Era uma terça-feira, Jungkook não havia voltado a ver Jimin desde o sábado que passou na biblioteca.
Não era por falta de querer, pois queria muito continuar indo todos os dias vê-lo, porém a escola continuava lhe tomando mais tempo do que queria ter de abrir mão.
O horário de aulas já havia terminado, mas não podia deixar o colégio ainda. Estava na biblioteca do lugar fazendo um trabalho de inglês, ou pelo menos tentando.
Era péssimo em inglês, e estava precisando urgentemente de ajuda, e sabia exatamente quem poderia o socorrer. Taehyung.
— Taehyung, me ajuda. — choramingou pro amigo que arrumava suas coisas do lado oposto ao que estava de uma das mesas do lugar.
— Eu já disse que hoje não dá, eu tenho dentista, Jungkook.
— E o que eu vou fazer? Isso aqui é pra ser entregue amanhã.
— Se vira. — disse terminando de fechar sua mochila após guardar os materiais que usava minutos antes.
— Claro, muito obrigado pela sua ajuda valiosa, salvou minha vida, muito obrigado mesmo.
— Sem drama. Você sabe que se fosse de dupla ou se eu não tivesse compromisso te ajudaria.
— E o que eu vou fazer? — repetiu a pergunta vendo o amigo suspirar.
— Sei lá, Jungkook. Usa a internet, pega um dicionário... muitas opções. — Jungkook bufou — Ou... Você pode ir lá para a biblioteca do seu paquera e pedir ajuda para ele. — finalizou com um sorriso de lado.
— Para de ficar se referindo a ele como meu paquera, paixonite e essas coisas. — revirou os olhos — O nome dele é Jimin. — foi a vez de Taehyung revirar os olhos. — E o que te garante que ele saiba algo de inglês?
— Mas, ele é, qual o problema? — Jungkook o olhava agora com uma expressão emburrada. Na verdade, Taehyung só fazia aquilo para provocar o amigo. — Ok, o JImin, pelo que me contou, é formado, escritor, ou sei lá o que mais , ele deve no mínimo saber o básico. Ainda mais no mundo atual em que vivemos, o inglês é importante. E na sua situação, já é alguma coisa.
— E se ele não quiser me ajudar?
— Aí você se vira. Tchau! — jogou a mochila sobre os ombros, e deixou o local, dando um último aceno para Jungkook.
Até que fazia sentido o que Taehyung disse, ou preferia acreditar que fazia. Mas também não é como se tivesse outra opção a não ser arriscar aquilo.
(...)
Quando entrou na biblioteca avistou Jimin atrás do balcão, em frente ao computador com uma pilha de papéis, e uma expressão nada feliz.
Se aproximou sendo notado pelo outro que tirou os olhos das folhas olhando-o.
— É proibido comer aqui. — disse se referindo ao sanduíche que Jungkook havia comprando no caminho até ali.
— Eu não tive tempo de almoçar, acabei de sair da escola. — deu outra mordida no lanche.
— Viesse para cá depois de comer.
— Eu não sabia.
— Você é cego? Tem placas espalhadas por todo lugar avisando, assim como as sobre barulho, etc.
Apenas deu de ombros, e Jimin suspirou voltando a mexer nos papéis, Jungkook acompanhou a ação com o olhar.
— O que são todos esses papéis? — Jimin olhou para si novamente e levou uma das mãos até a sua que segurava o lanche. — E-ei espera já está aca... — ao contrário do que pensou o mais velho não o tomou, apenas guiou sua mão até a própria boca dando uma mordida. — ...bando. Achei que era proibido comer aqui. — ironizou erguendo uma das sobrancelhas, tendo sua mão solta.
— Eu trabalho aqui, e o lanche é seu, quem está comendo é você. — voltou aos papéis.
— Mas, tecnicamente, agora, você também estava comendo. E os direitos iguais?
— Não abusa garoto, eu ainda posso te expulsar por isso.
— Mas-...
— Isso são registros que deram problemas e eu estou tendo que arrumar tudo como pode bem observar, agora se puder dá o fora e me deixar terminar o meu trabalho em paz, antes que eu faça mais merda do que já fizeram aqui. — Jimin parecia não está em seus melhores dias.
— O que está acontecendo com você hoje? Quanto estresse. — Jimin parou mais uma vez o que fazia e suspirou fundo.
— O que você 'tá fazendo aqui? Por ter saído da escola à essa hora e não ter nem almoçado, não tem algo mais importante pra fazer além de me en-... de ficar aqui falando comigo enquanto estou tentando fazer meu trabalho?
— Jimin, você sabe alguma coisa do inglês?
— Jungkook, não mude de assunto, eu realmente tenho que acabar isso aqui.
— Eu não estou mudando de assunto, minha pergunta responde a sua.
— O quê?
— Caramba, Jimin, só responde.
Jimin suspirar profundamente mais uma vez, na tentativa de não perder o pouco que sobrava de sua paciência.
— Sim, Jungkook, eu sei um pouco do inglês. — o mais novo sorriu. — O que você quer?
— Eu preciso que me ajude com um trabalho.
— Quê? Não.
Jimin estava irritado, não que Jungkook tivesse culpa, talvez estivesse ajudando para que sua situação piorasse, em uma outra ocasião não seria tanto incomodo pra si ajudá-lo, porém a bagunça feita nos arquivos a sua frente, tirava seu tempo e sua paciência. Para o azar de Jungkook.
— Como assim não?
— "Como assim não?" — fez um gesto com a cabeça indicando as folhas sobre a bancada. — Tem tantos tradutores online por aí, não pode apenas usar um?
— Não, eu preciso que me ajude eu não entendo nada sobre essa coisa, isso não vai ser o suficiente.
— Jungkook, eu realmente tenho muito trabalho para fazer.
— Jimin, por favor.
— Não dá, em outro caso eu até te ajudaria. Não pode pedir a outra pessoa? Um colega, ou sei lá.
— Por favor, Jimin.
— Jungkook, eu-...
Jungkook falava em um tom suplicante, forçando um bico com os lábios, enquanto Jimin o olhava impaciente.
— Por favor...
— Tá, tá, eu ajudo. — Jungkook voltou a sorrir vitorioso, fazendo Jimin suspirar fundo de novo. — Mas vai ter que esperar eu acabar aqui, e pode demorar, muito, então some daqui, vá ler um livro, qualquer coisa, só suma.
— Obrigado, Jiminnie. — sorriu levando uma das mãos até a bochecha do outro apertando-a, e saindo dali o mais rápido possível antes que o outro mudasse de ideia ou que acabasse levando um tapa.
Jimin soltou um último suspiro, e pôde finalmente voltar a trabalhar.
(...)
Se sentou na mesma mesa que costumava sentar-se todas as vezes que ia ali, e esperou.
Como Jimin havia dito, demorou.
Já havia passado alguns bons minutos da hora que costumava ir embora, sua mãe deveria estar começando a ficar preocupada consigo, afinal nem para almoçar havia indo em casa. Fechou o jogo que já estava jogando à bons minutos para passar o tempo, e abriu os contatos, deveria avisar sua mãe do seu paradeiro.
E estava prestes a fazer isso assim que avistou Jimin vindo em sua direção, acabou por apenas desligar o display do aparelho e deixá-lo sobre a mesa.
— Então... mais calmo? — disse sorrindo ao mais velho que sentou-se na cadeira à frente da que estava.
— Me desculpe, eu estava realmente bem irritado com aquilo.
— Tudo bem, — tirou os fones que estavam esquecidos em seus ouvidos. — acho que acabei te irritando ainda mais.
— Sim. — deixou que uma risadinha lhe escapasse. — Vamos começar logo com isso.
Jimin agora se encontrava sentado na cadeira ao lado da que estava, e lhe auxiliava pacientemente, ajudava-lhe em traduções assim como lhe explicava coisas da matéria as quais nem se lembrava ter estudado sobre, e confessava que com as explicações do outro o inglês pela primeira vez não lhe parecia um bicho de sete cabeças.
Suas explicações eram de certa forma simples porém claras, talvez a forma tranquila com que fazia aquilo influenciava, ou então o fato de ter toda a sua atenção voltada as palavras que eram ditadas pelo mais velhos, coisas que eram totalmente distintas das suas aulas no colégio.
— Você tem uma boa pronúncia, pelo que pude perceber em quanto cantava no sábado, não imaginei que tivesse tanta dificuldade.
— Com a música é diferente, é bem fácil decorá-las para mim, só que com isso aqui — indicou o material sobre a mesa — é totalmente diferente, eu não consigo decorar praticamente nada, muito menos entender com clareza, o que torna tudo um pesadelo.
— Talvez, se dedicasse mais tempo estudando tanto quanto deve dedicar decorando as músicas desenvolveria mais facilidade.
— Está querendo dizer que eu não me dedico aos meus estudos? — o outro apenas deu de ombros. — Eu estudo. E não me dedico tanto assim a música quanto pensa, só que... eu não sei explicar, ao ponto que vou as escutando meio que automaticamente as decoro, e assim consigo cantá-las.
— Dedique-se mais aos seus estudos.
— Mas eu me dedico. — disse em um tom quase indignado, realmente achava que já se dedicava o suficiente aos estudos, só que... em algumas matérias tinha mais dificuldade do que em outras, isso era normal afinal.
— Então, tudo bem. — disse enquanto pegando seu celular. — Acho que já acabamos por aqui, certo? — assentiu. — Já está ficando bem tarde, vá para casa, seus pais devem estar preocupados.
Só ai Jungkook lembrou-se do próprio celular e do aviso que deveria ter sido dado a sua mãe, o pegou e checou as horas, já passava das sete da noite. A biblioteca já estava praticamente vazia, com apenas alguns poucos funcionários pelo local. Deveria apressar-se caso não quisesse se atrasar para o jantar, e também já havia tomado tempo o suficiente de Jimin.
Terminou de juntar os materiais e seguiram juntos para fora da biblioteca. Avistou o carro de Jimin no mesmo lugar da outra vez.
— Obrigado, você me salvou.
— De nada. — os lábios se curvaram em um sorriso discreto.
— Então... — olhava para os lados de forma desconcertada, ainda tinha uma especie de neura de como deveria de despedir. — Tchau?
— Tome cuidado no caminho. — acenou e caminhou em direção ao carro.
Jungkook assentiu, mesmo que o outro já não pudesse mais ver, e então tratou de seguir também o seu caminho de volta para casa.
(...)
— Vai fazer o que amanhã? — perguntou a Taehyung.
Já era sexta-feira, caminhavam pela calçada, caminho as próprias casas.
O trabalho havia sido entregue na quarta-feira, e agora aguardava que fosse corrigido e entregue de volta. Era uma das primeiras vezes que se sentia seguro de que sua nota seria boa em um trabalho de inglês feito sem a ajuda do amigo.
Não voltou à biblioteca desde então, muito menos voltou a ter contato com Jimin.
Como havia sido indicado pelo próprio, estava se dedicando aos estudos. Usou os últimos dias para estudar para provas e finalizar trabalhos, garantindo assim que seu final de semana ficasse totalmente livre, o que garantia também que poderia fazer algo que tinha em mente.
— Viajar, vamos visitar minha vó.
— Eu quero levar o Jimin em um lugar.
O amigo olhou-o com sorriso ladino no rosto.
— Já está nesse nível? — usou um tom divertido beirando ao malicioso, recebendo um tapa no braço, riram. — Levar onde?
— Eu não sei. — ergueu a cabeça observando o céu. Estava limpo com poucas nuvens, fazia alguns bons dias que não chovia por ali, o clima beirava ao quente porém não desagradável. — Eu queria meio que... sei lá, fazer algo divertido, como que uma forma de retribuir pelo sábado passado.
— Não acho que ele tenha te convidado com intuito que retribuísse.
— Eu sei... mesmo assim. Queria passar mais tempo com ele.
Recebeu outro sorriso ladino do amigo, deixou-se rir novamente.
— Bom, eu não posso ajudá-lo. — viu outro revirou os olhos. — O quê? Não é como se eu tivesse experiência em planejar encontros, a não ser que sejam únicos, aí eu posso ajudar. — piscou pro amigo. — Sei lá, o leve para fazer algo que goste.
— Como se eu soubesse das coisas que ele gosta de fazer. Devo levá-lo em uma livraria?
— Pergunte ao amigo dele que disse ter conhecido.
— Não tenho o contato dele, e não iria lá só pra isso, além de ser estranho.
— Ah, então acho que você pode, hm, deixe me ver... — levou uma das mãos ao queixo, como se estivesse pensando em algo. — Já sei! — exclamou e Jungkook o olhou indicando que continuasse. — Você pode se virar. — disse dando uma risada ao recebendo outro tapa do amigo.
(...)
Já deveria fazer umas três horas que chegara em casa.
Após almoçar, subiu direto para o quarto, e lá permaneceu desde então, deitado em sua cama encarando o teto branco, tentava pensar em algo que pudesse fazer no dia seguinte mas nada lhe vinha à cabeça.
A porta foi aberta sem nenhum aviso prévio, mesmo que já houvesse avisado diversas vezes, os outros moradores da casa continuavam ignorando seus pedidos para que batessem antes de entrar.
— Filho? — sem se virar para olhar a mulher murmurou algo como "hm?" — Ajude seu irmão à terminar de arrumar a garagem.
— Mãee. — virou-se na cama olhando-a com uma expressão que passava todo o seu desgosto pelo pedido feito.
— Filho por favor, não são tantas coisas assim, com os dois juntos irá ser bem mais rápido, e você não está fazendo nada mesmo. — soltou mais uma exclamação desgostosa e sentou-se. — Vamos, vamos, não seja preguiçoso. Arrumem tudo e depois entrem, estou fazendo bolo.
— Não pense que pode me comprar com bolo — a mulher caminhou até próximo de si deixando um selar em seu cabelo. — e nem com isso.
A mulher riu se afastando e recolhendo uma camisa jogada no chão.
— Deveria dar uma arrumada nesse quarto as vezes também meu filho, isso aqui está uma zona. — ouviu sua mãe dizer um pouco mais alto para que escutasse, sendo que já descia os degraus da escada rumo a garagem.
Assim que adentrou o lugar pôde ver JungKyu mexendo em algumas caixas. Kyu é seu irmão mais novo, com uma diferença de dois anos apenas.
Mesmo sua mãe falando serem pouca as coisas a serem arrumadas, havia sim bastante coisa por ali. Algumas caixas empilhadas estavam próximas a uma das paredes, ao lado havia uma especie de estante, já bem antiga e entulhada de objetos todos amontoados, imaginava como já não havia desmoronado boa parte de tudo ali.
— Será que a gente acaba isso aqui até mês que vem? — dizia enquanto caminhava em direção as caixas, bagunçando os cabelos de Kyu ao passar por ele.
O menino então se ergueu notando só agora o irmão, esse que já começava a pegar uma das caixas.
— Se você não ficar de preguiça e enrolando, talvez daqui umas duas semanas.
— Ok, senhor disposição. — o irmão riu logo sendo acompanhado.
Os minutos foram passando, assim como logo formaram horas, o céu já começava a adquirir a coloração mais escura indicando o fim de tarde. Sobrara apenas uma caixa, essa que Jungkyu terminava de organizar, e a estante a qual Jungkook era o responsável agora.
— Hyung? — ouviu o chamado se virando para o irmão — Você ainda sabe andar com isso aqui?
Kyu erguia um pé do par de patins com uma das mãos.
Quando eram mais novos costumavam passar horas e horas na praça e pelas ruas do bairro patinando, com o tempo acabaram se esquecendo e abandonando o costume pouco a pouco, até os pares de patins ficarem ali, esquecidos na bagunça da garagem.
— Eu acho que sim... — disse mais baixo do que pretendia, uma ideia finalmente pareceu surgir em sua mente.
Será que Jimin sabe andar de patins?
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.