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História Leve Como o Vento - Capítulo 1.


Escrita por: BabyK

Notas do Autor


É... No final não adianta de muita coisa deixar anônimo se eu resolvi postar aqui no Social também, não é? ~~
Queria ver a repercussão que a fic teria sem carregar bagagem de nome de autor(a) nenhum. Não que eu seja famosa né, mas..........
Agradeço à @ whojjong por ter enviado o plot <3
Eu tenho o costume de fazer as capas das minhas fics também, e eu já tinha a capa que está nesse capítulo pronta antes mesmo de começar a escrever, porque eu preciso de recurso visual pra imaginar as coisas (?) Mas como dessa vez fizeram capas, eu fiquei com dó de não usar a que fizeram pra fest :') DAÍ EU RESOLVI COLOCAR AS DUAS PORQUE A MIRELLA ME SUGERIU ISSO E ELA É LINDA DEMAIS TE AMO MIRELLA <3
Apesar de eu ter enviado como uma onsehot pra fest, vou dividir em 3 capítulos aqui, porque, afinal, 30k em uma cacetada só não é muito atraente, né nón? ;v;
Além disso, eu tentei dar uma corrigida nos erros monstruosos que eu cometi e que eu não corrigi antes de entregar pra fest. Eu escrevi isso no meu tempo livre entre aula e trabalho da faculdade, e acabei não revisando. Desculpem-me ;;

*suspira* Vou avisar aqui, da mesma maneira que avisei na fest:
"Eu juro que eu tentei estudar sobre o assunto, tanto sobre balé, quanto a parte de se transvestir. Por favor, desculpem-me qualquer erro sobre balé ou ideologia de gênero ;-; Eu juro que pesquisei pra não escrever bobagem, mas se eu tiver escrito alguma besteira, sintam-se a vontade pra me corrigir <3 "

Ah!! E se alguém aqui também se aventura pelo asianfanfics, eu também postei lá. Não se assustem, não é plágio, tá? :')
Sem mais delongas :')

Boa Leitura <3

Capítulo 1 - Capítulo 1.


Fanfic / Fanfiction Leve Como o Vento - Capítulo 1.

Enquanto que a maioria das salas eram modernas, enxutas, de vértices agudos, paredes unicolores e sem particularidades, aquela possuía o teto alto, adornado com um simplificado detalhe em gesso branco em suas arestas e acanhados detalhes florais de mesma cor em seus vértices; paredes de um tom pastel manso, tal qual os primeiros raios de sol sendo vistos bem de longe; em cada aresta do encontro das paredes havia uma imitação de coluna grega incrustada ao cimento, também branca; e tal qual o teto, era o rodapé, também com o singelo arremate de gesso.

Um grande espelho cobria a parede do fundo de ponta a ponta; e o chão – ah, o chão! –, era de madeira – madeira de carvalho polido, de um marrom claro, levemente avermelhado – e contrastava naturalmente com o preto dos collants das formas que ali dançavam graciosamente de frente para o espelho.

Acordes graves soavam, sendo rapidamente acompanhados de outros mais agudos, suavizando a melodia que o piano fazia. Os panos meramente transparentes das saias cor-de-rosa claro – quase branco – se sobrepunham de maneira voluptuosa uns sobre os outros, imitando as pétalas de uma rosa, à medida que as bailarinas se movimentavam.

 

 

~

Dedos curtos e finos seguravam o bastão do rímel transparente e manejava-o com exímia destreza sobre os cílios, realçando a delicadeza dos olhos castanhos amendoados delineados em preto.

~

 

 

-Meia ponta de novo. Transfira pra elevé – Comandou a professora caminhando por entre as bailarinas, correndo os olhos pelas musculaturas do corpo e procurando defeitos nas posições – Isso – Comentou ela, interferindo na posição de uma das bailarinas na esquerda e corrigindo suas costas – Vai, dupla ponta. Coluna reta e olhando pra frente – Caminhou para o outro lado da sala – Troca. Meia ponta de novo com as duas pernas. Subiu ponta!

O prédio antigo o qual abrigava as salas de balé, de alguma forma mística, conseguia deixar tudo mais harmonioso. Fosse pelos antigos lustres, fosse pelas pequeninas janelas de design velho bem no alto das paredes, ou pela calmaria que o mundo se tornava uma vez dentro daquela sala.

Taemin sempre adorou isso.

 

-Vai lá embaixo. Plié – Comandou a professora novamente – Força a ponta. Mantém. Subiu, elevé.

 

 

~

Os mesmos dedos finos e curtos passavam o batom claro com delicadeza sobre os lábios, e em seguida arrumavam os cabelos longos e negros da peruca no impecável coque que já fizera tantas vezes quanto podia contar. Nem um único fio fora do lugar.

~

 

 

Porém, mais do que adorava a paz que aquela sala lhe trazia, Taemin adorava balé.

Não. Risque isso.

Ele amava.

 

Amava todo o teatro por trás de cada apresentação. Amava as melodias clássicas de piano. Amava a tamanha delicadeza com a qual as bailarinas dançavam; amava o fato de elas fazerem parecer tão fácil e simples, de maneira até quase supérflua, toda a garra, treinamento, suor e dor que passavam para atingirem a perfeição. Ah... As roupas... Como ele amava ver os detalhes em pedras brilhantes, bordados e camadas infindáveis de panos nas roupas...

Quando elas dançavam, pareciam voar, já que a ponta dos pés mal tocava o chão.

 

E, ironicamente, ele possuía mais em comum com o balé do que as alunas naquela sala.

 

 

~

-Filho, que porcaria é essa?! Tira a mão daí agora.

Desde cedo, o garoto trombava de frente com o extremo conservadorismo do pai, sem nem sequer saber ao certo o que fazia de ‘errado’. Ele tinha oito anos quando, por puro reflexo, colocou uma das mãos na cintura e jogou ligeiramente o quadril para o lado. Apenas aquela bronca foi o suficiente para assustar um garotinho tão novo e inocente quanto aquele. Mas outras broncas já vieram antes daquela.

 

Como na vez em que o garotinho, com cinco anos, esperou a mãe sair de casa para vasculhar a parte de seu guarda-roupa em busca do local onde ela guardava seus sapatos. O garotinho sempre achou a mãe bonita de salto. Principalmente quando ela colocava aquele de tiras prateadas com strass.

Ora essa, se ela ficava bonita quando os usava, ele também ficaria, certo? Afinal, é nesta idade que os filhos tentam imitar os pais. Taemin apenas via seu modelo em outra pessoa que não fosse o pai.

E, claro, como toda criança de cinco anos, retirou os sapatos do armário com imensa empolgação quando os encontrou. Espalhou-os pelo chão sem um pingo de preocupação quanto ao barulho ou ao tamanho da bagunça, e pôs-se a tirar suas pequeninas meias e o par de tênis. Enfiou-se no meio da montanha de sapatos, pegando um em cada mão e calçou-os.

 

*tec tec tec tec*

 

Não contente com o que via, trocava de par outra vez.

 

*tec tec tec tec*

 

-Taemin! – Gritou o pai do andar debaixo – Tá tudo bem aí em cima?

-Tá! – O garoto respondeu mais do que depressa – Tô só brincando.

-Olha lá, hein... Não quero bagunça.

-Tá...!

 

E o *tec tec tec tec* continuou, agora mais do que nunca, acompanhado da risada gostosa de infância, uma vez que a criança finalmente havia encontrado o sapato prateado da mãe. Era engraçado o jeito que seu pequenino pé ficava em um sapato tão grande, e como as tiras prateadas subiam até seu joelho. Sentia-se tão pequeno em relação à grandeza de sua mãe, mas sentia-se tão contente que falhou em perceber que o barulho do salto contra o piso camuflou os passos do pai pela escada e pelo corredor em direção ao quarto.

-Taemin, o que-

 

Flagrado com a mão na massa, Taemin se assustou, imaginando que seu pai ficaria bravo de vê-lo mexendo escondido nas coisas de sua mãe, sem antes pedir. Mas o motivo da bronca foi outro.

-Que isso, moleque?! – O pai ergueu a voz e franziu o cenho, apontando o dedo para o guarda-roupa – Tira já isso do pé!! – E ao ver que o garoto não conseguiu esboçar reação, paralisado pelo súbito medo, o pai rapidamente foi até o garoto e fê-lo tirar o sapato a força, o que resultou em um pequeno Taemin caindo de bunda no chão pelo puxão em seu pé – Isso aqui... – O pai continuou entre os dentes – É sapato de mulher, Taemin!! – Retirou o sapato e colocou-o tão perto do rosto do garoto que este cerrou os olhos – De mulher!! Você... – Retirou furiosamente o segundo sapato – Vai usar sapatos de homem! De homem, entendeu?! – Levantou-se e jogou o par de sapatos dentro do guarda-roupa – Agora guarda toda essa bagunça e depois desce até a sala. O jogo começa em 20 minutos.

~

 

 

Sofrido por dentro, mas exalando delicadeza por fora.

Este era Taemin, assim como o balé.

 

Mas nem tudo são trevas.

Embora o garoto tenha aprendido desde cedo a não deixar transparecer nada que seu pai não considerasse “másculo”, ele tinha uma... Fada Madrinha? Ou talvez apenas uma “Fada Mãe” que desde cedo comprava bichinhos de pelúcia longe dos olhos do marido e os escondia no fundo do guarda-roupa do garoto quando ele chegava do trabalho.  Ou que realizava pequenos caprichos do filho que podiam passar despercebidos, como por exemplo um par de meias de princesa. Ou que até se divertia quando se arrumava para o trabalho e deixava o filho escolher a cor do batom e passá-lo em si.

Mas, sem dúvida, a maior loucura que a mãe do garoto já fizera foi matriculá-lo em uma escola de balé quando ele estava no último ano do fundamental. Os golpes de luta que o marido acreditava que o filho aprendia eram, na verdade, piruetas. Por outro lado, não era difícil sustentar a mentira, uma vez que em praticamente todas as aulas surgiam marcas roxas pelas pernas sem muita explicação e, inevitavelmente, os membros finos do garoto começaram a ficar mais definidos.

O esquema era deveras simples, mas exigia muito cuidado: enquanto o pai calçava os sapatos para terminar de se vestir e seguir para a empresa onde trabalhava como adminstrador de vendas, Taemin arrumava sua mochila com toda a maestria e naturalidade de alguém que vai para as aulas de Taekwondo todos os dias, arrumando o kimono, a faixa, e as luvas. Despediam-se, e, assim que a porta se fechava atrás do pai, a mãe do garoto corria para seu canto do guarda-roupa e desenterrava o collant preto, a saia rosada e os sapatos de balé de dentro de uma caixa de sapatos que ficava junto de várias outras.

Ao mesmo tempo, a magia acontecia no quarto do garoto. Os cabelos negros e curtos eram substituídos por outros longos, e logo eram arrumados no coque impecável de sempre. Os olhos ganhavam realce; os lábios, cor; e as maçãs do rosto, rubor.

Então a mãe do garoto bateria a sua porta, entregando-lhe um vestido branco rendado, sapatilhas vermelhas, um fino casaco de lã preto e um simplório lenço de pescoço para cobrir o pomo de Adão.

-Que filha mais bonita eu tenho – A mãe diria, acariciando o rosto da graciosa garota à sua frente e beijando-lhe a bochecha, antes de piscar e anunciar animadamente com uma segunda bolsa pendurada no ombro, na qual havia toda a roupa de balé – Vamos?

Agora, no lugar de Taemin, existia Mina, a talentosa e delicada bailarina de corpo esguio e torneado que adorava bichos de pelúcia, saias fofas, e fazer adagios.

 

A mochila que Taemin preparava enquanto o pai ainda estava em casa era, nada mais, nada menos, que puro teatro. Gastaram um pouco a mais de dinheiro comprando um kimono que, honestamente, nunca fora usado, mas valia a pena enquanto o plano funcionasse. Na realidade, assim que ambas entravam no carro, tratavam logo de trocar a mochila com o kimono de taekwondo pela bolsa com as roupas de balé.

E nem mesmo a faculdade de contabilidade fê-lo quebrar a rotina que seguiu pelos últimos sete anos, e ainda segue.

Se fosse para ser honesto consigo mesmo, Taemin, sem sombra de dúvida, teria escolhido dança para se graduar, mas como explicar tal escolha sendo que, teoricamente, aos olhos do pai, Taemin jamais fizera aula de dança nenhuma?

 

-Elevé! – A professora comandou – Um! Abriu; fechou. Dois! Bora gente! Olha o tempo! Desceu. Plié! Elevé passé! Um. Dois. Força! Três.

 

Três horas. Três maravilhosas horas por dia. Quatro dias por semana.

E em três desses dias, logo depois de sua aula terminar, as aulas de Ballet Preparatório para as crianças também terminavam. Toda vez, uma das pequenas bailarinas vinha falar com Mina, porque, sempre, antes de sua aula começar, a garotinha a observava pelo vidro da porta, com o auxílio de uma cadeira. Toda vez, a garotinha elogiava Mina pela beleza dos passos; chamava-a de fada. Toda vez, ele vinha buscá-la.

E, toda vez, Mina não sabia se sorria ou se escondia-se.

 

Mas no final, sempre acabava fazendo a primeira opção, já que a segunda ficava fora de cogitação sempre que ele abria aquele sorriso maravilhoso e radiante de orelha a orelha que comprimia mais ainda os olhos – já pequenos – e, ainda por cima, acenava para si com toda a empolgação do mundo, cumprimentando-a tão gentilmente que conseguia fazer suas pernas derreterem feito geleia.

Ah... Lee Jinki era o nome do sujeito.

Não que isso fosse importante, claro. Afinal, Jinki era “apenas” o subordinado direto do pai de Mina há sólidos cinco anos, e conhecia toda sua família de festas amigáveis de fim de ano da empresa.

Dizer que Taemin entrou em pânico por medo de ser reconhecido a primeira vez que viu o rapaz em uma daquelas festas, seria uma atenuação. Honestamente, hoje ele se arrepende de quase ter surtado naquela noite, porque toda maldita vez que Taemin e Jinki se encontram, o garoto mal consegue olhar nos olhos do subordinado por tamanho arrependimento de ter feito piada às suas custas, derrubado champanhe em sua roupa e o envergonhado como resultado de seu filtro inexiste entre mente e boca devido ao pânico e algumas taças de champanhe. Ah... Como ele desejou que um buraco se abrisse no chão e o engolisse aquela noite...

 

-Hey, vocês duas! – Jinki chamou da porta de vidro da escola de balé.

-Tio Jinki!! – A pequena bailarina sorriu e correu de braços abertos em direção ao tio que, no mesmo instante, pegou-a no colo, mas logo voltou sua atenção à outra figura feminina a sua frente – Mina – Sorriu largamente, cumprimentando-a.

 

Por outro lado... Pelo menos Mina ainda tinha uma chance de olhar nos olhos do rapaz e fingir que nada daquela loucura um dia aconteceu.

 

-J-Jinki...! – A garota cumprimentou-o com a voz trêmula, curvando-se brevemente em sinal de respeito, recebendo uma risada descontraída e gostosa do rapaz a sua frente.

-Treinou duro hoje?

-Treinou, sim! – A garotinha no colo de Jinki respondeu, segurando a gravata do tio e puxando-a em sua direção para que o homem a olhasse – É lindo, tio. Às vezes ela parece um pássaro – A garota abriu os bracinhos para enfatizar.

Jinki riu novamente.

-Ontem você disse que ela parecia uma fada.

-Uma fada também!!

-Hm... Jura? – Ele olhou brevemente com o canto dos olhos em direção à Mina, antes de voltá-los para a sobrinha – Talvez um dia eu devesse verificar? – Ergueu as sobrancelhas sugestivamente para a sobrinha, como se apenas aquilo fosse equivalente a uma conversa inteira por gestos com a menina.

-Sim!! – A garotinha sacudiu de leve a gravata que segurava – O senhor podia me trazer amanhã, daí dava pra ver ela dançando igual eu faço todo dia.

-A-Ah, J-Jina – Mina gaguejou, como se fosse sua última tentativa (inútil, claro) de impedir a menina de falar qualquer coisa indevida, mas foi interrompida pelo próprio Lee Jinki.

-Não. Ela tem razão – Riu brevemente – Sabe quantas vezes eu já escutei ela tagarelar sobre você o caminho todinho de volta pra casa? Pra falar a verdade, eu tô bem curioso.

Nessas horas, Mina gostava de pensar que a vermelhidão excessiva de suas bochechas era sua culpa por ter exagerado na maquiagem.

-Ah-Eu-Ahn-O-Obrigada... Eu acho... – A garota desviou os olhos para o chão.

-Até amanhã, Mina – Jinki sorriu, dirigindo sua atenção à sobrinha – Fala ‘tchau’, Jina.

-Tchau, unnie!! – A garota acenou uma das mãozinhas.

E então, ambos desapareceram por detrás da porta de vidro, deixando Mina a suspirar enquanto abaixava a própria mão.

 

É interessante como as coisas acontecem na vida. São meros quinze minutos que fizeram toda a diferença. Quinze minutos que sua mãe chegasse mais cedo todos os dias, e Mina jamais saberia que Jinki tinha uma sobrinha, e que ela era justo a adorável garotinha que conversava consigo todo final de aula.

-ina... na... Mina!!!

-Ah! Mãe!! – E a garota, com os olhos arregalados, saiu em disparada em direção ao carro estacionado em frente à escola de balé.

 

 

• • •

 

 

-Q-Quê?!

 

Como se já não bastasse a intensidade do rubor em suas bochechas pelo convite inesperado, os olhares de outros alunos e funcionários sobre si causados pelo tom excessivamente alto da garota, apenas fê-la piorar.

-Ahn... Tudo bem se não quiser tomar um café comigo... – Jinki coçava a nuca com uma das mãos, enquanto a outra segurava a da sobrinha, claramente embaraçado – Acho que eu não devia ter perguntado tão de repente.

-Não!! – Jinki arregalou os olhos, e tão rápido quanto a resposta veio, foram as mãos da garota em tapar a própria boca pelo segundo grito espontâneo – Qu-Quer dizer, eu... – Ela engoliu a seco – Eu adoraria tomar um café com você. Eu só... Preciso... Avisar a minha mãe... – A resposta veio mais com um tom questionador do que uma afirmação, mas ignorando isso, Mina virou as costas e correu para o banheiro feminino, revirando as roupas de balé pela bolsa assim que entrou em uma cabine e se trancou, até encontrar o celular.

 

Ora essa, o que podia acontecer de errado, não é mesmo?

 

-A-Ah, mãe? – Mina chamou ao telefone quando sua ligação fora atendida.

-Taemin-ah? Calma, só um segundo – Mina sabia que a mãe não podia chamá-la pelo outro nome no ambiente de trabalho, já que, para todo mundo, Taemin era filho único. A garota ouviu barulhos de movimentação e ecos ao fundo. Quando sua mãe retornou, agora fazia silêncio. Provavelmente ela se afastara para um lugar mais privado – Pronto. Aconteceu alguma coisa, filha?

-Não, é só que... - Mina correu os olhos em seu redor, como se magicamente uma resposta fosse aparecer. Não dava para ela falar que ia sair com Jinki. Aquele Jinki. Subordinado direto de seu pai. O pai que a mataria se soubesse das coisas que ela, ou melhor, ele, fazia – E-Eu-As meninas do balé me convidaram pra tomar um café...

-Mina – A mãe falou séria – E o seu pai? Se quando você chegar ele já estiver em casa, e te vir assim, filha, vai ser-

-E se você vier me pegar no balé, então? E-Eu volto pra cá quando as meninas forem embora e dai você traz as minhas roupas!

-.... – A mãe suspirou – Mina, eu não sei. Isso é perigos-

-Por favor, mãe! – A garota mordeu os lábios – Por favor.

Um segundo suspiro.

-Tá certo. Você me liga quando tiver voltado pro balé que eu te busco e levo outras roupas. Mas, pelo amor de Deus, toma cuidado, filha.

E Mina sorriu largo.

-Obrigada, obrigada, obrigada, mãe! – E pequenos pulinhos acompanharam os agradecimentos eufóricos da garota.

Encerrou a ligação, guardou o telefone na bolsa novamente, mas sentou-se sobre a tampa do vaso por um momento, fechando os olhos e soltando um profundo suspiro.

 

Nada dessa situação com Jinki, principalmente esse... encontro (poderia chamá-lo assim?), fazia parte do plano.

Mina suspirou.

-Ah... Deus, socorro.

 

 

• • •

 

 

-Sabe – Jinki começou, baixando a xícara de café da boca até a mesa, após o confortável momento de silêncio desde que sentaram àquela mesa afastada das janelas. Abriu um sorriso de canto – Hoje eu trouxe a Jina pro balé, e ela tem razão quando diz que você parece uma fada quando dança.

-Hm?! – Mina arregalou os olhos com aquela declaração, por pouco não se engasgando com o café com leite e canela que tomava e rapidamente devolvendo a xícara à mesa para limpar a bebida que escorria no canto dos lábios. Olhou para Jinki com o cenho franzido e piscando diversas vezes, silenciosamente pedindo explicação quanto àquela frase.

-A-Ah, desculpa!! – Jinki rapidamente apanhou os guardanapos da mesa e ofereceu-os à garota – Tá tudo bem? Ah, eu devia pensar antes de falar essas coisas. Desculpa... – A cena teria sido linda, se ele não tivesse batido o pulso acidentalmente na xícara da garota e esparramado a bebida pela mesa. Apenas não foi pior porque ele conseguiu ser rápido o suficiente para colocar a xícara em pé novamente, antes que o café se esparramasse mais e pingasse nas roupas da garota – Ah, droga! Me desculpa!!

Foi a primeira vez que Mina presenciou um Jinki desesperado, forrando freneticamente a mesa de guardanapos na tentativa quase inútil de limpar a bagunça que fizera. A garota levou uma das mãos na frente da boca para tentar conter uma pequena risada, mas foi em vão.

-Eu não sabia que você era tão desajeitado – Mina deixou escapar, com um pequeno sorriso nos lábios, uma vez que a cena diante de si era inquestionavelmente engraçada, mas logo se arrependeu ao perceber como Jinki havia congelado em seu lugar e a olhava com os olhos levemente arregalados.

-É... – Jinki sorriu minimamente de canto, corado, arrumando-se em sua cadeira novamente.

-Não! Não foi isso que eu queria dizer!

-Tudo bem – Jinki riu brevemente – Eu sou mesmo bastante desajeitado com as coisas.

-Mas eu não devia ter falado daquele jeito.

-Tudo bem – Jinki sorriu largo dessa vez, dando de ombros – E-Eu também não devia ter soltado que você parece uma fada dançando tão de repente...

E Mina corou novamente.

-A-Ahn... B-Bom... – Tomou em mãos a xícara com o pouco do café com leite que ainda restava nela, com mais intenção de esconder o rosto atrás dela do que realmente beber o líquido – Mas... É engraçadinho ver você em pânico...

Quê?! Engraçadinho?! Quem diabos fala uma coisa desses logo no primeiro encontro?!

Não precisa ser um gênio para saber que ambos coraram loucamente depois do infeliz e constrangedor comentário da garota.

-Ta-Também é lindo te ver dançar...

E agora os níveis de embaraço dispararam para além da estratosfera.

-Aah... Eu... Acho que vou pedir mais dois cafés pra gente... E um pano...

Mina limitou-se em apenas assentir com a cabeça, sem jamais desviar os olhos do próprio colo.

 

 

• • •

 

 

O correto, depois daquele encontro, seria Mina conversar devidamente com Jinki, e declarar que ela não estava interessada nele, mas que agradecia o café, e esperava que a amizade deles (ou seja lá o que quer que eles tivessem) continuasse como antes.

 

Pff, pura besteira.

 

-Oppa, vem!! – E Mina o arrastava para a fila da montanha-russa pela segunda vez aquela tarde.

-M-Mas Mina, a gente já foi aqui... E se a gente fosse em algo mais... Ahn, calmo? – Jinki perguntou esperançoso, mas logo teve suas asinhas cortadas quando a garota o olhou feio.

-Jinki, sério? Esse é o brinquedo mais legal daqui. Você pagou duas entradas pra ficar indo em roda-gigante? Coloca um pouco mais de adrenalina nessa sua vidinha chata de escritório, vai – Ela cutucou a cintura do rapaz.

 

E aqui estava o casal em mais um encontro.

O quarto encontro.

Em dois meses.

 

Não. Não era para ter chegado a esse ponto. Não era para terem trocado telefone. Aliás, não era nem para isso ter começado, mas nem Mina, nem Taemin, tinham a mínima vontade, ou coragem, de acabar com esse repentino conto de fadas, mesmo que ele fosse baseado em mentiras e que ambos soubessem que o dia em que Jinki descobriria a verdade estava fadado a acontecer.

Fosse como Taemin, ou como Mina, ambos gostavam do rapaz. Gostavam muito. E provavelmente há mais tempo do gostariam de admitir.

Há muito Taemin não se perdia no tempo olhando a palidez do teto na escuridão da noite em sua cama, pensando em alguém. E não conseguia se lembrar da última vez em que Mina segurou a mão de outra pessoa...

O acanhado sorriso com o qual Taemin iria dormir depois das aulas de balé, e as borboletas na barriga de Mina toda vez que via Jinki... Ah... Como isso era agradável. Nunca havia passado pela cabeça do garoto que ele teria outros motivos para ir às aulas de balé, senão pela dança propriamente dita. Mas lá estava Taemin, debaixo das cobertas, com os olhos fechados e um sorriso no rosto, repassando pequenos flashses em sua mente do sorriso que Jinki lhe direcionou mais uma vez ao buscar Jina...

 

-Mi-Mina, a gente não p-pode mesmo ir em outro br-brinquedo? – Jinki resolveu arriscar uma última vez assim que a trava de segurança do carrinho da montanha-russa fora acionada.

A garota apenas revirou os olhos.

-Tá – Cedeu, por fim – A gente vai só mais essa então, pode ser?

Mesmo que a contragosto, e o rosto claramente estampado em pavor, ele concordou, já sabendo que, bem no fundo, iria se arrepender.

Talvez seja seguro dizer que Jinki facilmente se destacou dentre os outros passageiros, levando em conta a potência de seus gritos e os incessáveis pedidos de socorro... Por outro lado... Mina se esborrachou de rir o percurso todo da maneira com a qual Jinki se agarrou em seu braço e na trava de segurança como se sua vida dependesse disso.

E Mina tentou – ela jura que tentou! – segurar o riso enquanto desciam a escada da saída, mas Jinki estava tão abatido, pálido, e com as pernas tão bambas que era impossível.

Por vezes, Jinki se espantou com a risada consideravelmente grossa da garota, mas sua própria risada também não era muito melhor, então ele simplesmente deixava isso passar.

 

-A-A gente nunca mais vai voltar nesse brinquedo... – Jinki falou trêmulo e quase sem força na voz.

Um milésimo de segundo depois dessa afirmação foi o suficiente para Mina maquinar uma infinidade de implicações. E mesmo com as bochechas levemente coradas, ela mordeu os lábios, mas arriscou perguntar.

-Mas... Mesmo se a gente não for mais na montanha-russa... Isso quer dizer que a gente ainda vai vir junto de novo no parque...?

Ela não olhou-o nos olhos. Não teve coragem. Manteve-os fixos no chão, os lábios entre os dentes, e os punhos cerrados na frente do colo.

Jinki não esperou que ela fosse perguntar algo assim, e, honestamente, seu ego inflou ligeiramente depois de ouvir aquilo. E tomado de súbita coragem, num movimento ousado, mesmo que estivesse quase hiperventilando por dentro, ele tomou uma das mãos da garota e vagarosamente começou a entrelaçar os dedos, dando margem para que Mina interrompesse o ato quando quisesse, mas... Ela não interrompeu.

-Bom... – Jinki sussurrou, chutando pedrinhas que, repentinamente, pareceram super interessantes – Se você quiser...

Mina jurou que poderia ter desmaiado com todo aquele sangue sendo bombeado tão de repente em seu corpo. Mas ela sorriu. Embora corada, com o coração martelando furiosamente em seu peito e as mãos a ponto de suarem, ela sorriu, e acenou com a cabeça, recebendo em troca um sorriso maravilhoso do rapaz ao seu lado. Aquele sorriso de orelha a orelha, tão brilhante quanto o sol, que deixava-a sempre com as pernas bambas e acalentava o coração.

 

E antes que magia do encontro acabasse, ambos dividiram um algodão doce: Jinki segurava o algodão com uma das mãos, enquanto a outra permanecia entrelaçada nos dedos de Mina, e a garota, por sua vez, retirava pequenos pedaços da bola rosa macia, e revezava entre comê-los ela mesma e oferecê-los à Jinki – que, por sinal, sempre arrancava pequenas risadas da garota, já que o mais velho abria a boca avidamente para receber a guloseima toda vez.

 

 

• • •

 

 

-Tem certeza que não quer que eu te leve pra casa? Realmente não tem problema pra mim te levar.

-Tenho – Mina respondeu rapidamente. Jinki jamais, nem em sonho, poderia aparecer em sua casa enquanto ela fosse Mina. Aliás, ele sequer poderia saber onde ela morava. Jinki conhecia sua casa. Conhecia seus pais até bem demais, portanto, sem chance – Eu ainda preciso conversar com a professora sobre alguns passos mesmo, então acho que eu vou aproveitar – Mentiu com a primeira coisa que veio à sua cabeça – E eu já mandei mensagem pra minha mãe de qualquer jeito – Sorriu, esperando amenizar o fato de ter recusado a carona do mais velho.

Jinki assentiu vagarosamente.

-Tá certo – Baixou os olhos para a calçada da escola de balé por um momento, antes de voltá-los para Mina – Obrigado por ter aceitado o convite. Eu me diverti baste hoje – Sorriu. Sorriu honestamente, sem ter a necessidade de um sorriso muito grande, porque apenas aquela mera curvatura no canto dos lábios já era o suficiente. Seus olhos já transbordavam emoção o suficiente para compensar.

E mina retribuiu da mesma fora.

-Eu que agradeço pelo convite – Mordeu o lábio inferior, esfregando o braço com uma das mãos, embaraçada – Gosto de passar a tarde com você...

-Eu também.

 

E ali estava.

Aquela troca intensa de olhares, com os rostos a apenas dois palmos de distância. A atmosfera estava perfeita. Haviam acabado de passar uma tarde divertida em um parque de diversões, com bexigas, cabine de fotos, bichos de pelúcia, algodão doce, e de mãos dadas! Coisa que, aliás, nem estava no script.

Só era necessário que cada um desse um passo para frente e-

-Bom, eu preciso ir – Jinki soltou de repente, afastando-se da garota e já acenando logo em seguida.

-A-Ah-Ahn-Eu-Ahn-Tchau!! – Mina acenou rapidamente, sem fazer ideia do que aconteceu, mas acabou virando as costas para o mais velho assim que ele parou em frente à porta do motorista do carro, e seguiu em direção às portas de vidro da escola de balé.

 

Mas Jinki não era tão burro assim.

 

Bastou ele chegar à porta do motorista para esfregar as mãos no rosto, bagunçar o cabelo, dar meia volta e gritar pela garota.

-Mina!! – Correu para a calçada, em tempo de impedir a garota de entrar pela porta.

Prontamente, ela se virou para o mais velho.

-Sim? – Piscou duas vezes com os olhos levemente arregalados.

-Mina, olha, eu... – Ele engoliu a seco – Ah... Olha, sabe... Argh, droga! Quer saber? Deixa pra lá. É besteira minha. Desculpa fazer você perder seu tempo. Eu vou... – Apontou para o carro com o dedão, por cima do ombro – Eu vou voltar pro carro. Boa aula. O-Ou conversa. Eu não sei. Desculpa – Murmurando baixinho consigo mesmo ‘idiota! Idiota!’ assim que virou as costas.

-Jinki! – E não foi preciso chamar duas vezes. Na mesma hora, Jinki parou onde estava e girou o corpo para a garota, obviamente esperançoso – Não faça isso... – Em passos lentos, caminhou em direção ao mais velho – Me conta. Por favor.

Jinki suspirou.

-Droga. Meu Deus, como é que eu faço isso?! – Ele esfregou as mãos uma na outra, mordendo o lábio inferior, claramente nervoso. Suspirou – Tá – Aproximou-se da garota – Eu... – Suspirou novamente, mas corando logo em seguida dessa vez. Baixou os olhos para o chão – Eu... Eu posso te beijar?

 

Ooooh, sim!! Sim!! Diz que sim!!

 

-Tudo bem se você disser que não. Eu... Realmente não quero pressionar. D-Desculpa se tá parecendo que eu tô pressionan- Mas o aceno de cabeça repentino da garota fê-lo se calar no mesmo instante.

 

Ela estava tão bonita...

Os olhos grandes; brilhantes; marcados em preto; os cílios longos e a melhor parte, é que olhavam apenas para ele. Esperançosos. Ansiosos. Nervosos.

Apaixonados...

 

Jinki baixou os olhos lentamente, prestando atenção no rubor das bochechas da garota, na perfeição da pele imaculada, na grossura daqueles lábios rosados, e não pôde deixar de se arrepiar quando Mina passou a língua pelos lábios por puro reflexo, deixando-os úmidos e brilhosos.

E ele nem percebera quando levantara a mão inconscientemente, apenas para roçar o nó dos dedos nas bochechas da garota que, deleitosamente, fechou os olhos e suspirou, inclinando-se ao toque. Jinki encaixou a palma da mão no rosto da menina, e foi nesse mísero segundo, que o mundo pareceu parar. Um único segundo de uma troca de olhares, na qual a decisão fora tomada.

Inclinaram o rosto ao mesmo tempo, fechando os olhos gradativamente, até que a única coisa que sentiram foi o leve toque de lábios macios e ainda açucarados pelo algodão doce.

Mina não soube dizer porque subiu as mãos até o peitoral do rapaz. Apenas pareceu... Certo.

Certo sentir o calor do outro próximo a si. Certo sentir seus lábios nos dele. Certo sentir a leve respiração alheia em sua pele. O toque gentil em seu rosto.

Certo todas aquelas borboletas rodopiando em seu estômago, ou o bater frenético de seu coração. Até o bambeio das pernas pareceu ridiculamente certo.

Apenas não pareceu certo Jinki ter se distanciado de si tão cedo. E sem sequer pensar ou deixar que desse um único passo para trás, Mina tomou-o pela gola e esmagou seus lábios contra o do mais velho, sentindo milhares de arrepios pelo corpo tamanha satisfação. E dessa vez, Jinki a acompanhou.

Partiram os lábios ao mesmo tempo e, embora o ato inédito deixasse os nervos à flor da pele, apenas conseguiram suspirar de satisfação quando ambas as línguas se tocaram, mesmo que acanhadamente no início.

Oh, por favor, não era o primeiro beijo de nenhum dos dois, e, obviamente, não seria o último. Mina já estava no terceiro ano da faculdade e, pelo amor de Deus, Jinki tinha 25 anos!! Mas o fato é: quando você gosta da pessoa, o nervosismo, a ansiedade, são impossíveis de controlar.

 

Para Jinki, os lábios de Mina, pessoalmente, eram muito mais gostosos do que nos sonhos em que já teve. Era tão melhor sentí-los do que apenas olhá-los e, oh céus, assim tão perto ele conseguia sentir o perfume do shampo que ela usava.

Aos poucos foram se aconchegando, e rapidamente Jinki tinha o rosto da garota delicadamente segurado em ambas as mãos; e seu ego decolou no momento em que ela enroscou os dedos em sua camiseta, sutilmente puxando-o para mais perto. Mina ficou feliz de sentir os batimentos rápidos do mais velho por baixo da mão.

Cada vez que as línguas se mexiam, roçavam-se e enroscavam-se, Mina apertava os dedos ou puxava a camiseta de maneira diferente; ou um dos dois suspirava; ou algum arrepio lhes percorriam o corpo.

E assim como foi começado, o beijo terminou calma e lentamente, com os lábios separados por meros centímetros, mas as testas coladas, olhando um para o outro.

-Sabe... – Mina sorriu – Às vezes você fala demais – Riu soprado, sendo acompanhada de Jinki logo em seguida.

-Vou trabalhar duro pra mudar isso – Jinki sorriu docemente – Agora eu preciso ir... Não quer mesmo que eu te deixe em casa?

-Não precisa.

-Tem certeza? Às vezes até parece que você não quer que eu conheça a sua casa – Jinki riu soprado, mas Mina sabia que no fundo, ele estava falando sério.

-Tenho – Ela forçou um sorriso – Eu... Ainda não contei pra minha mãe que a gente tá saindo – Bem, não era mentira – Preciso fazer isso primeiro antes de ela te ver lá, senão eu sei que ela não vai gostar...

Jinki comprimiu os lábios, claramente desconfortável com aquela informação.

-Certo... Então... Faça isso logo, okay? – Ele forçou um sorriso – Te vejo amanhã?

-Uhum.

Jinki sorriu mais uma vez, antes de beijar-lhe a têmpora e afastar-se em direção ao carro.

 

E ali Mina ficou, parada em pé na calçada, acenando até que o carro se perdesse de vista.

Encostou as costas na parede, passou a mão no pelo rosto até jogar a franja para trás e, simplesmente, gritou. Gritou enquanto fazia alguma dança particular esquisita igual quando você corre sem sair do lugar. E, por fim, sem se importar com os olhares assustados que recebeu dos pedestres que passam próximo ali, Mina deslizou pela parede até sentar. Levou os olhos para o céu e suspirou com um sorriso.

Lee Jinki ainda seria seu fim.

 

 

• • •

 

 

No dia seguinte, Jinki trouxe Jina novamente para o balé e aproveitou para assistir Mina pelo vidro da porta junto com a sobrinha. Dessa vez, prestando atenção em todo e cada movimento que a bailarina executava.

 

Mina parecer ser feita de borracha. A cada movimento das longas, finas e torneadas pernas da garota, Jinki conseguia ver os músculos se contraindo: via os músculos da panturrilha quando Mina dobrava uma das pernas; via a firmeza das coxas quando ela esticava as pernas; via a beleza das curvas daquele corpo quando ela curvava as pernas por cima do corpo. A curva dos pés; a curva do tórax; a curva da cintura; a curva das nádegas...

Os braços contrapunham as pernas, com frequência se mexendo em lados opostos uns dos outros, mas com a mesma delicadeza. As mãos da garota acompanhavam os fluidos movimentos do braço, e Jinki reparou até nos finos e curtos dedos cheios de classe em cada posição.

Quando ela rodopiava, a quase transparente saia esvoaçava, e Jinki pensou em como seria maravilhosa aquela visão se ela estivesse com os cabelos soltos, mexendo-se e voando da mesma maneira.

O braço ia para um lado, a perna para o outro; um braço descia e uma perna subia; Mina pulava e juntava os braços; agachava-se, pulava, pousava, subia outra perna; rodopiava... E os olhos do subordinado acompanhavam cada movimento, cada perna, cada braço, cada momento, completamente hipnotizado.

 

Jinki deveria ter feito isso antes nos anos que se passaram, mas como um funcionário recém ingressado de um mero estágio da faculdade chega atrasado para o trabalho? Pelo menos agora ele tinha um certo prestígio dentro da empresa e também a confiança e compreensão de seus superiores. Mas, claro, ele não poderia abusar disso, entretanto... Atrasar uma segunda vez porque um anjo dançava bem a sua frente não parecia má ideia.

-Tio!! – Jina chacoalhou a gravata do mais velho – Olha o arabesque penché dela que lindo! – A garotinha exclamou quando Mina, apoiada em uma das pernas, jogou a outra para o alto por detrás do corpo – Aah!! Queria conseguir fazer spotting desse jeito. Eu sempre fico tonta.

Jinki imaginou que talvez esse último movimento fosse os giros que bailarina dava sem sair do lugar, e finalizava em uma pose bonita com os braços abertos.

Cada vez mais o mais velho se fascinava.

 

 

• • •

 

 

Vamos ao cinema? Mina disse. Vai ser divertido! Mina disse. Eu compro os ingressos, Mina disse. E Jinki foi otário o suficiente para concordar com tudo o que ela falou. E agora ele estava aqui, cravando as unhas no braço da cadeira do cinema e quase enterrando o corpo no encosto da cadeira porque a cada susto que o pobre infeliz tomava, mais ele se afastava da grande tela.

Aquela foi a pior decisão que ele já tomou na vida e entidade divina nenhuma o convenceria do contrário.

Nota mental: nunca deixar Mina decidir sozinha qual filme eles assistiriam no cinema novamente.

 

Em contrapartida, apenas para deixar o mais velho se sentir ainda mais patético, Mina tinha a audácia de rir, não somente das vezes em que Jinki pulava na cadeira ou deixava escapar pequenos gritos, mas também de certas cenas do filme que, segundo ela, eram absurdas, mas que para o infeliz subordinado, absurdo era exatamente o fato de ela conseguir rir em um filme de terror daqueles. Pelo amor de Deus, a personagem acabou de perder a cabeça!!

 

 

• • •

 

 

-Você pode, por favor, parar de rir?

E foi aí que Mina riu mais ainda, a ponto de se curvar para frente e segurar a própria barriga, apoiando-se no braço de Jinki com uma das mãos apenas para não perder o equilíbrio.

 

Horrível.

Assistir aquele filme foi simplesmente horrível.

 

-Yah! Mina!! – O mais velho reclamou, mortificado com a audácia da garota – Mina! – A maneira com a qual Jinki reclamava lembrava aquelas crianças que batiam o pé quando ficavam nervosas ao pedir por algo. Tinha horas que a idade não lhe servia de nada, realmente.

Mina cutucou a bochecha do mais velho com o indicador, apenas para provocá-lo.

-Alguém ficou bravo? – Perguntou com aquele sorriso esguio no rosto.

Jinki arregalou os olhos, estupefato. Dirigiu os olhos para a garota por um segundo, bufou, e endireitou o rosto para frente, recusando-se a dar qualquer reposta para aquela pergunta que de nada lhe serviria, senão para deixá-lo ainda mais irritado.

-Tá bom, tá bom! – Mina ergueu as mãos em rendição – Desculpa ficar fazendo essas coisas – Ela desceu os braços, mas logo entrelaçou os dedos de sua mão aos de Jinki, abrindo um sorriso quando o mais velho reciprocou o aperto das mãos – Mas... Você sabe que eu só faço isso porque eu gosto das suas reações quando eu te provoco...

Jinki riu soprado, inevitavelmente abrindo um sorriso.

-E o que tem de tão engraçado em ficar provocando um marmanjo de vinte e cinco anos?

No mesmo momento, Mina parou em frente ao subordinado, impedindo- de continuar. Levou o indicador até a ponta do nariz do mais velho.

-A graça... É que esse marmanjo de vinte e cinco anos faz o bico mais fofo do mundo.

E, claro, como acontecia com quase todo elogio que vinha da garota, Jinki corou.

-Y-Yah! – Ele tentou parecer sério. Ele realmente tentou, mas em nada contribuiu o rubor das bochechas para essa fachada. E, como sempre, Mina riu.

-Tá vendo? – Ela desceu o indicador para os lábios do mais velho, antes de morder os próprios lábios – O bico mais fofo do mundo.

Jinki não conseguiria ficar bravo com ela. Não quando, depois de tudo, ela ainda lhe beijava os lábios sorrindo, e o abraçava, aconchegando o rosto na curva de seu pescoço.

Derrotado, mas com um sorriso nos lábios, ele apenas suspirou, passando os braços pela cintura da garota.

-Ah... O que eu faço com você?

-Eu? – Sorriu maroto – Pode ir na sorveteria comigo agora e me comprar um Sunday de morango, pra começar.

Jinki gargalhou, apoiando a testa no ombro da garota.

-Você simplesmente matou o clima, sabia disso?

-Eu sempre faço isso – Ela revirou os olhos – E ainda assim, eu sei que você me adora.

-Hm – Jinki admitiu – Verdade – Ficaram por um momento daquele jeito, apenas abraçados, com o nariz próximo ao pescoço um do outro, e Jinki, sem malícia, pensou que seria engraçado perguntar do lenço que nunca saía do pescoço da garota – E esse lenço? Hm? – Embora Jinki não percebera por estar distraído com a situação e focado no perfume da garota, Mina enrijeceu-se no mesmo instante – Hmm... Por um acaso tem alguma coisa aí que você não quer que ninguém veja? Vai me dizer que você tem uma tatuagem no pescoço? Ou... vocêestámetraindoetemalgumacoisaaíquevocênãoquerqueeuveja?! – Jinki falou de uma vez, roçando repetidas vezes o nariz no pescoço da menina e fazendo-a rir.

-Y-Yah! Jinki, pa-para! Faz cócegas! Yah! – Ela se afastou dele subitamente, colocado as mãos na cintura de forma acusatória – E por que de repente você falou que eu tô te traindo? Por acaso não confia em mim, Lee Jinki?

Ah, sim. Só agora ele percebeu a consequência do que ele acabara de falar.

-Quê? Não! Mina, calma. N-Não é isso.

-Se não é isso, é o quê, então? – Ela cruzou os braços.

-O-Olha... Espera. A gente tá mesmo namorando?!

 

Honestamente, Mina não se importava com o que Jinki havia dito. E para falar a verdade, ela até entraria na brincadeira com alguma frase que o irritasse como algo do tipo “e se eu estivesse?”, mas encenar aquele teatro de repente pareceu mais seguro para desviar o rumo da conversa de seu lenço do que continuar a brincadeira.

Como Jinki reagiria se ele visse seu pomo de Adão?

 

 

• • •

 

 

Nervosa não chegava nem perto de definir como Mina estava naquele momento. Não quando ela estava na casa de Lee Jinki, sentada no sofá de Lee Jinki, assistindo a um filme na televisão de Lee Jinki, ao lado do próprio Lee Jinki.

O mais velho riu despreocupadamente ao notar o corpo rígido da garota ao seu lado.

-E eu que achei que eu fosse a parte nervosa dessa relação – Jinki provocou, olhando divertido para a garota – Parece até que eu vou te assassinar com você desse jeito. Isso fere meus sentimentos, sabia? Achei que a gente já estivesse à vontade um com o outro.

-Não! – Mina apressou-se em negar, mesmo que obviamente fosse uma mentira – Não é assim! – E Jinki apenas levantou uma sobrancelha.

-Não?

-C-Claro que não...

-Então... Tudo bem se eu me aproximar? – Era uma pergunta retórica, já que ele já havia colado o corpo com o da garota quando perguntou.

Mina se enrijeceu ainda mais com isso.

-T-Tu-T-Cla-Eu-Ahn-Tá! T-Tá tudo bem.

 

Tá. Claro.

 

Mas Jinki não deixaria passar o que poderia ser a única chance na vida dos papéis se inverterem e ele provocar a garota ao invés de ser o contrário, como sempre ocorria.

 

-E... Tudo bem se eu fizer isso também? – Ele passou o braço por cima do ombro da garota, puxando-a para si. O nervosismo de Mina era tamanho que, instintivamente, ela travou o braço que estava entre ambos os corpos no mesmo instante em que sentiu Jinki puxando-a para seu lado, impedindo-o de continuar.

E com o maior prazer do mundo, Jinki levantou uma sobrancelha de maneira acusatória, portando um sorriso vitorioso.

-Tá!! Eu tô morrendo de nervosismo! Satisfeito? – Ela bufou e cruzou os braços.

-Sim! Agora eu tô. Mas nervosismo por quê?! A gente já saiu várias vezes só nós dois – Gesticulou o indicador entre ambos – Isso não é tão diferente de um cinema.

-Aaaah é diferente, sim! Só pra começar, você não tá encolhido em uma cadeira gritando e pulando de cinco em cinco minutos porque alguém também gritou no filme. E... É claro que isso é diferente de um cinema... Tem... Só... Nós dois...

-Mas no cinema também tem só nós dois. A única diferença é que o resto das pessoas que ficam rodeando a gente são apenas figurantes. Eu também posso me sentar do seu lado no cinema – Jinki gesticulou para ambos sentados um ao lado do outro no sofá, novamente – Eu também posso passar meu braço no seu ombro. E... Nada impede de eu te beijar no cinema. Nem aqui. Quer dizer... Além de você, é claro.

Aquilo fora o bastante para fazê-la corar, mas não para que ela olhasse diretamente em seus olhos.

-Mina? – Jinki chamou, mas nada de a garota se mexer – Mina, olha pra mim – O mais velho até pousou uma das mãos na bochecha da garota. Nada – Por favor – Mas não tinha como negar quando Jinki chegava a esse ponto, portanto, Mina cedeu e levou os olhos até os dele – Mina... É de mim que você tem medo?

-Não! – A resposta veio de imediato, acompanhado do punho da garota que se fechou na camiseta do subordinado.

 

Não era exatamente medo de Jinki. Como ela teria medo de alguém que pede permissão para poder beijá-la toda sagrada vez?! Mas... Tinha algo a ver com Jinki.

Parte do nervosismo, na realidade, era devido à ansiedade de saber que algo aconteceria. A outra parte era não saber se o que aconteceria acabaria bem ou mal. Em outras palavras, Mina sentia o nó no estômago aumentar a cada momento, esperando que Jinki fizesse o primeiro movimento e a beijasse, e, esperançosamente, eles acabariam se pegando no sofá; porém... O que ela faria se por acaso Jinki esgueirasse a mão em seu peito e não sentisse nenhum seio, senão os sutiãs vazios, ou fosse ousado o bastante para descer a mão por debaixo de sua saia e encontrar um inusitado “presentinho” onde deveria haver uma vagina? Ou até se ele simplesmente abaixasse a gola do suéter turtleneck para – quem sabe? – beijar seu pescoço e se deparar com um protuberante pomo de Adão em toda sua glória?

 

Jinki suspirou.

-Mina... Se acalma. Não precisa ficar assim. Eu não sei o que tá passando pela sua cabeça agora, mas espero que saiba que eu nunca vou te obrigar a fazer nada – Mina olhou-o atentamente, soltando aos poucos os dedos presos na camiseta do mais velho – Sabe, eu realmente te chamei só pra assistir um filme, sem segundas intenções, em paz, no conforto e aconchego de um sofá. Não precisa ficar assim – Jinki repetiu, retirando o braço do ombro da garota e, com o dedo indicador, cutucou o nariz da mesma de maneira brincalhona – E... Bom... Na verdade tem mais um motivo pra eu ter te chamado aqui... – Jinki baixou braço, entrelaçando seus dedos nos dos da garota. Por um momento, apenas observou o contraste de sua mão com a dela; observou os dedos alheios preenchendo o buraco entre os seus – Mina?

-Hm? – Ela respondeu, também fitando os dedos entrelaçados. Por algum motivo, seu coração começou a bater ainda mais rápido.

-Você namoraria comigo...? – Simples e direto, honestamente olhando nos olhos da garota.

Mina não deveria aceitar.

Mina não deveria sequer cogitar a possibilidade de aceitar.

Ela estava cavando sua cova cada vez mais funda e acabaria por se enterrando. Acabaria de coração partido; desiludida, com uma imensa ferida no coração, e, na pior das hipóteses, talvez Jinki contasse a seu pai e sabe-se lá Deus o que ele faria consigo depois. Talvez a botasse para fora de casa, mas ela já conseguia ver os hematomas se formando no corpo de tamanha surra que ela levaria. Mas...

-Sim... – Ela sussurrou, apertando sua mão na do outro.

... Ela sequer pensou.

 

Ver Jinki suspirar aliviado, com um sorriso radiante no rosto, fez seu coração bater tão alegremente que, naquela hora, nenhuma das consequências que aquilo traria ousou manchar seu conto de fadas.

Ficaram como dois bobos de mãos dadas, com sorrisos idiotas no rosto e trocando olhares o tempo todo. Mas a situação ficou estranha quando Jinki começou a se deitar no sofá, levando Mina consigo. A garota, logo que percebeu o que ele estava fazendo, enrijeceu-se e franziu o cenho, silenciosamente questionando o que o outro fazia.

-Mina, calma... Eu só ia deitar, achei que seria aconchegante se você estivesse junto. Mas... Não precisa – Jinki prontamente começou a se sentar novamente – Se isso te deixa desconfortável, tud-

Mina colocou sua sobre mãos a boca do mais velho, calando-o. Assentiu com um sorriso pequeno no rosto, mesmo que ainda apreensiva. Deitou-se, puxou Jinki consigo e fez questão de trazer os braços do mais velho em volta de sua cintura, aconchegando as costas no peitoral do outro. Enquanto Jinki mantivesse as mãos quietas e não as vagassem pelo seu corpo, tudo continuaria bem.

 O sofá não era grande. Ambos ficaram espremidos, deitados de conchinha, assistindo o final do filme. Mas Jinki tinha razão. Era confortável. Mina gostou da sensação de peso que os braços do outro faziam em volta de sua cintura. Gostou de ter seus dedos entrelaçados aos dele; as pernas enroladas umas às outras. Realmente, assistir filme daquele jeito, apenas os dois, era muito melhor que o cinema.

E depois de alguns minutos de um confortável silêncio, quando o herói do filme finalmente encontrou o vilão, Mina arriscou uma pergunta.

-Oppa?

-Hm? – Jinki respondeu preguiçosamente, de maneira quase inaudível, entretido demais com o filme e confortável demais para gastar muita energia.

-Quantas namoradas você já teve?

-Quer mesmo saber sobre isso? – E com um aceno de cabeça da garota, Jinki a trouxe para mais perto, inalando uma boa quantidade do perfume dos cabelos da menina – Hm... Três – Riu soprado – E a quarta me deu um pé na bunda antes que eu pudesse ter feito o pedido.

 

Então... Mina teria sido a quinta se a quarta garota não o tivesse rejeitado antes? Aquilo era infantil, e ela sabia disso, mas ser o número cinco não pareceu tão especial quanto esperava...

 

-E você?

-Ah... Só um...

E apenas pelo tom de voz, Jinki percebeu que a informação não fora tão bem-vinda quanto esperava.

-Mina? – Jinki sussurrou perto do ouvido da garota – Tá tudo bem?

-Tá, sim.

 

Não. Jinki sabia que não estava.

 

-Hey, Mina... – O mais velho fez a garota se virar de frente para si; tomou seu queixo entre o indicador e o polegar, e fê-la olhar em seus olhos. Encostou sua testa na dela – Não fique assim... Eu poderia ter mentido, mas eu quero ser honesto com você. Então, por favor, seja honesta comigo também...

 

Oh... Aquilo doeu.

E a sensação em seu estômago fora péssima quando ela assentiu com a cabeça.

-Hmm... – Jinki abriu um sorriso de canto, convencido, cutucando o rosto da menina com a ponta do nariz – Será que alguém está enciumada?

-Eu não tô com ciúmes – Mina deu um breve tapa no peitoral do mais velho, fazendo Jinki rir da maneira que os ombros chacoalham para cima e para baixo.

-É – Riu novamente – Tô vendo que não – Novamente cutucou-a com a ponta do nariz, dessa vez fazendo cosquinhas no pescoço da garota e segurando seus braços para que ela não pudesse afastá-lo.

-Yah!! Jin-Jinki!! Para! – Ela tentou chamar atenção do mais velho, mas fora completamente em vão, já que todas suas tentativas de repreensão eram cobertas de risos dela mesma – Jinki! Eu vou cair do sofá!

-Não vai, eu tô te segurando – E no final, Jinki ria junto dela, amenizando a atmosfera pesada de momentos atrás. Mas não parou com as cócegas em seu pescoço.

-Oppa!! – Até o momento, as vezes em que ela chamava o mais velho era de maneira despreocupada, entre risos e contorções no sofá, mas a partir do momento que ele começou a dar pequenas mordidas e mudar o rumo de seu pescoço para a região de sua garganta, Mina começou a entrar em desespero – Jinki, para! Jinki... Para. Por favor, para!!

E mesmo que Mina, na verdade, fosse um homem, sua força não adiantou de nada. E foi no momento em que Jinki amansou o aperto em seus braços por consequência da surpresa quando seus lábios finalmente tocaram o pomo de Adão alheio, que Mina, desesperada, soltou-se e pulou para fora do sofá, subindo o turtleneck do suéter até quase cobrir sua boca.

-Mina...? – Jinki franziu o cenho, completamente perdido.

-Eu... – Mina desviou os olhos. Fechou os olhos com força e fez o que achou mais fácil – Desculpa.

Fugiu.

Pegou a bolsa jogada na mesinha de centro, e, sem olhar para trás, correu em direção a porta, ignorando os repetidos chamados de Jinki atrás de si.

 

 

• • •

 

 

Droga.

 

Taemin estava debaixo das cobertas. Os olhos abertos, mas focados em nada em particular. Vazios.

 

Droga.

 

O que estaria se passando na cabeça de Jinki nesse momento? O que ele estaria pensando de si agora? O que ele estaria fazendo?

 

*Brrrrr*

Droga!

 

Já era, talvez, a décima terceira mensagem que Taemin recebia desde que chegou em casa e ativou o WiFi do celular. Não havia lido nenhuma delas. Não teve coragem. Bastou olhar o nome de quem as havia enviado que, no mesmo instante, ele bloqueou a tela, jogou-se na cama e enrolou-se nos lençóis feito um casulo, esperando sumir do mundo.

Talvez ele faltasse no balé amanhã. Talvez fosse melhor evitar Jinki por um tempo, afinal, a única coisa que o mais velho sabia de si era somente o número do telefone de qualquer forma. E ele duvidava que a secretaria passasse seu endereço pelo sistema de registro dos alunos para qualquer um que pedisse. Mas isso não seria tarefa fácil. A mãe do garoto notara algo de errado quando ele ligou pedindo que ela viesse buscá-lo. Não conseguiu esconder o desespero que lhe transbordava a pele. Por outro lado, estava grato que ela não perguntara nada, embora vez ou outra ela lançasse olhares suspeitos para ele no banco do carro.

 

Sim. Novamente, era infantil fugir de situações como esta. Ele devia uma explicação ao mais velho. Jinki merecia isso. Aliás, Jinki merecia tanta coisa...

Merecia a verdade. Merecia alguém que não mentisse. Que não precisasse fazer tudo às escondidas.

Alguém que não fosse ele...

 

Mas Taemin também merecia a felicidade. E fora isso que Jinki lhe proporcionou nos últimos quatro meses. O fato de que isso provavelmente havia chegado ao fim o assustava de tal maneira que chegou a lhe embrulhar o estômago.

O garoto quase pulou da própria pele quando a tela do celular se acendeu e o toque do celular soou de repente.

Jinki.

Claro. Quem mais seria?

 

Taemin mordeu o lábio, olhando para o aparelho que continuava a tocar.

O que ele deveria fazer?

 

Taemin olhou novamente para o nome de quem chamava, apenas para ter certeza de que ele não havia lido errado, mas, sim, ainda era Jinki que estava ligando.

 

Deveria atender?

Cancelar a chamada?

Colocar em modo avião? Desligar o celular?

Ou simplesmente deixar tocar até que o mais velho desistisse de ligar?

 

A qual conclusão Jinki havia chegado? Teria ele ligado os pontos de alguma forma? Entendido porque Mina sempre usava algo para cobrir o pescoço?

Bastava que ele atendesse o celular e encarasse seus problemas de frente para descobrir, mas, definitivamente, ele não tinha coragem. Pelo menos, não tão cedo...

 

E o telefone tocou mais três vezes depois daquela.

Nenhuma delas Taemin atendeu.

 

 

• • •

 

 

Taemin faltou a semana seguinte inteira. Simplório, apenas perguntou para a mãe se poderia ficar em casa ao invés de ir para o balé. Não especificou porquê, mas também preferiu não mentir. Talvez já tivesse mentido demais.

Claro, a mãe do garoto encheu-o de perguntas. Perguntou coisas como se algo grave havia acontecido no balé; se alguém havia descoberto sobre Mina; ou se ele era vítima de bullying de alguém. Em todas as perguntas, o garoto apenas balançou a cabeça levemente, negando. Seu pedido resumiu-se em apenas um fraco e angustiado “por favor” que desconcertou a mãe por completo, mas que acabou por fazê-la ceder.

Conseguiram um atestado médico como justificativa, e o garoto acabou aproveitando os dias livres que teve para adiantar os trabalhos da faculdade de tarde, e preparar-se para encarar Jinki em uma conversa honesta e justa de noite.

Isso, caso Jinki ainda viesse buscar a sobrinha no balé.

Quais eram as chances de ele nunca mais aparecer?

 

Depois do terceiro dia que Taemin não respondeu suas mensagens ou ligações, Jinki parou de tentar contatá-lo.

 

Taemin franziu o cenho, novamente fitando o teto branco do quarto.

E se isso afetasse Jina e Jinki a fizesse trocar de escola?

Droga. Agora o menino estava apenas arrumando mais preocupação para sua cabeça. Jinki não seria extremista a esse ponto... Seria?

Taemin virou de lado, fitando a parede vermelha a sua frente. Soltou um profundo e demorado suspiro, e fechou os olhos.

 

Tudo bem se Jinki não quiser vê-lo.

Todo bem se Jinki não quiser mais conversar consigo.

 

No silêncio da noite, uma única e solitária lágrima rolou pelo rosto do garoto.

 

Tudo bem se tudo tiver acabado.

Afinal, isso estava fadado a ter um fim desde o começo, certo? E, honestamente, toda essa mentira acabou durando muito mais tempo do que Taemin imaginara. O problema é que essa situação já havia se estendido tanto que, em certo ponto, o garoto acreditou que as coisas pudessem continuar daquele jeito; que talvez Jinki não descobrisse e que de alguma forma eles continuassem juntos.

Impossível, claro. Mas nada impediu a mente do garoto de devanear nesses sonhos impossíveis com realidades alternativas que ele gostaria que existissem.

 

Tudo bem.

Ele repetia.

Tudo bem...

Foi bom enquanto durou.

  


Notas Finais


Eu li uma parecidíssima, exatamente com o mesmo couple e que o Taemin gostava de se travestir há um bom tempo, mas... Sabe como as fics de 2012 são, né? Tem aquele fenômeno esquisito que 90% delas misteriosamente são abandonadas +_+ A única diferença, é que eu tenho altos palpites que, naquela fic, o Taemin pretende virar mulher. Mas eu nunca vou saber né? +_+ goddamn e-e


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