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História Liberté: Sangue do meu sangue - Planos feitos e desfeitos.


Escrita por: Alexiel_LaRoux

Notas do Autor


Olá amadinhos!

Eu não estou com muito tempo, mas não podia deixar vocês sem esse capitulo que já está super atrasado (não joguem pedras na minha beta, mas ela estava ocupadíssima, então relevem). Muito obrigada pelo carinho dos comentários, vou responde-los com toda dedicação assim que as turbulências do fechamento do bimestre terminarem aqui. Essa pobre autora que vos digita já não aguenta mais ver nota de aluno nem diários de classe.
Bjjj mil, espero que curtam o capitulo e ainda estejam comigo.

Capa: 黒黒黒米
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Member: helenhe337

Capítulo 20 - Planos feitos e desfeitos.


Fanfic / Fanfiction Liberté: Sangue do meu sangue - Planos feitos e desfeitos.

 

Aquele quarto parecia sem luz, sem vida. Se o famigerado quarto branco sempre havia sido o terror que servia de cenário a pesadelos de infância, e noites insones de medo de voltar àquele lugar; aquelas paredes de tijolos brancos e simétricos se tornavam ainda piores sem o único raio de sol que havia conquistado em meio a sua dor: o pequeno filho.

Camus ainda estava de olhos fechados. Sentia o ursinho em suas mãos e queria muito que seu cérebro não o enganasse mais uma vez, fazendo-o achar que ele era seu filho. Ou seria seu filho a alucinação, no fim de tudo, como Agatha sempre dizia? Ele não sabia. Os delírios causados pelos controladores mentais, as drogas pesadas usadas por Fafner há um tempo atrás, pareciam ter mexido com sua mente de uma forma irremediável. Camus não distinguia mais o que era fantasia e o que era realidade, e isso o afundava no medo de se ver prisioneiro daquele mundo de alucinações e esquecer quem fora Milo e seu amado filho.

Moveu-se devagar na cama, finalmente abrindo os olhos. Suas mãos doeram como nunca antes ao abri-las. Observou o ursinho e lágrimas rolaram tristes de seus olhos naquele momento. Ouviu o som da porta se abrindo e mais do que depressa escondeu o brinquedo improvisado do filho embaixo do travesseiro. Sabia que se fosse descoberto ele lhe seria retirado. Manteve-se deitado quieto e observou Surtr colocar uma bandeja de comida no criado próximo a sua cama.

- Como estão suas mãos, Camus? – O ruivo perguntava de forma sincera, e Camus somente fechou os olhos suspirando. – Eu sei que é difícil e idiota perguntar isso, mas sente-se melhor?

- Como um pai se sentiria melhor, quando parte de seu coração lhe foi arrancado? – Olhou para Surtr. - O que fizeram ao meu filho?

- Ele não vai te contar, só quer ganhar sua confiança e mentir para você – A mente de Camus começou a brincar mais uma vez com ele e a imagem de Agatha se fazia sentada em um dos cantos do quarto. – Ele só quer sua confiança, seu filhinho está bem aqui, ele nunca saiu daqui, assim como você.

Camus levou as mãos à cabeça em angústia. Surtr observava aquilo, o ruivo coçando os olhos como se quisesse tirar uma visão de sua frente. Sabia que Camus não estava mentalmente bem, a droga que Fafner passou a usar para controlar o Híbrido tinha uma duração extremamente prolongada e efeitos colaterais terríveis. Ele tinha de agir logo, ou aquele belo espécime se perderia antes de gerar resultados.

- Ele foi entregue ao Milo. – Surtr disse de uma vez, arrancando um olhar surpreso de Camus.

- Sério? Mas, mas como? - Camus parecia não acreditar e a força daquela notícia parecia ser capaz de acabar com a alucinação de sua amada cuidadora que o enlouquecia pouco a pouco.

- Ordem judicial. Parece que seu antigo parceiro está lutando a todo custo por você. Aconselho-o a se comportar, Camus. Se continuar se ferindo assim, ele pode não ter por quem lutar. – Surtr dizia aquilo querendo ganhar ainda mais a confiança de Camus.

- Obrigado, isso me alivia muito. Meu filho está com o pai, ele vai ser feliz. É tudo que me basta. – Camus deu um leve sorriso, como não fazia há meses.

- Agora coma e descanse. Em alguns dias terá de passar por um procedimento importante, precisa estar descansado.

Surtr saiu dali e Camus se sentou na cama observando a comida. Não tinha vontade de comer, mas se sentia aliviado. Se seu filho estava com o pai, nenhuma loucura, teste ou até mesmo padecer em algumas das loucuras que eram feitas consigo tinha o mesmo peso. Somente a felicidade de Hyoga era o que lhe importava. Após comer um pouco, dormiu e nenhuma alucinação o perturbou nos próximos dias.

Muitos dias haviam se passado desde que o pequeno Hyoga fora retirado de seu pai. Camus passou por alguns procedimentos naqueles dias e já tinha perdido a noção de quanta medicação lhe fora injetada em todo aquele período. Se sentia fraco, cansado e sucumbindo aos poucos.

Em outra parte do laboratório, Surtr adentrava uma sala onde o material genético de Camus era manipulado para que o procedimento da inseminação se desse no próximo dia. O médico responsável pela manipulação genética trabalhava com afinco nesse instante, quando foi abordado pelo ruivo.

- Me deixe terminar esse trabalho. – Surtr ordenou, já calçando um par de luvas.

- Fafner disse que somente eu deveria preparar o material a ser inseminado no híbrido. – O homem respondeu sem desgrudar os olhos do microscópio.

- Mas eu sou um dos chefes dessa pesquisa e quero garantir que saia tudo perfeito. Pode ir, eu termino tudo.

Relutante, o homem passou o controle daquela função a Surtr e saiu da sala. O ruivo começou a trabalhar com afinco, não no material genético de Camus, mas em pôr em prática seu plano. Surtr sabia que Fafner era um louco, há muito já não conseguia mais trabalhar com aquele homem. O cientista estava prestes a pôr as pesquisas de anos a perder desde a chegada de Camus. Ele não podia deixar seu trabalho ser jogado fora. Era inspirado na história da guarda de Hyoga conquistada pelo pai que ele precisava garantir que teria sua parte naquela pesquisa resguardada. Resguardada em uma criança fruto de Camus com ele.

Retirando do próprio bolso sua amostra recentemente colhida, começou a trabalhar naquele material, que em poucas horas se faria um só com o de Camus. Satisfeito e distraído, não se deu conta de que não era o único a ter olhos e ouvidos em todas as paredes daquele laboratório.

 

 

- Nervoso? – Em um quarto longe daquele laboratório, um casal feliz se encontrava arrumando-se. As duas pequenas malas já estavam prontas, próximas à porta do quarto.

- Muito, Dite! – Shun sorria fechando a camisa e tateando em busca da bengala – Vai ser a última vez que vou ter que usá-la. Em pouco mais de dois dias eu vou conseguir enxergar de novo! É um sonho!

- Um sonho que você mereceu que se tornasse realidade, meu anjinho. Vai dar tudo certo na cirurgia, eu vou estar do seu lado o tempo inteiro. – Ele sorria tocando a mão do namorado com carinho. – Já pensou qual a primeira coisa que vai querer ver assim que tirar os curativos?

- Seu rosto. A primeira visão que quero ter desse mundo é a sua face sorrindo pra mim. – Ele dizia e Dite ficou vermelho como nunca antes.

- Bobo, assim você me emociona!

- É a ideia! Agora me beija, quero ter o gosto dos seus lábios nos meus quando estiver sendo operado, ansiando pela visão de sua face.

Os dois se beijaram carinhosamente por um longo tempo. Até que ouviram o toque discreto na porta antes da mesma ser aberta e eles se afastarem.

- Rapazes, o carro já chegou. – Era Amy, animada – O Milo disse que o pai dele vai encontrar com a gente no hospital, e que ele vai para lá assim que o Shun sair da cirurgia. Vamos?

Os namorados se deram as mãos e saíram dali animados. O caminho até a Capital era bem longo. Ao chegarem, Shun foi encaminhado a um dos melhores hospitais da mesma, coincidentemente o mesmo onde Milo havia ficado internado anteriormente. Resolvida a parte burocrática da internação, Shun foi conduzido ao quarto onde trocou de roupa e já esperava por Dégel em sua cama. O pai de Milo não tardou a entrar com o médico de Shun ali.

- Olá, rapazes! Ansioso, Shun? – Dégel dizia e se aproximava dos garotos – O Milo pediu para avisar que vai demorar um pouquinho para vir te ver, o Hyoguinha inventou de ficar gripado e ele não desgruda do menino. Mas vai estar aqui assim que nós formos avaliar os resultados da cirurgia.

- E ele ia perder a chance de me fazer ver a cara feia dele primeiro? – Riu brincando. – É bom, eu não vejo a hora de conhecer, de verdade, o rostinho do meu afilhado. Quero compartilhar com meu amigo o presente enorme que vocês estão me dando – suspirou- E se estou ansioso? Eu estou para subir nas paredes de ansiedade. – Ria de maneira doce e realmente muito alegre.

- Fico feliz, é o mínimo que poderíamos fazer para agradecer a você. – Dégel se virava ao colega que operaria Shun. – Quer que eu explique o procedimento a ele Kevin? Afinal estamos diante de um futuro jovem médico.

- Claro, pode explicar Dégel. Afinal, a tecnologia que usaremos é obra sua. – O médico dizia.

- Obra sua? – Dite era quem perguntava curioso, sem soltar a mão do namorado.

- Exagero dele. O procedimento foi criado e aperfeiçoado em meu laboratório, e mesmo parecendo complicado, é algo simples.

Dégel ajeitou os óculos e começou a explicar. Na parede envidraçada do quarto várias projeções se fizeram para que Dite e Amy entendessem aquilo melhor, já que para Shun o ruivo explicava tudo didaticamente. 

- Quando você sofreu o acidente Shun, o traumatismo em seu crânio causou um dano no seu nervo ótico. Até alguns anos atrás uma lesão como a sua seria praticamente irreversível e nos casos em que se podia fazer algo, você não recuperaria cem por cento da visão. –Ele ia alterando as projeções – Com a tecnologia moderna, nós conseguimos criar uma espécie de pequeno chip que vai estimular seu nervo a exercer sua antiga função. Você não sofrerá corte e todo o procedimento vai se dar diretamente pela cavidade ocular. Você terá de ficar com os olhos fechados por um tempo e em repouso, mas não mais que uma noite. Amanhã nós vamos avaliar os resultados. Pode ser que você veja embaçado e com dificuldades nas próximas semanas, precisará usar um óculos especial nos primeiros dias para ajustar o chip implantado e monitorarmos os resultados. Mas a adaptação se dará logo e você vai voltar a ver como se nunca tivesse deixado de fazê-lo. Entendeu tudo?

- Creio que sim. Quando começamos? – Sorria empolgado.

- Daqui a meia hora o centro cirúrgico vai estar pronto. Pedi que Afrodite esteja do seu lado, já que passará por todo procedimento desperto. Descanse um pouco agora, Shun.

- Obrigado Dégel, obrigado doutor. Saber que hoje será meu último dia como um cego é a maior alegria da minha vida. Vocês me devolveram meus sonhos.

 

 

Camus estava sentado sobre a cama olhando o pequeno ursinho em suas mãos. Há algumas horas um dos enfermeiros havia entrado e lhe aplicado uma injeção que parecia fogo em brasa a lhe queimar as veias. Ele sentia a cabeça meio zonza, numa sensação angustiante. Aqueles remédios sempre o deixavam daquele jeito e nessas horas Camus começava a sentir medo de sua mente se perder.

Aquele era um dia triste e ao mesmo tempo feliz. Pelos seus cálculos, faziam exatos cinco meses que Hyoga havia nascido e eles estavam distantes um do outro pela primeira vez. Por mais que estivesse feliz por seu filho estar nas mãos do outro pai e protegido, a distância fazia seu coração sangrar, e isso era potencialmente perigoso para sua mente. Sentiu uma dor de cabeça forte que o fez massagear a têmporas ao pensar nisso.

Deitou-se um pouco, não se sentindo bem. Quando abriu novamente os olhos lá estava ela, sentada com seu uniforme alinhado e perfeito, os cabelos negros e bem presos. Ela olhava para ele de forma curiosa, parecia sentir carinho, um amor tão grande que sempre esteve lá, naquele olhar, mas somente agora depois de adulto Camus reconhecia. Ela o olhava da mesma forma que ele olhava para Hyoga.

- Sai daqui! – Ele enfiou o rosto contra o travesseiro sem querer vê-la. – Você é uma alucinação, não é real! Minha mente quer brincar comigo, foi o remédio que aquele maldito aplicou em mim. – Camus dizia, querendo ele mesmo acreditar nisso.

- Será, Camus? Talvez a alucinação não seja eu, e sim eles. – Ela dizia de forma doce. – Meu menino, os remédios que eles vêm te dando há anos estão  te deixando assim, meu pequeno. Você está alucinando com essa vida que diz ter tido lá fora. E aquele pesquisador ruivo não é seu amigo, ele quer mais do que ninguém te ver louco, acabar com as pesquisas.

- É mentira, você que não existe! Eu vivi com o Milo, eu fui feliz com ele! – Camus a olhava com olhos cheios de lágrimas e afundava o rosto novamente no travesseiro, para não enxergá-la – Meu filho é real! Meu pequeno existe e está feliz agora longe de mim e desse laboratório maldito.

- Meu menino, não se iluda. Você nunca saiu daqui, são os remédios que estão causando isso em você. Aceite sua realidade, nós não podemos fazer nada para que ela mude.

- É mentira, some daqui! Eu tenho um filho e mesmo             que eu morra nesse buraco, isso ninguém pode arrancar de mim! Eu amo meu Hyoga. – Ele falava com convicção.

- Mas você tem um filho sim, quem disse que não?

Aquilo fez Camus engolir em seco. Já ia gritar de ódio com ela quando ouviu o som de um chorinho. Moveu-se e percebeu que sobre sua cama, ao seu lado, no lugar onde antes estava o ursinho, seu filhinho estava ali. Se levantou devagar e olhou aquilo sem acreditar.

- Eu disse, você tem um filho dentro desse laboratório, Camus. Mas essa sua mania de querer negar que nunca saiu daqui e acreditar nas fantasias de sua mente, de um amor te esperando lá fora, estão o deixando louco. – Ela dizia se ajeitando na cadeira. Camus parecia atônito. – Vá Camus, cuide do seu menino. Logo você terá seu filho ainda mais perto de você.

Camus estava confuso, tinha medo. Devagar tocou aquele bebê, o pegando em seus braços. Traído por sua mente, o ruivo começou a ninar aquela criança, mas ao contrário de antes, os fios que aquela pequena cabecinha infantil ostentavam eram totalmente vermelhos, como os de Camus.

- Oh meu filhinho, esse seu papai está enlouquecendo, né? – Ele dizia  ninando a criança, enquanto via Agatha deixar o quarto – Eu vou cuidar de você, eu vou sempre cuidar de você.

E mais uma vez Camus se viu preso nas armadilhas de sua mente. Observado da sala ao lado, o ruivo continuava a ninar seu pequeno ursinho, enquanto Fafner não desgrudava os olhos daquela cena. Viu o jovem alucinar e falar sozinho com uma expressão de indiferença no rosto, enquanto ditava anotações ao seu auxiliar.

- A cobaia parece reagir à medicação de controle mental de forma adequada – dizia enquanto o rapaz tomava nota – mas cabe ressaltar que os efeitos colaterais da mesma causam alucinações e um quadro muito semelhante a esquizofrenia, mesmo que o híbrido comprovadamente não possua esse distúrbio mental. Quando privado da medicação, sua mente gradativamente retorna às funções normais e equilíbrio, de acordo com a desintoxicação. Fato esse provado durante a fase onde a cobaia se manteve em abstenção de qualquer medicação por meses, devido ao parto de sua primeira prole, perdida por ordem judicial.

- Mais alguma anotação? Ou posso encerrar o relatório por aqui, senhor Fafner?

- Só mais um detalhe. – Ele observava Camus. – Fica a partir da data de hoje restrito o acesso à essa cobaia apenas a pessoas autorizadas diretamente por mim. A manutenção da droga de controle mental se dará por doses controladas. Dar-se-á início imediato ao processo de inseminação do Híbrido e produção de futura nova cobaia com carga genética 100% pertencente a ele, ou seja, objetivamos a produção de um clone para estudos futuros e procriação, em caso de perda da matriz. -  suspirou – Acompanhe o processo de inseminação e podem deixar o Híbrido desacordado a partir de agora, até que o processo termine, daqui algumas horas. Vou querer exames diários e avaliação detalhada dessa nova gestação. Nada pode deixar de ser registrado e mandado ao meu servidor pessoal, protegido como sempre;

- Senhor. – O assistente disse ao terminar de anotar as ordens – O Doutor Surtr ainda realizará o procedimento?

- Deixe-o realizar, sim – Um sorriso vil se fez na face de Fafner – vamos deixar esse menino bobo se divertir mais um pouco no seu playground. Só quero que acompanhe diretamente o procedimento e que use exatamente o material que eu manipulei. Quero que garanta que os espermas usados serão os do Híbrido. Essa criança tem de sair perfeita como ele nos saiu no passado. Depois mande Surtr até meu escritório. Vou adorar ter uma conversinha com aquele tolo.

Algumas horas depois todo o procedimento se deu de acordo com o esperado. Surtr acreditou ter concluído seu plano com sucesso. Camus desacordado foi levado novamente para seu quarto, e ele terminava de organizar algumas de suas coisas após o procedimento. Tirava as luvas quando um dos assistentes mais próximos de Fafner lhe passara o recado de que o pesquisador queria lhe falar. Estanhou muito aquilo, e suspirou dizendo que logo iria.

Esperou a sala esvaziar e sentou-se próximo ao painel de controle dos computadores locais. Aproximou um fino cartão no painel, que acionou as funções do mesmo. Iniciou a compilação de todo o procedimento daquele dia e das imagens do que foi feito a Camus. Sempre fazia aquilo, copiava todo o material da pesquisa antes mesmo dela ser entregue a Fafner. Tinha absolutamente tudo sob sua guarda, afinal, temia o dia que aquele louco colocasse tudo a perder.

Seguiu para a sala do outro pesquisador e suspirou profundamente ates de enfrentar aquele idiota. Adentrou a sala e o encontrou observando as câmeras de vigilância do quarto de Camus, que parecia começar a despertar.

- Achou que me enganaria, Surtr? – Ele dizia sem nem tirar os olhos da câmera de vídeo. Camus estava sentado com as pernas sobre a cama, dobradas. Penteava os longos cabelos vermelhos com um olhar completamente vazio, provavelmente estava alucinando novamente.

- Como, senhor? – Fez-se de desentendido. Fafner acionou um controle remoto, e uma cena projetou-se na parede envidraçada do escritório, onde o vídeo de Surtr manipulando o material genético a ser aplicado em Camus era mostrada.

- Acha mesmo que eu não monitoro cada um dos movimentos dessa pesquisa, Surtr? Achou mesmo que eu não iria testar tudo o que nosso melhor híbrido precisa usar nos procedimentos, e garantir a lisura do processo? – Ele se virou para Surtr e seus olhos flamejavam de ódio – Achou que eu era um palhaço? Que iria enganar?

- Um palhaço não, Fafner – Surtr empinava o nariz sem medo – Um louco, que está quase pondo a pesquisa inteira por terra. Não sei se já percebeu, mas você está prestes a enlouquecer nosso único Hibrido perfeito!

- Oras, quem vem falar logo disso comigo, o Anjo da Morte. Surtr, eu sei que foi você quem matou muitas das minhas cobaias com essa mania de sentir pena do sofrimento delas. Eu só não o joguei pra fora desse laboratório a pontapés porque eu não tinha provas, mas agora eu tenho. Tentar inseminar o Híbrido com seu material genético e depois querer dizer que o filho é seu pra ter uma cópia da pesquisa em suas mãos foi baixo demais, até para você, Surtr.

– Você não tem e nunca terá provas se fui eu ou não quem matou aquelas cobaias. Suas mãos estão sujas de sangue com seus procedimentos cruéis e desumanos de pesquisas. Aquelas criaturas já estavam mortas assim que nasceram como suas cobaias Fafner, eu não as matei!

- Se você acredita nisso, pouco me importa - ele disse e se sentou, acionando um botão na mesa – Seguranças. – Dois homens de uniforme negro adentraram a sala. – Quero que acompanhem o senhor Surtr para pegar as coisas dele. Averiguem tudo para que não leve nada dos projetos. Quero ele fora daqui em vinte minutos!

- Espera, você tem certeza que quer fazer isso? – Surtr disse de forma surpresa, após ter sido pego.- Vai me tirar do projeto que há anos te ajudo a construir?

- Eu já tirei. Suma da minha frente e fique grato por eu não acabar com a sua carreira. Isso é, se você conseguir um laboratório que te aceite depois de tudo que fez aqui. – Ele ria de forma vil – Abra a boca sobre o projeto, esqueça a cláusula de confidencialidade do seu contrato e eu juro que todos vão saber do belo Anjo da Morte que você é, assassino de cobaias.

- Ótimo, Fafner, farei como deseja. Mas me aguarde.

Ele se virou com ódio, sendo seguido pelos seguranças até a sua sala. Lá se jogou em sua cadeira, se segurando para não voltar àquela sala e arrebentar com Fafner. Mas não podia, tinha de se manter sereno e pensar em como agir. Observou os seguranças que não saáam da porta de sua sala.

- Vão ficar aí como estátuas, me olhando? Saiam!

- As ordens são de observar o que o senhor vai levar. – Um deles falou, de forma dura. – Não vamos sair.

Surtr bufou de raiva e começou a guardar suas coisas pessoais em uma caixa. Ao abrir uma das gavetas, protegida com senha, observou o velho caderno. Algo antigo para a tecnologia atual, mas bem cuidado e trabalhado, de capa escura e uma rebuscada letra L desenhada em dourado no canto inferior. Surtr sorriu ao ver aquilo, imaginando como Fafner estava enganado em achar que ele aceitaria tudo calado. Se ele não podia manter seus planos em vigor, seu querido colega também não colheria louros com aquela pesquisa maldita. Assoviando uma música qualquer, ele somente pegou aquele livro e o levou em suas mãos, após jogar algumas coisas pessoais na caixa. Que se danasse o resto, o que ele realmente precisava estava naquele caderno e em seu banco de dados particular, bem longe daquele laboratório do qual ele saiu de cabeça erguida.

 

 



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