele me entregou a carteira dele com os documentos e por sorte o passaporte estava entre eles, foi muito difícil conseguir uma passagem tão em cima da hora, e tive que desembolsar praticamente tudo o que eu estava juntando pra comprar um carro novo, mas valeu à pena. Seokjin é o ser humano mais corajoso que já conheci, Jungkook, ele deixou tudo pra trás, família, noivo, pertences, tudo, ele embarcou naquele avião apenas com as roupas que usava, sem hesitar, apenas porque me amava. Isso foi há cinco anos.

 

— O que aconteceu depois? Digo, com a família dele, o noivo, quando vocês chegaram aqui...

 

— Bom, esquecemos de algo muito importante, apesar da descendência, Jin só falava francês, então foi um longo caminho até que ele aprendesse coreano, Jimin me ajudou muito nesse processo, ele dava aulas ao Jin enquanto eu estava no trabalho, então ele aprendeu em menos de um ano. Tudo bem? — Namjoon observa Jungkook enxugar algumas lágrimas.

 

— É só que... Eu não sabia que Jimin falava francês. Mas continue, como foi depois?

 

— Bom, depois, com um pouco de ajuda novamente de Jimin, e um dinheiro que eu tinha conseguido juntar, abrimos a floricultura, no começo foi difícil, mas Jin sempre gostou das flores, então com muito carinho e dedicação ele conseguiu uma boa clientela, e hoje é uma das mais famosas floriculturas de Seul. Estamos pensando em abrir uma filial, em Ilsan. Nos casamos um ano depois, Jimin foi padrinho junto com meu irmão, já que você não...  Pôde comparecer. Quanto a sua família, eles não se falam desde que Jin partiu, isso o magoa, mas eu tento compensar a falta dos pais da forma que posso, o dando muito amor e atenção, afinal, ele é um príncipe, merece o mundo.

 

— Eu realmente fico feliz que tudo deu certo, Namjoon hyung.

 

— Obrigado, Jungkook, mas, o que eu queria te passar com minha história é que ainda dá tempo, ainda da tempo de ir atrás do Jimin, ainda da tempo de concertar tudo, de apagar o passado e começar uma vida nova. Nunca é tarde pra abrir o coração e se redimir, ele ainda te ama. Mas você tem que estar disposto a se doar, se entregar e, acima de tudo, relevar uma série de coisas em prol da felicidade do Jimin, como por exemplo, a faculdade dele, o trabalho dele e as novas amizades que ele construiu nesses meses. Conviver com alguém, dividir a vida e se dar à pessoa que você escolheu não é uma tarefa fácil, mas vocês se amam, então, tá esperando o que? — Namjoon se levanta e guarda novamente o celular no bolso da calça e tira do bolso do casaco um envelope dourado deixando-o sobre a mesa — Ainda da tempo de pegar o avião, Jungkook.

 

 

Segurando o envelope, Jungkook segue para sala, com um pouco de receio do que encontrará dentro do mesmo, ele o abre de vagar, puxando de lá um convite em um papel bonito. Na frente do mesmo, em letras brancas se encontrava escrito Jimin e Taemin, com um par de alianças em forma de coração entrelaçadas. A princípio, Jungkook não compreendeu muito bem o que era aquele cartão, mas ao abri-lo se deu conta do que era.

Um convite de casamento.

 

"Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de bater por alguns segundos preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida"

 

Suas pernas enfraquecem e se dobram involuntariamente, o derrubando de joelhos. Jimin iria se casar? Não era possível, só faziam três meses que estavam separados, será que havia de fato o esquecido? Não o amava mais? Mal percebeu que segurava o papel dentro do punho que se apertava com força, grossas lágrimas rolavam por suas bochechas pálidas, não podia acreditar que seu pior pesadelo estava se concretizando, o amor da sua vida estava se casando com outro. Com muita dificuldade, se levantou e pegou o porta retrato com a foto de Jimin e caminhou até o quarto, deixando seu peso praticamente morto, cair sobre a cama, então era isso, acabou? Jimin havia seguido sua vida e estava feliz com outro. Chorou até se sentir mais leve, suas pálpebras pesaram e seu corpo fraco amoleceu entre os lençóis, adormecendo.

 

Acabou, Jungkook.

Fora a última coisa que ouviu de si mesmo antes de sucumbir ao coma mais necessário de toda a sua existência medíocre.