História Letras, Melodias e Você - Capítulo IX

— Jungkook, você 'tá me escutando? — Taehyung bufou ao olhar para o lado e ver Jungkook sugando pelo canudo o suco de caixinha que tinha em mãos, enquanto olhava para a rua em frente de forma distraída; tinha quase certeza de que ele não havia ouvido uma palavra sequer do que tinha dito. — Quando você cair dessa nuvem dos sonhos e quebrar a cara, não diga que eu não avisei. 

— Uhum, uma nuvem bem macia e com o leve gostinho de refrigerante de laranja. — disse dando um sorriso, enquanto Taehyung, por mais que houvesse feito um esforço para manter uma pose séria e continuar argumentando com todos os contras sobre aquilo tudo, não pôde evitar rir da fala do amigo.

Estavam sob uma árvore próxima a entrada do colégio, após finalizarem mais uma prova e serem dispensados. Jungkook dava fim em uma caixinha de suco e ouvia um Taehyung tagarelar sobre as mil formas que sua relação com Jimin poderia dar errado e em como ficava cada dia mais idiota, enquanto comia um sanduíche. Mas em sua mente apenas ignorava tudo e fingia que ainda estava na praia, com os lábios de Jimin sobre os seus, antes de se separarem e sorrirem um pro outro, antes do celular de Jimin tocar, antes de Jimin dizer que Hoseok precisava de sua ajuda, antes de se voluntariar para ajuda em sabe-se-lá-o-que e Jimin negar, alegando que precisava levá-lo para casa pois teria aula no outro dia. 

— Eu acho que ele 'tá te enrolando, e, repito, depois não diga que não avisei. — Taehyung voltou a se pronunciar dando uma mordida no lanche, vendo o amigo ao lado suspirar. 

— Acho que estou disposto à correr o risco. — virou o rosto olhando o amigo, esse que, por fim, deu de ombros e voltou-se para seu lanche. Estava pronto para dizer algo e dar início a outro assunto, quando pôde identificar a figura que caminhava do lado oposto da rua. — Aquele ali não é o-... Tae, nos vemos depois. 

Largou a caixinha na sacola, que se encontrava entre os dois amigos, e se levantou jogando a mochila sobre um dos ombros, atravessando a rua a passos largos, afim que alcançá-lo. 

— Min Yoongi? — chamou ao aproximar-se mais no loiro, vendo interromper o trajeto que seguia e olhar para trás. 

— Oh! Você é o amigo do Jimin — disse retirando os fones de ouvido que usava. —  Jungkook, certo? — viu o garoto assentir e indicar com um gesto para que prosseguissem o caminho - agora, juntos. — Como vai? 

— Bem, e você? O que faz por aqui? — perguntou, sem realmente dar importância se estava sendo inconveniente. 

— Bem, tenho um compromisso em uma cafeteria próxima daqui. 

— E vem a pé? — pôde ouvir a breve risada do Min; afinal, Yoongi era um escritor famoso, certo? Não imaginava que iria a compromissos a pé, ao invés de em um carro moderno. 

— Eu gosto de caminhar. — disse ouvindo Jungkook murmurar um "hm". —  Você mora por aqui? 

— Quase isso, é que estudo ali — indicou o colégio atrás de si, e Yoongi seguiu com o olhar, parecendo só tê-lo notado ali naquele momento. — Moro a alguns quarteirões. — indicou com outro gesto o caminho que seguiam. 

Prosseguiram caminhando em silêncio por alguns segundos. Jungkook, na verdade, planejava fazer algumas perguntas ao Min, só não sabia ao certo se deveria mesmo e como deveria. 

— Como está o Jimin? Não nos falamos há alguns dias... 

— Bem, eu acho... — pronunciou as última palavras em um tom mais baixo. — Será que eu poderia te perguntar algumas coisas... sobre o Jimin? Digo, vocês se conhecem há um bom tempo e o Jimin é um pouco... reservado... talvez, demais. 

— Bom, eu posso tentar ajudar, mas, acredite, o Jimin é... como um livro aberto, só que você precisa ir lendo aos poucos. 

— O que quer dizer? 

— Ele não é tão reservado assim, quer dizer, não para aqueles que são próximos de si. É como se, acredito eu, vocês estivessem no primeiro estágio, vamos chamar assim, estão criando... laços, confiança... 

— Então, basicamente, eu devo esperar até que ele confie o suficiente em mim? Mas, e se ele não...? 

— Bom, basicamente é isso — Yoongi havia reparado nos dois juntos durante a festa, e, na verdade, até se impressionava por Jimin não ter se "abrido" para o garoto ainda, mas tinha alguns palpites... — Mas, vamos lá, o que quer perguntar? 

— Jimin comentou que escrevia, por que ele parou? 

— Para mim, o Jimin está em uma espécie de bloqueio, como se ele houvesse perdido sua inspiração ou até mesmo o foco do que escrevia. 

— Faz quanto tempo que ele parou? 

— Quando nos conhecemos, o que faz uns três anos por aí, ele já havia parado. 

— Mas, ele me disse que se conheceram em um concurso literário. 

— Ele disse ter usado um conto antigo, e só ter participado por insistência de um dos professores, que havia tido acesso a esse conto. 

— E... é possível ficar em um bloqueio por tanto tempo assim? 

— Acho que isso pode variar de escritor para escritor — disse ajeitando uma mexa do cabelo descolorido — Não existe uma hora certa para um bloqueio começar, assim como não acho que exista um limite certo de tempo para ele durar. Às vezes passo quase meses sem conseguir escrever uma palavra, e de repente, tipo do nada, sinto como se pudesse escrever um livro inteiro em um único dia. Jimin pode apenas está precisando de um estopim assim. 

— E eu não posso fazer nada para ajudá-lo, ou sei lá? 

O Min sorriu, apreciou a forma em que o garoto parecia se preocupar com o Park. 

— Escrever é algo complicado. Jessamyn West uma vez disse que: "Escrever é tão difícil que os autores, tendo passado o inferno na Terra, escaparão de qualquer punição depois" .¹ — ouviu o garoto ao seu lado rir brevemente. — Eu não sei exatamente te dizer o que poderia fazer para ajudá-lo. Você pode incentivá-lo, ou trazer inspiração de alguma forma, como com experiências novas para ele, ou pode até mesmo já está o inspirando inconscientemente. Inspiração também é algo complicado. Quando estou com bloqueios, gosto de ler coisas novas, assistir coisas novas... algo sempre acaba me inspirando de alguma forma, mas isso também pode variar de escritor para escritor. 

— Entendi... — pararam em uma esquina, próximos a uma placa. — Ah, isso é algum mal de escritor? — o Min olhou-o confuso.   

— Bloqueio? 

— Isso de ficar usando citações. 

— O Jimin faz muito isso, não é? — riu, vendo o garoto assentir e rir junto consigo. — Talvez seja. 

— Acho que nos despedimos aqui. — disse olhando ao redor, logo voltando-se para Yoongi, estendo uma das mãos ao mais baixo. — Obrigado pela ajuda.

— Fico feliz por alguém como vocês estar ao lado do Jimin. — sorriu e correspondeu ao aperto de mão. — Espero que possa mesmo ajudá-lo. 

Yoongi conhecia muito bem Jimin, sabia como o amigo se apegava fácil, até demais - o que considerava uma característica um tanto perigosa, principalmente levando em conta a personalidade do mesmo. Mas, também sabia, que Jimin se tornou alguém inseguro sobre quem se aproximava de si, acabando por se tornar alguém - ao começar a afastá-las de si com certa frequência - quase solitário. E ver que Jimin estava deixando que alguém como Jungkook se aproximasse, de certa forma, o animava. O garoto era bom, e demonstrava certa preocupação por Jimin, e acreditava que era disso que seu amigo precisava: alguém que se importasse consigo, de verdade. 

— Eu também espero... 

Dando fim ao aperto, se despediram mais uma vez, e após uma última troca de sorrisos, cada um seguiu seu caminho. 

(...)

Eram por volta das 17h40min da tarde e o céu começava a ganhar uma coloração alaranjada, indicando que o pôr do sol se aproximava. Jungkook caminhava em direção à biblioteca, enquanto pensava sobre a conversa que teve com Yoongi horas antes; a última vez que vira Jimin foi quando foram à praia, isso porque as provas o impediram de aparecer na biblioteca antes.

Antes mesmo de alcançar a biblioteca, pôde avistar  silhueta de Jimin sentado na calçada, em frente ao local. Ao se aproximar, não tardou a ter os olhos do mais velho direcionados a si. 

 — O que faz aqui? — perguntou olhando-o de cima. 

— Em frente meu local de trabalho? — Jungkook puxou o celular do bolso de trás do jeans que usava, checando as horas. 

— Em frente seu local de trabalho ainda em horário de expediente. — completou.  

— Não  tenho muito o que fazer, e Hoseok está me devendo algumas horas de trabalho extra por tê-lo cobrido algumas semanas atrás. — bebeu da latinha de refrigerante que segurava. — E imaginei que viria. 

— Não é mais fácil dizer que estava me esperando? — devolveu o celular ao bolso e juntou-se ao outro na calçada. 

— Você deveria me agradecer por não fazê-lo perder tempo vindo aqui, não que já não esteja perdendo. 

— Então, você também está perdendo tempo por ficar aqui me esperando. 

— Com certeza. — Jungkook riu. 

— Sendo assim, o sentido de tudo isso é que somos dois idiotas? 

— Com certeza. 

O garoto riu mais uma vez e permitiram-se ficar alguns segundos em silêncio, até o mesmo quebrá-lo. 

— Hoseok está bem? — Jimin franziu levemente o cenho. — Você disse que ele precisava de ajuda e tal... aquele dia... 

— Ah, sim, está ótimo. Não era nada relacionado a saúde, não se preocupe. 

— O que era? 

— Nada demais. 

— Então, por que apenas não responde? — encarou o outro, erguendo uma das sobrancelhas. 

— Porque não é como se fosse, exatamente, um assunto meu, ou como se fosse necessário falar sobre com você. 

Jungkook iria argumentar, mas apenas desistiu, soltando um suspiro; talvez, Jimin também fosse como escrever e inspiração, complicado. 

Focou seus olhos na calçada, vendo uma pequena folha rosa de cerejeira ser carregada pelo vento, fazendo com que se lembrasse de algo. 

— Nem havia percebido que já estávamos na primavera². — comentou levantando-se, recebendo mais uma vez o olhar de Jimin. — Já que você não tem mais trabalho para hoje, acho que ainda da tempo de ver algo antes de escurecer. 

O olhar sobre si agora era curioso, mas nenhuma pergunta foi proferida, assim como não houve hesitação em Jimin ao aceitar a mão que era erguida em sua direção, dando apoio para que também se colocasse de pé. 

(...)

Foi preciso andar pouco menos que um quarteirão para que o destino que seguiam fosse alcançado, e logo a grande árvore, totalmente coberta pelas flores cor de rosa, estava diante de seu olhos. 

— Oh! Eu não me lembrava que tinha uma cerejeira por aqui. — Jimin tocava encantado a flor delicada em um dos galhos inclinados. — É lindo! 

— Toma, tira uma foto conceitual minha. — entregou o celular para Jimin e caminhou para debaixo dos galhos, para um ângulo onde achou está com melhor iluminação. 

Jimin tomou certa distância e mirou a câmera no garoto, esse que fechou os olhos em uma expressão serena, inclinando a cabeça um pouco para cima, curvando os lábios em um sorriso sem mostrar os dentes. Acabou por sorrir antes de bater a foto, fazendo com que o barulho reproduzido pelo celular fosse ouvido e o garoto mudasse a pose; dessa vez fazendo um "v" com os dedos, levando-os em seguida para perto de um dos olhos, abrindo um sorriso grande, exibindo os dentes que faziam com que Jimin se lembrasse dos de um coelho. 

Depois de bater a foto, outras vieram, em algumas Jungkook fazia caretas e em outras poses engraçadas, até Jimin perguntá-lo se planejava fazer um book e reclamar sobre seus braços já estarem começando a ter câimbras. 

Rindo Jungkook voltou a se aproximar de Jimin, tento seu celular devolvido e levando a mão livre até um dos ombros do outro, empurrando-o levemente para frente, como um incentivo para que fosse ao lugar que antes estava. 

— Sua vez. — disse recebendo um aceno negativo de Jimin. 

— Não quero, eu não gosto de tirar fotos. 

— Anda, Jiminnie, não seja chato. — dizia fazendo a melhor expressão de suplica que conseguia, vendo Jimin revirar os olhos e bufar. 

— Aish! Você tem que parar de querer obrigar as pessoas a fazerem o que elas não querem, você sabe o significado da palavra "não"? — o mais velho resmungava mas ainda assim caminhava para debaixo dos galhos. 

De primeiro, apenas olhou para a câmera formando uma expressão tediosa, logo depois inflou as bochechas, fechando os olhos com força e fazendo gestos com os dedos, enquanto Jungkook tratava de capturar cada uma delas com a lente. O garoto passou a mudar o celular de posição, assim como se abaixava e se aproximava, como se estivesse mesmo em uma sessão de fotos de fotos, tudo de forma divertida e com um sorriso no rosto. 

— Ok, chega — disse Jimin passando as mãos pelo cabelo, tirando as pequenas folhinhas que caíra sobre os fios, enquanto caminha de encontro a Jungkook. — Já começou escurecer. 

(...)

Enquanto caminhavam de volta à biblioteca, Jungkook distraia-se olhando as fotos que tiraram minutos antes, vez ou outra rindo de alguma. 

— Ah! Encontrei com o Yoongi hoje. — comentou ao se lembrar, ainda com os olhos vidrados no aparelho em mão, recebendo apenas um murmuro de Jimin. — Não quer saber sobre o que falamos? 

— É necessário que eu saiba? — recebeu o olhar do garoto ao lado, arqueando uma sobrancelha pro mesmo. 

— Acho que... não... exatamente. 

— Então, não.  

— Não fica nem um pouquinho curioso? — Jimin apenas deu de ombros. 

— Sendo você, aposto que o encheu de perguntas. — comentou ouvindo Jungkook rir.

— Com certeza. 

Voltando sua atenção para as fotos, continuou deslizando o dedo para o lado, as pulando, até que parou em uma específica. Era uma de Jimin, nela seus ombros estavam um poucos encolhidos e sorria, aquele típico sorriso característico de si, onde as maçãs de seu rosto ganhavam destaque e seus olhos quase se fechavam, sorriso esse que Jungkook, secretamente, adorava ver estampado em seu rosto. Àquela, com toda certeza, havia se tornado sua foto preferida dentre todas, era espontânea e natural, como se tivesse conseguido batê-la no exato momento em que Jimin dava início a uma gargalhada, e a pequena folhinha cor de rosa se destacando sobre os fios negros, em sua opinião, apenas contribuía para tornar todo o cenário ainda mais encantador. 

Em sua mente, pensava nas palavras de Yoongi, em tudo o que poderia fazer para ajudar Jimin e manter sempre um sorriso como àquele em seu rosto.  Pensava em como poderia ter sido seu último relacionamento, em tudo que poderia ter passado em Seul antes de se mudar para Busan, e no quanto queria provar que merecia toda sua confiança. Pensava, mesmo que brevemente, nas palavras de Taehyung e no quanto nem cogitava dá-lo ouvidos. Pensava no quão bom foi a sensação de sentir os lábios de Jimin e no quanto queria senti-los novamente. E por fim, se pegava pensando o quanto era satisfatório para si saber que era, mesmo que de certa forma, o causador do lindo sorriso congelado naquela fotografia. 

— Quer ouvir alguma coisa? — perguntou ao dar uma última olhada na foto e sorrir, fechando a galeria em seguida. 

— Quero, mas, hoje — respondeu enquanto puxava o próprio celular do bolso da calça. — eu escolho a música. 

Desbloqueou a tela e seguiu até o player, deslizando a lista em busca da música. Alguns dias atrás, pegou-se pensando em Jungkook enquanto ouvia a música, não sabia ao certo o porquê de querer ouvi-la com o mesmo, ou até mesmo se tinha um porquê, quando pensou em fazer a perguntar para si mesmo, já pressionava o botão do play, dando início a música. 

Logo os instrumentais da música alcançou os ouvidos de ambos, e quando o primeiro verso foi proferido, Jungkook tinha quase certeza de que já havia a ouvido antes. 

— Eu acho que conheço, mas não tenho certeza. É Red Hot Chili Peppers, certo? — disse ao reconhecer os vocais. 

— Sim, se chama Encore.  

— Hm, tenho quase certeza de que já ouvi. — tentava buscar por alguma lembrança sobre a música, mas no momento nada parecia vir-lhe a mente. — Mas, não consigo me lembrar de nada agora. Por que não traduz pra mim? 

— Pra quê? 

— Gosto de saber a letras das músicas que escuto, e quero saber o porquê de tê-la escolhido. 

— Não tem um porquê. — ou talvez não precisasse ter. 

— Jimin, por favor... 

Jimin tinha quase certeza de que Jungkook não sabia aceitar uma negação, assim como tinha quase certeza de que não sabia como, realmente, negar algo ao garoto, e, no fundo, temia por isso. 

Suspirou, dando-se por vencido; talvez, mais rápido do que deveria. 

— Ok, mas só algumas partes. — suspirou, mais uma vez. 

— Suas partes preferidas.  

— Eu não tenho partes preferidas. 

— Tá bom, Jimin, só fale. — disse revirando os olhos. 

Jimin sabia algumas partes da letras de cor, e, mesmo negando, talvez tivesse mesmo algumas partes favoritas. 

— Educado por um mundo tão cheio de si e perdido no espaço — já havia passado daquela parte fazia alguns segundos, mas decidiu começar dali, por ser uma parte mais próxima da inicial. — De vez em quando, me lembro de me aproximar das pequenas coisas da vida — pulou para o verso que antecedia o refrão, levando os olhos até Jungkook vendo que o mesmo já os mantinha em si, enquanto continuavam a caminhar devagar. 

Apesar do céu ter começado a adquirir uma coloração mais escuras há apenas alguns minutos, o caminho pelo qual seguiam estava calmo; o lugar em que a biblioteca se encontrava era um pouco afastado da movimentação característica da cidade, também por se encontrar perto de bairros residências. 

— Ei, você está ótima, eu quero ouvir o rádio dirigindo pela estrada de Calexico — dessa vez conseguiu pronunciar juntamente com o tempo da música que ainda soava. — E agora eu entendo os sinais, com certeza — ao seu lado, Jungkook apenas se concentrava na voz calma e doce de Jimin ao pronunciar as frases, enquanto tentava, aos poucos, diminuir um pouco mais a distância entre os dois. — Segure minha mão, quero compartilhar tudo isso com a minha querida. 

E ao sentir o calor e o leve aperto em sua mão livre, Jimin não conseguiu conter o pequeno sorriso que insistiu em brotar em seus lábios; de alguma forma, Jungkook sempre consegui o surpreender. 

— Os resultados vão variar agora — mesmo não estando frio, ou até mesmo ventando com intensidade, o calor que as mão juntas produziam, trouxe-lhe certa satisfação; afinal, quanto tempo fazia que não andava de mãos dadas com alguém daquela forma, mesmo? 

Quando se deu conta, já estavam bem próximos à biblioteca, quase alcançando o lugar onde se despediram das outras vezes. 

— Se afastando da mãe e do pai para encontrar o amor que você nunca teve, não conte mentiras...

Foi o último trecho que pronunciou antes de pararem de caminhar e Jungkook posicionar-se em sua frente. E, mesmo relutando em dizer algo e ter que interromper Jimin, sabia que era ali onde se despediriam. 

— O que vai fazer amanhã? — perguntou, sustentando o olhar que Jimin direcionava a si; ao fundo, a música ainda era reproduzida. 

— Será sexta-feira, então, trabalhar e... nada? — levou os olhos até o celular, desligando a música e devolvendo-o ao bolso, antes de direcioná-los a Jungkook novamente. 

— Amanhã, à noite, terá um festival aqui por perto... se quiser, podemos ir...  

— Acho que nesse pouco tempo que nos conhecemos, tenho saído de casa mais do que saí durante toda minha adolescência. — riu, sendo acompanhado. 

— Então, podemos fazer algo caseiro, como... ver um filme? 

Jimin não sabia ao certo se deveria aceitar, sentia que aquilo apenas contribuiria para torná-los ainda mais próximos; não que já não achasse que cada minuto juntos já contribuía para isso, mas, mesmo que fundo não quisesse realmente, sentia-se temeroso com toda a aproximação, que só se intensificava, com Jungkook. 

— Eu não sei... pode ser. 

Por alguns segundos, apenas sustentaram o olhar um do outro sem proferir mais palavras. Jungkook parecia perdido demais nos traços de Jimin, enquanto esse enfrentava uma pequena luta interna, entre: se despedir naquele momento, ou esperar que o outro o fizesse primeiro. 

O toque quente, que antes sentiu em uma de sua mãos, agora podia sentir em sua bochecha, e os olhos, que segundos atrás desceu até seus lábios, voltou-se novamente a se encontrar com os seus. 

— Jimin... eu posso beijar você? 

A voz, baixa demais, soou em seus ouvidos, e pôde jurar que sentiu um leve tremor por seu corpo, não conseguindo segurar o pesar que pareceu instalar-se em suas pálpebras, selando-as. 

— Eu não deveria... — as palavras murmuradas abandonou-lhe e pôde sentir o movimentar suave da palma quentinha sobre sua bochecha, em um carinho.

E não tardou para que, mais lentamente do que pensou conseguir, Jungkook desse fim a distância que ainda se fazia presente entre as bocas, ganhando mais uma vez o prazer de sentir os lábios macios de Jimin contra os seus. Ainda procurando manter o momento calmo, como se pudesse o gravar ainda mais em sua mente dessa forma, moveu-se devagar, sentindo as mãos de Jimin irem de encontro a seus ombros, logo depois sentindo uma delas em seu rosto, repetindo o carinho com o polegar que sentiu dias atrás. 

Mesmo receoso, tocou levemente o inferior alheio, em busca da permissão que tanto ansiava, não deixando de sentir uma leve vontade de sorrir ao tê-la concedida. A mão, que ainda repousava sobre uma das bochechas do mais velho, desceu até sua cintura, segurando-a levemente enquanto tratava de adentrar a cavidade alheia, sentindo um aperto no ombro sob a mão de Jimin e um pequeno arfar do mesmo, assim que as línguas se encontraram. 

Era como se o momento ali se passasse quase em câmera lenta; as línguas se movimentavam devagar, assim como o polegar de Jimin que ainda distribuía o pequeno carinho e a mão de Jungkook, que vez ou outra, movimentava-se levemente sobre a cintura alheia; tudo parecia tornar o contato intenso de mais. 

E quando, por fim, os lábios se desencontraram, os olhos conectados pareciam carregar toda aquela intensidade, além de uma pequena faísca de desejo. 

— Não mesmo... — a voz do mais novo soou quase rouca, antes de destruir uma outra vez a distância, que julgou tão desnecessária, entre os lábios, agora, avermelhados. 

Naquele momento, Jungkook tinha certeza de que flutuava ainda mais intensamente sobre aquela nuvem; a nuvem macia e com o leve gostinho de refrigerante, agora, de limão que eram os lábios de Park Jimin.