História Letters To Camila - Segunda Temporada - Idea

Visto a blusa da campanha e passo a mão pelas mechas curtas arrumadas do meu cabelo, me sento no pufe do quarto e calço meu All Star extremamente branco.

Só subo o meu olhar quando escuto passos lentos entrando no cômodo, dando de cara com a minha linda namorada. Camila vestia uma calça jeans escura de cintura alta -diferente da minha que era clara e com detalhes rasgados-, minha namorada também vestia a blusa da campanha na cor azul e em seus pés estavam seu All Star tão branco quanto o meu.

- Pronta? – Ajeita a touca na cabeça.

- Com certeza. – Me levanto e deixo um sorriso escapar – Eu acho que vai ser a primeira vez que vou extremamente confortável para um red carped. – Mordo o lábio inferior e Camz ri.

- Olha, eu digo o mesmo. – Rio – Tudo bem que eu fui uma única vez, mas você entendeu...

- Entendi. – Rodeio sua cintura e beijo sua bochecha – Vamos? Todo mundo deve estar nos esperando... – Concorda com a cabeça.

Hoje iria acontecer o lançamento da minha linha de roupas, assim como a primeira vez que eu falaria ao vivo sobre a campanha OneForAll, para tudo isso acontecer Veronica em parceria com Dinah e Ally bolaram um desfile onde a coleção seria mostrada aos convidados e fizeram questão de fazer uma enorme propaganda sobre o evento por quinze dias.

Nossas famílias e amigos estariam presentes, assim como grandes amigos do mundo das celebridades que fizeram questão de aparecer para ajudar a divulgar ainda mais. Havia convidado apenas com algumas pessoas sobre aparecer com a blusa da campanha, coisa que muitos dos meus amigos concordaram.

Como não caberia todo mundo em um carro e seria um evento público fomos em carros diferentes e teríamos que estar sempre acompanhadas de algum segurança, por esse motivo Travor e Big Rob esperavam Camila e eu ao lado de Keyci, para que todos nós pudéssemos finalmente ir até o evento.

O caminho todo foi bem tranquilo, Camila estava radiante e ela fez questão de tweetar alguma coisa, algo que havia virado o seu novo hobbie. Camz estava viciada no Twitter e confesso que todos os seus seguidores amavam isso, ainda mais depois dela ter postado uma foto minha dormindo toda encolhida na nossa cama enquanto ela estava “estudando”.

- Cuidado... – A alerto enquanto ajudava descer do carro.

- Ainda bem que não vim de salto. – Solto uma risada.

- Hey... – Aceno para os fãs que estavam sendo segurados pela barra de segurança – Eu só...

- Vai lá. – Camz sorri e eu roubo um selinho, soltando a sua mão para correr tirar algumas fotos com meus fãs.

- Lauren eu amei o seu novo cabelo! – Sorrio largo e colo nossos rostos.

- Obrigada. – Pisco para ela – Deixem no modo câmera, quanto mais rápido for com mais pessoas eu posso tirar fotos! – Falo alto, notando a presença de Big Rob atrás de mim.

Tirei foto com muitas pessoas enquanto assinava coisas e até mesmo gravei vídeos para pessoas que não estavam lá, mas tive que sair quando Keyci apareceu e Big Rob me puxou para longe deles, me guiando para onde Camila estava, nós teríamos que tirar fotos no tapete vermelho.

Uma das grandes estrelas da noite e um dos nomes mais falado era o de Dinah, que estava ficando muito conhecida após saírem algumas fotos dela com Alicia Keys e dois dias depois foto dela se divertindo com Zendaya. Minha amiga havia desenhado todas as roupas da coleção e com a ajuda de Keyci havia selecionado modelos para o desfile de hoje, aquele dia era um dia muito importante para sua carreira.

- Aqui. – Keyci nos posiciona e eu automaticamente sorrio.

- Vamos sair com dor na bochecha... – Camz sussurra sem mexer os lábios e eu começo a rir, a abraçando pela cintura.

- Só por rir tanto das suas piadas. – Ela me encara e eu a olho, sorrindo de canto – Linda. – Beijo sua bochecha e escuto as vozes dos fotógrafos ficarem ainda mais afobadas.

Minhas fotos com Camila não foram tão sérias como na premiação que fomos juntas, para ser bem sincera as fotos devem ter saído engraçadas, já que eu fiz careta e quando Camz viu acabou tendo uma crise de risos. Terminamos com as fotos e Keyci nos guiou para a parte com os repórteres que iriam gravar entrevistas, uns chamavam meu nome e outros chamavam o de Camila, pedindo uma entrevista para ela, assumindo o controle entrelacei nossas mãos e decidi que iriamos dar entrevistas juntas.

Como era previsto eles queriam saber sobre o tratamento de Camila, também perguntavam sobre a linha de roupas, depois perguntavam para mim quando pretendia voltar para turnê ou lançar algo novo e um deles teve até mesmo a ousadia de perguntar quando iriamos nos casar, algo que pegou tanto eu quanto Camila de surpresa.

- Nós estamos aproveitando o namoro. – Camz fala alto, já que estava muito barulhento lá.

- Estamos morando juntas e estamos levando as coisas com calma. – Sorrio para ela, que pisca para mim, acariciando minha mão.

- E você vai começar a gravar vlogs com Camila? – Anne me questiona e eu passo a mão pelo cabelo.

- É claro, não sempre, vez ou outra eu talvez apareça. – Sorrio – Mas o canal de Camila é algo dela e não me sinto no direito de invadir esse espaço, os vídeos estão lá para que ela possa compartilhar suas experiências, algo que muitas pessoas gostam e apreciam. – Falo um pouco mais alto, os gritos só ficavam mais escandalosos – Eu sou apenas uma coadjuvante em seus vídeos. – Sorrio e olho para Camila – E eu acho que não existe pessoa melhor para dar conselhos e contar histórias do que essa linda mulher ao meu lado. – A repórter sorri largo e concorda com a cabeça.

- Existem novos projetos para o seu canal? – Questiona para Camila.

- As ideias vão surgindo com o decorrer dos dias. – Comenta – Hoje iremos gravar um por de trás das câmeras aqui, tentando focar na OneForAll, então vai ser bem legal. – Keyci me cutuca, dando um sinal para que nós encerrássemos.

- Nós... – Faço um sinal com a cabeça e Anne concorda com a cabeça.

- Obrigada pela entrevista. – Nos abraça e sorri largo – Vocês fazem um lindo casal! – Não consigo deixar de sorrir e olhar para Camila, que também sorria.

- Ela foi bem gentil... – Camila sussurra abraçando meu braço.

- Foi mesmo, vamos torcer para os editores dela não distorcerem ou cortarem nada do que dissemos. – Dou de ombros e guio Camila para dentro.

Perdi a conta de quantas entrevistas eu havia dado e os repórteres acabavam editando algo para que eu acabasse ficando com uma imagem ruim diante da mídia ou de meus fãs, sempre tinha que fazer outra aparição em público e tentar limpar minha barra, mas deixei de fazer isso por um tempo, porque sabia que não importava o que eu fizesse sempre iria existir alguém para tentar me difamar.

Entramos no ambiente onde o desfile iria acontecer e fomos guiadas para nossos lugares, antes de nos sentarmos cumprimentamos nossos amigos, conhecidos e Keyci nos guiou para cumprimentar alguns patrocinadores do evento. Quando vi minha avó sentada bonitinha ao lado da minha mãe fui correndo abraça-la, fazia muito tempo que eu não a via e jurava que Dona Grace não iria pegar o avião para New York, mas acredito que ela levou em consideração o momento.

Do lugar que estaríamos sentadas poderíamos ver Ed se sentando ao lado de Taylor, que mexia em seu celular, só a presença dos dois ali daria muito o que falar. Taylor estava muito envolvida no projeto já que sua mãe teve a doença, tanto que ela fez questão de trazer a mesma no dia de hoje. Selena chegou um tempo depois, acompanhada de uma adolescente que eu nunca havia visto na vida. Zendaya chegou com Hayley e elas sentaram um pouco longe de onde os outros estavam. Pude notar que muitas figuras famosas na internet também estavam ali para apoiar a causa e até mesmo trazer alguma publicidade, algo que eu apreciava.

Lucy estaria filmando todo o evento com a equipe que Ally havia convocado, Connor estaria fazendo um favor por fora e filmaria para o canal de Camila a meu pedido.

Caminho pela passarela e os aplausos começam, apenas sorrio largo e aceno com a cabeça, paro no centro e então levo o microfone para perto da minha boca.

- Hoje eu estou com um microfone, mas não vou cantar! – Todo mundo ri e eu sorrio – Hoje vamos celebrar a simplicidade com um toque de puro charme, as peças dessa linha de roupa foram desenhadas exclusivamente por uma boa causa por uma das melhores profissionais que eu já tive a honra de trabalhar! – Olho para a mãe de Dinah e sorrio, escutando os aplausos ficarem cada vez mais altos – A coleção de hoje foi desenhada pela a incrível Sra. Dinah Jane Hansen com o intuito de arrecadar fundos para estudos e pesquisas, além de auxiliar pessoas que tem qualquer tipo de câncer! – Todos aplaudem ainda mais alto, alguns até assoviam – E sem mais delongas... espero que gostem da linha Sweet Disposition. – Sorrio largo e pouso para as fotos antes de descer os degraus no fundo da lateral da passarela.

Andei apressadamente, enquanto sorria e acenava para as pessoas sentadas que me cumprimentavam, peguei o lugar entre Camila e Tori, entrelaçando minha mão com a da minha namorada.

- Vai começar... – Sussurro quando as luzes se apagam e todos começam a se sentar.

- Estou ansiosa... – Camz comenta e eu sorrio.

- Eu também! – Tori fala animada e eu rio.

- Só vai ter mulher bonita agora. – Escuto Chris comentando com Taylor, o que me faz revirar os olhos.

- Por isso o David vai fechar os olhos agora! – Ashley faz que vai cobrir os olhos dele e todo mundo ri, mas ela se limita a deixar um beijo na bochecha do namo

Uma luz focou na entrada por onde as modelos entrariam, logo ‘Sweet Disposition’ apareceu e todo mundo aplaudiu quando o instrumental de Same Old Love começou a tocar e a primeiro modelo entrou, Selena prontamente olhou para mim e sorriu largo. Havia feito questão de que as músicas deles tocassem em algum momento, seria uma forma de pré-agradecimento a todos eles.

A cada modelo que entrava e saía as palmas ecoavam pelo ambiente, podia notar todo mundo comentando as roupas simples e maravilhosas que Dinah havia desenhado. Eram roupas que teriam preços acessíveis e que fariam qualquer pessoa se sentir bem, ao menos era o que eu esperava que acontecesse.

As modelos estavam maravilhosas e sempre que paravam davam um sorriso para a foto, Camila estava tão interessada que sempre comentava uma coisa ou outra, podia notar meus amigos dançando ao som das músicas uns dos outros e conversando enquanto apontavam para as modelos.

Quando o instrumental de uma das minhas músicas começou a tocar soube que seriam as últimas modelos a desfilarem, na metade da música abracei Camila e beijei a mão da minha avó, que sorria orgulhosa para mim, saindo de lá acompanhada de Keyci para fazer a surpresa em agradecimento a Dinah, indo para o fundo do lugar.

Peguei o buque de rosas vermelhas enorme e então escutei a enorme quantidade de aplausos, Keyci apontou e eu corri para subir os degraus, entrando na passarela e também sendo aplaudida, Dinah se virou e riu quando me viu caminhando em sua direção com o buque de rosas, entreguei a ela e nós nos abraçamos.

- Por favor mais uma salva de palmas para a Sra. Dinah Jane Hansen, a artista genial por de trás desse projeto! – Todos continuam de pé aplaudindo e minha amiga sorri com os olhos marejados.

- Vamos? – Seguro a sua mão e andamos rebolando até a frente da passarela, sorrindo e então caminhando de volta para que fossemos para os fundos – Isso foi tão surreal... – Murmura quando chegamos onde as modelos antes se arrumaram – Você viu? Eles gostaram...

- Eu vi! – Rio, a abraçando novamente – Você foi incrível! – Vejo Lucy se aproximando com a câmera – Pessoal essa aqui é a melhor estilista de todos os tempos. – Beijo a bochecha de Dinah por muito tempo e ela ri, me empurrando pelo rosto, arrancando risadas das pessoas que estavam a nossa volta.

- DINAH! – Escuto a voz de sua mãe e Milika logo corre abraçar Dinah, que começa a chorar emocionada.

- Esse daqui é todo o por de trás das câmeras, esse provavelmente uma das únicas vezes que as modelos vão poder sair vestindo a roupa do desfile para ir à festa! – Lucy ri por de trás das câmeras – A maioria dos convidados estão com as blusas da campanha, então não há necessidade para se vestir extremamente bem! – Comento ajeitando o cabelo – Olha quem está chegando aqui! – Abro um largo sorriso.

Minha avó estava com a blusa da campanha, estava com um braço entrelaçado com o de Camila e o outro estava entrelaçado com o de Taylor. Assim que a vi pude finalmente abraça-la direito e sem qualquer pressa, estava morrendo de saudades daquela mulher incrível, que fez questão de me abraçar apertado e me parabenizar por tudo.

- Vovó fale ‘oi’ para todo mundo que está assistindo isso hoje. – Sorrio largo, beijando sua bochecha.

- Oi pessoal... – Rio com o seu jeitinho adorável.

- Essa daqui é a vó mais linda do mundo tudo. – A abraço e minha avó ri – E eu sou sua neta favorita, não sou? – Questiono e automaticamente ela me olha incrédula, o que me faz soltar uma gargalhada, mesmo que eu fosse ela jamais iria admitir.

Todos nós ficamos na parte de trás conversando um pouco, Patrick e Marie iriam voltar para casa com Sofia, assim como meus pais iriam levar a minha avó para o apartamento já que ela deveria estar cansada da sua viagem. Meus amigos e eu combinamos quem iria em qual carro, o que não demorou muito para ser decidido.

Assim que saímos pela porta de trás os gritos davam para serem escutados, quando viram David ao meu lado começaram a gritar pelos nossos nomes, mas como precisávamos ir para a festa começamos a pedir desculpas por não poder tirar foto enquanto os seguranças nos empurravam em direção aos carros.

- Então, o que achou? – Questiono para Camila, que deita a cabeça em meu ombro.

- Eu amei todas as roupas! – Comenta e eu sorrio largo – Quero algumas delas para mim!

- Pode deixar que eu providencio isso! – Beijo sua testa e acaricio sua coxa.

O caminho até a festa demorou um pouco, mas nada que nos deixasse extremamente atrasadas. Fiz questão que Camila vestisse uma jaqueta antes de descermos do carro já que estava esfriando, peguei minha jaqueta e só então descemos do carro de mãos entrelaçadas, sendo guiadas apressadamente por Big Rob e Travor para dentro do local.

Estava tudo perfeitamente organizado, a música tocava agitando uma boa quantidade de convidados que já estavam por lá, Camila roubou um beijo e entrelaçou sua mão com a de Tori já que elas iriam juntas ao banheiro. Keyci não demorou nada para aparecer e me explicar como deveria me portar enquanto falasse sobre a campanha e sobre a linha de roupas, algo que eu prestei muita atenção.

Consegui conversar um pouco com o Simon e sua esposa quando eles chegaram na festa, agradeci a presença deles e o fato deles estarem usando as blusas da campanha, consequentemente fazendo uma propaganda para a marca. Keyci interrompeu nossa conversa quando notou que já havia uma boa quantidade de pessoas na festa, olhei ao meu redor e vi que Camila se divertia com Ally, fiz um sinal com a cabeça para Taylor e então subi os degraus e fiquei em cima do pequeno palco, pegando o microfone que o DJ havia me entregado.

- Boa noite... – Murmuro assim que o DJ diminui o volume da música – Eu prometo que é a última vez que falo essa noite! – Todo mundo ri e eu sorrio sem graça – Só queria agradecer mais uma vez a presença de vocês para contribuir com essa campanha que com certeza vai mudar a vida de muitas pessoas. – Olho para todos aqueles rostos e me sinto nervosa – Então antes de começarmos realmente a festa eu só queria que vocês vissem o comercial da campanha OneForAll que está sendo lançada no dia de hoje, todo o dinheiro arrecadado com a linha de roupas da Sweet Disposition será doado para pesquisas e auxiliara pessoas com câncer ao redor do mundo. – Todos aplaudem e eu sorrio, apontando para os dois telões que ficavam ao lado do palco.

Pude perceber que todos prestavam atenção no que era dito no pequeno vídeo, algumas pessoas até se chocaram com os dados que citamos rapidamente e pude ver muitas pessoas comentando entre si sobre quem aparecia no vídeo. Diferente do que que eu achei que Lucy faria ela cortou a fala de todo mundo, “dando” uma palavra para cada um, no final formando a frase “Você pode contribuir e fazer a diferença, acesse o site e ajude milhões de pessoas”, então o site aparecia e logo embaixo #OneForAll.

O salão inteiro explodiu em palmas e eu sorri animada, me curvando para agradecer, peguei o microfone novamente e agradeci todos que haviam participado do vídeo e agradeci mais uma vez Dinah e Lucy, citando Veronica e Ally logo em seguida, que foram aplaudidas por todos os convidados.

Desejei uma boa festa a todos e então desci as escadas, caminhando em direção a minha namorada que sorria largamente.

- Eu estou tão orgulhosa de você... – Sussurra e eu abraço a sua cintura.

- Isso é ótimo. – Acaricio sua bochecha – Porque nada disso estaria acontecendo se não fosse por você. – Selo nossos lábios em um selinho demorado.

- Ok casal, chega disso... – Chris nos interrompe – Eu vou dançar com a minha cunhada... – Sinto o meu coração acelerar, não gostava quando Camila se esforçava muito – Relaxa, vou cuidar bem dela! – Pisca para mim e eu sorrio, concordando com a cabeça.

- Isso está incrível! – Abraço Ally, que sorri – Obrigada pela ajuda.

- É o meu trabalho, babe! – Pisca e eu rio – Mas fico feliz que tenha gostado.

- Eu vou dançar tanto hoje! – Normani aparece com um copo em mãos – Venha, Taylor.

- Opa, nós vamos também. – Tori puxa Hannah pela mão e as duas vão diretamente para a pista de dança.

- Eles estão animados hoje... – Rio conforme via todos eles dançando em seu próprio mundo no meio de todo os outros convidados.

- Eles têm que estar... – Ally me encara – Não acha que depois de tanta coisa triste que aconteceu conosco não merecemos sermos felizes? – Suspiro e concordo com a cabeça – E se Deus quiser nós só vamos melhorar nosso humor! – Pisca e assinto.

- Assim espero. – Vejo Camila me observando e ela faz um sinal com a cabeça antes de meu irmão a rodopiar, prontamente vou até ela – Venha Ally, vamos nos divertir um pouco.

Não deveria mais existir espaço para a tristeza.

(...)

Sinto alguns beijos em meu pescoço, que sobem para a minha orelha e dão uma leve mordiscada na mesma, uma mão delicada e quente entra por debaixo da minha blusa e acaricia meu abdômen, me fazendo suspirar.

- Eu sei que você já acordou... – Camila ri roucamente perto do meu ouvido e eu sorrio, envolvendo sua cintura.

- Não tem como não acordar assim. – Escondo meu rosto em seu pescoço cheiroso.

- Então levante, porque nós vamos tomar café da manhã com a sua avó... – Afasto meu rosto e a olho confusa – Ontem à noite no restaurante combinei com ela de sairmos para tomar café da manhã... – Sorrio de canto.

- Tudo bem. – Beijo seu ombro – Vou tomar banho e então nós podemos passar pega-la na casa de meus pais. – Camila se deita sobre mim e eu rio quando ela solta o peso – Eu faço isso depois que você sair de cima de mim...

- Desculpa, é que você está tão quentinha e essa sua carinha inchada de sono não ajuda em nada. – Olho para baixo e rio – Eu só queria ficar assim por mais um tempo.

- Nós podemos ficar assim por um tempo... – Ela deita a cabeça em meu peito e eu acaricio sua cabeça, beijando o topo dela.

- Você é cheirosa até essa hora da manhã e mesmo sem tomar banho, sabia?! – Rio pelo nariz e as pontas dos meus dedos começam a passear pelas suas costas – É uma tentação te ver assim e não me juntar a você por alguns minutos. – Cuidadosamente rolo pela cama com Camila e ela se vira, dando um sorriso tímido, levando sua mão até os meus cabelos.

- Nós precisamos ir, você sabe, não sabe? – Concorda com a cabeça – Amanhã a gente fica abraçadas assim. – Beijo sua bochecha e me levanto.

Caminhei até o banheiro e antes de entrar me virei e pude notar Camila me secando, apenas ri e entrei no outro cômodo, pegando minha escova de dentes e o creme dental. Depois de escovar os dentes fui direto para o banho, fazendo questão de lavar o meu cabelo, sequei meu corpo e fui direto para o closet escolher uma roupa, encontrando Camz escolhendo uma jaqueta.

Minha namorada vestia uma calça jeans bem escura, uma blusa e por cima um suéter listrado preto e branco e uma jaqueta preta com uma touca enorme, fazendo questão de pegar uma touca também preta e calçar sua bota de couro preta. Soltei minha toalha no chão e pude notar que o olhar de Camila logo me procurou, por estar frio não demorei muito para escolher minhas peças de roupas intimas, vestir minha calça jeans também escura, uma blusa branca de mangas cumpridas e soltinhas com um tecido diferente do que estava acostumada a usar, calcei meus saltos altos pretos e para o toque final pegue minha jaqueta de couro preta.

Descemos as escadas e olho ao meu redor, sentindo falta de algo. Acontece que Marie, Patrick e Sofia haviam voltado para Miami um dia depois do desfile, provavelmente por estarem com saudades de casa e por terem certeza que Camila estava em boas mãos, mas isso não os impedia de ligar sempre para a minha namorada.

Assim que tirei o carro da garagem suspirei aliviada a não ver nenhum paparazzi tentando tirar alguma foto, fiz o caminho tranquilamente enquanto Camila cantava baixinho a música que ecoava pelo carro. Olho para o relógio digital que ficava no painel do carro e me surpreendo quando vejo o quão cedo havíamos acordado, ainda eram nove horas da manhã, nove e sete para ser mais exata.

- Bom dia... – Cumprimento o porteiro do prédio dos meus pais e ele sorri.

- Bom dia, Sra. Jauregui, é muito bom te ver. – Me limito a sorrir e apertar o botão do elevador, aguardando ao lado de Camila, que coçava o olho esquerdo tentando não borrar sua maquiagem.

- Eu amo passar um tempo com a sua avó! – Camz comenta entrando no elevador logo depois de mim – Ela é sempre tão gentil comigo. – Sorri apertando o botão do decimo andar.

- Ela ama você! – Abraço Camila por trás e beijo seu pescoço – Sabia que foi ela que insistiu para que eu desse uma segunda chance para nós? – Me encara descrente.

- Sério?

- Muito sério, eu fui pedir conselhos para ela e então ela mandou eu parar de ser cabeça dura e dar uma segunda chance para o que nós tínhamos, porque se eu estava em dúvida era porque ainda sentia algo por você. – Rio, ela havia sido tão direta aquele dia.

- Vou agradece-la hoje, então. – A puxo para fora do elevador e assim que ficamos na frente da porta Camila aperta a campainha, selando nossos lábios em um rápido selinho.

- Bom dia... – Minha mãe abre a porta com um pequeno sorriso e cara de quem acabou de acordar – Achei que sua avó iria fazer um buraco no chão de tanto que andou pela casa, estava animada para sair com vocês... – Olha para trás – Certeza que ao escutar a campainha foi correndo pegar a bolsa... entrem! – Da espaço e então noto que ela estava de pijama.

- Eu acordei Lauren mais cedo só para que não a fizéssemos esperar! – Concordo com a cabeça e caminho até o sofá, me jogando no mesmo, Camila senta civilizadamente ao meu lado.

- Lauren! – Minha avó aparece com um largo sorriso e eu prontamente me levanto – Você está tão bonita. – Rio, ela sempre dizia isso.

- Você que está uma gatona, dá uma voltinha! – Seguro a sua mão e faço ela rodar, arrancando uma risada de todo mundo na sala.

- Camila! – Rapidamente me esquece e vai até a minha namorada, a abraçando apertado – Você também está maravilhosa hoje, como sempre. – Sorrio apaixonada quando minha avó acaricia a bochecha de Camz – Clara se acontecer qualquer imprevisto Lauren lhe avisa, não é mesmo, querida? – Me olha e eu concordo com a cabeça.

- Nós já vamos. – Abraço minha mãe e então vejo Camila caminhar de braço dado com minha avó, indo na frente.

Assim que entramos no elevador minha avó contou sobre como se sentia apavorada dentro de uma caixa de aço como aquela, também confessou que morria de medo que aquilo caísse a qualquer momento e mesmo que Camila ou eu tentássemos fazer ela se sentir segura de nada adiantava.

Ajudei minha avó a entrar no carro e depois abri a porta para Camila, que parecia ansiosa em passar um tempo com a minha avó, o que me deixou ainda mais ansiosa. O caminho todo minha avó foi nos contando sobre todos os lugares que Taylor havia a levado em New York, também contou sobre as compras que havia feito e até mesmo me contou que a mulher que viu minha foto em sua carteira não acreditou que eu era sua neta, o que me fez rir.

Minha avó era uma das pessoas que mais sentia orgulho de toda a minha carreira, ela sempre fazia questão de dizer a todos que eu era sua neta, mas quando as pessoas não acreditavam nela, ela acabava ficando extremamente frustrada, o que me arrancava boas risadas.

Estacionei bem na frente da cafeteria que Camila e eu tanto amávamos, descemos do carro e não demoramos nada para entrar no estabelecimento, nos guiei para uma boa mesa e então nós ocupamos os lugares, Camila ficou ao meu lado e minha vó ficou na nossa frente, tendo um largo sorriso animado.

Jessie não demorou nada para vir nos entregar os cardápios, minha avó não perdeu a oportunidade de traçar o comentário de que nunca havia visto uma nova-iorquina tão educada quanto ela –claro que não na sua frente-. Quando a garçonete voltou depois um tempo fizemos nossos pedidos, minha avó resolveu pedir o mesmo que Camila enquanto eu fiquei com o especial da casa, as waffles.

- Esse é um lugar tão agradável! – Dona Grace comenta olhando ao redor – E é quente! – Nós rimos – Não sei como vocês conseguem viver nesse frio.

- Eu acostumei. – Camila dá de ombros – Mas nada supera o clima delicioso e quente de Miami, disso eu tenho certeza. – Pouso a minha mão em sua coxa.

- Eu prefiro frio, calor é algo horrível! – Reviro os olhos.

- Eu também gosto de frio, mas não um frio que você quase voa com o vento gelado ou quase congela assim que pisa na rua. – Solto uma gargalhada com a fala de minha avó – Nunca vou entender vocês, jovens, com seus gostos estranhos, celulares e programas vermelhos na TV...

- Programas vermelhos na TV? – Camila me olha confusa.

- Ela está se referindo ao Netflix – Sussurro e Camz ri, assentindo – Vovó se a revolta é grande por não conseguir assistir Netflix eu te ensino. – Começo a rir e Camila me repreende com o olhar.

 - Aquilo é muito complexo para mim, Taylor me fez assistir uma séria que só tinham mulheres na cadeia fazendo obscenidades e não que eu não saiba que o ser humano não faz isso, mas muito explicito para a minha pessoa. – Camila e eu começamos a rir, tentando não rir extremamente alto.

- Qual é o nome da série, vovó? – Provoco, sabendo que minha avó é uma mulher muito fina e ficaria extremamente sem graça em continuar no assunto.

- Você acha que eu me lembro? – Me encara indignada – Todos os programas lá são assim?

- Não, acredite, não são! – Camila comenta e minha avó a encara curiosa – Tenho certeza que Lauren e eu conseguimos mostrar programas com cenas menos parecidas do que Orange Is The New Black e que com certeza vão lhe agradar!

Enquanto comíamos tentávamos explicar para minha avó qual era a graça dos aplicativos do celular e porque gostávamos tanto de assistir Netflix, também aproveitei para explicar para ela como usar o aplicativo de música que havia em seu celular, o que a fez prestar atenção como se aprender aquilo fosse crucial para a sua vida.

Terminamos de comer e minha avó quis levar alguns docinhos para meus pais e irmãos, escolheu pacientemente e Jessie embrulhou tudo rapidamente, nos entregando, fiz questão de pagar a conta e não demoramos muito para sair de lá. Quando questionei para a minha avó se ela queria conhecer outro lugar ela apenas negou, pedindo para voltar a casa de meus pais, assim fiz.

Minha avó tinha depressão, então tudo poderia estar muito bem uma hora e na hora seguinte ela ficava extremamente mal, tão mal que preferia se trancar no quarto a ficar com a família. Sua depressão havia melhorado bastante, mas Dona Grace geralmente ficava triste quando via ou ouvia algo relacionado ao meu avô, isso geralmente desencadeava uma tristeza muito maior do que ela poderia controlar.

O caminho todo Camila e eu tentávamos mexer com minha avó, puxar assunto, mas suas respostas eram evasivas e logo em seguida sua cara ficava séria e seus olhos não brilhavam na mesma intensidade de sempre, o que partia o meu coração e me deixava levemente apavorada.

- Deixe que eu te ajudo... – Desço do carro.

- Tchau Camila, não precisa se incomodar em descer! – Minha namorada sorri fraquinho e concorda com a cabeça.

- Nós vamos te levar para o aeroporto essa semana, ok Grace? – Camz fala e minha avó se vira, sorrindo gentilmente.

- Tudo bem, querida, se cuide. – Começa a andar de mãos dadas comigo e então entramos no prédio – Não precisa me acompanhar até lá em cima, Laur. – Acaricia meu rosto – Volte para a sua namorada. – A ignoro e entro no elevador com ela.

- Eu quero ficar um pouco com você, vovó. – A abraço e fecho os olhos, respirando fundo – Sinto muitas saudades suas.

- Eu também, querida. – Segura o meu rosto e beija a minha bochecha – Mas sei que se você está longe é porque está realizando seus sonhos, então as saudades ficam bem menores. – Sorrio de canto e abraço novamente – Eu tenho muito orgulho de você, Lauren.

- E eu tenho orgulho de ser sua neta. – Sussurro e sinto meus olhos arderem.

A porta estava aberta, por esse motivo entramos no apartamento, todo mundo estava tomando café da manhã e falei que minha avó queria ir ao quarto, por esse motivo caminhamos até o mesmo e Dona Grace não demorou nada para retirar seu casaco pesado e seus sapatos.

- Vai dormir? – Questiono, sabendo exatamente o que ela faria pelo resto do dia.

- Vou apenas me deitar, querida. – Me abraça – Obrigada pelo café da manhã e pela companhia. Desculpe por não fazermos mais coisas juntas. – Acaricio suas costas – Nos vemos outro dia... – Se deita na cama sem se importar se eu já havia saído ou não.

- Tchau vovó. – Murmuro e não responde e eu comprimo meus lábios, saindo do quarto.

Era estranho pensar que uma mulher tão cheia de energia e apaixonada pela vida pudesse ficar tão triste, desistindo de seguir sua vida. Mas eu não a culpava, por quase perder Camila nesses últimos meses eu sei quase como ela se sente, porque sabia que se caso algo acontecesse com Camz eu ficaria na ruina.

Me despedi de meus familiares e disse que nós nos veríamos outro dia, entrei no elevador e não demorei para chegar no térreo, me despedindo do porteiro e consequentemente indo ao carro, encontrando Camila pendurada no celular, entrei no carro e liguei o mesmo e sai de lá sem dizer uma única palavra.

Durante o caminho Camz segurou minha mão e beijou a mesma, sua expressão gritava pena e eu me sentia horrível, odiava ver minha avó daquela forma.

Chegamos em casa e eu fiquei parada dentro do carro, quando Camila viu que eu não me movia permaneceu quietinha no acento ao lado, apenas aguardando eu ter alguma reação ou então dizer alguma coisa, mas eu apenas respirei fundo diversas vezes seguidas e engoli a vontade de chorar que estava impregnada em mim.

Subimos para nosso apartamento e Camila fez questão de ficar abraçada comigo o caminho todo, assim que entramos em casa fomos para nosso quarto, apenas me livrei da jaqueta, dos sapatos e da calça, me escondendo debaixo do edredom. Senti a cama afundar ao meu lado e logo senti o braço fino de Camila rodear minha cintura e sua respiração bater diretamente na minha nuca.

- Eu não gosto de vê-la assim... – Murmuro e Camz beija a minha nuca.

- Eu sei que não, amor. – Roça o nariz em minha orelha – Mas você sabe que ela não tem como evitar se agir daquela forma, mesmo que queira. – Me abraça ainda mais apertado.

- Eu queria poder fazer algo. – Camz suspira.

- Lo por mais que você tente algumas coisas não podem ser mudadas. – Meus olhos ficam marejados – Não chore... – Me viro e escondo meu rosto em seu peito, a abraçando.

Camila deixou que eu deitasse com a cabeça em cima de um de seus braços e com a mão desse mesmo braço ela começou a fazer um cafuné, enquanto eu molhava seu suéter com as minhas lágrimas. Ficamos ali por bons minutos e minha namorada nada disse, apenas continuou acariciando meus cabelos.

Eu sabia que minha vó adoecia cada vez mais, só não queria acreditar.

(...)

Por conta de eu ter ficado pensativa o dia todo sobre pessoas doentes acabei lendo os comentários dos vídeos de Camila junto dela, Camz fazia questão de responder o máximo de pessoas que conseguia, mas mesmo assim não conseguia dar respostas a todos já que a cada dia novos comentários eram criados.

Um chamou a nossa atenção, nele a menina Jaqueline reclamava que sua mãe estava internada na UTI em um hospital em New York e quase não havia chances de ela sobreviver já que as condições do hospital não eram lá essas coisas, inclusive o governo havia cortado gastos já que o hospital dava muitas dívidas.

A tarde mesmo convoquei Big Rob para nos acompanhar aquele lado da cidade, o local era um ambiente perigoso e tinha um grande índice de assaltos, porém assim que sugeri para que Camila e eu fossemos para lá minha namorada não pensou duas vezes antes de aceitar e ficar extremamente animada para irmos.

Queria analisar a infraestrutura do local e os profissionais que ali trabalhavam, uma boa verba da campanha poderia ser doada para lá, ajudando milhares de vidas.

- Eu acho que comi demais. – Camz reclama, se recostando no banco do carro – Aqueles rolinhos estavam uma delícia. – Sorrio e entrelaço nossas mãos.

- Você tem certeza que é aqui? – Big Rob concorda com a cabeça.

- Eu acho que você tem que virar ali. – Travor aponta e assim o meu outro segurança faz – Mila você comeu o rolinho daquele lugar que eu sugeri?

- Esse mesmo! – Fala animada – É uma delícia, você deveria nos indicar mais lugares para nós comermos.

- Acho que chegamos... – Big Rob interrompe a conversa dos dois e então o carro todo fica em silencio.

Uma ambulância havia acabado de sair às pressas da frente do hospital e um homem estava sendo empurrado para dentro do hospital, haviam poucos carros por perto e para ser perto de um hospital o ambiente era extremamente balhurento. Descemos do carro e Big Rob fechou o mesmo, ele foi atrás enquanto Travor ia na frente nos guiando para entrar dentro do hospital.

Choque. Essa era a palavra que iria melhor me definir naquele momento, haviam cinco pessoas discutindo com a recepcionista, que tentava conversar com eles enquanto tinha um telefone pendurado no ouvido, observei ao redor e notei enfermeiras correndo de um lado para o outro, não vi nenhum médico em momento algum. Continuamos caminhando pelo hospital e não havia simplesmente ninguém, apenas pacientes, a falta de funcionários era tão grande que nenhum havia nos parado ou questionado o que fazíamos ali.

Olhei para a minha namorada e vi sua expressão horrorizada, Camila tirou sua camisa jeans e amarrou a mesma na cintura, caminhando pelo local tendo todos nós em seu encalço. Só paramos de andar quando um cheiro horrível pode ser sentido, me senti enjoada, aquilo definitivamente era cheiro de sangue.

- Enfermeira? – Escuto uma voz apavorada, Camila puxa a cortina e eu quase desmaio a ver a enorme quantidade de sangue naquela cama – Moça me ajuda, chama uma enfermeira...

Era uma menina. Ela não deveria nem ter quinze anos e tentava inutilmente estancar o sangue que saia da barriga do seu irmão, talvez.

- Ela saiu, pediu para que eu continuasse apertando e não voltou... – As lágrimas rolavam pelo seu rosto – Ai meu Deus. – A menina grita apavorada quando vê uma quantidade absurda de sangue em sua mão, sinto toda a minha janta querer sair pela minha boca.

Odiava sangue, sempre odiei.

- Travor procure alguém. – Camila entra no compartimento e leva a mão até a testa do garoto, para checar a temperatura – O que houve?

- Ele se envolveu em uma briga e... – Minha namorada prontamente concorda com a cabeça.

- Tudo bem... – Sorri gentil – Big Rob vai te levar para lavar as mãos e ligar para um responsável, você já ligou para a sua mãe? – Nega com a cabeça, Camila mexia nas máquinas e não demorou nada para que ela retirasse seus anéis e os guardasse na calça jeans, pegando um par de luvas dentro da caixinha – Então faça isso.

- Camila? – A chamo – O que você está fazendo?

- Lauren ele pode ter uma parada cardíaca, está perdendo muito sangue! – Fala séria pressionando o ferimento – Eu preciso limpar isso e analisar o ferimento para saber se foi muito profundo. Conecte os fios no peito dele, rasgue a camisa! – Se abaixa procurando alguma coisa – Anda, Lauren! – Ordena e eu me aproximo do corpo.

Assim que puxei com força a camisa azul todos alguns botões saíram da camisa e uma quantidade maior de sangue ficou aparente em seu abdômen, olhei para a enorme quantidade de fios e peguei os primeiros que vi na minha frente, os colocando em seu peito, vendo as máquinas começarem a monitorar seus batimentos. Retirei os anéis que estavam em meus dedos para guarda-los no bolso de trás, arregacei as mangas, da camisa e peguei um par de luvas, as colocando logo em seguida.

- Eu não... – Fecho os olhos – Eu não gosto de sangue, Camz.

- Eu também não gosto, é um sinal ruim, mas já está parando, está vendo?! – Vejo que ela tinha muitas coisas em mãos – Tire as mãos. – Passa um paninho limpo e passa água oxigenada – Não está infeccionado. – Sorri aliviada – Só precisamos monitorar o... – A máquina começa apitar.

Aquilo significava uma parada cardíaca, o que se fazia em uma parada cardíaca?

- Merda. – Camila rosna.

Minha namorada se aproximou do peito do garoto e começou uma massagem cardiovascular, pressionando seu peito diversas vezes e então fazendo pausas, começando novamente. Camila estava apavorada porque estava vendo que nada estava adiantando, porém quando ela fez a última pausa e fez mais uma, a máquina voltou a monitorar os batimentos.

Peguei tudo o que Camila pediu para mim, cuidadosamente ela começou a limpar ainda mais minuciosamente o ferimento para em seguida pedir a agulha e a linha, assim que entreguei fiquei de costas e evitei olhar para aquilo. Após alguns instantes uma enfermeira chegou e ficou chocada ao nos encontrar ali e o paciente já tratado, mas antes que a mulher saísse Camila informou que ela deveria checar se ele precisava ou não de uma transfusão de sangue, só que com a quantidade absurda de sangue o homem definitivamente iria precisar.

Nos afastamos do local quando Camila assegurou que o paciente receberia os cuidados necessários e eu entrei no primeiro banheiro que vi, me livrando as luvas e começando a lavar minhas mãos e antebraços, não tinha boas recordações de coisas desse tipo. Camila entrou instantes depois, fazendo o mesmo que eu e então me analisando por bons minutos, apenas a abracei.

- Estou orgulhosa... – Camz sorri e esconde o rosto em meu pescoço – Mas assim como eu você sabe que não pode se esforçar assim... – Comento e Camila revira os olhos, pegando mais papel e então puxando a porta para que nós pudéssemos sair.

- Eu não iria deixar aquele garoto morrer por falta de atendimento médico! – Fala sincera – Além do mais faz meses que eu não faço algo do tipo, estava com saudades. – A olho incrédula.

- Você viu a enorme quantidade de sangue? Você sentiu falta daquilo? – Camila ri e me abraça, beijando minha bochecha.

- Você se saiu bem para uma pessoa que quase desmaia ao ver sangue. – Big Rob e Travor se aproximam.

- Nós vamos embora? – Big Rob questiona e eu nego com a cabeça.

- Precisamos procurar o diretor do hospital, ou algum médico responsável para que possamos conversar sobre tudo de uma forma franca. – Camila comenta – Poderíamos ir até a recepção... – Assinto e então entrelaço nossas mãos, fazendo o caminho de volta.

Antes de chegarmos a recepção pude ver a menina assustada, observando o seu irmão ainda desacordado de longe, ela tremia e tinha o olhar fixo na naquele lugar, pedi para que Camila fosse na frente com Travor. Me aproximei e toquei o seu ombro, vendo sua expressão assustada, tirei a camisa verde musgo de mangas cumpridas que eu usava e coloquei sobre seus ombros.

- Vai ficar tudo bem, ok? – Ela concorda com a cabeça e eu abraço – Sua mãe está vindo, não está? – A menina me encara e concorda mais uma vez – Se você quiser posso...

- Jessica? – Olhamos ao mesmo tempo para cima e vejo uma versão mais velha da menina com uma cara apavorada, a menina se levanta e corre abraçar a mãe – O que aconteceu com... Marcos? – As lágrimas começam a rolar pelo rosto da mãe e eu sinto o meu coração apertar.

- Ele vai ficar bem! – Falo com a voz meio tremula, a mulher me analisa friamente e Big Rob prontamente fica logo atrás.

- Você é a médica? – Arqueio as sobrancelhas.

- Oh não... – Cruzo os braços – Sou apenas uma visitante do hospital, estava passando quando a vi chorando, haviam deixado seu filho sozinho e... Camila e eu o ajudamos. – A mulher franze o cenho – Minha namorada é médica e ela cuidou dele, estamos visitando o hospital para fazer investimentos! – A mulher tragou saliva e limpou as lágrimas que rolavam pelo seu rosto.

- Obrigada, de qualquer forma. – Abraça a filha e antes que comecem a andar na direção de Marcos a garota faz com que vai tirar a camisa que eu havia lhe emprestado para se aquecer.

- Não se preocupe, pode ficar. – Sorrio de canto – Vamos. – Faço um sinal com a cabeça para Big Rob, que anda ao meu lado.

A recepção estava muito mais calma, agora a mulher falava com Camila, mas pela cara frustrada da minha namorada pude ter certeza que ela não estava conseguindo o que queria, por esse motivo me aproximei para descobrir o que estava acontecendo. Acontece que o diretor do hospital estava viajando, eles estavam com falta de profissionais porque tiverem que despedir alguns e o médico responsável estava ocupado.

Ainda não satisfeita Camila questionou sobre uma paciente com o sobrenome Morgan, a recepcionista não demorou nada para informar onde era aquela área mas contou que nós não poderíamos entrar por não ser da família e muito menos por não termos autorização para entrar, algo frustrantemente compreensível.

Nos afastamos da recepção e então tentamos falar com alguma enfermeira para conseguir alguma informação sobre Jaqueline Morgan, se alguém poderia chama-la para conversar conosco ou algo do tipo, mas todos estavam ocupados demais para fazer isso. Assim que uma pessoa se levantou fiz Camila sentar, minha namorada olhava para todos os lados e tinha uma postura irreversível.

- Camz e se a gente tentar entrar em contato com ela de outra forma? – Questiono bocejando.

- Não. – Cruza os braços – Não vou sair daqui. – Me escoro na parede.

- E se ela não estiver aqui hoje? – Camila me encara.

- Não estou mais esperando por Jaqueline. – Franzo o cenho – Vou esperar o médico responsável aparecer, então nós vamos conversar com ele.

- Conversar sobre o que? – Pergunto perdida.

- Vamos fazer ele autorizar a transferência da mãe de Jaqueline no hospital que eu trabalho.

- O que? – Arqueio as sobrancelhas – Camila você ficou...

- Lauren um menino quase morreu a minutos atrás, não havia ninguém a não sermos nós para salva-lo! – Olha no fundo dos meus olhos – A menina assiste aos meus vídeos e não acredita que alguém possa receber um tratamento digno nesse país. – Suspira – Ela está frustrada com a vida, ok?! E eu quero que a mãe dela receba os melhores tratamentos que alguém pode receber...

- Como nós vamos...

- Eu vou pagar e me encarregar de conversar com o diretor do meu hospital, eu tive uma ideia.

- Uma ideia? – Coço a testa.

- Saúde é uma das coisas básicas na vida de qualquer ser humano, algo que todos merecem receber. Se um paciente com um ferimento simples de se tratar quase morreu aqui, imagina ela que está com uma doença... – Respira fundo – E se depender de mim outros pacientes com câncer também vão ter outras oportunidades de serem bem tratados. – Olho no fundo de seus olhos, sem saber o que dizer – Vou apresentar um projeto para os meus diretores, talvez nós possamos abrir uma ala onde pessoas que não tem condição de pagar um tratamento possam ter um atendimento muito melhor.

Fico um tempo em silencio, sem saber o que dizer, a ideia dela era ótima, só queria saber como ela iria conseguir convence-los disso.

- Tudo bem, vamos nessa. – Camila sorri timidamente – Meninos podem arrumar um lugar para sentar, não vamos sair daqui tão cedo.