História Letters To Camila - Segunda Temporada - Hey You

Abro a porta de casa e jogo minha mala de qualquer jeito no chão, escuto Ally bufando do meu lado e eu rio dando de ombros arrancando a jaqueta, totalmente exausta da viagem de três horas dentro do meu jatinho. A festa havia sido um enorme sucesso e todos haviam se divertido muito, eu estava muito mais feliz hoje do que quando eu havia ido para Miami, deveria ser o efeito dos meus familiares e de Camila me dizer aquelas coisas no parque.

Pego o maço de cigarro e meu isqueiro, antes que Allyson veja saio correndo em direção as escadas e subo as mesmas com uma certa pressa, tiro meu celular do bolso e checo a hora, sorrindo ao constatar que ainda daria para aproveitar a tarde, arrasto a porta de correr e saio na minha enorme sacada, ascendendo o meu cigarro, dando uma longa tragada.

Tive a oportunidade de conversar com minha avó, que deu sábios conselhos sobre relacionamentos e ouviu pacientemente tudo o que havia acontecido, fiz questão de não esconder nenhum detalhe que favorecesse qualquer lado, já que caso eu escondesse poderia prejudicar toda a opinião sensata dela.

Fecho os olhos e solto a fumaça pela boca, passando a mão que eu não segurava o cigarro pelos cabelos, os ajeitando melhor.

“- Então foi isso... – Sussurrei levemente constrangida.

- E como vocês estão agora? – Dei de ombros e minha vó franziu o cenho. – Como você não sabe?

- Eu tenho medo de dar uma nova chance e me magoar novamente, vovó! – Olhei para os anéis que tinha nos dedos.

- Ah querida... – Sorri acariciando meu rosto – Você não se lembra de todas as vezes que eu contei a minha história de amor com o seu avô? – Concordo com a cabeça – Nós não nos amávamos no começo, nem queríamos estar juntos, então fomos nos apaixonando aos poucos. Veja bem, você acha que eu seria a pessoa que sou hoje se tudo que aconteceu entre seu avô e eu não tivesse acontecido? Você acha que essa linda família existiria? Que eu teria essa personalidade? – Neguei com a cabeça – Se coloque no lugar de Camila, você não teria feito o mesmo por ela?

Naquele momento eu não lhe respondi porque eu soube qual seria a minha resposta.

É claro que eu faria o mesmo por Camila, se fosse para o seu próprio bem eu abriria mão de nós para que ela pudesse realizar seu sonho e ser plenamente feliz com o que escolheu fazer. É uma decisão nobre e digna se for feita do modo certo. Eu faria o mesmo, porém não da mesma forma que ela fez, com uma explosão repentina.

- Seu silencio diz tudo... – Sorri fraquinho – Seu avô e tudo o que passamos juntos e até mesmo separados me tornou a mulher forte que eu sou hoje, assim como você tem parte dessa sua personalidade por Camila ter feito parte de sua vida. – Mordi meu lábio inferior e senti meus olhos ficarem marejados – Por mais que seu avô me tirasse do sério e me deixasse louca a maior parte do tempo com as suas manias e jeito difícil de lidar, ele foi a melhor coisa que já me aconteceu, foi o grande amor da minha vida. E se você diz que Camila é o amor de sua vida, porque não dar uma nova chance para ela?

- Porque eu tenho medo de sentir na intensidade que um dia eu cheguei a sentir e tudo dar errado novamente. – Riu bem humorada e tocou meu nariz com a ponta de seu dedo.

- Vai preferir profetizar o que vai acontecer, do que esperar acontecer? Talvez nem ao menos aconteça. Vocês são adultas, maduras e mulheres formadas agora. Ao que me parece ela te quer muito de volta... se você a quer de volta também não tem porque dar errado, vocês duas vão fazer acontecer e dessa vez dar certo. – Acariciou meu rosto.

Com aquelas palavras eu senti o meu coração acelerar de uma forma tão intensa que me deixou levemente nervosa. Precisava ter uma certeza do que Camila queria comigo, se ela realmente estava mudada e estava disposta a fazer de tudo para me ter de volta como tanto falava, para isso iria precisar deixa-la entrar em minha vida novamente.

- Olhe para mim... – Toca meu queixo e faz olha-la no fundo dos olhos – Não tem nada melhor do que amar uma pessoa e ter esse sentimento correspondido, nem todo mundo tem essa sorte. Talvez tudo possa dar errado, talvez seja complicado e talvez não seja o que você queira... porém você só vai ter certeza se tentar. – Beijou minha testa e eu sorri – De uma chance para que ao menos ela tente concertar a burrice que fez.

- Eu vou.”

Olhei para a baixo e sorri com a lembrança de minha avó sentada ao meu lado. Ela estava tão bonitinha ontem com aquela roupa, e muito cheirosa com aquele perfume que usa a anos somado ao cheiro de chá. Ai como eu amo aquela mulher, ela sempre sabe o que dizer e fazer, por isso é uma mãe e avó maravilhosa.

Terminei o meu cigarro e lembrei que Dinah havia me ligado na tarde de ontem combinando de nos ver hoje assim que eu chegasse de viagem, porém nós não havíamos nos falado mais depois daquilo e ficou algo meio superficial, será que ela ainda se lembrava que eu iria para a sua casa? Entrei na sala e fui até o meu quarto, entrando no banheiro e tirando a minha roupa para tomar um longo banho relaxante para que finalmente pudesse encontrar Dinah.

Logo após ter seco o meu cabelo e feito uma maquiagem básica fui até o closet, optando por uma roupa mais quente já que por mais que houvesse sol ventava um pouco. Coloquei uma calça jeans com uma lavagem mais claras e com detalhes rasgados, uma blusa de algodão preta com um pequeno decote V, peguei uma outra jaqueta de couro preta e calcei meus coturnos.

Desci as escadas e não tive qualquer sinal de Ally ou de Lea, peguei as chaves do carro e o acessório que eu sempre levava meus documentos e meu cartão de crédito. Abri a porta e peguei o elevador, cheguei no estacionamento e entrei no carro, saindo do prédio logo em seguida.

Demorou um pouco para chegar no prédio de Dinah e pude ver alguns carros conhecidos um pouco afastados de mim, liguei para Big Rob que tinha tirado esse final de semana de folga e avisei aonde eu estaria e que se eu precisasse sair do apartamento de DJ iria mandar uma mensagem.

Estacionei o carro e desci do mesmo rapidamente, o trancando e correndo para dentro do prédio, não queria que me fotografassem hoje, porque isso sempre estragava o meu bom humor. Sorrio largo ajeitando o meu cabelo enquanto eu subia as escadas apressadamente, não havia dado tempo deles tirarem foto. Meu sorriso morre quando vejo quem estava parada na frente da porta do apartamento da minha amiga.

Ela estava linda. Camila usava coturnos pretos, era a primeira vez que eu havia com um sapato assim; uma calça jeans justa e escura; um top cropped de algodão preto e um sobretudo de lã que deixava o look muito estiloso. Fico parada em meu lugar e me permito analisa-la por mais um instante já que seu cabelo não permitia ela ter uma visão da minha pessoa.

- Dinah! – Soca a porta – Ugh, sua imitação barata da Beyoncé. – Resmunga pegando o celular.

- Eu acho que ela não está ai! – Se vira assustada e arregala os olhos quando me vê – Ela geralmente berra quando alguém esmurra a porta! – Sorrio de canto e Camila ri.

- Eu sei, ela me mandou uma mensagem pedindo que eu fosse para o seu apartamento antes do almoço... me atrasei, mas só porque fiquei dormindo.– Sorri sem graça.

Dinah havia armado para nós, ela sabia que Camila não iria trabalhar e que eu iria chegar hoje de Miami, algo me dizia que DJ andou conversando com Ally. Isso explicaria o fato de Allyson ter ficado ontem o dia todo no celular depois de eu ter lhe contado o que aconteceu no parque, sem falar que toda vez que eu me aproximava ela saia de perto, elas estavam de complô.

- Foi trabalhar ontem? – Questiono tentando puxar algum assunto, mesmo estando um pouco na defensiva ainda.

Com aquela pergunta Camila me encarou por um longo período enquanto concordava com a cabeça, um pequeno sorriso brincava em seus lábios e seus olhos brilhavam levemente. Olha no fundo dos meus olhos e eu sorrio de canto, escondendo uma de minhas mãos no bolso da calça e me aproximando da porta, ficando ao seu lado sem quebrar nosso contato visual.

- DINAH! – Grito e Camila ri um pouco assustada, começo a tocar a campainha sem parar.

- Ela vai brigar com você! – Me repreende.

- Não tem problema, ninguém mandou ela marcar com nós e agora não atender a porta! – Rimos e eu olho para o seu sorriso mais uma vez, desviando o olhar logo em seguida quando a porta é aberta bruscamente.

- QUEM SÃO VOCÊS? – Um cara pergunta.

O homem era enorme, musculoso e bronzeado, tinha uma cara de mau e por um momento eu me senti completamente apavorada. Ele não vestia uma camisa e tinha um lençol ao redor da cintura, seu cabelo estava um pouco bagunçado e suas narinas infladas, ele nos fuzilava com o olhar.

- Quem é você? – Camila pergunta confusa.

- Perguntei primeiro! – Passa a mão pelos cabelos, então percebe que havia sido rude e dá um pequeno sorriso envergonhado – E-Eu sou um amigo de Dinah... – Levanto uma sobrancelha.

- Nós também, mas eu espero que ela não faça com nós o que fez com você noite passada! – Camila solta uma gargalhada alta e eu sorrio, o homem fica ainda mais sem graça – Eu acho que ela não está ai, não é mesmo? – Nega com a cabeça – Então já vamos indo...

- Vamos? – Camila pergunta e eu sinto minhas bochechas ficarem vermelhas – É... nós vamos, íamos chamar Dinah para tomar café da tarde, mas parece que vamos apenas nós duas... – Tinha um largo sorriso nos lábios, olho no fundo de seus olhos e concordo com a cabeça, desviando o olhar logo em seguida.

Não seria uma má ideia sair para beber algo com Camila, poderia colocar em prática o que minha avó havia dito no final de semana. Por mais que me sentisse um pouco apreensiva era tão fácil me soltar perto dela e ser eu mesma sempre, Camila sempre teve uma facilidade de me deixar a vontade, dando espaço para que sempre eu fosse eu mesma.

Descemos as escadas comigo dizendo que não havia problema algum em leva-la até o café, assim que chegamos na porta de entrada parei de andar, atraindo sua atenção. Totalmente sem graça informei que haveriam paparazzis e perguntei se ela se importaria de andar com a cabeça abaixada para que assim não fosse fotografada, Camila apenas concordou com a cabeça.

Sabia que assim que eles vissem que eu havia saído do prédio com uma pessoa que não era nenhuma das minhas “novas” amigas que eu tanto andava junto agora iriam atacar como urubus, querendo tirar a foto perfeita para que manchetes e mais manchetes fossem estampadas em todos os lugares com qualquer possível boato escroto.

Após terminar meu namoro de marketing eu havia saído com algumas pessoas por no máximo dois encontros, duas eram mulheres e minha orientação sexual só ficou evidente quando uma foto de Carly me beijando dentro de seu carro vazou, só então ficou completamente escancarado que eu gostava tanto de mulheres quanto de homens.

Minha sexualidade nunca foi algo que me envergonhei e muito menos escondi, porque isso faz parte de quem eu sou e mentir sobre isso seria negar quem eu sou e o que faz me sentir bem, acontece que na minha vida expor qualquer coisa se torna uma informação com enorme repercussão e atenção, por isso sempre evito dar detalhes da minha vida pessoal. Porque a vida é minha e só diz respeito a mim e as pessoas que convivem comigo.

A mídia acredita que toda celebridade que sai acompanhada de uma nova pessoa e antes nunca foram vistos juntos essa pessoa é automaticamente seu novo(a) namorado(a). Acontece que Camila já havia sido minha namorada e se a fotografassem comigo agora os fãs iriam se lembrar quem ela foi, o que geraria um tumulto desnecessário já que a mídia iria começar a perturbar Camila questionando se nós estávamos juntas novamente ou não, e não era isso que eu desejava para ela, eu prezava por sua privacidade.

Abri a porta e levei minha mão até as costas de Camila, escutei um grito de um deles e então apressei o passo até o carro, abrindo a porta para ela e fechando a mesma, eles atravessavam a rua correndo e eu logo tratei de pegar meu celular, dei a volta no carro e entrei no mesmo, dando partida e não demorando muito para sair de lá.

- Wow... é sempre assim? – Questiona finalmente levantando a cabeça depois de um tempo.

- Às vezes é pior... – Rio sem graça – Eles gostam de ficar mais próximos para conseguirem fotos com uma qualidade melhor, então tem como ser muito pior. – Paro no sinal vermelho e rapidamente mando uma mensagem para Big Rob avisando o lugar que iriamos.

- Não é ruim? Não poder sair sem ser fotografada? – Coço minha bochecha e viro o volante.

- Muito ruim, mas é algo que eu aprendi a suportar... claro que tem dias que me irrita pra caramba, principalmente em dias que eu não estou muito bem e eles estão ali, berrando o meu nome e pedindo para eu sorrir e dizer qualquer coisa. – Sorrio fraco.

- Parecia mais legal quando Taylor, você e eu imaginávamos, agora não me parece tão divertido em prática! – Rio concordando com a cabeça.

- Definitivamente... mas tudo tem o seu lado negativo. – A olho por um instante e Camila sorri de canto, concordando com a cabeça.

Estava levando Camila para o mesmo café que eu havia marcado de me encontrar com Vero algumas semanas atrás, sabia que lá poderíamos ter privacidade e assim que Big Rob chegasse teríamos toda a segurança necessária para não sermos incomodadas ou fotografadas, o problema seria mesmo na hora de ir embora.

Estacionei o carro e Camila já tinha a cabeça abaixada, sem ela ver sorri um pouco constrangida, provavelmente ela sabia como seria facilmente exposta caso seu rosto fosse fotografado. Seria melhor assim, ao menos por enquanto. Baixinho sussurrei que ela esperasse um momento, desci do carro fechando a porta rapidamente e dei a volta correndo, abri a porta do seu lado e segurei sua mão para auxilia-la a descer do carro sem cair.

Me dei o luxo de sentir melhor o toque de suas mãos, elas pareciam ainda mais macias do que eu me recordava, continuava extremamente delicada e magra como sempre foi, não havia qualquer anel ou qualquer pulseira em seu pulso delicado.

Minha mão foi para as suas costas, gentilmente a alisei suas costas a instigando começar a andar para a cafeteria. Comecei a ouvir o barulho das câmeras e olhei para o lado tendo a visão dos longos cabelos de Camila escondendo totalmente o seu rosto e seu corpo levemente encolhido por conta da tensão, posicionei o meu corpo de uma forma que não deixassem os paparazzis do outro lado da rua a fotografassem de qualquer forma.

Abri a porta do estabelecimento deixando Camila entrar primeiro, tudo agora era meio silencioso, extremamente cheiroso, aconchegante e quente. Aproximei minha boca de seu ouvido e sussurrei dizendo que ela poderia ficar à vontade, pude ver Camila estremecer só então levantar a cabeça.

Pude notar que conforme nós íamos andando para meu lugar favorito da cafeteria Camila analisava cada canto do estabelecimento com muita atenção, assim que nos aproximamos na mesa de madeira puxei a cadeira para que ela se sentasse, recebi um sorriso tímido e pela primeira vez a vi ficar um pouco acanhada, dei a volta para que eu pudesse me sentar na sua frente.

Podia sentir seu olhar queimar em cada pequena ação que eu fazia, desde o movimento de puxar a cadeira para me sentar até o de tirar o celular e carteira do bolso interno da jaqueta para colocar em cima da mesa. Ficamos um curto período em silencio, que me lembrava da primeira vez que nos encontramos e fomos para uma cafeteria em Miami para conversarmos sobre um pouco de tudo, por um momento tivemos uma longa troca de olhares intensos que foi cortado por Jessie.

- Hey, sejam bem-vindas! – Sorri largo – Meu nome é Jessie e eu que vou atender vocês hoje, o especial são nossas waffles com Nutella – Fala diretamente para Camila, já que eu estava sempre lá e sabia que aos domingos esse era o especial da casa.

- Vou querer apenas um cappuccino, no copo para viagem! Você não me convenceu oferecendo essas waffles! – Jessie ri anotando meu pedido, olho para Camila – Eles têm a melhor torta de banana da cidade, tenho certeza que você vai gostar... – Camila me analisa sorrindo, sempre gostou de comer qualquer coisa com banana e não acho que esse habito houvesse mudado.

- Então vou querer um pedaço da torta e água. – Concorda com a cabeça enquanto anotava rapidamente em seu bloquinho, saindo logo em seguida – Você vem sempre aqui?

- Sempre! – Sorrio entrelaçando minhas mãos – Geralmente para encontros profissionais ou quando estou morrendo de fome e Lea não está em casa, mas como é meio longe de casa não venho regularmente. – Concorda com a cabeça – Já tinha vindo para esse lado da cidade?

- Não saio muito! – Confessa – Mudei definitivamente para New York quando cheguei da Ásia, só havia vindo antes para comprar o apartamento e reformá-lo, sem falar que como chego muito cansada do trabalho não sinto vontade de sair de casa. – Concordo com a cabeça – Um dia eu trabalho por 24h e no outro eu recebo folga, aproveito isso para descansar bastante, é exaustivo.

- Eu imagino, 24h é muito tempo, que área do hospital você está trabalhando? – Sabia que ela não havia se especializado em oncologia ainda.

- Eu faço de tudo, agora estou como paramédica. Só que na fase de iniciação você é obrigado a trabalhar em ambulâncias e no pronto-socorro para atendimentos rápidos, assim você está preparado para qualquer situação! – Ri dando de ombros, encarando Jessie que colocava nossos pedidos na mesa – Mesmo sendo muito cansativo é ótima a sensação de dever cumprido no final do plantão.

- Eu imagino. – Sorrio antes de dar um gole no meu copo, passando a língua sobre meus lábios em seguida.

Para o assunto não morrer Camila perguntou sobre o meu trabalho nos últimos meses, contei que depois de uma fase um tanto conturbada acabei optando por dar um tempo nos compromissos, tirando um tempo para relaxar e colocar as ideias no lugar, continuei falando que por conta disso acabei me relacionando novamente com meus velhos amigos e dando um jeito de sempre tê-los por perto na minha carreira.

Enquanto falava não conseguia não analisa-la. Seus olhos sempre revezavam entre olhar para os meus olhos e para a minha boca, quando iam para a minha boca eu me permitia olhar para cada traço, quase sempre a pegando passando a língua em seus lábios após se deliciar com um pedaço da torta. Sua mania de sempre colocar uma mecha atrás da orelha continuava, assim como a de morder o lábio inferior quando se concentra em algo.

Algo que havia me chamado muito atenção é que diferente de antes Camila não se importa mais de ter um longo contato visual, seus olhos não desviam assustados e com medo de que alguém desvende cada pequeno detalhe sobre eles. Agora eles encaravam na mesma intensidade, demonstrando que ela não tinha mais medo ou se intimidava facilmente.

Dizem que os olhos são a janela da alma, talvez agora sua alma estivesse finalmente em paz e preparada para ser exposta e ainda mais desvendada.

Camila acabou sua torta e agora nós falávamos sobre diferentes países, contava um pouco dos que elas queria conhecer e eu felizmente já havia tido o prazer de ter conhecido, contava animadamente sobre as comidas, o povo e a cultura o pouco que eu tive contato. Podia perceber os olhos dela brilharem conforme eu falava sobre um pouco deles.

- Acho que eu estou falando demais... – Rio sem graça – Você continua com isso, não é mesmo?

- Com o que? – Pergunta confusa, franzindo os cenhos.

- Fazendo com que eu me abra facilmente e deixando você sempre com aquele ar misterioso e de certa forma charmoso... – Ela ri baixo e estala a língua.

- Você é a pessoa que me conhecer melhor em todo esse mundo. – Da um sorriso tímido, comprimo um pequeno sorriso – Mas foi isso mesmo que eu ouvi? Está me chamando de charmosa, Sra. Jauregui? – Rio dando de ombros.

- Quem sabe... mas nesse momento estou achando que você está me enrolando... – Solta uma risada pelo nariz e pelo modo que se movimentou deduzi que havia cruzado as pernas embaixo da mesa.

- Não sou uma pessoa interessante, Lo, deixa eu pensar no que posso te dizer... – Olho no fundo de seus olhos e ela morde o lábio inferior, pensando no que iria me contar – Passei todos esses anos estudando muito, não tinha tempo para trabalhar por isso o dinheiro da herança foi muito útil, viajei muito para Miami, finalmente experimentei jiló e não recomendo aquilo para ninguém... – Rimos e ela continua pensando – Descobri que não sinto o mínimo de atração por homens e que jamais vou encontrar outra pessoa que escale uma árvore para me ver... – Olha no fundo dos meus olhos e eu rio negando com a cabeça.

Havia ficado totalmente sem palavras com a sua fala, se ela havia descoberto que não tem atração por homens significa que ela beijou um ou até algo a mais, assim como fez o mesmo com outras mulheres. Isso me deixou um pouco enjoada, a ideia de uma pessoa tocando Camila de qualquer forma e a namorando, será que essas pessoas sabiam tudo sobre Camila?

- Aparentemente escalar árvores é muito perigoso, ainda mais se você é desastrada. – Faço uma piadinha, disfarçando meu desconforto ao saber daquelas informações.

- Esporte para corajosos. – Ri, ela já havia percebido meu desconforto – Você nunca gostou de entrar pela porta de frente de casa, quando eu me mudei lembro que a primeira coisa que você falou que me fez rir foi “Não tem mais árvore para que eu possa escalar”. – Sorrio, eu não me recordava disso.

- Lembro que eu tinha pego o jeito, então não precisei mais. – Camila ri e eu sorrio.

- Era bom receber suas visitas inesperadas no meio da noite... – Confessa baixinho e meu sorriso some aos poucos, olho para baixo – Eu senti falta de te ver sempre e te ter, foi difícil me acostumar a ficar sem a sua presença. – Comprimo meus lábios.

- Camila... – Ela encara as próprias mãos.

- Me desculpe. – Me corta, respirando fundo e ajeitando sua postura – Eu... – Ri sem graça, me mexo desconfortável – Agora eu tenho uma certa dificuldade em guardar as coisas para mim.

A encaro por um longo tempo. Camila estava nervosa, qualquer um poderia facilmente notar isso já que ela mexia em seu guardanapo freneticamente e pela primeira vez no dia evitava um contato visual. Nós não sabíamos mais o que dizer uma para a outra e eu me permiti rir pelo nariz, totalmente sem graça, sendo acompanhada por ela.

- Lauren? – Olho para cima e vejo meu segurança – Vou estar na mesa do canto, quando quiser ir é só dar um sinal... – Concordo com a cabeça.

Pedi duas garrafinhas de água para Jessie e então Camila e eu voltamos a conversar, dessa vez ela me explicou um pouco melhor sobre o seu trabalho e até mesmo me divertiu contando algumas coisas engraçadas que ela já teve que fazer para ajudar os pacientes com problemas, isso incluía coisas bem bizarras.

Dinah Loser: "Ops, me esqueci que havíamos combinado, sai com Ally para fazer compras."

Se eu tinha qualquer dúvida que Dinah e Allyson estavam armando para Camila e eu, essas dúvidas foram sanadas naquele momento. Ambas eram muito a favor de eu sempre me encontrar com Camila e dar uma chance para ela, tanto que sempre encheram muito a bola da minha ex, o que até chegava a ser um pouco chato.

- Eu não queria ser inconveniente, eu sei que ainda é ruim para você... – Sussurra e eu do de ombros.

- Só é muito estranho, porque eu confesso que já tive todos os tipos de sentimentos por você... tanto bons quanto ruins! – Comprime os lábios – E a todo instante eu fico me perguntando se você vai virar as costas novamente e simplesmente ir embora, apenas por ser a opção mais fácil...

- Ir embora nunca é a opção mais fácil, Lauren. – Solta uma risada sem humor – Na verdade é uma decisão muito difícil de se tomar, eu não tinha noção do que estava fazendo e o quanto isso ia afetar nossas vidas... queria que tivesse um grande impacto na sua! – Suspira - Não te magoando, te machucando ou algo do tipo, longe disso. – Olho no fundo dos seus olhos – Eu sei que foi exatamente isso que aconteceu, mas eu juro que estava completamente apavorada com a ideia de destruir sua carreira. Queria tivesse um grande impacto na sua carreira e foi exatamente isso que aconteceu, você conquistou o que sempre quis!

Nós ficamos em silencio.

Eu tinha essa coisa de em um momento estar totalmente bem com a presença dela, confiante de que nós poderíamos ser amigas e que tudo poderia dar certo, por sermos adultas podemos facilmente passar por mágoas do passado. Só que não é assim, a ideia de ser abandonada mais uma vez me persegue a todos os instantes, e isso é algo apavorante.

- Entretanto isso não vai acontecer uma segunda vez, como eu já disse! – Morde o lábio inferior – Cometer o erro uma vez está tudo bem, duas vezes seria uma completa estupidez... – Olho para minhas mãos – E só existe uma pessoa estúpida na minha família, e essa pessoa está na cadeia. – Brinca com escarnio e eu fico totalmente sem reação.

- Sempre achei você muito inteligente! – Olho para seus olhos e logo desvio.

- E agora, você acha que eu ainda sou inteligente ou acredita que eu possa me tornar estúpida?

- Ainda não sei, vamos esperar para ver. – Ela sorri em concordância.

Discretamente nós havíamos entrado em um acordo, ela havia entendido o sentido figurado e disfarçado das minhas palavras.

Camila trabalhava um dia sim, por vinte quatro horas e no outro dia ela tinha vinte e quatro horas para descansar do trabalho intenso e corrido, ainda mais em New York que as coisas mais absurdas aconteciam. Podia ver que ela parecia cansada, mas não absurdamente cansada, também podia notar facilmente que seu trabalho ocupava bastante a parte do seu tempo.

- Vejo que anda bem ocupada... – Brinco com o copo de vidro.

- Não ocupada o bastante para ter um encontro... – Sorri de canto e me olha no fundo dos olhos, rio negando com a cabeça.

– Um encontro? – Questiono e ela concorda com a cabeça.

- É, aquilo que ocorre entre duas pessoas, que provavelmente se sentem atraídas uma pela outra! – Passa a língua pelos lábios, sorrindo de canto.

- Está insinuando que quer ter um encontro comigo?! – Pergunto já sabendo a resposta.

- Achei que estivesse mais do que na cara... – Estala a língua e eu arqueio uma das minhas sobrancelhas – Também achei que você tivesse entendido a parte que eu não aceito “não” como resposta...

Rio sarcástica e nego com a cabeça.

Eu não sabia se essa Camila confiante e cheia de si me irritava ou me deixava extremamente nervosa, totalmente controladora e extremamente petulante.

- Tudo bem, você ganhou. – Solta o ar pela boca e eu sorrio fraco – Pode ser na quinta? – Concorda com a cabeça – Jantar?

- Ou um almoço, você decide... – Tenta conter sua animação, o que faz sua pose de mulher decidida e toda cheia de si ir embora.

- Um jantar, na minha casa... você continua comendo carne? – Assente – Vou pensar em algo então...

- Ótimo... – Camila sorria enquanto mordia o lábio inferior.

Perguntei se ela queria mais alguma coisa e Camz negou com a cabeça, perguntando se poderíamos ir embora, me limitei a concordar com a cabeça. Pedimos a conta e esperamos Jessie voltar, porém assim que a garçonete apareceu com a conta uma pequena discussão para ver quem pagaria tudo começou. Acabou que só entramos em um acordo quando decidimos dividir meio a meio, por conta do bom atendimento coloquei disfarçadamente uma boa gorjeta na mão de Jessie quando ela veio recolher o dinheiro.

Big Rob se aproximou rapidamente quando eu dei o sinal para que ele se aproximasse, instruiu o que Camila deveria fazer para não se machucar na hora de sair da cafeteria já que provavelmente seria um tumulto, porém eu faria questão de deixar que aqueles abutres me machucassem primeiro antes de machuca-la, o primeiro tumulto com paparazzis é traumatizante para qualquer pessoa. Começamos a andar em direção a porta de saída, não sem antes acenarmos para Jessie que havia sido muito gentil –como sempre-, Camila ajeita o cabelo de uma forma que não dê para ver o seu rosto, porém assim que eu abro a porta ela leva uma das mãos para que seu rosto ficasse ainda mais coberto.

Haviam muitos paparrazis, Big Rob havia ficado na nossa frente, agarrei em sua blusa preta e puxei Camila o mais perto de mim o possível para que ninguém a machucasse. Quando haviam muitas pessoas geralmente eles acabavam batendo as câmeras na cabeça de quem estava por perto ou pisando no pé. A mão livre de Camila segurou minha blusa preta e nós continuamos andando apressadamente em direção ao carro que parecia mais afastado do que eu me recordava.

Assim que ela entrou no carro eles me cercaram ainda mais e continuaram batendo fotos sem parar até mesmo colocando as câmeras no vidro do meu carro para tentar tirar fotos de Camila lá dentro, abri a porta e entrei xingando baixinho, Big Rob começou a pedir que eles se afastassem e prontamente eu dei partida para sair de lá.

Olhei de relance para Camila e ela ajeitava o cabelo, sua expressão havia estava assustada e parecia apreensiva.

- Eu sinto muito... – Sussurro e ela me encara – Se eu pudesse eu não teria feito você passar por isso, mas como a gente saiu sem ser planejado Big Rob não conseguiu bolar uma estratégia, mas isso não vai acontecer quinta! – Ri concordando com a cabeça.

- Tudo bem, só é um pouco sufocante e desesperador! – Sorrio fraco.

- Eu sei, mas é só porque é a primeira vez que acontece, depois você acostuma com as outras vezes, pergunta para Dinah! – Camila sorri e olha para as próprias mãos – O que?

- Vão ter outras vezes? – Questiona interessada – Digo, nós vamos sair outras vezes a ponto de eles nos fotografarem mais? – Olho para frente, sem saber o que dizer.

- Não sei, Sra. Cabello, não sei...

É claro que existiriam outras vezes, a partir do momento que sugeri que fossemos tomar café sabia que não teria volta e seria impossível resistir à tentação de vê-la outras vezes.