História Liberdade para viver - Quatro

Murdo levantou-se, sobressaltado, e procurou a origem da voz. Seus olhos varreram o cemitério em busca de qualquer movimento, analisando seus arredores e tentando capturar qualquer ruído. Entretanto, a noite se mantinha perfeitamente silenciosa, fazendo-o considerar a ideia de que sua mente poderia estar lhe pregando peças, traindo-o, inventando sons e imaginando vozes, devido a sua exaustão. Talvez ele devesse simplesmente voltar ao trailer e dormir um pouco mais, pensou o vampiro.

Contudo, repentinamente, seus olhos capturaram um movimento entre as árvores e Murdo, alarmado, pôs Carlotta em sua bota e, rapidamente, caminhou em direção às plantas, tentando não fazer barulho. 

O cantor afastou vários galhos do rosto e viu, deitadas na grama, as duas vampiras do show. A de cabelo curto foi a primeira a notá-lo, levantando-se rápido com guarda alta e mostrando as presas, mas, ao reconhecê-lo, a garota logo assumiu uma posição menos ameaçadora. 

A vampira e Murdo mantiveram contato visual por alguns segundos, ambos surpresos demais para reagir. O cantor estava atônito e a jovem, inicialmente perplexa, parecia assumir uma expressão irritada, raivosa e depreciativa.

-O que você ta fazendo aqui, seu babaca?  - A garota praticamente gritou a frase, deixando Murdo levemente aturdido, ele continuava incapaz de responder devido ao choque de reencontrar aquela vampira que ele imaginou nunca mais ver.

O silêncio do cantor pareceu irritá-la ainda mais, fazendo-a dar um passo ameaçador em direção ao vampiro.

- Então além de ser um cantor mercenário e falso você ainda é um pervertido que fica espiando meninas? – O tom da vampira era acusatório, menosprezante.

-Daka, cuidado. - Advertiu a garota de cabelo longo puxando a outra pelo braço. 

-Que foi? Ele não vai me machucar. E eu quero saber o que esse idiota tava fazendo se escondendo entre as plantas e olhando pra nós! 

Murdo finalmente conseguiu reagir, recuando um passo e respondendo, ainda confuso:

-O que? Do que você ta falando? – Titubeou o cantor, levantando a voz. Ele não conseguia entender ao que aquela garota se referia, atacando-o tão veemente, mas ele estava ficando irritado, afinal, ele não havia feito nada e ela estava insultando-o.

-Não se faz de burro, Murdo, eu vi você espiando a gente atrás daquelas árvores! - A garota estava gritando agora.

-Eu não tava espiando vocês, porra! Eu ouvi um barulho e vim ver, ta? Então para de me acusar, menina. - O vampiro havia gritado ainda mais alto. Ele estava começando a ficar realmente exasperado e sua mente estava indecisa entre felicidade por encontrar a vampira e poder, finalmente, descobrir o que ele havia feito para deixa-la tão chateada no show e raiva pela forma como  ela estava tratando-o.

-Daka, esquece ele, vamos embora. Você vai acabar criando confusão, é melhor voltarmos pra casa! - A garota de cabelo longo parecia nervosa, tentando arrastar a vampira, Daka, para longe de Murdo.

-Eu? Eu não to criando confusão! Foi ele quem começou a gritar, a culpa não é minha! – Daka continuava gritando.

-Foi você quem começou a me acusar de pervertido e mercenário e sei lá que outras merdas, eu não fiz nada!

-Não é culpa minha se você é um pervertido mercenário! – A vampira avançou mais um passo em direção ao cantor.

-Calem a boca! – A garota de cabelo longo parecia furiosa, gritando mais alto que ambos - Vocês parecem crianças! Acabou, ta? A gente vai embora. – Ela puxou Daka pelo braço e esta, relutante, acompanhou-a para longe do vampiro, alçando voo.

Murdo ficou surpreso por um segundo e, quando finalmente raciocinou que a garota que ele havia procurado tão desesperadamente estava indo embora, gritou pedindo para que voltassem, mas elas o ignoraram.

O vampiro considerou tentar alcançá-las, mas descartou a ideia, considerando que ela o faria parecer realmente pervertido, afinal perseguir duas garotas no meio da noite não era exatamente uma imagem positiva. Além disso, se ele as havia encontrado no cemitério, isso significava que elas provavelmente moravam em Bindburg. Não seria tão difícil encontrá-las.