História Letters To Camila - Segunda Temporada - Dinner For Two

Minha semana havia sido extremamente sufocante. Eles estavam em todos os lugares. Não me deixavam andar em qualquer lugar. Estavam de tocaia. E a todos os instantes algum site sempre tentava desvendar quem era minha “namorada”, sempre acompanhadas das fotos da minha agradável tarde de Domingo.

Acontece que o fato de Camila ter escondido o rosto só piorou os boatos, talvez ninguém teria dito nada se ela tivesse saído sem medo de mostrar o rosto como minhas amigas fizeram quando foram fotografadas comigo pela primeira vez, acontece que o fato dela esconder o rosto e ter seu corpo tão perto do meu enquanto eu a guiava para o carro e dentro da cafeteria fez todos olharem com outros olhos. Outra coisa que não contribuiu com absolutamente nada foi o fato de eu sair do estúdio falando no celular com ela, mesmo as pessoas não ouvindo toda a conversa os paparazzis estavam perto o bastante para me ouvir dizendo onde e as horas que nós deveríamos nos encontrar, o que só contribuiu na hora de levantarem mais boatos.

Meus fãs surtaram, eu não saia com ninguém a muito tempo, claro que eles não demoraram para começar a comentar sobre o assunto e isso virar vários tópicos dos assuntos mais comentados de várias redes sociais. Os boatos começaram e até mesmo colocaram famosos que pareciam com Camila de alguma forma, a situação estava tão absurda que não consegui guardar para mim mesma e entrei no meu Twitter para soltar uma indireta.

@LaurenJauregui: So crazy, apparently in less than three months i’ve dated so many people.

Tudo só acalmou mesmo quando eu fui para a Ellen. Fui a atração principal do seu programa. Conversamos bastante, fiz propaganda do meu álbum que iria sair logo, ela me assustou e até pediu minha ajuda para assustar outras pessoas, Ellen foi muito gentil quando fez uma doação generosa para o projeto de Camila e instigou a todos fazerem o mesmo, conheci uma fã e no final Ellen do programa mostrou várias fotos da minha pessoa com minhas melhores amigas e por último mostrou a minha foto com Camila, esclareci que nós não tínhamos nada e que no momento eu namorava a minha música.

Porém não deixei nada disso tirasse o meu foco para o que realmente me importava: meu álbum e a preparação da minha turnê. Essa semana havia sido muito produtiva, havia escrito Top Down, This is How We Roll e Worth It, porém só iria gravar na sexta e no final de semana, ficando completamente ocupada com isso.

O que me deixou mais confortável foi o fato dos meus fãs terem ficado muito animados com a possibilidade de eu estar finalmente me envolvendo com alguém, e ainda sim dando total atenção para minha música, sem falar que todos mesmo sem ver o rosto de Camila disseram que nós fazíamos um belo casal.

- Não sei quem é mais ridículo, as pessoas que publicam essas matérias, você ou Camila! – Olho descrente para Normani.

- Mani, cala a boca, pelo amor de Deus! – Ally taca uma almofada nela.

- Vocês se ofendem porque sabem que eu estou falando a verdade. – Da de ombros – Eu não acredito que a mula aceitou um encontro com ela! – Aponta para mim – Não acredito que vocês duas apoiam Camila entrar na vida de Lauren novamente - Aponta para Ally e Dinah - E não acredito que esses caras não têm nada melhor para fazer do que cuidar da vida das celebridades. – Fico calada.

- Você não vai dizer nada? – Dinah pergunta.

- O que você quer que eu diga? – Reviro os olhos – Eu sei que eu fui fraca em ceder tão fácil para Camila, só que vocês não sabem os meus motivos...

- Você sempre ficou de quatro por ela e continua a mesma...

- Normani cala a boca, pelo amor de Deus! – Me levanto, levemente irritada – Você fez a mesma coisa comigo. Ou vocês acham que eu não notei isso? Vocês me perdoaram rapidamente porque queriam ver se eu realmente iria me redimir e se eu realmente havia mudado para melhor, para ver se eu estava disposta a mudar para que nossas amizades dessem certo, caso eu tivesse continuado a mesma bosta vocês definitivamente teriam cortado relações.

- Ela te deixou sem mais nem menos! – Normani completa.

- Também te exclui sem mais nem menos. – Suspiro – Não peço que você apoie o que está acontecendo entre mim e Camila, mas peço para que você ao menos respeite a minha decisão.

Todas elas ficam em silencio.

Puxo meu maço de cigarro e o isqueiro, deixando meu celular em cima da mesinha.

- Se vocês me dão licença, eu vou para a sacada.

(...)

Pego a colher e mexo as pequenas fatias de carne, enquanto com a outra mão abria ainda mais a janela da cozinha e ligava o objeto que tinha em cima do fogão para não permitir que o cheiro forte impregnasse na cozinha. Aumento o som assim que vou pegar o vinho branco em minha pequena adega, o abro e jogo uma boa quantidade em cima da carne que tinha uma aparência cada vez mais suculenta, mexendo a frigideira para que não queimasse.

Escutei a campainha e desliguei o fogo, limpando as mãos no guardanapo que eu tinha nos ombros, corri em direção a porta e abri a mesma tendo uma Camila sorridente e toda encolhida sob um casaco preto grosso. Abri melhor a porta e beijei sua bochecha, pedindo para que ela ficasse a vontade.

Retirei o casaco dela já que dentro do meu apartamento estava quente, deixei o mesmo em cima do meu sofá favorito e fiz um sinal para que ela me acompanhasse até a cozinha. Caminhei apressadamente até o cômodo ao lado e liguei o fogão novamente, apenas para não dar tempo da carne esfriar, ela ficaria extremamente dura caso isso acontecesse.

- Quer um pouco de vinho? – Questiono olhando para o lado, vendo que ela se encostava na bancada atrás de mim.

- Eu aceito... – Sorrio concordando com a cabeça, vendo que a carne estava pronta.

Pego duas taças e coloco o mesmo vinho que eu havia despejado na carne, já que era um vinho suave e muito gostoso para se beber antes da janta. Entrego a taça para Camila e só então reparo em sua roupa. Ela vestia uma meia calça preta bem escura, com uma saia da mesma cor, um suéter listrado preto e branco e seus cabelos estavam presos em um coque alto.

Me senti um pouco desleixada perto dela, eu vestia uma calça jeans e uma blusa azul marinho de algodão qualquer, meu moletom azul estava jogado no sofá já que havia dado calor. Eu deveria ter me arrumado mais, porém fiquei mais preocupada com o jantar do que com a minha aparência.

- Eu gosto dessa música... – Comenta e eu saio de meus devaneios.

- Slow Dancing In A Burning Room do John Mayer, é a minha favorita! – Concorda com a cabeça – Amo assistir aos shows dele ao vivo, ele é incrível... – Abro o forno e pego os pequenos pãezinhos que haviam sido esquentados – Essa é apenas a entrada... espero que goste.

Coloco os pequenos pães em uma travessa sem bordas e coloco um pouco das fatias de carne no canto do prato, abro o armário e pego o azeite. A chamo para o segundo andar, aonde nossa mesa estava posta. Subimos as escadas rapidamente e Camila arregalou os olhos levemente ao ver o tamanho do meu apartamento, porém se sentou sem dizer nada.

- A música que toca lá embaixo toca aqui em cima? – Questiona confusa.

- Bom, meu celular está conectado as caixas de som, então quando eu entro subo com o celular e uma música estiver tocando nele passa a tocar aqui, o mesmo acontece se eu descer! – Concorda com a cabeça e eu me sento ao seu lado – Como foi sua semana até agora?

- Estranha. – Confessa e eu franzo o cenho – Não é todo dia que você vê sua foto estampada em todos os lugares depois de um café da tarde... – Brinca e eu sorrio fraco.

- Me desculpe... – Sussurro.

- Está tudo bem, estava apenas brincando. – A olho e ela sorri gentil – Não me importo de ser fotografada se esse for o preço a pagar por estar com você... – Pisco algumas vezes, totalmente sem fala – Na sua companhia... – Tenta concertar para que não pareça que estava apressando algo, me limito a rir.

Me sirvo e aguardo ela fazer o mesmo, porém esperei ela dar a primeira mordida para comer com ela em seguida, gostava de saber se as pessoas gostavam da minha comida ou não, ver o prazer e satisfação nos rostos quando aprovavam meus pratos, era maravilhoso.

Por mais que Camila dissesse sempre que queria ser no mínimo minha amiga suas ações, falas e gestos diziam totalmente ao contrário. Confesso que as vezes me sentia uma caça, pronta para ser atacada a qualquer instante, mas eu não sentia qualquer medo de ser pega pela minha predadora.

- Vejo que aperfeiçoou seus dotes culinários! – Concordo com a cabeça enquanto mordia.

- Com tantas viagens eu tive o conhecimento de tantas comidas maravilhosas, achei que seria um pecado não colocar a mão na massa e aprender um pouco...

- Eu continuo uma negação na cozinha! – Confessa – Aquele dia eu fiz minha avó ficar no telefone comigo por umas duas horas e meia, apenas para explicar passo a passo... – Rio sem graça.

- E eu nem provei sua comida! – Concorda tristemente com a cabeça, enquanto dava um gole na taça de vinho – Fiquei um pouco transtornada...

- Eu sei, mas não era para menos... – Sussurra – Sinto muito, não deveria ter contado daquela forma, você curiosa me encurralou e só me senti um pouco pressionada, acabei despejando todas as informações de uma vez só! – Suas bochechas ficam coradas – Mas juro que quando fiz o que fiz só tentei visar o que era o melhor para você... – Fico em silencio.

- Camila você se justificou aquele dia e na carta, eu não fiquei magoada com o que você fez e por quem você foi influenciada, me magoei da forma que você acabou com o que nós tínhamos! – Trago saliva – Você tirou a minha escolha e me privou de viver anos ao seu lado, um relacionamento é bem mais do que apenas uma pessoa acha que deve ser correto a se fazer...

- Eu sei disso, Lauren. – Comprime os lábios, podia ver sua leve irritação – Não é como se eu pudesse fazer você escolher entre seu sonho e eu – Ri sem humor - Você também tomou decisões por mim no passado, decisões que foram boas para mim e me pouparam de muita coisa, apenas tentei fazer o mesmo.

Me calo, sabendo exatamente ao que ela se referia. Camila falava de quando eu havia procurado seus avós antes de procura-la para contar sobre o que eu sabia sobre o seu pai, essa minha decisão a privou de ter muita dor de cabeça, principalmente conviver mais do que o necessário, sabendo o que Alejandro havia feito com sua mãe.

- Eu conversei com a minha avó, sabe? – Me encara, limpando a mão no guardanapo em seu colo – Falei sobre você, eu sei que teria tomado a mesma decisão que você. – Sorri enquanto assentia – Mas eu jamais iria terminar nosso namoro da forma que você terminou. Se você realmente quer tentar se aproximar de mim, de alguma forma, peço para nós irmos devagar, por mais que eu goste muito de estar em sua companhia e te ter por perto... – Camila não consegue conter o sorriso com a minha fala – Eu ainda sou um pouco travada e quero que você tenha paciência, preciso acostumar com você em minha vida novamente...

- Sem problemas, não brinquei quando disse que queria ser sua amiga a cima de qualquer outra coisa... gosto de ter você por perto, Lo. – Segura a minha mão e eu as encaro – E não ligo de ser apenas a sua amiga, se esse for o jeito que eu possa ter você por perto. – Sorrio concordando com a cabeça – A alguns dias atrás uma pessoa me disse para dar tempo ao tempo! – Balanço a cabeça.

Sabia que Camila estava sendo sincera, podia ver isso estampado em sua expressão e em seus lindos olhos castanhos. Camz sempre foi uma pessoa muito fácil de ler os gestos –agora mais fácil ainda-, parecia muito disposta a me ter em sua vida novamente e isso me trazia um certo conforto, porque mostrava que ela não iria parar de lutar enquanto não conseguisse o que tanto queria: minha presença em sua vida.

Nós continuamos comendo e conversando por um bom tempo, então me lembrei que havia algo no forno, pedi licença e desci as escadas correndo com uma enorme pressa, me xingando de todos os nomes possíveis quando abri a porta do forno e vi a comida torrada. Bufo irritada e tiro de lá, deixando em cima da pia. Vou para a sala e abro as janelas para ventilar o apartamento, porque mesmo tendo o objeto em cima do fogão para tirar o cheiro, não resolvia o cheiro de comida queimada.

- Laur? – Escuto a voz de Camila – Está tudo bem?

Vejo suas pernas torneadas descendo a escada e levo uma minha mão até a minha nuca, totalmente sem graça.

- O que acha de pedir uma... pizza? – Sorrio de canto e ela franze o cenho – Você me distraiu e nosso jantar torrou!

- Eu que te distrai? – Solta uma gargalhada – Não acredito que você queimou a comida! – Termina de descer as escadas e eu rio, com as bochechas completamente vermelhas.

- Então... qual sabor? – Pergunto com o telefone em mãos para ligar para a pizzaria.

Após eu ligar para a pizzaria e informar o porteiro nós subimos as escadas e sentamos novamente. Camila começou a me falar sobre Sofia, contava de todas as conquistas em campeonatos e de todas os concursos que a pequena ganhava, sendo uma aluna destaque desde sempre.

Então passou a contar de sua avó e todos os problemas que ela estava tendo. Marie havia descoberto um problema no coração, ela não poderia levar sustos ou até mesmo ficar angustiada, qualquer coisa que fizesse seu coração acelerar de uma forma absurda. Sua alimentação teve que mudar completamente para que sua pressão não subisse e consequentemente seu coração acelerasse, mas acontece que a senhora sempre aprontava e acabava deixando todos preocupados.

Falei da minha avó e da minha família em geral, tendo toda atenção de Camila, que dizia ter muitas saudades da minha mãe e de minha irmã, pessoas que ela teve um enorme contato em nosso namoro e acabou se apegando muito.

Falamos sobre o projeto e toda a repercussão que ele ainda recebia, Camila disse sobre como seus superiores haviam se apaixonado por sua ação e como haviam ficado chocados com o meu apoio e de outros famosos, também disse que uma amiga lhe enviou fotos em uma carta recente de como tudo andava muito melhor por aqueles lados.

- Hailee foi a amiga que eu dividi quarto após ser expulsa por Marielle! – Arregalo os olhos.

- Você foi expulsa do seu quarto? – Ela solta uma gargalhada e concorda com a cabeça – Porque?

- Porque eu ficava estudando até as duas da manhã, deixava as luzes acessas ai ela não conseguia dormir, sem falar que eu estava sempre com fones de ouvidos e a música era um pouco alta... – Solto uma gargalhada e ela ri junto – Mas continuando, Hailee voltou para NY comigo, agora trabalhos juntas no hospital, ela deixou o namorado na Ásia, que sempre escreve contando sobre como tudo está por lá. – Concordo com a cabeça.

- Isso é ótimo, fiquei tão feliz quando vi toda a repercussão que o projeto teve! – Sorrio animada e pela primeira vez Camila para de olhar nos meus olhos para encarar meus lábios, me deixando extremamente sem graça – A pizza chegou... – Comento após ouvir a campainha.

- O porteiro não avisa? – Questiona interessada.

- Ele já foi instruído por todos os apartamentos, ele checa a entrega e o uniforme do entregador para que assim possa subir, quando ele não conhece fica com o porteiro e ele mesmo é encarregado de subir! – Me levanto da mesa.

Não demorei para descer as escadas, pagar o entregador e pegar a pizza, como era o mesmo entregador de sempre ele não estranhou a minha presença, apenas sorriu e desejou uma boa noite. Assim que apareci no topo da escada pude ver Camila olhando para fora do vidro, na enorme sacada.

- Você quer comer lá fora? – Questiono, a assustando levemente.

- Eu amaria, porém acho que nós sentiríamos muito frio... – Rio assentindo.

- Mais tarde posso te mostrar a linda vista que se tem dali! – Camila sorri enquanto mordia o lábio inferior.

- Eu adoraria ver isso.

Após me sentar e servir um pedaço para cada, nós voltamos a conversar animadamente, podia ver que Camila parecia cada vez mais solta, podia ser por culpa das taças de vinho que havia tomado ou por conta da nossa conversa amigável e fácil de manter, podia sentir nossa intimidade voltando aos poucos.

Me sentia cada vez mais relaxada por estar em um ambiente com uma temperatura agradável, pela pizza maravilhosa, pela companhia incrível e pelo assunto que nunca acabava.

- É impossível uma faculdade de medicina ser fácil! – Exclamo incrédula.

- Claro que não, as matérias sempre foram muito interessantes e fáceis de entender!

- Então qual teria sido o ano mais difícil na faculdade?

- Provavelmente o terceiro... – Coloca o garfo apoiado no prato, pensando mais um pouco em sua resposta – Definitivamente o terceiro.

- Porque? As matérias eram mais complicadas? – Pergunto interessada.

- Não... – Ri sem graça – Continuavam no mesmo nível, confesso que eram em maior quantidade, mas foi um momento difícil na vida pessoal... – Franzo o cenho – Foi o ano que toda a mídia anunciou que você estava namorando o galã mais disputado das telas de cinema, naquela época! – Comprimo meus lábios, sem saber o que dizer – As fotos estavam estampadas em todos os lugares, ver aquilo me matava aos poucos... – Suspira enquanto mexia na taça, ficando cada vez mais tímida – Eu já não lidava bem com o fato de você não ser mais minha, porém ter aquilo sendo esfregado em minha cara era um pouco difícil...

Camila falou aquilo com uma certa naturalidade, porém em momento algum deixou de demonstrar como aquilo a machucava, podia ver o quanto o clima ficou tenso e o quão robóticos seus movimentos haviam se tornado. Não sabia exatamente o que dizer, era extremamente constrangedor explicar que meu namoro com Zac havia sido uma mentira deslavada para mais dinheiro entrar em nossos bolsos.

Acabei chegando à conclusão que iria admitir a verdade para ela, uma hora ou outra Camila iria acabar descobrindo que ele e eu nunca namoramos, achei que fosse melhor descobrir isso pela minha boca e a história verdadeira, sem falar que se eu queria ter qualquer tipo de relacionamento com ela, não seria bom começar um com mentiras.

- Hum... eu nunca namorei ele de verdade. – Sorrio de canto, tentando quebrar o clima tenso que havia se instalado – Faziam três anos que nós havíamos terminado, então Keyci apareceu em meu apartamento sugerindo que eu assinasse um outro contrato, nesse contrato eu teria que me passar pela namorada de Zac até dois meses depois da divulgação do filme, que ele atuava e minha música fazia parte... era tudo marketing. – Confesso sentindo meu rosto queimar, olho para minhas mãos.

Naquela época quando eu tinha que fingir que eu o namorava na frente do público minha maior vontade sempre foi mostrar o quão “feliz” eu estava com o nosso namoro, o que não foi difícil já que nós viramos grandes amigos, ele é um cara maravilhoso e um amigo incrível, sem falar que Zac é um excelente profissional e jamais me forçou a qualquer coisa que eu não gostasse ou me sentisse a vontade.

Sempre desejei que Camila visse que eu havia a superado e que eu não precisava dela para ser feliz, queria que ela estivesse ciente de que eu poderia encontrar outra pessoa para ocupar o seu lugar e que essa pessoa só sairia da minha vida se eu quisesse –tanto que o meu combinado com Zac foi esse, ele admitiria que eu havia terminado o nosso relacionamento em uma entrevista-, entretanto sempre me sentia frustrada por não conseguir supera-la de verdade, só na frente das câmeras.

Todos os tipos de feições passaram pelo rosto de Camila -podia ver sua frustração a descobrir a verdade- então seu rosto suavizou e um pequeno sorriso se formou em seu rosto, provavelmente havia chego à conclusão que eu havia feito nada demais com ele, entretanto continuou em total silencio, provavelmente sem saber o que dizer, assim como eu.

Continuei a encarando, Camila desviou o olhar e levou a mão até a taça novamente, porém antes que pudesse levar até os lábios, me encarou com os olhos em uma coloração ainda mais escura.

- Você chegou a namorar de verdade com alguém? – Questiona extremamente curiosa.

- Namorar nunca, porém eu tive alguns encontros... – Corto um pedaço da pizza que tinha em meu prato, dando um sorriso de canto – Não conseguia sair com alguém por mais de dois encontros, sempre dava desculpas ou simplesmente desaparecia, não queria me apegar ou qualquer coisa do tipo... – Concorda com a cabeça – E você? – Pergunto.

- Não. Não queria me distrair dos estudos! – Confessa – Fiquei com algumas pessoas e fui a encontros, mas nada sério. – Levo o pedaço que havia cortado até a boca, tendo sua atenção só para mim – Eu apenas comecei a me relacionar com outras pessoas quando li a manchete que você havia assumido o namoro com ele, foi quando a ficha realmente caiu... – Suspira lentamente – Achei que seria melhor encontrar outra pessoa e tentar colocar na cabeça que você não poderia ser mais minha e nem eu ser sua... só que... – Faz uma pequena pausa, rindo baixo pelo nariz - Você deveria ter dito antes de me pedir em namoro, anos atrás, que jamais vou encontrar alguém como você ou até mesmo melhor...

Fiquei em silencio, foi como se após aquela frase meu coração batesse tão rápido e forte que poderia facilmente rasgar o meu peito para ir se sentar no colo de Camila.

- Quem tem Lauren Jauregui como namorada se acostuma a ter sempre o melhor para si. – Sorri timidamente – E se ela perde o título de “sua namorada” a pessoa só vai saber se contentar se o próximo título for “sua esposa”... – Trago saliva e desvio nossos olhares.

Lembro como se fosse ontem, Camila nunca se declarava, porém quando fazia isso o meu coração tinha as mesmas reações que babacas que estão tendo esse momento: palpitações como se eu ainda fosse uma adolescente, acelerando achando que eu tenho a mesma condição física que um corredor de maratona. Mas não, aqui estava uma mulher com um coração partido e um muro ao seu redor, era como as partes do meu coração começassem a se arrastar uma para perto da outra, doidas para que todas essas partes se tornassem apenas uma novamente e como se os muros ao redor dessas partes começassem a cair como se fossem um castelo de cartas.

Mas seria preciso muito mais do que singelas declarações e alguns presentes para colocar uma pedra em cima da fortaleza –no momento frágil, de cartas-, que eu havia construído em seis anos.

Thinking Out Loud começou a tocar e nós nos olhamos, sempre ouvíamos Ed Sheeran juntas, não pude conter meu sorriso, assim como ela não conteu o dela. Continuamos a comer enquanto apreciávamos a música, trocando olhares e sorrisos discretos, Camila aproveitou todo aquele momento descontraído para sempre deixar sua mão sobre a minha, roçando sempre as pontas de nossos dedos, porém eu discretamente sempre dava um jeito de desfazer o contato.

Terminamos o jantar e resolvi mostrar o resto do apartamento, já que nós havíamos ficado sem assunto. Aumentei o volume do som para que fosse possível ouvir em outros cômodos como se estivéssemos perto do som, ainda sentadas à mesa. Assim como todos, Camila ficou encantada e maravilhada com a quantidade de prêmios no meu corredor, perguntou sobre os prêmios que ela achou mais interessante e eu expliquei quando havia ganho e até mesmo mostrei o que estava escrito em alguns, a deixando segurar.

Antes que eu pudesse mostrar a vista da sacada Camila perguntou se poderia usar o banheiro, apenas apontei para a porta e ela sorriu agradecida, voltei para a mesa e retirei os pratos, descendo as escadas com o mesmo e os deixando na cozinha. Antes de subir para o segundo andar novamente vesti meu moletom que estava jogado no sofá e só depois sai para a sacada, deixando a porta de correr aberta.

Ponderei muito a ideia de ascender um cigarro, porém não queria fumar perto de Camila, não hoje.

Escutei passos e me virei, vendo Camila de braços cruzados caminhando em minha direção, dei um pequeno sorriso e fiz um sinal com a cabeça para se aproximar mais da beirada. Apoiei no murinho e ela fez o mesmo, olhando toda a vista. Me recusei a olhar para a vista que eu tinha a possibilidade de ver todos os dias, encaro Camz, que tinha os olhos brilhando e analisava aquela vista totalmente maravilhada e surpresa com tamanha beleza.

Gostava de ver a expressão das pessoas encarando essa linda vista.

- Aqui é definitivamente meu lugar favorito da casa... – Sussurro – É muito melhor quando o sol está se pondo ou nascendo.

- É maravilhoso... – Sorri de canto, só então desviando o olhar, vendo que eu a encarava da mesma forma que ela encarava a vista – Seu apartamento é enorme e tem essa vista...

- Eu sei... – Rio meio sem humor – Eu me sentia tão sozinha, quando eu vinha aqui fora via toda essa movimentação e agitação, isso só servia para me deixar ainda mais vazia. Porém acabei chegando à conclusão que nunca foi o fato de eu morar sozinha que fazia me sentir tão vazia, como me sentia. – Camila prestava atenção em cada palavra que eu dizia – Me sentia vazia e tão incompleta porque eu não tinha as pessoas que sempre me fizeram tão bem, por perto. Hoje não me importo de dormir sozinha ou observar essa vista movimentada, porque sei que no dia seguinte vou encontrar meus amigos, pessoas que me amam e me querem bem. – Sorri.

- Está dizendo que sua vida está melhor agora? – Questiona, porém ela se referia aquele momento.

- Estou dizendo que não adianta ter todo o dinheiro do mundo e ser vazia do peito. – Sorrio de canto – Eu amo essa vista, porém não iria me importar de ter vivido o resto da minha vida com a vista que tinha da janela do meu quarto na casa dos meus pais. – Olho uma última vez para toda aquela movimentação e me viro para encarar Camila novamente - Mas é... definitivamente, minha vida está melhor. – Digo olhando no fundo dos seus olhos.

Seus olhos olham intensamente dentro dos meus, Camila dá um passo e eu sinto o meu coração acelerar de uma forma absurda, porém ela rodeia minha cintura com os seus braços finos e deita a cabeça em meu peito, fechando os olhos e respirando fundo. Estava totalmente sem reação, não entendia o porquê daquele abraço, mas a julgar pela sua pele gelada e seu corpo tremendo qualquer um poderia concluir que Camila estava com frio.

- Eu amei passar a noite com você... – Sussurra se encolhendo ainda mais no meu abraço, sorrio.

Camila não havia tentado nada e havia sido uma excelente companhia essa noite, parecia uma pessoa completamente diferente da pessoa que eu havia namorado a anos atrás. O modo que ela se portava agora demonstrava o quão ainda mais inteligente se tornou, sua forma de falar demonstrava como ela não sentia mais problemas de dizer o que pensava ou como se sentia, assim como suas roupas e gestos demonstravam o quão confiante e segura de si, Camila se sentia agora.

- Eu também, mesmo você tendo me distraído e feito eu queimar nosso jantar. – Rimos e não consigo deixar de manter o sorriso de canto estampado em meu rosto – Acho que fico te devendo um novo jantar... – A afasto, estava desconfortável com aquele abraço, olhando no fundo dos meus olhos, com um pequeno sorriso brincando em seus lábios.

- Eu amaria sair para jantar com você novamente... – Sorri, deitando sua cabeça em meu peito novamente.

Fazia muito tempo que eu não tinha um contato mais íntimo, com qualquer pessoa, deixar beijos e outras acontecerem ainda mais com essa pessoa sendo Camila me deixava levemente apavorada. Disse a ela que queria levar as coisas mais lentamente, não queria apressar absolutamente nada porque era um tempo que eu precisava para me acostumar com a ideia de tê-la em minha vida novamente.

Afastei apenas um pouco, entretanto Camila tinha as mãos em meus ombros e os olhos fechados, seus lábios estavam entreabertos e sua respiração estava ritmada.

Antes que pudesse me afastar, as mãos delicadas de Camila foram para a minha nuca e aproximaram seu rosto do meu, fazendo meu coração acelerar ainda mais e minha respiração ficar levemente descompensada, estava totalmente desconfortável com aquela aproximação repentina e inesperada.

Seus lábios estavam tão perto dos meus que eu podia quase senti-los.

Camila esmagou seus lábios carnudos contra os meus, não dando tempo da minha pessoa reagir a aquele ato. Minhas costas se encostaram na mureta da sacada quando ela colou nossos corpos. Lábios quentes e macios, do jeito que eu me recordava e um gosto adocicado de vinho me deixando extasiada.

Não sei se foi o carinho delicado em minha nuca, o fato de sua mão me puxar pela cintura com uma maldita pegada deliciosa, sem me conter entreabro meus lábios e Camila suga meu lábio inferior, invadindo minha boca com a sua língua a procura da minha para iniciar um beijo fodidamente gostoso. Camila me puxava pelo pescoço e eu aprofundava cada vez mais o nosso beijo, nossas línguas se buscavam para deixar o beijo cada vez mais intenso e só quando ela colou ainda mais nossos corpos eu me toquei o que estava fazendo.

Separei nossos lábios rapidamente, fazendo um pequeno estalinho ocorrer. Puxo o ar, tentando recuperar o oxigênio por conta da intensidade do beijo. Ela continuou próxima, entretanto com a cabeça baixa, sua respiração estava tão descompensada quanto a minha, ninguém dizia absolutamente nada e eu me sentia mais confusa do que eu estava no começo da noite.

- Camila... – Sussurro afastando nossos corpos.

- Me desculpe... – Fala em um fio de voz – Eu sei que eu não deveria ter te beijado... – Suas bochechas começam a ficar vermelhas – Mas eu não consegui me conter. - Leva as mãos até seus lábios.

- Tudo bem... – Falo em um fio de voz – Só peço para que você não faça mais isso.

A expressão de Camila ficou totalmente chocada com o meu pedido. Não havia brincado quando disse que queria que as coisas fossem mais lentas para que eu pudesse me acostumar com a ideia de tê-la em minha vida novamente, não queria que ela achasse que só porque eu estava a aceitando em minha rotina nós já poderíamos pular para a parte aonde nós namoramos de novo, eu nem ao menos sei o que quero com Camila, apenas sei que a quero ter por perto, entretanto sei que é cedo para algo a mais.

Afastamos ainda mais nossos corpos e pude perceber a decepção estampada em seus olhos, a mesma que provavelmente estava estampado nos meus.

Estaria sendo a maior mentirosa de todos os tempos se dissesse que não havia gostado do seu beijo, da forma segura que havia me segurado e da certa dominância que Camila demonstrou, entretanto ao me beijar ela também mostrou que o que eu havia dito entrou por um ouvido e saiu pelo outro.

- Eu não... – Podia ver seu nervosismo – Me desculpe... eu... – Comprime os lábios – Acho melhor eu...

- Camila? – Ela me encara com os olhos levemente arregalados – Eu só peço que você não tenha pressa, é tudo muito novo, me desculpa eu só não estou...

- Não! – Passa as mãos pelos cabelos – Não precisa se desculpar, eu agi por impulso e não deveria ter feito isso... – Ri envergonhada – É só que sua boca estava perto da minha e eu... eu não consegui resistir. – Levo minha mão até a nuca e sinto minhas bochechas ficarem vermelhas.

- A culpa é minha então? – Rimos baixo e ela assente.

- Isso não vai se repetir, Lauren. – Concordo com a cabeça – Bom, acho melhor eu ir embora, já está tarde... - A olho no fundo dos olhos e Camila desvia o olhar para o chão.

- E-Eu te acompanho! – Falo em um fio de voz.

O clima ficou bem desconfortável, o pior de tudo é que a cada passado que nós dávamos para ir até a porta de entrada uma conseguia ficar mais sem graça que a outra.

Seu casaco continuava no sofá, Camz o vestiu lentamente, me dando o prazer de ficar mais alguns instantes em sua companhia. Assim que terminou de vesti-lo levei minha mão até as suas costas e nós andamos para a porta, abri a mesma e antes que fizesse qualquer coisa Camila segurou o meu rosto e beijou minha bochecha demoradamente, dando um pequeno sorriso, pedindo desculpas mais uma vez e desejando uma boa noite, saindo logo em seguida.

Esperei a porta do elevador fechar para que eu pudesse fechar a porta do meu apartamento, me encostei na mesma e encarei a parede, soltando uma risada baixa antes de tocar meus lábios.

- Ah Camila... – Cruzo os braços, enquanto negava com a cabeça.