História Letras, Melodias e Você - Capítulo VIII

Sentia a claridade do ambiente em seus olhos, fazendo com que despertasse e impedindo que voltasse à dormir, como desejava. Havia esquecido de fechar a cortina novamente?

Abriu os olhos se acostumando com toda a luz, dando de cara com a sala bem decorada e, agora, com mais iluminação, reparava ser composta por tons claros. Dando-se conta de onde realmente estava.

Ergueu-se sentando no sofá. Sentia uma leve dor nas costas, porém nada comparada a que sentia quando pegava no sono na sala de sua própria casa; o sofá ali era bem confortável, poderia passar mais algumas horas deitado ali tranquilamente.

Não foi preciso muito para que pegasse no sono durante a madrugada. Tudo bem que sua cabeça e seus pensamentos, após ser deixado sozinho na sala, estavam a ponto de enlouquecê-lo, porém, talvez devido a hora e o pouco do cansaço que sentia tivessem falado mais alto, permitindo que deixasse toda a confusão que estava de lado e dormisse.

Tinha total noção de que tudo aquilo voltaria a atormentá-lo mais cedo ou mais tarde, mas preferia então deixar para pensar naquilo mais tarde...

Vagava com o olhar pela sala, parando em um lugar especifico; desde que pisou ali o grande móvel prendera sua atenção.

Levantou-se e caminhou em direção a estante em um canto da sala. Estava bastante curioso sobre tudo contido ali, e havia bastante coisa; seria quase impossível pisar naquela sala e não sentir vontade de bisbilhotar o móvel.

Do sofá foi possível para si identificar, além da grande quantidade de livros, alguns CD's - que era o que aguçava ainda mais sua curiosidade -, algumas action figures, entre outros objetos decorativos.

Era evidente o cuidado que o mais velho tinha com aquele móvel, tudo era bem organizado, poderia jurar que não havia nenhuma mísera partícula de poeira ali, e ao reparar nos livros, viu que estavam todos em ordem alfabética. Imaginava se seria alguma mania adquirida pelo trabalho na biblioteca.

Continuou correndo os olhos pelos títulos, alguns conseguia identificar; havia muitos clássicos infantis, assim como muitas obras americanas famosas, e outros conhecia apenas por nome, outros nunca havia visto na vida. Das poucas figures, conseguiu identificar personagens de Star Wars e os clássicos heróis da Marvel. Uma caixinha havia chamado sua atenção, e assim que a pegou - tudo com o máximo de cuidado que conseguia - viu um pequeno boneco sentado em frente um piano, não demorando a perceber que era uma caixinha de música, a chave estava também dentro e se sentiu quase tentado a dar corda, porém não queria fazer barulho.

Devolvendo o objeto delicado para seu lugar de início, rumou a parte que mais lhe interessava, os álbuns.

Não eram muitos, porém era uma coleção considerável, identificou rapidamente vários títulos ali, a lista era composta em sua maioria por clássicos do rock e pop. Era uma coleção um tanto rara; imaginava como Jimin havia conseguido algumas daquelas relíquias.

Boa parte dos títulos ali faziam parte de sua própria playlist, o que fez com que percebesse que talvez os gostos musicais de ambos não eram tão distintos.

Não se contendo, puxou um dos discos desconhecidos por si, a capa era de um bege claro, e parentava ser um pouco antigo, as letras formavam "The Nat King Cole Story" ao lado da ilustração de um rosto em contorno negro, nunca sequer havia ouvido nada relacionado ao cantor; talvez pesquisasse sobre depois.

Parou para observar a estante como um todo novamente, passeou os olhos por todos os títulos ali mais uma vez, até que reparou em algo que mais parecia estar escondido em uma das divisórias pela posição que estava, e tinha quase certeza que suas pupilas dilataram-se com aquela imagem.

— Bom dia! — ouviu a voz rouca e preguiçosa soar, olhando rapidamente para trás em reflexo, interrompendo o caminho que sua mão fazia.

— Eu não acredito... — virou-se para estante novamente e Jimin aproximou-se procurando identificar ao que o outro se referia. — Isso aqui é um vinil do Bad? — indicou ainda sem tocar — Posso? — pediu a Jimin, que agora já estava bem próximo de si, recebeu a confirmação com um gesto e tratou logo de pegar o disco. — Caramba!

Jungkook analisava o disco completamente encantado. Aquilo era tipo, a relíquia das relíquias?

— É sim. — confirmou mesmo sabendo que a pergunta era retórica.

— Caramba! Isso é... incrível. — Jimin soltou uma breve risada com a euforia do mais novo que ainda encarava o disco como se fosse um tesouro.

— Hm, Michael Jackson é? Achei que era o garotinho alternativo. The Neighbourhood, Arctic Monkeys...

— Ah, eu gosto bastante do gênero. A maioria dos artistas possuem letras incríveis, assim como o estilo em si e a sensação que me passam é muito boa. — disse voltando a olhar Jimin apenas agora; eles estava com o rosto um pouco inchado e com os fios de cabelo desordenados. — As vezes é quase como a sensação de quando escuto algo bem clássico, tipo dos anos 80, e me passa aquela sensação gostosa de nostalgia. Não sei explicar. — sorria e Jimin murmurou um "entendo". — Mas, Michael Jackson é... ah cara, é Michael Jackson. 

— Sim, ele é. — riu.

— E o Bad é... Uma das melhores coisas já produzida musicalmente? — voltava a analisar o disco. — Como conseguiu esse vinil? Parece ser antigo.

— Era do meu pai, ele me deu quando eu tinha... uns 15 anos por aí. Ele costumava ser bem fã, então tem uns bons anos sim.

— Costumava? Ele...

— Oh, não. — negou entendendo ao que o outro se referia. — E só que não sei se ele ainda escuta ou sei lá...

— Tem uma vitrola? 

— Não, infelizmente, ganhei apenas o disco — se aproximou mais também olhando o disco. — Quando eu era mais novo costumávamos ouvi-lo juntos — dizia com um tom quase nostálgico com um curvar de lábios singelo.

— Qual sua preferida?

— Estamos falando do Bad, não me faça esse tipo de pergunta difícil, garoto. — deu um tapa fraco na cabeça do outro fazendo-o rir e virou-se seguindo em direção a cozinha. 

Devolvendo o disco para o mesmo lugar na estante, seguiu também para a cozinha, sentou-se em uma das cadeiras da mesa e observou o mais velho, esse que levava um copo com água até a boca após da o mesmo destino a uma pílula.

— Ressaca?

— Não, — respondeu já deixando o copo sobre a pia. — só uma leve dor de cabeça.

— Por causa da ressaca.

— Não. — o mais novo ergue uma sobrancelha. — Eu não estou de ressaca.

Iria soltar um "Vamos começar com isso de novo?", mas no fundo não queria tocar em nada que pudesse levar ao que aconteceu durante a madrugada.

— Hm... — Jimin agora mexia em um dos armários parecendo procurar por algo — Pirralhos ainda gostam disso no café da manhã, não é? — caminhou até o outro e deixou uma caixa de cereais sobre a mesa.

— Por que fala como se fosse muito mais velho?

— Porque eu sou.

— Ohh, ok, idoso — disse ressaltando a ironia. — gostam sim. Mas, era no seu armário que estava.

— Isso deve está ai faz um bom tempo, nem lembro o porquê de ter comprado — se direcionava até outra parte do armário para pegar um recipiente onde o cereal pudesse ser servido. — Por precaução, cheque a validade.

O garoto olhou novamente para a caixa, notando que ainda estava lacrada, e a pegou procurando a validade do produto, uma pequena tigela e uma colher foram postas sobre a mesa, assim que constatou que o cereal ainda estava em condições de ser ingerido abriu a caixa e despejou um pouco na tigela. Jimin se aproximou mais um vez, dessa vez trazia um caixinha de leite, e então seguiu até a cafeteira enquanto Jungkook começava a se servir.

— Que horas são? — perguntou levando a colher até sua boca.

— Não sei, — sequer havia checado o celular antes de deixar o quarto — não deve passar das dez.

— O que vai fazer pelo resto do dia?

— Vou te levar para casa antes que seus pais chamem a polícia, — sentou-se também em uma das cadeiras, após encher uma caneca com café. — e, muito provavelmente, dormir.

— Sabe, eu realmente não tenho certeza, mas acho que não percebeu que não sou uma criança.

— Isso não impede que seus pais fiquem preocupados.

— Me arrisco a dizer que você é o único preocupado.

— Não foi meu filho que passou a noite fora de casa.

— Eu já expliquei isso, relaxa. — Jimin arqueou uma sobrancelha. — É sério, você não os conhece.

— Nem quero os conhecer na delegacia.

Jungkook revirou os olhos.

(...)

Assim que terminou de comer, e Jimin de tomar seu café, seguiram de volta para a sala; recebendo o pedido de Jimin para que o esperasse ali enquanto se trocava. Após uma passada pelo banheiro, onde tratou de jogar uma água no rosto e ajeitar os cabelo, Jungkook voltou-se novamente para a estante.

Correu os olhos pelos títulos dos álbuns, ainda que tivesse com a intenção de pegar um, não tinha nenhum específico em mente, e a quantidade de títulos ali deixavam-o indeciso.

— Vamos? — a voz de Jimin se fez presente pelo local novamente, havia se trocado e agora os cabelos estavam também penteados.

Ao ver o outro mais uma vez encarando sua estante, Jimin caminhou em direção, parando ao lado como minutos atrás.

— O que quer?

— Um para ouvirmos no carro, me ajude escolher. — disse olhando de Jimin para os CD's. — Sabe, isso me fez lembrar de algo.

— Do quê? — perguntou agora também de olho dos títulos dos álbuns.

— Que até hoje não me disse que tipo de música você curte.

O mais velho riu se lembrando, e murmurando um "verdade".

— Eu meio que não tenho um estilo específico. 

— Hm, acho que isso explica... — puxou dois álbuns, um era do Muse que já havia identificado antes, e o outro era um que não conhecia, que pôde então ver que era da Beyoncé. — Beyoncé? Sério?

— Cara, é o I Am... Sasha Fierce! — o mais novo riu. — Como disse, não tenho um estilo definido, apenas escuto o que me agrada, por isso a diversidade — apontou para a estante. — não importa o gênero, se a música for boa e me agradar eu escuto, o que não significa  que vou gostar de tudo de tal artista e de tal gênero, não acho que seja preciso se prender a isso,  apesar de ter algumas exceções.

— Eu até que concordo, porém, tenho muitas exceções. — devolveu um dos CD's para o local na estante. — Ficamos com Muse. — indicou movimentando-o em um gesto com a mão, que Jimin identificou ser o álbum The 2nd Law.

Sorriu e indicou para que deixassem o apartamento.

Após adentrarem o carro, Jungkook logo tratou de abrir a capa e pegar o CD que tinha em mãos, levando-o ao aparelho de som do automóvel. E então, pôs-se a ler a tracklist - apesar de já conhecer todas ali -, enquanto Jimin dava a partida.

— Qual sua preferida? — perguntou e já era possível ouvir os instrumentais da primeira faixa pelo veículo.

— Explorers.

— Por quê?

— Ela é maravilhosa, a letra interpretável, a mensagem oculta, a especie de transição feita com os instrumentais.... é muito boa.

— Acho que o álbum inteiro passa uma boa mensagem, se analisar ele em um todo. — ainda tinha os olhos focados na tracklist.

— Sim, gostei bastante da forma que foi abordada o assunto em si, foi até bem sutil, mas bem percebível se for analisado.

— Eu gosto bastante de Madness.

— Acho que ela é a que mais foge de todo o conceito. Mas é muito boa, e sexy. — o mais novo riu concordando.

Abriu o porta-luvas e deixou a embalagem que segurava ali, guiando em seguida sua mão em direção ao aparelho novamente, dessa vez pulando as faixas.

— Só que nenhuma dessas duas tem uma vibe legal pra dirigir, — continuou pulando até parar na faixa 9 — Big Freeze se encaixa melhor pra agora.

— E tem música com uma vibe certa pra dirigir? — olhou de relance o outro.

— Claro que tem. — se recostou totalmente do banco e fechou os olhos — Abaixe um pouco mais o vidro e sinta a música, é uma sensação muito boa. — dizia ainda de olhos fechados e o mais velho sorriu fazendo um gesto de negação com a cabeça.

(...)

Parando, como das outras vezes - no lado na rua oposto ao da casa -, se despediram e Jungkook logo deixou o veículo.

Quando adentrou a casa, viu seu irmão no sofá assistindo alguma série na TV, perguntou por seus pais e recebeu a resposta que tinham saído e algo sobre seu pai precisar ir na casa de um amigo do trabalho.

Caminhava em direção à escada quando ouviu Kyu o chamar, interrompendo o trajeto e virando-se novamente para olhar o irmão.

— Hyung, onde estava? 

— Taehyung.

Respondeu simples e virou-se novamente, pronto para retomar seu caminho ouvindo o irmão se pronunciar mais uma vez.

— O Taehyung passou aqui faz pouco tempo... — sentiu os olhos arregalarem e virou-se rapidamente — ... te procurando.

Droga!

— O pai e a mãe, eles... — não terminou a frase, já sabendo que o irmão entenderia.

— Não, eles já tinham saído.

Permitiu-se suspirar aliviado; sabia que Kyu não falaria nada.

Sempre foram muito próximos, e não seria a primeira, muito menos a última vez, que um encobriria o outro.

— Hyung? — já subia um dos degraus da escada ao ouvir mais uma vez o chamado, suspirou e o olhou por cima do ombro — Quer conversar?

— Agora não. — suspirou mais uma vez e pôde finalmente seguir o trajeto até seu quarto.

Pela pouca diferença de idade e grande proximidade, eram bem abertos um com o outro; sempre conversavam sobre suas vidas e até trocavam conselhos, porém, não se sentia seguro para para falar sobre Jimin para o irmão. Sequer havia chegado a falar sobre suas preferências sexuais, não que ainda houvessem dúvidas ou algo do tipo, apenas tinha certo receio em falar para alguém... da família.

Assim que avistou a porta do quarto acabou optando por seguir primeiro até o banheiro; precisava de um banho. Ainda se sentia um pouco cansado por ter adormecido tarde e não ter dormido por tempo suficiente para compensar isso, pelo menos não pelo que estava acostumado, provavelmente acabaria dormindo pelo resto do dia também.

Após o banho quente, vestiu apenas uma boxer e jogou-se na cama, certificando-se de trancar a porta antes; não queria ser incomodado.

Cobriu os olhos com o ante-braço e suspirou fundo.

Sentia que sua mente estava uma bagunça e precisava urgentemente procurar um jeito de colocá-la em ordem. E tudo isso tinha uma única razão, essa com nome e sobrenome.

Afinal, o que ele quer?

Depois que foram à praia, passou a cogitar que Jimin realmente não queria nada consigo, e com o passar da semana que ele queria apenas manter a amizade que estava sendo construída; isso até receber o convite.

Talvez, Jimin estivesse tão confuso quanto si, no momento.

Porém, não sabia mais o que poderia fazer, achava já ter deixado bem claro que o queria e só precisava de uma mínima brecha do outro.

Pelo menos era o que achava até ontem à noite.

E se aquilo no apartamento de Jimin houvesse sido a deixa que precisava para... tentar algo... a mais?

Bom, se foi, desperdiçou-a totalmente, e mentiria se dissesse que não se arrependia. Só que... na hora em que sentiu Jimin tão próximo de si, uma insegurança, de proporções que nunca imaginou ter, apossou-se de si completamente.

Sempre foi muito impulsivo, e praticamente todas as suas ações com Jimin foram tomadas dessa forma até então. Mas, agora, era diferente.

Sentia que, cada vez mais, se apegava a Jimin. De início, evidente, que tudo era apenas uma atração, e imaginava que não passaria disso, afinal, não era tão difícil se atrair por alguém como Jimin. Ele é dono de uma enorme beleza, além do sorriso encantador, e o ar misterioso e intrigante que exalava.

E com a pouco vivencia, percebeu que ele não encantava apenas por sua aparência; Jimin era diferente, diferente de uma forma... comum? Jimin parecia esconder tanta coisa sobre si mesmo, e se sentia com cada vez mais vontade de desvendar todos aqueles mistérios que o rondava.

Não se espantava com a ideia de que estava realmente gostando de Park Jimin.

E era por isso, que teria que ser diferente. Não queria ser impulsivo demais e acabar estragando tudo.

Estava claro para si o quanto queria Jimin, mas... e para Jimin? Será que estava tão claro para ele também o que queria?

Queria a certeza de Jimin, não queria que ele fizesse algo que fosse se arrepender depois, e talvez fosse por isso que não fez nada na noite passada, por isso estava tão inseguro.

Porém, apesar de saber de tudo isso, se sentia mais impotente do que nunca.

Afinal, o que faria agora?

Virou-se de bruços na cama e afundou o rosto no travesseiro; com certeza, ficaria louco.

(...)

Estava debruçado sobre a mesa, encarava o lado de fora da escola pela janela ao lado da carteira; faltavam poucos minutos para a aula começar.

Se sobressaltou quando Taehyung se jogou na cadeira em frente a que estava.

— Onde estava ontem quando fui na sua casa?

— Com o Jimin. — respondeu virando a cabeça apoiada nos braços, de forma que ficou de cara com a mesa.

— Eram dez horas da amanhã, ficou com ele depois da festinha? Aliás, como foi? — seu tom tornava-se animado e apoiou as mãos no encosto da cadeira.

— Legal. — a voz saía abafada pela posição.

Levantou a cabeça, apoiando o queixo nos braços e finalmente encarando o amigo.

— Tae, eu preciso de ajuda. 

— O que houve?

— É o Jimin... 

Taehyung se ajeitou na cadeira apoiando as costas contra a parede, permanecendo de lado e de olho no amigo.

— Você 'tá amarradão nesse cara, né? — disse rindo e viu o amigo revirar os olhos. — O que ele fez?

Contou brevemente ao amigo sobre a noite de sábado e tudo o que lhe rondava a cabeça nas últimas horas. 

— Já pensou em simplesmente falar?

— Quê? — ergueu o corpo debruçado sobre a mesa.

— É, fala pra ele, seja direto logo.

— Mas..    

— Mas nada. Pra mim, você só está enrolando tudo, manda a real nele logo. — Jungkook se recostou na cadeira enquanto ouvi com atenção o que o amigo dizia. — Ele pode está confuso, mas se você não tomar logo uma iniciativa vão ficar nisso para sempre. Fale logo, e veja o que ele quer ou está sentido realmente em relação a você. 

— Acho que tem razão. — suspirou e passou a mão pelos cabelos.

— Claro que tenho, as coisas tem que funcionar dessa maneira meu amigo — viu o outro erguer uma sobrancelha e então continuou — se for para levar o fora que seja de uma vez, sem ficar enrolando, assim te poupa de perder um bom tempo. É por isso que não me envolvo muito com as pessoas; já parou pra pensar no quanto de gente você poderia ter saído durante o tempo que tá gastando com esse cara? — viu o amigo rir e negar com a cabeça.

— Falando nisso, e aquela menina do 2º C que você tava saindo semana passada?

— Ah, ela era legal, mas — se debruçou sobre o encosto da cadeira ficando mais perto do amigo e sorriu — você já viu o novato do 3º B?

— Você não tem jeito mesmo, não é? — riu e ouviu o sinal tocar indicando o inicio das aulas.

— E nem quero ter, vai que eu fico assim idiota igual você. — virou-se para frente assim que a professora adentrou a sala, levando um tapa do outro na cabeça.

Ok, então era isso, iria apenas... falar com Jimin?

(...)

Ao pôr os pés para fora da biblioteca, com certeza, ter em seu campo de visão Jungkook escorado em seu carro com um violão apoiado em si, não era algo que estava nos planos de Jimin. Planos esses que consistia em: passar em alguma loja de conveniência e ir para casa o mais rápido possível.

Assim que viu que o garoto não se moveria, pós-se a caminhar em sua direção.

— Espero que não tenha nada para fazer agora. — ouviu assim que estava próximo o suficiente.

Mas, com certeza, eram planos que poderiam facilmente ser alterados.

Dirigia em direção Songjeong, no caminho resolveu parar na loja de conveniência, pegando alguns refrigerantes e Jungkook acabou fazendo com que pagasse por um picolé, esse que era consumido calmamente no banco do carona.

Logo ganharam a visão da praia, procurou por um lugar onde pudesse estacionar e não tardaram em deixar o veículo.

— Me responda, por que você tem um lençol na biblioteca? — Jungkook perguntou enquanto observava Jimin estender o pano sobre a areia.

— Não é meu, é do Hoseok, ele provavelmente esqueceu.

— Ok, então por que diabos o Hoseok levou um lençol pra biblioteca? 

— Longa história... — responde já sentando-se sobre o pano — Só agradeça por isso e senta logo, da outra vez minha calça ficou cheia de areia.

Jungkook suspirou e fez como indicado, sentando-se ao lado do outro, cruzou as perna de forma que seu violão pudesse se encaixar e conseguisse tocar.

— Por que estamos aqui? — Jimin perguntou admirando a imensidão do mar.

— Irei lhe dar a honra de me ouvir tocar novamente — disse divertido enquanto mexia nas cordas.

— Oh, me sinto realmente honrado — disse e virou-se para a sacola com o que comprara, puxando um dos refrigerantes.

— O que quer ouvir? — perguntou mas o outro apenas deu de ombros.

Depois de pensar e pensar nas palavras de Taehyung, Jungkook decidiu que falaria mesmo com Jimin. E depois de pensar, pensar e pensar mais um pouco em como faria isso, acabou por apenas pegar seu violão e seguir em direção à biblioteca.

Talvez estivesse mais uma vez se arriscando, e indo contra tudo aquilo de não agir impulsivamente, mas não era como se tivesse nada melhor em mente.

Talvez... não fizesse mal dar mais um tiro no escuro. 

E somente por enquanto, não iria pensar em todas as possibilidades de tudo dar terrivelmente errado.

Alguns minutos se passaram, Jimin ocupava-se em olhar o mar e bebericar o refrigerante na latinha, enquanto Jungkook passava a pequena palheta vermelha pelas cordas do violão, produzindo nenhuma melodia específica, olhando o outro de relance vez ou outra.

Jimin parecia perdido em seus próprios pensamentos, e Jungkook daria qualquer coisa no momento para saber tudo o que se passava em sua mente.

Não se sentia exatamente nervoso ou tão inseguro, mas de alguma forma esperava por um momento certo, e tinha total ciência de que ele nunca chegaria.

Respirou fundo e parou o movimento que fazia nas cordas.

— Jimin? — chamou tentando ao máximo passar por cima da hesitação que apossou-se de si. 

Viu o mais velho levar a latinha - agora vazia - de volta a sacola e então finalmente olhá-lo.

— Sim?

— Jimin, eu... — o olhar do outro era fixo em si — Eu acho-... — interrompeu-se, não, ele não apenas achava, suspirou mais uma vez — Jimin, eu gosto de você, eu o quero, e não posso continuar dessa forma. Digo, sem saber realmente o que você quer.

— Jungkook, eu... — abaixou a cabeça e a ergueu novamente, só que em direção ao mar — Eu não... sei.

— Olha, tudo bem se não quiser nada comigo, se quiser apenas minha amizade, eu realmente irei entender, mas por favor eu preciso muito saber.

— Não é isso... 

— Então, o que é? 

— Eu, não sei... se consigo — voltou a desviar o olhar para o garoto ao lado — Eu não sei se estou pronto para me envolver com alguém... com você.

— Você teve problemas em seu último relacionamento? É isso que quer dizer? — o viu apenas assentiu acanhado. Remexeu-se e virou-se para o lado, se aproximando um pouco mais. — Jimin, não acontecerá o quer que tenha acontecido novamente, eu jamais faria algo que pudesse te machucar, eu posso prometer isso.

— E se eu disser que já ouvi isso antes? 

Jimin sentia uma enorme vontade chorar ao dizer aquilo; não queria lembrar do passado, muito menos comparar Jungkook a nada que o envolva, sabia que não seria igual, só que... era tão difícil.

— Sabe, — Jungkook voltou a se pronunciar após breves instantes, olhou para o lado; a mar estava calmo, e a lua tão brilhante como sempre. — não podemos escolher quem amar. Mas você pode escolher como amá-los. — olhou novamente para Jimin que também o olhava. — Gossip Girl. — curvou levemente os lábios e viu Jimin abaixar a cabeça e sorrir. — Eu posso ao menos te esperar?

— Por favor. — levantou a cabeça tendo a visão do sorriso de Jungkook, permitiu-se sorrir também.

Jungkook quase riu ao pensar no quanto Taehyung não iria concordar com aquilo, mas, não era como se realmente precisasse de aprovação. Pois sabia que Jimin é diferente, sabia que valeria a pena esperá-lo.

Park Jimin é um mistério, e iria desvendar cada um deles. E tudo bem se demorasse, iria esperar.

Procurou pela pequena palheta que havia colocado sobre o lençol, ajeitou o violão sobre suas coxas e os dedos voltaram as cordas.

— Acho que sei uma música com uma vibe boa pra agora.

Jimin também se remexeu virando para o lado, e agora sentado de frente para o outro sorria e esperava para que começasse a tocar.

Com os dedos encaixados perfeitamente, logo um ré menor era produzido e a melodia da música soava, se misturando com o suave barulho produzido pelas ondas ao fundo, não tardando para que a voz de Jungkook se juntasse na mistura de melodias.

— As long as you notice (Contanto que você note) — não foi preciso muito para que Jimin reconhecesse a música — I'm hoping that you'll keep your heart open (Eu estou esperando que você mantenha seu coração aberto) I'll keep mine open too (Eu vou manter o meu aberto também)  — assim como não era tão difícil para si entender a letra. — If you don't ask, I won't tell (Se você não perguntar, eu não direi)...

Durante o que se seguiu da canção, Jungkook olhava Jimin, que apenas o observava enquanto sorria singelamente.

— Me ajuda nessa parte. — disse dando uma pausa no que cantava ainda sim mantendo o som das cordas, Jimin negou com um gesto então insistiu —Jimin, por favor! — o viu suspirar e dar-se por vencido concordando, fazendo com que sorrisse e prosseguisse com as notas corretas.

—  [...] (If I run) (Se eu correr) — começou timído pronunciando um um tom mais baixo.

— If I run away I'll never know (Se eu correr, eu nunca vou saber);

— (What you want) (O que você quer);

— And if you go then I'll never grow (E se você for então eu nunca crescerei);

— (I'm undone) (Estou incompleto);

— Let me slip, let me slide (Me deixe escorregar, me deixe deslizar) — decidiu continuar para que fosse Jimin a finalizar o trecho — (If you run) (Se você correr) — prolongou a melodia produzida pelas cordas ao que Jimin não continuou — Vai, continua!

Jimin sorriu e percebeu o que o outro estava fazendo usando a letra da canção.

Ah, droga! Por que Jungkook tinha que ser assim? 

Era incrível o jeito que se sentia cada vez mais mexido quando estavam perto, e não poderia negar isso. 

Não queria magoá-lo, não queria colocar o garoto em toda a confusão que havia se tornado, ele é tão jovem e um garoto tão maravilhoso, não merecia alguém assim. E talvez devesse se afastar, só que... não queria, sentia que que não conseguiria mais nem se tentasse.

Aah, droga!

Jungkook estava prestes a dar continuidade a canção ao ver a demora do outro, mas ao vê-lo erguer uma das mãos até seu rosto e se aproximar ainda mais, impediu-se de pronunciar as palavras.

O movimento nas cordas se tornava cada vez mais fraco assim como a respiração mais pesada, a cada novo centímetro mais próximo de Jimin.

— I'll be sure to let you fly (Eu vou ter certeza de deixar você voar) — ouviu a voz sussurrada e viu um sorriso antes do outro dar fim ao que havia sobrado de espaço entre as duas bocas.

Naquele momento, Jungkook entendeu o que todos os personagens dos poucos livros que leu queriam dizer quando sentiam que estavam em um sonho. 

Sentia que os lábios de Jimin eram a coisa mais macia que já tocou ou poderia tocar na vida; os movimentos eram calmos, e a mão sobre sua bochecha fazia um carinho suave com o polegar. Mal havia se dado conta de quando deixou a palheta que tinha em mãos ir de encontro ao chão.

Queria muito tocá-lo, mas sentia que todo o seu corpo estava paralisado e a única coisa que consegui se focar era no toque dos lábios.

Ao negar a tentativa do outro de aprofundar o beijo, Jimin roçou os lábios mais um vez, e antes de dar um fim ao contato puxou levemente com os dentes o inferior alheio, soltando-o lentamente.

Permanecendo com os olhos fechados, Jungkook sentia-se em êxtase, sentia que poderia sorri para sempre, mas ainda sim, continuava apenas com os lábios entreabertos, enquanto ainda sentia totalmente a sensação do contato trocado.

Jimin o olhava ainda sem deixar a distância maior; colou as testas e sorriu quanto o outro abriu os olhos.

— Eu não acredito que citou Gossip Girl. 

Sorriram.

E talvez, pela primeira vez nos últimos dias, Jungkook tivesse certeza de que, nenhum dos dois, iriam se arrepender.