História Levada pelo Mar - Capítulo 1: Boas Lembranças

A minha vó foi uma das pessoas que mais senti falta quando me deixou, ela era uma pessoa que se cuidava muito, acredito que ela era mais saudável que eu, mas mesmo assim o tempo não a deixou em paz e decidiu levá-la de mim. Lembro-me que, desde os meus 5 anos, vó Marta contava-me muitas histórias, mas havia uma que eu achava um tanto curiosa.

    -Sereias vovó? - Perguntei. Era véspera de natal, e ela costumava a se animar muito nesses dias.

  -Sim, querida. Elas são criaturas lindas, mas também tristes. Eu inclusive já vi uma vagando pelos mares aqui de Orla do Sol. – Disse, fazendo tom de suspense enquanto preparava seus biscoitos natalinos.

     -Aqui vovó? Eu também quero ver.- Falei animada, como a garota de 5 anos que eu era, mas ela nunca conseguiu me mostrar, a sua casa e a do vovô ficava perto da praia, então podíamos ficar horas lá esperando algum sinal das sereias, mas elas nunca apareceram. Eu gostava de ficar com a vovó, mesmo nunca obtendo sucesso na nossa procura. Quando papai chegava para me buscar eu sempre queria ficar, na verdade, acho que sempre quis morar com ela. Minha casa não ficava perto do mar. Quantas chances eu perdi de poder ver as sereias?

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Quando eu fiz 10 anos de idade, e já havia perdido meu interesse pelas sereias, minha vó me deu um presente. Ele estava dentro de uma caixinha azul com um laço rosa, e ao abrir a caixa me deparei com uma ostra, ela era um pouco maior que a minha mão.

-Abra, querida.- Disse vovó ao me ver analisando o seu presente.

E então eu abri. Era uma caixinha de música, mas quem dançava não era uma bailarina, e sim, uma sereia de cauda azul, ela segurava um lindo pente e um espelho e girava conforme a canção.

-É lindo vovó!

-Você gostou querida?

-Sim! - Disse e lhe dei um abraço.

Para mim, vovó percebeu que eu já não tinha tanto interesse pelas suas histórias e o seu presente veio para me lembrar dos bons momentos que eu passei com ela. E de fato, vovó foi bem inteligente, pois no dia seguinte, quando fui visitá-la, pedi para que ela voltasse a me contar.

-Qual você quer ouvir primeiro Mariel?

-As sereias, vó.

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Vovó morreu quando eu tinha 14 anos. E meus últimos quatro anos não foram o mesmo sem ela, agora com 18 ainda sinto falta de seu abraço caloroso e de suas palavras de carinho.

Lembro-me que ela contava que as sereias, mesmo sendo lindas, carregavam corações tristes e maldosos, e que, antes de se tornarem essas criaturas, eram mulheres apaixonadas que se jogavam ao mar ao perderem a pessoa amada.

-Que triste! Eu nunca faria isso.- Falei.

-Nem eu, querida.- Disse vovó rindo.