Milo já estava cansado de procurar coisas que lhe distraíssem por aqueles dias. Não conseguia parar de pensar em Camus e em como o tempo se arrastava até ter seu namorado de volta, parecia uma eternidade. Sentia que toda a burocracia do mundo estava conspirando contra ele. Havia acabado de jantar com seus pais, ao menos tentara, já que a comida não lhe descia. Kárdia e Dégel tentavam de tudo para animar o filho, trazer os amigos, sair com ele, mas nada adiantava, era como se a alma de Milo estivesse sem um pedaço. E realmente estava.
Se encontrava jogado na cama de seu novo quarto. Os pais haviam preparado aquele lugar para ele quando ainda estava no hospital. Havia uma grande cama de casal, e a decoração era sóbria, pronta para receber os toques pessoais do novo dono. Haviam muitos aparelhos tecnológicos que poderiam interessar a Milo, mas ele não se animava absolutamente com nada. Distraído ali, ouvindo um pouco de música baixa, quando dois toques na porta anunciaram a chegada de alguém, que Milo logo mandou entrar.
- Filho? – Dégel adentrava o quarto se sentando próximo a cama do filho – Você mal tocou na comida. Se sente bem?
- Só estou sem fome pai, não foi nada. – Milo tentava disfarçar.
- Você está com saudades do Camus, não é? – Ele passava a mão nos fios dourados do filho e mordiscava levemente o lábio. Aquilo lembrava tanto a Camus.
- Muitas, pai. E o senhor se parece tanto com ele. – Milo dizia a um pai surpreso.
- Sério?
- Sim, não é só nos cabelos e na aparência. – Dégel arrumava os óculos prestando atenção no filho – quando vejo o senhor lendo, ou o jeito que morde o lábio, é engraçado, parece ele. Acho que puxei o bom gosto do pai Kárdia. – Os dois riram com aquele comentário.
- Eu sinto muito se te faço lembrar ele filho, deve ser difícil nesse momento.
- Não sinta pai, me é um alento. Ao menos eu tenho algo além do livro do Camus que me lembre ele. – Milo não conteve as lágrimas nesse momento – eu sinto tanta saudade pai, tanto medo de nunca mais poder vê-lo.
- A audiência onde se decidirá se conseguiremos resgatá-lo e ao seu filho está próxima. Eu sei que a imprensa não tem perdoado, e tem sido difícil por causa dela, mas nós vamos conseguir trazer seu namorado de volta junto ao filho de vocês e esse pesadelo vai acabar. – Suspirou. – Você precisa ser forte, meu filho.
- Se ao menos eu pudesse saber que ele está bem, acho que a dor seria menor. – Milo dizia entristecido
- Filho, eu não podia te mostrar isso, porque é segredo de justiça. Não sei se vai me perdoar por não ter tem mostrado antes, mas se isso caísse acidentalmente na mão da imprensa podia por todo o processo a perder. Se eu fosse descoberto até seria preso, mas... – ele suspirava cansado e pegava um pequeno aparelho em seu bolso. Uma projeção se fazia na parede do quarto de Milo – Eu não aguento mais te ver sofrer.
Milo via a projeção mostrar imagens sem fim de códigos e seu pai digitar feito um louco. Focado daquele jeito ele parecia ainda mais o seu Camus. Em dado momento uma tela se abriu, uma imagem nitidamente de um sistema de segurança. Em mais alguns códigos aquela imagem se tornou mais nítida, formando uma projeção holográfica em terceira dimensão extremamente próxima ao real, graças à tecnologia e conhecimento de Dégel.
- Isso não é tempo real, filho. Invadi os servidores, mas só consigo imagens de mais ou menos uma hora atrás, mas acho que pode aliviar um pouco o seu coração… - sussurrou para si. – E o meu em amenizar sua dor.
Era o temível, e por tantas vezes citado por Camus, quarto branco. Milo se jogou da cama caindo de joelhos ao chão, se aproximando daquela imagem e erguendo a mão. Sabia que não poderia tocá-la, mas queria. Camus estava ali, sentado sobre a cama com o pequeno filho nos braços. Os longos cabelos vermelhos caiam de lado e ele olhava para Hyoga em seus braços com um sorriso doce. Não havia som, mas Camus parecia conversar com o menino.
- Camus... – As lágrimas desceram sem nenhuma barreira pelos olhos azuis de Milo. – Hyoga... meu filhinho.
Camus parecia cansado, mais magro e ainda mais pálido. Era nítido no olhar do ruivo o amor que sentia pelo filho, mas também seu estado de exaustão e tristeza. Milo queria poder tocá-lo, queria poder senti-lo. Tinha ele ali, em tamanho real, bem na sua frente, mas tão distante ao mesmo tempo. Ele virou ao pai e pediu quase em um fio de voz.
- O senhor pode... pode aproximar mais, pai? - Dégel sorriu entristecido e aproximou mais a imagem, dando a Milo uma melhor visão de seu filho. – Meu filho é lindo, pai!
- Ele parece você, Milo. – Dégel sorriu, e depois de digitar mais um pouco, uma voz baixinha e distante aqueceu o coração de Milo, o fazendo chorar ainda mais.
“- Quando eu estava esperando você, um dia em que nós já não tínhamos mais ideia de onde moraríamos, seu pai me disse que depois de você queria ter mais dois filhos. – Era a voz de Camus conversando com o filho, vez ou outra o áudio falhava, mas era compreensível – Já imaginou, você correndo com mais dois irmãozinhos, sorrindo e brincando feliz? Seu pai é um doido apaixonado pela família, e ele faz tudo pela família dele, filho. Um dia ele vai nos tirar daqui. Ah meu filho, como eu queria dizer para o Milo mais uma vez o quanto eu o amo. – Camus se levantava - Mas está na hora desse pequenininho dormir. Aprenda filho, aqui dentro, apenas nos nossos sonhos nós somos felizes, e eu queria muito sonhar com o seu pai essa noite.”
- Eu também te amo Camus, eu te amo tanto!
As lágrimas castigavam o rosto de Milo enquanto ouvia o ruivo cantar as músicas de ninar. Eram as mesmas que ele tinha o hábito de cantar para Camus quando eram crianças, quando ele acordava em meio a pesadelos. Cantava até que o ruivo dormisse novamente. A imagem foi pouco a pouco falhando.
- Perdão filho, eu tive que interromper a transmissão, ou seria descoberto. – Dégel dizia e abria os braços para o filho, que não se fez de acanhado em abraçá-lo e buscar afago em seu colo. – Eu sei que dói filho, eu senti essa dor quando te perdi, mas agora eu estou aqui, eu e seu pai. Nós vamos fazer de tudo por você filho, e pela sua família.
- Eu sei pai, eu sei! Obrigado por tudo. Agora só me deixa ser o menininho que vocês perderam e cuida de mim.
Os dois ficaram ali abraçados até Milo acabar dormindo e sonhando com Camus naquela noite.
Alguns dias depois, Milo se encontrava arrumado na sala esperando os pais. Iriam para o julgamento do caso de seu filho e a tentativa de, assim como a criança, reaverem seu amado namorado. Andava de um lado para outro nervoso, vestido elegantemente em uma camisa social branca e uma calça negra simples. Queria que aquele pesadelo acabasse de uma vez e seu pais sentiam seu nervosismo à distância. Seguiram calados para o fórum, e ao pararem o carro diante do grandioso prédio de arquitetura clássica, um grupo enorme de jornalista já se fazia presente diante deles.
- Filho, faça como combinamos, não dê nenhuma declaração – Kárdia dizia tão sério, que sequer parecia ele – Qualquer coisa que disser a essa altura do campeonato pode prejudicar o julgamento. Só fale comigo ou com o seu pai, e mesmo assim seja discreto, entendido?
- Sim pai, eu só quero acabar logo com isso. Os rapazes vão vir também?
- Sim, eles e a diretora do seu antigo orfanato precisam depor, mas vocês não vão poder se ver até esse momento.
- Certo pai, vamos enfrentar as cobras então. Espero que nosso veneno seja mais potente que o dos representantes da maldita BioTech.
Kárdia e Dégel foram os primeiros a descer, e protegeram Milo entre eles. Uma grande quantidade de seguranças os cercavam, e eles tiveram que praticamente mergulhar no mar de jornalistas, até que finalmente conseguiram adentrar o prédio. O caso seria todo televisionado, porém a área de acesso à imprensa era reservada e colocada em um mezanino da sala de audiência, onde eles não teriam contato com os envolvidos no caso. Assim que adentraram o lugar, puderam conversar com calma. Nesse instante eles foram abordados por um jovem alto, de cabelos num tom de castanho claro, e vestido elegantemente em um terno, que lembrou muito a Milo o irmão de seu amigo Aiolia, Aiolos.
- Que bom que conseguiram passar por aquela enxurrada de jornalistas, eu mal consegui entrar quando cheguei. Esse deve ser o filho de vocês, que bom te ver novamente Milo, você realmente ficou muito mais parecido com o seu pai do que já era.
- O senhor já me conhecia? – Milo perguntava curioso.
- Esse é Sísifo, responsável pelo caso de Camus e principal advogado do escritório de advocacia de seu pai. Ele que assumiu a empresa quando Kárdia resolveu enveredar pela carreira política, filho. - Dégel apresentava os dois, que se cumprimentaram com um cordial aperto de mão. – Ele também é amigo de faculdade de Kárdia e se conhecem desde pequenos.
- Já sabe quem é o juiz que vai cuidar do caso, Sísifo? – Eles voltaram a andar até a sala que ficou reservada a eles.
- Não sei se isso é bom ou ruim, mas o juiz designado ao caso é o Minos, Kárdia. – O loiro parou de súbito, surpreso.
- Tá brincado, cara? O implacável com as leis, o senhor certinho? – Ele dizia com os olhos arregalados.
- Ué pai, é ruim ser ele? – Milo perguntava curioso.
- Bom, - o homem ficava sem graça – é que na época da faculdade eu fiquei com o atual marido dele, e até hoje o Minos não gosta de mim por isso.
- Kárdia, ficar é modéstia sua. Vocês só faltaram dar um show na fraternidade, de tão bêbados, e todo mundo sabia que o Minos era louco pelo cara e queria ficar com ele naquela festa. – Sísifo ria, entregando o amigo.
- Pera aí. – Dégel olhava sério para o marido, ajeitando os óculos, se lembrando de quem eles falavam. – Você ficou com o Alba e nunca me contou?
- Bom, isso tem tempo Dégel, e nessa época todo mundo achava que você fosse hétero, estava namorando sua ex-esposa, então... – Kárdia tentava remendar o mal feito, sentindo as fagulhas de gelo do olhar do marido caindo sobre si com ciúmes.
- Em casa nós conversamos. – O ruivo respondeu.
- Eu tô fudido nesse julgamento. – Milo balançava a cabeça, suspirando.
Depois daquela pequena conversa Dégel não olhou mais na cara do marido. Kárdia se resignou a saber que dormiria no sofá aquela noite e que não adiantaria nada tentar quebrar o iceberg que o marido se tornava nessas horas. Milo estava ansioso demais para querer ligar para a briga dos pais, ele sabia que os dois se ajeitariam. Dégel era muito parecido com Camus, ia ficar fechado por um bom tempo, dar um gelo em Kárdia, e logo estariam se pegando pela casa, achando que ele não ia ver. Pelo pouco tempo de convívio, Milo sabia que seus pais eram quase uma cópia mais velha dele e do namorado. Isso talvez era o que mais o matava de saudades.
O julgamento se iniciou. O juiz, um homem que realmente era de dar medo com aquela presença imponente e firme, se assentou e Kárdia saiu de perto do filho, tomando lugar ao lado de Sísifo, que era quem iria ser o advogado principal. Kárdia seria somente seu auxiliar, já que ele mesmo não poderia assumir o caso por ter interesses pessoais claros no mesmo. Do outro lado, pela BioTech, um homem belo e de figura igualmente forte, de nome Andreas, representaria a empresa do avô de Milo. Dégel ficou sentado ao lado de Milo na platéia.
Lidos os autos do processo, foi informado a todos que o principal objetivo naquele julgamento era reaver a liberdade de uma das cobaias de propriedade da BioTech Corp. Segundo a ação, a cobaia havia fugido das instalações ainda criança, e vivido em um orfanato de uma das Vilas da Nova Europa. Lá estreitara relações com Milo Alexis, e desse envolvimento gerou-se um fruto, que estava em poder do laboratório atualmente. A guarda da criança, assim como seu paradeiro e estado de saúde, era requerida ali também por seu pai biológico. Terminada a leitura, as testemunhas seriam chamadas uma a uma.
Milo estava angustiado, e seu pai sabia disso, lhe dando apoio o tempo inteiro. A primeira testemunha a ser chamada era a diretora do orfanato onde Milo cresceu. O intuito inicial de Sísifo era provar sem sombra de dúvidas a existência de Camus, contestada até o momento em todos os sentidos pela BioTech.
Perguntas dos mais variados tipos eram feitas à diretora. Ela relatou em minúcias sobre a chegada de Camus, e como se deu a investigação em busca do paradeiro de parentes do menino. Deixou claro que tão misteriosa como fora a chegada de Milo ao orfanato, a de Camus também não deixava pistas de uma vida regressa daquela criança. Foi inquirida do crescimento do menino e de seu envolvimento com Milo Alexis. Amy afirmou a relação dos dois de modo incontestável, apresentando fotos e vídeos feitos no orfanato com eles.
- Senhorita Amy. – Andreas, o advogado da BioTech, com seu jeito imponente e sério, começou a discursar, tentando pressionar Amy com sua presença esmagadora – A senhora acredita que homens possam engravidar? A senhora viu Camus esperando um filho?
- Não vi, mas... – Ela ia terminar de responder a pergunta e foi cortada por ele.
- Em algum momento, a senhora pôde desconfiar que o jovem a quem o senhor Alexis chama de Camus, era uma cobaia?
- Não, isso nunca me passou pela cabeça. – Disse sincera.
- Senhorita, – ele tinha um sorrisinho de canto – saberia se por acaso o jovem Camus não se relacionava intimamente com mais algum dos internos do orfanato, ou até mesmo com algum colega externo?
- Lave sua boca antes de fazer uma pergunta nojenta como essa!!! – Milo dizia se levantando em um pulo, rosto afogueado e expressão de mais completo ódio. – Camus nunca me trairia, ele não tinha mais ninguém, ele era meu, meu e só meu! – Todos ficaram em polvorosa com a reação de Milo, e Minos teve que intervir pedindo silêncio.
- Senhor Alexis, se não manter a compostura durante o julgamento terei que pedir que o retirem daqui! – Ele dizia de maneira firme, enquanto Milo tinha o braço tocado pelo pai, que o fazia se sentar lhe pedindo calma.
-Que eu saiba, o Camus seria incapaz de trair o namorado.
- Isso que a senhorita saiba, não é mesmo? Pois me parece que os jovens do orfanato conseguem esconder as coisas muito bem quando querem. Sem mais perguntas, meritíssimo.
Encerrava aquele inquérito ali sem dar espaço para a mulher falar mais nada. Milo se sentia revoltado em seu lugar.
- Quem ele pensa que é? Mal deixou ela falar! – Resmungava.
- Andreas tem esse estilo agressivo, ele manipula muito aqueles a quem ele interroga, filho. Seu pai o odeia, e já batalharam muitas vezes quando Kárdia ainda era advogado. – Dégel suspirou apertando a mão do filho – Ele é um trapaceiro nato, mas seu pai junto de Sísifo são muito inteligentes.
O julgamento continuou como de costume, mais algumas pessoas foram chamadas, assim como o médico que atestou a gravidez de Camus. Esse, nitidamente comprado, negou absolutamente tudo, dizendo que os garotos o procuraram falando daquela gravidez, mas que ele comprovou que aquilo não passava de um típico caso de gravidez psicológica do amigo de Milo. Afirmou que era visível o comprometimento mental de ambos e que não se poderia confiar na sanidade deles. Milo só não o socou porque o pai o segurou.
Mais testemunhas eram chamadas, assim como o antigo empregador de Milo, que confirmou a presença do menino na favela e que o rapaz trabalhara para ele, confirmando as datas em que os fatos ocorreram. Como Camus nunca saía de casa, nenhum dos vizinhos chamados para confirmar a presença dele junto a Milo puderam fazer isso, e muito foram muito bem pagos para isso. Milo era tachado como um louco, com um amigo igualmente insano de quem ninguém sabia o paradeiro.
O jovem já estava cansado ao lado de seu pai, quando o golpe final lhe fora dado. Seus amigos, por determinação do juiz, não puderam depor e confirmar sobre a gravidez de Camus. Quando Minos ainda pensou em ouvir os garotos, o advogado da BioTech relembrou que o fato de que ainda eram menores legalmente. Mesmo com autorização da responsável legal por eles, isso enfraqueceria seus pareceres, e pediu a retirada do nome dos mesmos dos autos. Milo queria arrancar fio a fio ruivo da cabeça daquele homem quando ele sorriu de forma vil ao conseguir isso.
- Eu tô perdido. Acho que vou sair daqui numa camisa de força do jeito que estão me pintando, pai! – Milo cansado, encostava a cabeça no ombro do pai.
- Filho, calma, seu pai tem as armas dele. Kárdia nunca perde uma causa, mesmo que não a ganhe por completo.
Após um breve intervalo, a última testemunha foi chamada. O responsável atual pelas pesquisas da BioTech, Fafner. Em seu interrogatório feito pelo advogado do laboratório, ele reafirmou o que a vice-presidente da empresa disse em entrevista. Nenhuma cobaia havia fugido do laboratório. Assegurou a lisura nas pesquisas e que trabalhavam sim, em pesquisas sobre fertilidade, mas em nenhum momento haviam conseguido ainda a façanha de engravidar um homem, embora não negasse já terem estudado sobre o tema.
Naquele momento, discretamente, Dégel cutucou o filho para observar o jovem assessor de seu pai adentrar o tribunal. Yato era bem pequeno para sua real idade, mas era um funcionário extremamente ágil e quase um braço direito de Kárdia. O mesmo se aproximou do chefe, lhe entregando uma série de documentos digitais, e voltando para se sentar junto aos outros que assistiam ao julgamento. Milo sabia que o pai estava aprontando, quando foi passado a Sísifo o direito de interrogar Fafner.
- Então o senhor nega que tenha havido fuga do laboratório cujas pesquisas o senhor é responsável? – Ele perguntava, indo devagar ao ponto onde queria chegar.
- Exatamente, não temos em registro nenhuma fuga até hoje.
- E também nega que há exatos dois meses e meio nasceu em seu laboratório uma criança oriunda de uma de suas cobaias.
- Exatamente. – Fafner dizia com firmeza.
- A lei das cobaia diz que, em um período de pelo menos três anos, de tempos em tempos, cobaias não podem ser produzidas e nascidas dentro dos laboratórios, visando o controle e bom uso do material a que os pesquisadores têm acesso nas instalações. Assim, evita-se uma sobrecarga na população de cobaias em laboratórios. Esse é conhecido como período de estiagem, no meio laboratorial. Segundo a lei, nós estaríamos nesse período desde o ano passado, certo? – Fafner ficou branco com aquela pergunta.
- Exatamente, nós só podemos ter o nascimento de novas cobaias a partir do final do ano que vem.
- Então como o senhor explica notas fiscais de suplementos para bebês na folha de pagamento da área de pesquisa de sua responsabilidade na BioTech, no período dos últimos quatro meses? – Sísifo sorria com aquilo.
- Isso deve ser algum engano, nós não fizemos pedido algum, pois não temos crianças nessa idade entre nossas cobaias.
- Senhor Minos, gostaria de incluir nos autos do processo a cópia das notas e orçamentos feitos pela BioTech nos últimos dois meses, que provam que houve sim nascimento de cobaias no interior do laboratório nesse período.
- Protesto, senhor juiz! – Andreas dizia vermelho de raiva, não esperava por aquela - Não se pode acrescentar provas ao processo a essa altura do julgamento, peço que as invalide.
- O senhor Andreas tem razão senhor Sísifo. Justifique-se.
- Senhor, tínhamos autorização por ordem judicial de acessar todos os balanços de orçamentos e notas fiscais da declaração de imposto feita pelo laboratório nos últimos vinte anos, visando provar a existência do jovem Camus. Porém, com a virada de ano, recesso de órgãos públicos e o recente problema que os servidores da receita apresentaram devido a um bug técnico, essas notas só me chegaram na manhã de hoje. Ou seja, elas fazem parte das provas autorizadas pelo processo e são legais.
- O senhor Sísifo tem razão, dada as circunstâncias elas são válidas. Continue a inquirir a testemunha.
-Caramba. - Milo dizia no mesmo momento em que seus amigos, que não puderam testemunhar, chegavam e sentavam ao seu lado.
- O que nós perdemos? – Aiolia sussurrava para o amigo.
- Simplesmente que meu pai é muito foda! – Milo estufava o peito de orgulho.
- Ainda não viu nada, filho. – Dégel disse e pediu silêncio aos meninos.
No centro de toda a ação, o julgamento continuava.
- Então, senhor Fafner, gostaria de mostrar-lhe algo. – Sísifo sorria e se voltava ao juiz - Com ordem judicial, tivemos acesso aos vídeos de segurança da BioTech, e uma de suas cobaias me chamou muito a atenção. Vejamos.
Ele acionou um controle e em uma das paredes apareceu a projeção da imagem de um quarto, bem conhecido de Milo. Mostrava um jovem, de cabelos longos e ruivos, em variados momentos: sentado sobre a cama chorando, algumas vezes simplesmente dormindo. Ao pausar o vídeo claramente no rosto do rapaz, a tela se dividiu e uma foto da turma do orfanato inteira, na festa de despedida de Milo, quando este ainda ia para a faculdade, se fez presente.
- Me diga, senhor Fafner, o jovem ao lado de Milo Alexis nessa foto, não é o mesmo jovem, que está nitidamente grávido nas câmeras do vídeo de segurança do quarto de uma de suas cobaias? E esse vídeo, - ele trocava para uma imagem onde Camus amamentava Hyoga - não mostra a sua cobaia cuidando de um bebê, que pela data do sistema de segurança nasceu no período denominado “estiagem”? – O homem ficou calado sem responder nada. – Obrigado, era somente isso que eu precisava.
- Alguma colocação dos advogados da BioTech? – Minos perguntava olhando sério para Andreas, que parecia que explodiria a qualquer momento.
- Nenhuma, senhor.
- Ótimo. Peço um recesso de meia hora para que eu possa deliberar sobre o que me foi apresentado e apresentar minha decisão final.
Minos batia o martelo, se levantando, e todos pareciam voltar a respirar. Milo estava sentado em estado de choque com tudo aquilo.
- E como vai ser agora, senhor Dégel? – Shun perguntava de forma doce.
- Agora nós temos que esperar – tocava o ombro de Milo. – E você precisa ser forte, filho. Seu pai foi bem agora no final, mas não podemos ainda confiar que ganhamos.
- Eu sei pai, eu sei, mas eu tenho fé.
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