História Libertad - O garoto problema

Enquanto Naruto e Hinata continuavam abraçados na entrada da casa, os demais estavam sentados no sofá da sala de estar, apenas encarando o nada. Sakura ainda estava inconsciente no colo de Sasuke, porém o moreno conseguia apenas pensar em como seu tio fizera tantas pessoas sofrerem. Seu pai nunca gostara dele e, quando era menor, não entendia o porquê, mas agora tudo estava claro. Era possível que Marada armara tudo para que os pais dessas garotas fossem levados? Seu pai falaria a verdade para ele, se ele pudesse conjurar a alma dele? Não sabia ao certo.

Tenten sentia-se um tanto culpada. Já de roupa, se levantou e ficou de frente para todos. Pigarreou para chamar a atenção, fazendo com que Naruto e Hinata se soltassem, envergonhados. Estavam há tanto tempo daquele jeito que nem perceberam que os outros já haviam entrado.

-Eu quero me desculpar. –Respirou fundo, tomando coragem para continuar. –Eu fui irresponsável. Eu sabia que era um risco aprender tudo dos livros sem perguntar antes pra vocês, mas vocês não sabem como é. Eu sei que a Sakura está praticamente morta, mas ela é realmente muito forte. Com dois, três feitiços, acabou com dois lobos sozinha! Hinata é uma guerreira de primeira! Vocês tinham que ver! Era espada, raio, lobo voando pra todo lado! A única coisa que se via era um vulto negro por toda parte! Foi incrível ver as duas lutando! –Olhou para todos e percebeu que estava passando a mensagem errada do que queria dizer. –Eu nem sabia que era um lobisomem. Quer dizer, todos os livros falam que apenas homens podem se transformar e eu sei que não sou um homem. Pelo meu tamanho e pelagem, os livros me descrevem como filha primogênita de um alfa e agora eu entendo por que meu pai mantinha um dente em seu pescoço. Era um dente do seu lobo. Isso impedia que ele se transformasse quando quisesse. E eu não entendia como eu não me transformava, mas…Eu achei uma página solta no livro, parecia ser de um diário, mas era do meu pai, sua letra era inconfundível. Ele descrevia uma receita da minha família com leite quente que impedia a transformação. E  eu bebia toda noite antes de dormir, como tradição, mas quando viemos pra cá…Parei de tomar.

-O que a Tenten quer dizer, é que apesar das consequencias, -Hinata entrou na casa, ficando ao lado da morena. –Não nos arrependemos. Fomos avisadas pelos livros que as consequencias de usar tanto poder sem treinamento eram severas, mas iriamos morrer se não fizéssemos nada. Não nos culpem por isso.

-Principalmente você, Sasuke. –Murmurou Ino. –Tenten me contou que Sakura chorou pra você ficar…

-Não venha querer me dar lição de moral, Ino.  –A voz dele estava carregada de desprezo pela loira. –Eu estava indo atrás de vocês.

-Não ia falar que você fez errado…-Ela o encarou com os olhos semicerrados. O que ele tinha contra ela afinal? –Eu só ia falar que você é o amuleto dela e por isso, deveria tomar mais cuidado com suas ações.

-Que?

-Sakura é frágil, Sasuke. Ela precisa de proteção…

-Pelo que eu vi hoje, não precisa. –Neji se intrometeu.

-Não só esse tipo de proteção! –Ino revirou os olhos. –Ela precisa de alguém pra se apoiar.

-E por que eu sou o escolhido? –Baixou seus olhos para a garota que dormia em seu colo. Sua respiração estava tão fraca, sua pele tão pálida, que ele tinha a impressão que ela iria se desmanchar só de ele se mexer. –Não sou bom em cuidar de pessoas.

-Eu não sei. –Deu os ombros. -Pelo que eu me lembre, ela te odiava. Você é mesmo um babaca.

-Obrigado. –Revirou os olhos. –Desculpem por ter culpado vocês o tempo todo.

-Antes tarde do que nunca, né nom? –Tenten sorriu.

Sakura começou a se mexer no colo de Sasuke. Esperavam ela acordar, porém ela somente se virou e agarrou a cintura do moreno, que pulou com o gesto. Hinata deixou se levar pela sensação e riu. Precisava que tudo ficasse bem pois devia isso aos pais de Naruto.

Já estava chegando a hora da janta, quando Sakura acordou não estava no quarto que havia escolhido para dormir. Olhava em volta e não achava ninguém. Pensou por um segundo em descer e perguntar para o grupo o que tinha acontecido, mas apenas sentou na cama e trouxe os joelhos para o peito, ficando em uma posição que possibilitava esconder o rosto entre as pernas.

-Sakura? –Ouviu a voz de Sasuke atrás da porta fechada. Como ele sabia que ela já estava acordada? Ou será que veio tentar acorda-la? –O jantar está pronto… Temos que comer logo para poder sair daqui logo.

-Não é melhor esperar amanhecer? –Falou inquieta. Não queria sair ainda. Não estava muito bem.

-Eles vão atacar de novo, com certeza. –Um silencio desconfortável se instalou no ambiente e tanto quanto Sakura quanto Sasuke encaravam o chão, mesmo que não pudessem se ver, sentiam a mesma coisa.

-Já vou. –A rosada quebrou o silencio, se levantando da cama e indo até o banheiro ligado ao quarto.

-Só…não demora. Queremos você lá também… -Era uma completa loucura o que apenas aquela frase fez com o estomago dela. Era impossível que as pessoas apaixonadas gostassem disso. Se aquilo fosse as famosas borboletas, não as queria de jeito nenhum. Já estava encrencada demais em um lugar como aquele.

Via sua pele pálida como o mármore mais puro, lhe dando a aparência de doente. Aquilo não era bom. Estava sem força. Precisava levar os livros para descobrir mais sobre si mesma e o que estava acontecendo com o seu corpo. Não havia utilizado tanta magia, tinha?

-Vamos levar os livros. –Ino se posicionou. Estavam diante da estante de livros, decidindo se levavam ou não alguns livros.

-Eu acho que é desnecessário. –Neji deu os ombros, enquanto raspava o prato do jantar. Hinata havia feito uma lasanha de queijos que estava maravilhosa. Neji não entendia como a prima havia se tornado tão boa na cozinha sendo que era péssima quando eram um tanto menores.

-Acho que devemos levar. –Gaara, pela primeira vez, não contrariou as garotas, o que as surpreendeu. –Temos um tempinho até termos que sair. Então cada um escolhe os livros que vai levar, mas não esqueçam: muito peso atrapalha.

E foi o que fizeram nas duas horas seguintes. Pegaram alguns livros, comida e um mapa que os levasse até a próxima base. Também não ficava muito distante, mas ainda assim, era uma hora de caminhada e precisavam ir, pois Tenten sentia que algo estava errado, sentia-se sendo observada e isso não agradou nenhum dos integrantes do grupo.

 E assim partiram.

                                                            ↭↭⊰⊱↭↭

Caminhavam silenciosamente e atentos, pois assim que saíram da cidade, Tenten não sentia mais o desconforto que sentia antes. A noite não estava tão bonita quanto a noite que chegaram, mas ainda assim, com o céu cheio de nuvens sem lua ou estrela, era melhor que a escuridão subterrânea. O vento soprava nas árvores, fazendo com que Hinata sentisse medo da escuridão que os cercava.

-Vocês ouviram isso? –Os olhos perolados corriam para todos os lados, procurando algo. Naruto apertou a mão de Hinata e lhe puxou para mais perto dele.

-São apenas as árvores conversando. –Sorriu para ela, mesmo que ela não pudesse vê-lo, esperava que aquilo a acalmasse.

-É assustador…

-Mais assustador que sua amiga sanguessuga? –Ouviu Sasuke rir maldosamente e provavelmente uma loira bufando irritada. Os dois eram incorrigíveis.

-Engraçado você. –A loira gargalhou sarcasticamente. –Sabe, a Hinata parece menos assustada que você, quando viu a Sakura desmaiando hoje.

-Cala a boca, loira intrometida.

-Vai fazer o que? Me matar? Eu já estou  morta. –Resmungou a última frase, porém todos ouviram.

-Você está com sede, Ino? –Sakura perguntou preocupada com a amiga, já que faziam horas que não havia “comido”.

-Consigo chegar até lá…-Envergonhada pela pergunta, apertou as próprias mãos. Não queria ser a “deficiente” do grupo.

-Não precisa se envergonhar, sabe disso, certo? –Hinata tentou achar o ombro de Ino, mas não conseguiu.

-Verdade... Sasuke alimenta sua parte morta com sombras. –Naruto riu lembrando-se de quando vira pela primeira vez.

-Porra, Naruto…Elas não precisavam saber…

-E ainda me chama de esquisita!

-Quando eu vou ter uma hora de paz? –Gaara bufou enquanto Ino e Sasuke discutiam.

                                                           ↭↭⊰⊱↭↭

Quanto mais chegavam perto da cidade, mais as árvores mudavam. Antes cheias de folhas verdes e vívidas, agora estavam perdendo as folhas e as que sobravam nos galhos tinham uma cor marrom escuro, como se fosse um último sopro de suas vidas. Era como se uma aura de morte se aproximasse cada vez mais que avançavam para a base.

Sasuke sentiu um arrepio assim que cruzam a placa “Bem-vindos”. O nome da cidade parecia ter sido riscado fazia tempo, pois agora já podia-se ver as ferrugens saindo dos cortes da placa azul escura com as letras grandes e brancas. Molhou os lábios, com a intuição de falar algo, mas ouviram um estrondo vindo da casa próxima dali.

-Não podemos ir lá. –O moreno avisou. Estava com um péssimo pressentimento. Seus instintos o avisavam que algo pior que a morte em pessoa estaria ali.

-Sua mãe está lá? –Gaara se referia à morte, mas sabia que Sasuke havia sido concebido por Mikoto, porém sua história era diferente.

-Não…Meu pai. –Engoliu seco dando um passo para trás. Seu pai era manipulador para qualquer um. Era realmente o desejo, tanto para homens, quanto para mulheres. Por que estava ali?

-Quem é seu pai?-Sakura sussurrou, e perguntava-se quem seria o tipo da morte. Quer dizer, dava pra imaginar a morte?

-Desejo…-Resmungou. Parecia idiota falar desse jeito, mas… ele é fruto da morte e do desejo, juntos por uma noite. Seus pai foram possuídos pelos dois e assim nasceu, Sasuke Uchiha, o garoto problema. Sempre fora conhecido desse jeito. As pessoas tinham medo dele e de seus amigos e, por isso, o grupo acabou unido. Mas Sasuke não era culpado por ter nascido de duas criaturas bizarras.

-Precisamos fugir dele? –Tenten sussurrou, com medo de que o homem escutasse mesmo que de um tanto longe.

-Se você não quiser ficar aqui pra sempre. –Neji suspirou. Mas que dia, hein?