História Letras, Melodias e Você - Capítulo XI

Na manhã daquela segunda-feira, Jungkook e Taehyung, finalmente, haviam recebido as notas de todas as provas e trabalhos que fizeram durante aquelas semanas.

 Enquanto caminhavam de volta para casa, Jungkook checava mais uma vez o bloco de notas do celular - onde anotou os pontos que havia conseguido. 

— Em inglês, aquele último trabalho foi o que me salvou dessa vez. — comentou,  guardando o celular e recebendo a atenção do amigo que, até então, caminhava distraído ao seu lado. 

— Você deveria entrar em algum curso — disse, levando as mãos até os bolsos da calça. — Ajudaria bastante a melhorar isso aí, além de que contribuiria na música. 

— Quem sabe quando eu arrumar algum emprego... Não quero fazer meus pais gastarem com isso. — suspirou. 

Ultimamente, andava cogitando ainda mais a ideia de procurar um emprego, apesar de não precisar realmente. Mas, uma hora ou outra, precisaria fazer isso de qualquer forma, além de que já se achava grandinho o bastante para ainda receber dinheiro dos pais.  

— Veja como uma espécie de investimento no futuro. 

— Eu não quero ser professor de inglês. — Taehyung revirou os olhos; sabia que o amigo havia entendido ao que estava se referindo. — Não sei se quero levar a música em frente, Tae. 

— E o que pretende fazer?  

— Qual seria a melhor opção de trabalho não tão miserável para uma vida não tão miserável, sem sair de Busan? 

— Não faço ideia, só consigo pensar no futuro grandioso que poderia ter com a música em cidades como Seul, por exemplo. 

Desde muito cedo, sabia que Taehyung carregava como objetivo: morar em uma cidade grande e se tornar alguém conhecido. E não duvidava que ele conseguiria.  

Durante aqueles anos, viu o amigo estudar diversas coisas e entrar em vários cursos. Ele já havia feito alguns anos de teatro, sabia tocar outros instrumentos além do violão, frequentou um curso de inglês, fez aulas de dança, e, no momento, havia decidido focar na voz. Até hoje não entendia o porquê dele ter desistido da vaga de trainee que conseguiu certa vez. 

— Não pensa mesmo em sair daqui? — Taehyung voltou a se pronunciar, recebendo o aceno negativo de Jungkook. — Por quê? 

— Acho que não consigo imaginar uma vida longe daqui. 

— Eu não consigo imaginar uma vida aqui que não seja muito chata ou pacata. Diz isso por causa da família? 

— Talvez. É só que, sei lá, acho que meu problema é não ter tantas ambições em relação ao futuro. Realmente não me importaria em levar uma vida estável, ou pacata como disse. 

— Prometo que daqui alguns anos volto aqui para dar um autógrafo pessoalmente para o Jungmin e o Minjung. — recebeu o olhar confuso de Jungkook, que claramente não havia entendido. 

— Quem? 

— Seus filhos. — Jungkook riu e bateu com o ombro contra o de Taehyung, chamando-o de idiota. 

Por um momento, perguntou-se se seria mesmo possível ter um futuro com Jimin. Perguntava-se quais os objetivos ele já teve e quais ainda tinha. Se levava a vida que planejou no passado. Perguntava-se como era sua vida no passado.  

E dava-se conta de que, realmente, não sabia nada sobre Park Jimin. 

— Não acha que está perdendo tempo? — voltou a se pronunciar após um período caminhando em silêncio, recebendo a atenção de Taehyung mais um vez. — Digo, por que ainda não começou a investir nisso de verdade? 

— Eu sei que terei que abrir mão de muita coisa para conseguir ser alguém conhecido e tudo mais, só que não queria ter que fazer isso tão cedo. Por mais que seja meu maior objetivo, tenho prioridades. Não queria ter que me separar da minha família muito jovem, queria ir ao colégio normalmente, fazer amigos, ir em festas, ter muitas primeiras experiências... ter uma adolescência normal. 

— Entendo... — murmurou. — Mas não acha que tudo só ficará mais difícil de conseguir agora? 

— Bom, sim.... e não. — viu Jungkook arquear uma das sobrancelhas. — Olha só, pensei em algumas coisa, por exemplo, eu sou bonito pra caramba e posso começar procurando algumas agências por Seul, daí fica mais fácil chegar onde quero. 

Jungkook riu.  

De certa forma, admirava o amigo. Taehyung parecia sempre ter tudo sob controle, enquanto ele não conseguia ter qualquer segurança sobre seu futuro, vida e até mesmo o relacionamento que queria ter. 

— Amor próprio é tudo.  

Riram e foi sua vez de sentir o ombro contra o seu. 

(...)

Seu destino naquele dia era a casa de Taehyng, e, após almoçarem, seguiram direto para o quarto. Não era exatamente a programação que Jungkook queria ter para sua tarde, mas não tinha mesmo nada melhor para fazer e já fazia algum tempo que não passava a tarde de bobeira na casa do amigo. 

Enquanto Jungkook bisbilhotava as gavetas da escrivaninha, em outra extremidade do lugar, Taehyung estava jogado sobre a velha poltrona que tinha ali, bisbilhotando um celular que não era seu. 

— Oh, Jungmin e Minjung com certeza seriam belas crianças.  

Jungkook virou-se para o amigo, vendo que ele ainda mexia em seu celular; levou alguns segundos até deduzir que provavelmente ele estava vendo sua galeria, onde ainda estavam as fotos que tirou com Jimin. 

— Se nada der certo e eu não conseguir trabalho para sustentá-los, posso procurar uma agência também. 

— Estou me referindo a parte que puxariam ao Jimin. — disse divertido, usando uma das mãos para defender-se da bolinha de papel que foi jogada em sua direção, rindo em seguida. 

Voltou a mexer na gaveta, e foi inevitável não começar a pensar em Jimin depois da menção. Direcionando-o novamente a questões que o rodeara durante os últimos dias, e não havia ninguém melhor para falar sobre aquilo do que Taehyung. 

— Tae? — o ouviu murmurar indicando que estava ouvindo, mas não tirou os olhos do celular. — Como é... fazer sexo? 

Os olhos vidrados na tela do aparelho se ergueram, juntamente com as sobrancelhas. 

— Muito... bom? 

— Não, eu quero dizer-... 

— Ah, Jungkook, você já viu pornôs o suficiente pra saber isso. — Jungkook rolou os olhos. — Por que tá me perguntando isso? Quer fazer sexo com o Jimin? 

— Sim? Quer dizer, um dia sim, né? 

— Ele quer fazer sexo com você? 

— Sim? — franziu o cenho. — Quer dizer, sei lá. O que isso tem a ver? 

— Sei lá, foi você quem começou. 

— Deixa pra lá. — revirou os olhos uma outra vez e bufou. 

Taehyung se endireitou na poltrona e deixou o celular de lado, respirando fundo. Podia jurar que se sentia como um pai que precisava ter aquela conversa com o filho. 

— Venha cá, garoto. O que anda lhe afligindo, criança? — Jungkook se segurou para não rolar os olhos mais uma vez e se aproximou, sentando-se sobre o tapete, em frente a poltrona.  

— É que, outro dia, nós estávamos... 

— Dando uns amassos... 

— É... e então, eu-... 

— Você broxou?! — disse alto, quase que de forma assustada, arregalando os olhos. 

— Aish!! Deixa eu terminar de falar. — bufou. — Continuando... Então, eu... não sei o que aconteceu, ele queria que eu o tocasse e eu queria tocar ele, e... sei lá, eu meio que travei. 

— Sabe que não precisar apressar nada, né? Muito menos se força a fazer. 

—  Sei, só que... acho que o fato de ser tão inexperiente e ele não... me deixa nervoso. E se eu acabar fazendo alguma coisa errada? 

— Você não é um ator pornô. — Jungkook não segurou o revirar de olhos dessa vez. — O quê? É, sério. É normal que fique nervoso, ainda mais por ser sua primeira vez, e é lógico que não vai ser tudo perfeito, as mil maravilhas. 

— Não sabe o quanto me deixa mais tranquilo. — ironizou. 

— Estou sendo sincero. — deu uma risadinha. — Seria bom se falassem sobre isso, ele irá entender... bom, precisa. — levou a mão até os fios de cabelo do amigo, em um afago. — Faça apenas quando se sentir preparado. 

Jungkook suspirou e assentiu. Mas não era como se fosse tão fácil e simples assim para si. 

— Ah! Quando acontecer, né, pela primeira vez, pode ser que... bom, tente não se sentir tão frustrado. — o viu franzir o cenho, confuso. 

— O que quer dizer? 

— Você vai entender. 

Encarou-o com o cenho franzido por mais algum tempo, tentando ter alguma ideia do que ele queria dizer, até desistir e se erguer do chão. Caminhou até a cama do amigo, puxando o violão do mesmo que estava ao lado, se concentrou nas cordas até ter sua atenção tomada novamente. 

— Ah!! — Taehyung exclamou, como se voltasse a se lembrar de algo, e então ergueu-se rápido da poltrona, seguindo para perto do guarda-roupa. — Outro dia achei isso aqui no porão, achei que seria do seu interesse. 

Ele baixou-se e pegou algo que se parecia muito com uma maleta na cor marrom, que lembrava a madeira, e então caminhou até juntar-se a Jungkook na cama. 

Pousou o objeto entre os dois e, antes que Jungkook pudesse perguntar o que era aquilo, ele abriu. 

— Wow!! — passou com os dedos pelo, na verdade, aparelho. — Uma vitrola¹!? Tae, como você achou isso? 

— Sei lá, — riu. — Lembra daquelas palhetas que comecei a colecionar muito tempo atrás? — viu Jungkook assentir. — Outro dia eu me lembrei delas, só que não achei em canto nenhum aí fui procurar lá no porão, então eu achei isso aqui — indicou o aparelho, que ainda era examinado pelo amigo. — Na verdade achei que era uma maleta, por isso fui ver. 

— Será que ainda funciona? 

— Acho que sim. — disse, fazendo movimentos circulares com um dedo no botão que controla o volume. — Acho que não é um modelo tão antigo também e está em bom estado até. Tirei o excesso da poeira e, olha só, está ótima!  —  sorriu. — Pode ficar com ela... 

— Sério!? — dessa vez disse olhando para o amigo. 

— É, quer dizer, você disse que o Jimin tem um vinil, leve pra ele. 

— E seus pais?  

— Eles nem devem se lembra da existência dessa vitrola e duvido muito que ainda tenham algum disco. Além de que minha mãe já chama tudo o que tem no porão de "coisas inúteis". 

Jungkook riu e agradeceu, vendo Taehyung se levantar novamente. Dessa vez ele seguiu até uma das gavetas do guarda-roupa, procurando algo ali até voltar-se para o amigo ainda sentado em sua cama. 

— Só mais uma coisinha — disse e então jogou o que pegou na direção de Jungkook. — Não esquece de proteger o garotão aí. 

Jungkook olhou o preservativo em suas mãos antes de voltar a olhar para Taehyung, e então revirar os olhos. 

— O que foi? Estou me preocupando com sua proteção. — disse rindo e desviando do travesseiro que foi jogado em si. 

(...)

Jimin sentia-se como se estivesse novamente no ensino médio, apesar de que não fazia aquilo em sua época de estudante. Mas, ainda assim, todo aquele clima que rondava Jungkook e ele naquela biblioteca, o fazia se sentir assim.  

Nunca foi alguém tímido, e até mesmo quando começou a ser observado pelo garoto nunca havia se sentido tão constrangido, não como se sentia agora. 

Talvez fosse por causa dos beijos que trocaram na seção infantil quando fora seguido até lá, ou talvez porque toda vez que levantava os olhos da página e os focava no garoto sentando na mesa a frente, esse direcionava a si um sorriso ladino. E a única coisa que conseguia fazer era descer os olhos até a página novamente e sorrir contido, podendo jurar que sentiu-se corar algumas vezes. 

Aquela adrenalina de trocar beijos escondidos e os olhares cheios de constrangimento, trazia uma sensação gostosa de juventude que a muito não experimentava. 

Sentia-se jovem e vivo. 
   

Por outro lado, enquanto observava Jimin ler para aquelas crianças e dar seus sorrisos contidos e envergonhados, Jungkook permitia-se divagar sobre o quanto tudo mudara desde a primeira vez que esteve ali o observando.  

Havia mudado seu cronograma de visitas à biblioteca, afinal, as coisas realmente haviam passando por uma mudança, incluindo, claro, seus comportamentos e vontades. Não se contentava mais em apenas observar Jimin de longe, e não poderia ter a sua atenção o tempo todo, como gostaria. Então, diminuiu as visitas afim de não atrapalha-lo, deixando para aparecer quando seu expediente estava perto do fim e o movimento era menor, ou apenas dando passadas rápidas pelo lugar.  Mas ainda gostava de aparecer nas quintas-feiras para ouvi-lo ler. 

O assistia fechar o livro e começar a se despedir dos pequeninos quando teve sua atenção roubada por uma figura já conhecida puxando a cadeira ao lado da que estava, sentando-se em seguida. 

— Oi! — disse simples, dando um sorriso bonito. 

— Seokjin-shi! — fez um aceno com a cabeça e devolveu-lhe o sorriso. 

— Ainda bem que o encontrei aqui — soltou um suspiro quase aliviado. — Ah, pode usar só Jin ou Hyung. 

— Desiste do Hyung². — ambos direcionaram o olhar até Jimin, que também puxou uma das cadeira. Deixou o livro que antes lia sobre a mesa e voltou-se aos outros dois, que limitavam-se a rir. — Vai trazê-los esse sábado? — dizia para Jin, se referindo as crianças e os encontros que faziam; que, alias, já fazia certo tempo desde o último. 

— Não — remexeu-se puxando um folheto do bolso e o desdobrando. — Dessa vez, vim fazer um convite. — sorridente, guiou o papel na direção do amigo. 

— Então, era isso que queria comigo? — Jungkook voltou a se pronunciar, enquanto Jimin tratava de ler o papel. 

— Também. — o viu franzir o cenho. — Bom, se trata de uma espécie de festival que estamos organizando lá na escola. Queremos arrecadar dinheiro e doar para uma ONG de animais abandonados, então vamos ter barracas e essas coisas. E é ai que você entra. — Jin deu um outro sorriso para Jungkook — E, claro, precisamos também de atrações. Algumas os próprios alunos farão, mas, Namjoon e eu, achamos que seria legal se te convidássemos para ser uma das atrações. 

— Wow! — foi apenas o que conseguiu exclamar, aquilo era... inesperado. 

— O que me diz? — os olhos de Jin quase brilhavam em expectativa e o sorriso não abanava seus lábios; ele parecia realmente animado com aquilo tudo. Olhou para Jimin, que apenas escutava tudo, recebendo também um sorriso. 

— Eu fico realmente agradecido pelo convite... — olhou novamente de Jimin para Jin, suspirando e então retribuiu o sorriso do professor. — Bom, posso preparar alguma música... 

— Oh, muito obrigado, Jungkook-ah! — levantou-se animado e o abraçou meio desajeitado pelas posições em que estavam. — Será no sábado da próxima semana — afastou-se e ajeitou a cadeira que antes sentava. — Eu não tenho muito tempo agora pois tempo muita coisa para organizar, mas tem informações no folheto e depois entro em contato com o Jimin. — falava um pouco afobado mas ainda assim mostrando muita animação. — Os aguardo lá!! 

Fez uma reverência antes de se despedir e seguir rápido para a saída. Os dois restantes se entreolharam e riram. 

— Parece que conquistarei mais fãs. — Jungkook comentou lançando um sorriso ladino. 

— O que me preocupa é que fique ainda mais metido depois.  

Jungkook negou com a cabeça e riu novamente, antes de mudar de assunto: 

— Preciso ir até sua casa — viu Jimin arquear uma sobrancelha. — Tenho algo para você. 

— Vá amanhã depois que eu acabar aqui, ou no final de semana. 

— Não vai perguntar o que é?  

— Você vai me dizer? 

— Sabe, aquele meu negócio com sinopses combinaria bem mais com você. 

Jimin sorriu e pegou o livro, se levantando em seguida, pronto para seguir outra vez até a seção infantil e devolvê-lo. 

E é claro que foi seguido mais uma vez até lá. 
 

(...)

— Jungkook, é incrível! Como a conseguiu? 

— Taehyung... — disse simples. Jimin se lembrava de Jungkook já ter citado aquele nome outras vezes. 

Era sábado e não devia passar das quatro da tarde, quando Jungkook apareceu no apartamento do bibliotecário, trazendo consigo, claro, o que havia prometido. 

E era justamente o aparelho um pouco antigo que estava sobre a mesinha da sala naquele momento, possuindo a atenção de ambos. 

— Só que não tenho certeza se está funcionando, teremos que testar. 

— Oh, sim — Jimin tratou de se erguer e seguir até a estande, retornando logo com o disco do Bad em mãos. 

Jungkook não sabia muito bem quais os procedimentos deveria seguir, então apenas deixou que Jimin fizesse tudo e sentou-se ali mesmo no chão, se escorando o sofá atrás de si. 

Não demorou muito e logo podia ver o vinil girando em sentido horário sobre o prato do aparelho, assim como a melodia já muito conhecida soando pelo ambiente. 

Um sorriso enorme surgiu nos lábios de Jimin antes de sentar-se ao lado do outro.  

Sequer imaginava que chegaria a ver aquele disco sendo reproduzido novamente. Tudo bem que poderia comprar um aparelho quando quisesse, mas não tinha vontade de fazer isso. Não saberia dizer se era por querer fugir de todas as lembrança, afinal, aquelas não poderiam ser consideradas de todo ruins, mas poderia dizer que o sentimento que lhe invadiu naquele momento era muito bom. 

— É, está funcionando. — ouviu Jimin rir ao seu lado. 

— Que sensação boa de nostalgia... 
  

Passaram algum tempo apenas ouvindo as faixas e aproveitando a presença um do outro, soltando algum comentário sobre as músicas vez ou outra. 

Jimin tinha sua cabeça sobre o um dos ombros de Jungkook quando esse voltou a falar: 

— Você comentou que costumava ouvir com seu pai — sentiu Jimin mover a cabeça em concordância. — Como era?  

— Bom, sempre que ele tinha algum tempo livre, apenas ouvíamos e ele gostava de contar algumas histórias — disse após um suspiro — Coisas como quando conheceu a mamãe, histórias de sua infâncias e outras que eu tinha quase certeza que ele inventava. — riu um pouco sendo acompanhado pelo outro. 

Jungkook olhou em direção a porta ao lado que dava para a pequena varanda; ao longe podia ver as cores do pôr-do-sol começando a se espalhar pelo céu. Fez um pequeno carinho na mão que descansava em uma de suas coxas, contornando devagar um dos anéis ali. 

— Quer ouvir sobre quando o Taehyung caiu do palco no teatro? — ouvir Jimin rir outra vez, dessa durando um pouco mais. — É, sério — não segurou o riso também ou visualizar outra vez a cena em sua mente. 

Sentiu o peso em seu ombro sumir e logo outro surgir em suas coxas quando Jimin sentou-se ali. Ele estava sentado de lado, de forma que ficava de frente a varanda e pôde deixar um beijinho em seu pescoço antes de esconder o rosto ali, voltando a descansar em seu ombro. Não demorou em envolvê-lo com os braços. 

— Vocês se conhecem a muito tempo, huh?  

— Sim, desde que eramos crianças. — virou o rosto de forma que podia olhar o de Jimin. — Por quê? — o viu apenas negar com a cabeça, então ergueu uma das sobrancelhas e sorriu ladino. 

— Aigoo, não é isso — uma tapa fraquinho foi  dado em seu braço o fazendo rir. — É só que... não costumo, você sabe, perguntar muito... — a mão agora fazia desenhos aleatórios pelo seu torso. — Percebi que não sei muito sobre você... 

Só naquele momento que Jungkook percebeu que afinal não o único que queria saber mais, e aquilo trouxe certa satisfação para si. 

Afinal, Jimin estava mesmo tentando. 

— Tudo bem... Hm, nos conhecemos logo quando ele se mudou de Daegu para cá. Ele morava em uma das casas ao lado da minha, apesar de ter se mudado depois, ainda que não seja longe até hoje. — olhou para Jimin antes de continuar, vendo que ele tinha total atenção em si. — Mas, de qualquer forma, estudávamos juntos então foi questão de tempo até nos tornarmos inseparáveis. — sorriu. — Talvez esteja na hora de apresentá-lo...? — Jimin assentiu. 

— Hm... E os seu pais? No que trabalham?  

— Bom, meu pai é advogado, é bem difícil encontrá-lo em casa durante o dia. Já minha mãe, ela é pintora e tem uma espécie de ateliê em casa, então ela costuma fazer tudo o que precisa lá, na maior parte do tempo.  

— Ok, isso é tudo por hoje. — Jungkook riu. — Eu estou tentando, ok? — também riu.  

— Posso perguntar também? 

— Eu já disse como conheci os meus amigos e... hm, meu pai tinha uma loja de materiais de construção e minha mãe apenas cuidava da casa. — se intrigava um pouco por Jimin continuar usando as palavras no passado, mas talvez ainda fosse pelo mesmo motivo que usou da outra fez, de não saber se ainda era dessa forma atualmente. O que não deixava de o intrigar da mesma forma. 

— Mas eu tenho outras perguntas. 

— Ah, Jungkook, — disse como se demonstrasse cansaço, aconchegando-se mais no outro e fechando os olhos. Another Part of Me, tocava ao fundo. — Hoje não. 

Jungkook deu um breve aperto em Jimin em seus braços vendo-o curva minimamente os lábios, resolvendo que não iria insistir. 

Ficou cantarolando baixinho junto com a música enquanto divagava. 

— Jimin? 

— Hm? — murmurou ainda com os olhos fechados. 

— Eu sou virgem. — disse, vendo enfim Jimin abrir os olhos, não sabendo ao certo o porquê de ter falado naquele momento, mas lembrando-se do que Taehyung havia dito. 

— Eu sei. — Jungkook franziu o cenho e o viu fechar os olhos novamente. — Quer dizer, imaginei. 

— Por quê? 

— Teríamos transado no meu sofá aquele dia se não fosse.  

— Eu não acredito que você é um pervertido, Park Jimin. — disse divertido vendo-o rir. 

— Um dos meus hobbies preferidos é tirar a inocência de pirralhos do colegial. — abriu os olhos encarando o rosto risonho do garoto. — Consegue imaginar quantos já passaram por esse sofá?  

— O que será que a minha mãe acharia do que tipo de cara que eu ando me relacionando, hein? 

Riram uma outra vez e Jimin se desencostou ficando um pouco mais ereto, enlaçando o pescoço alheio e o beijando com carinho. 

— Não precisa se preocupar com isso, ok? — o olhou sem aumentar a distância. — E nem quero que se sinta pressionado. 

— Não vou. — disse e sorriu antes de beija-lo outra vez. 

De alguma forma, se sentia um pouco mais aliviado. 

— Me sinto muito errado por estarmos falando disso enquanto Man in the Mirror toca. — Jimin fez uma careta antes de envolver os braços ao redor do torso de Jungkook em um abraço um pouco desajeitado e voltar a posição de antes. 

Sentiu um beijo ser deixado em seus fios, e então fechou os olhos uma outra vez, aproveitando um pouco mais da música que soava e da presença de Jungkook ali consigo. 

Aproveitando também de todas as sensações boas que aquilo lhe trazia. Desejando que não precisasse se despedir delas.